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Desta feita, cumpre observar a estreita conexão entre o desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro, em especial de suas forças produtivas, e por que não dizer de sua produtividade, e a divisão social do trabalho como também a divisão internacional do trabalho.

27 Reportagem intitulada “Para manter emprego, cortador de cana precisa elevar produção; ONU investigará se 9 mortes ocorreram por exaustão” do dia 18 de setembro de 2005. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1809200515.htm

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Segundo Marini,

(...) desenvolvendo sua economia mercantil, em função do mercado mundial, a América Latina é levada a reproduzir em seu seio as relações de produção que se encontravam na origem da formação desse mercado, e determinavam seu caráter e sua expansão. Mas esse processo estava marcado por uma profunda contradição: chamada para contribuir com a acumulação de capital com base na capacidade produtiva do trabalho, nos países centrais, a América Latina teve de fazê-lo mediante uma acumulação baseada na superexploração do trabalhador. É nessa contradição que se radica toda a essência da dependência latino-americana. [...] Nascida para atender as exigências da circulação capitalista, cujo eixo de articulação está constituído pelos países industriais, e centrada, portanto, sobre o mercado mundial, a produção da A.L. não depende da capacidade interna de consumo para a sua realização. (2000, p.131-2).

Isto implica dizer que todo o progresso das forças produtivas do campo, que caracterizou a passagem da agricultura brasileira de um período a outro do desenvolvimento capitalista, ocorreu sobre a base inalterada da produção de monocultura, para exportação, baseada na exploração do trabalho alheio e na concentração e apropriação privada de terra e de riqueza. A divisão social e internacional do trabalho apresenta-se, portanto, como pilar que determinou e determina os rumos do desenvolvimento do campo brasileiro em geral. O aumento significativo da produtividade acompanha esse desenvolvimento.

A política do agronegócio busca efetivar desenfreadamente a estratégia de gerar saldos de comércio exterior, tendo em vista a realização do superávit primário e, desta feita, obter balanços positivos na política de comércio exterior, orientadas pelas regras da divisão internacional do trabalho. No imenso jogo global do que cada nação deve produzir e exportar suas riquezas, socialmente produzidas e privadamente apropriadas, para outras nações, o Brasil se especializou e vem cada vez mais se especializando na produção e exportação de commodities primárias (agrícolas e minerais).

Os setores primários-exportadores brasileiros, no processo de divisão internacional do trabalho, operam de acordo com a agenda politico-econômica externa. A agricultura brasileira denominada agronegócio acaba assumindo o papel, seguindo as determinações do comércio exterior (do que o Brasil tem para vender competitivamente globalmente), de responder às necessidades de

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exportações e importações do mercado mundial, em especial do mercado dos países desenvolvidos/ricos e/ou em desenvolvimento/emergentes. Melhor dizendo, em especial do mercado das grandes transnacionais que se situam principalmente nos países desenvolvidos/ricos e/ou em desenvolvimento/emergentes.

Reportagem do Portal Sou Agro28, com fontes em órgãos estatais que

atuam na atividade do agronegócio, retrata bem o que o “agro” brasileiro produz, exporta e para quem.

As exportações brasileiras do agro de 2012 somaram o valor recorde de US$ 95,81 bilhões, o que representou incremento de cerca de 1% (US$ 846 milhões) em relação a 2011. Já as importações chegaram a US$ 16,41 bilhões, número 6,2% inferior a 2011. O saldo da balança comercial foi recorde, de 79,41 bilhões. As informações são da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir dos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). “Os números comprovam a força do agro brasileiro. O País está cada vez mais competitivo internacionalmente e continuaremos trabalhando, ao lado dos produtores, na busca de novos mercados”, destacou o Ministro Mendes Ribeiro Filho. Segundo ele, a economia nacional depende dos bons resultados do agro para manter o Brasil entre as principais potências econômicas mundiais.

Produtos

(...)Os setores que tiveram maior crescimento de vendas foram o complexo soja (8,2%; de US$ 24,14 bilhões para US$ 26,11 bilhões), seguido por fumo e seus produtos (11%; de US$ 2,94 bilhões para US$ 3,26 bilhões); cereais, farinhas e preparações (60,3%; de US$ 4,16 bilhões para US$ 6,67 bilhões); fibras e produtos têxteis (20,7%; de US$ 2,17 bilhões para US$ 2,62 bilhões); e animais vivos (30,7%; de US$ 492 milhões para US$ 643 milhões).

O milho contribuiu como destaque para o aumento das vendas – que dobraram – passando de US$ 2,63 bilhões em 2011 para US$ 5,29 bilhões (US$ 2,66 bilhões), aumento de 101,5%. A quantidade embarcada subiu de 9,46 milhões de toneladas em 2011 para 19,78 milhões de toneladas em 2012 (109,1%). Outro produto que se manteve em alta em 2012 foi a soja em grão.

As exportações subiram de US$ 16,31 bilhões para US$ 17,45 bilhões (US$ 1,14 bilhão). A quantidade embarcada permaneceu praticamente a mesma de 2011, com cerca de 33,0 milhões de toneladas. Embarque de carne foi recorde A carne bovina registrou alta de 7,39%, com aumento das vendas

57 de US$ 5,35 bilhões em 2011 para US$ 5,74 bilhões em 2012 (US$ 395,4 milhões), com valor recorde.

Houve elevação da quantidade exportada: de 1,09 milhão de toneladas para 1,24 milhão de toneladas (13,4%), enquanto o preço médio de exportação caiu 5,3%. As exportações de animais vivos cresceram 30,7%, o que representa 10% das compras de carne. O fumo também teve aumento de US$ 2,94 bilhões para US$ 3,26 bilhões (+US$ 322 milhões). Já as vendas externas de etanol subiram 46,6% (US$ 694 milhões), com acréscimo da quantidade embarcada de 1,57 milhões de toneladas para 2,48 milhões de toneladas (57,5%).

Mercados

A China continua sendo de forma crescente o principal destino dos produtos do agro brasileiro, passando de 17,4% para 18,8%, com US$ 17,975 bilhões em compras em 2012. Em seguida, aparecem Estados Unidos (US$ 7 bilhões), Países Baixos (US$ 6,12 bilhões), Japão (US$ 3,5 bilhões) e Alemanha (US$ 3,1 bilhões). Destacam-se o crescimento das exportações para nações da Ásia: Coreia do Sul (40,9%), Taiwan (35,9%), Tailândia (13,5%), China (8,9%), Hong Kong (6,6%) e Japão (0,2%).

A própria exportação em si e a pauta de exportação brasileiras variam ou, melhor, se mantém conforme o vai e vem das necessidades político- econômicas de acumulação de capital das grandes transnacionais. Talvez esteja ai a razão de a própria exportação em si e a pauta de exportação brasileiras se concentrarem em mercadorias primárias do gênero alimentício e vestuário (mercadorias do consumo básico da mercadoria força de trabalho), que, como já dito anteriormente, influem diretamente na taxa de mais-valia extraída e na taxa de lucro acumulada das grandes transnacionais que atuam no ramo do “agro”.