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24Reportagem do dia 13 de maio de 2013 e disponível em

http://www.mst.org.br/Especuladores-devem-ser-julgados-por-fome-de-1-bilh%C3%A3o-de- pessoas-diz-Ziegler

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Associado à predominância do valor de troca sob o valor de uso nas relações mercantis capitalistas, opera também a divisão social do trabalho, que é uma outra condição fundamental para a produção de mercadorias no sistema capitalista, na sua genuína forma de apropriação privada de trabalho social alheio e como condição inerente de extração e acumulação de mais-valia. Percorre a divisão social do trabalho o difícil trajeto de ajustar o aumento da taxa média de lucro no aspecto de produção e realização de mercadorias.

Apenas diferentes tipos de trabalho podem produzir diversos valores de uso, isto é, somente produtos de trabalhos autônomos e independentes entre si podem ser apresentados como mercadorias trocáveis por outras mercadorias.

O maior progresso observável na economia é a divisão do trabalho e é a partir daí que se verificará um aumento da produtividade e far-se-á ferramentas melhores adaptadas ao processo de acumulação de capital.

Adam Smith também destaca o papel da divisão do trabalho no processo de avanço da produtividade econômica:

Um maior aperfeiçoamento nas forças produtivas do trabalho, e a maior parte do engenho, destreza e discernimento com que é dirigido em qualquer lugar, ou aplicado, parecem ter sido os efeitos da divisão do trabalho (p.1).

Isso é diferente de dizer que a produção de mercadorias é condição fundamental para a divisão social do trabalho. Mercadoria, como já dito, no modo-de-produção capitalista se manifesta em duas características fundantes, quais sejam: 1- valor de uso; 2- valor de troca. O trabalho pode ser socialmente dividido em uma sociedade, sem que isto implique na troca de mercadorias por outras produzidas por outras sociedades, podem ser consumidas (produção de subsistência) na própria sociedade.

É necessário fazer aqui um parênteses sobre o avanço ocorrido no sistema de trocas de mercadorias. Inicialmente se fazia a troca entre duas mercadorias diferentes através do escambo, como por exemplo: trocar galinha por porco. Fez-se também através de mercadorias que possuíam forma de equivalente geral, ou seja, uma certa mercadoria, por determinadas características que tinham, servia de mercadoria intermediadora de todas as trocas realizáveis, como por exemplo, o ouro. E agora tal mercadoria é o dinheiro. No entanto, uma mercadoria ser considerada equivalente geral, ou

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seja, trocada por qualquer outra ou intermediar qualquer troca, não tira o seu fundamental elemento caracterizador como mercadoria no sistema capitalista, o de possuir valor e que sua grandeza é determinado conforme o tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la. O dinheiro também representa, assim como qualquer outra mercadoria, trabalho social.

Avançando na presente análise, é de fundamental importância a compreensão da complexidade que há no mecanismo de troca das mercadorias e de produção de mercadorias e a relação que há entre ambos os espaços no modo-de-produção capitalista. Mais claramente, do já discutido até aqui, onde ficaria o lucro (ou até mesmo o excedente econômico) num ambiente circulatório em que se trocam mercadorias na qual foram empregados tempos iguais de trabalho socialmente necessário para produzi- las? Num cenário de trabalhos diferentes trocados entre si e de forma equivalente não há espaço para o lucro.

Se mercadorias ou mercadorias e dinheiro de igual valor de troca, portanto equivalentes, são trocados, então evidentemente ninguém tira da circulação mais do que lança nela. Então não ocorre nenhuma formação de mais-valia. Mas, em sua forma pura, o processo de circulação das mercadorias condiciona o intercâmbio de equivalentes. No entanto, as coisas na realidade não se passam de modo puro. Suponhamos, portanto, intercâmbio de não-equivalentes. Em todo caso, no mercado de mercadorias, só possuidor de mercadorias e o poder que essas pessoas exercem umas sobre as outras é somente o poder de suas mercadorias. A diferença material das mercadorias é o motivo central do intercâmbio e torna os possuidores de mercadorias reciprocamente dependentes, pois nenhum deles tem o objeto de suas próprias necessidades e cada um deles tem em suas mãos o objeto da necessidade do outro. Além dessa diferença material de seus valores de uso, só existe uma diferença entre as mercadorias, a diferença entre a sua forma natural e sua forma transformada, entre mercadoria e dinheiro. E, assim, os possuidores de mercadorias só diferenciam enquanto vendedores, possuidores de mercadoria, e enquanto compradores, possuidores de dinheiro. [...] A formação da mais-valia e daí a transformação de dinheiro em capital não pode ser, portanto, explicada por venderem os vendedores as mercadorias acima do seu valor, nem por os compradores as comprarem abaixo do seu valor. [...] Pode-se virar e revirar como se queira, o resultado permanece o mesmo. Se equivalentes são permutados, daí não surge mais-valia e se não-equivalente são permutados, daí também não surge mais- valia. A circulação ou o intercâmbio de mercadorias não produz valor. (MARX, p.130, 131 e 132).

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Se não é no ramo de circulação de mercadorias, onde é então que, no modo-de-produção capitalista, se gera mais-valia, mais-valor, “vulgarmente” e “simplificadamente” chamado de lucro? Os indícios da resposta para tal pergunta se encontra na análise da exploração da mercadoria força-de-trabalho no processo de produção de mercadorias. Ou seja, na identificação do trabalhador como vendedor da mercadoria força de trabalho. E como toda mercadoria, no modo-de-produção capitalista, possui um valor de uso e um valor de troca.

O valor de troca da mercadoria força de trabalho é, como os de todos os tipos de mercadoria, como já dito acima, o tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção, no caso da força de trabalho, para a sua reprodução. Ou seja, o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários para a sobrevivência mínima do trabalhador ou trabalhadora e de sua família, adquiridos pelo salário que eles recebem. Em miúdos, o salário tem a função de manter vivo o trabalhador e, por conseguinte, manter ativa a mercadoria força de trabalho, permitindo-a continuar participando, de forma explorada, do processo produtivo.

Já o valor de uso da mercadoria força de trabalho é exatamente o dispêndio, a exteriorização desta força, ou melhor, é a participação no processo produtivo de mercadorias e o objeto de extração de mais-valia pelo seu comprador, o capitalista.

O processo de consumo da força de trabalho é, simultaneamente, o processo de produção de mercadoria e de mais-valia. O consumo de força de trabalho, como o consumo de qualquer outra mercadoria, ocorre fora do mercado ou da esfera da circulação. (MARX, p. 140).

Através da compra de meios-de-produção (capital constante) e de força de trabalho (capital variável), mediado pela extração da mais-valia, gera-se mais-dinheiro e/ou capital. É certo que o mais-valor se obtém no âmbito da produção, mas é certo também que ele se realiza, se completa no consumo da mercadoria que só é possível com a circulação desta. No caso da mercadoria força de trabalho, a sua realização ocorre exatamente no processo produtivo.

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Aqui, então, a (re)produção e a circulação da mercadoria força de trabalho acontecem no processo de produção de outras infindáveis mercadorias.