• Nenhum resultado encontrado

6. CONTEXTO GEOLÓGICO

6.2. Bacia do Espírito Santo – Litoestratigrafia

Embora a área de estudo esteja relacionada aos depósitos sedimentares quaternários, a descrição do contexto estratigráfico da Bacia do Espírito Santo se faz necessária para melhor compreender os eventos deposicionais ao longo do tempo e que delimitaram a atual estrutura organizacional da bacia.

O embasamento da Bacia do Espírito Santo está localizado a sudeste do Cráton do São Francisco e faz parte da Faixa Araçuaí, integrando o setor norte da Província da Mantiqueira. É constituído por rochas que foram total ou parcialmente retrabalhadas nos ciclos Transamazônico e Brasiliano, correspondendo a uma complexa associação de rochas ígneas e metamórficas, como magmatitos, granulitos e gnaisses (JOSE, 2005; FRANÇA et al., 2007).

As rochas que preenchem a bacia estão reunidas em três grupos (Grupo Nativo, Grupo Barra Nova e Grupo Espírito Santo) com limites discordantes, e correspondem aos sedimentos que foram depositados desde o Mesozóico. Os grupos por sua vez, são subdivididos em formações que delimitam as diferentes seqüências deposicionais durante a evolução tectono-sedimentar da Bacia do Espírito Santo, com seqüências continentais e marinhas.

O Grupo Nativo corresponde aos sedimentos mais antigos da Bacia do Espírito Santo, depositados a partir do Cretáceo Inferior, e pode ser dividido nas formações Cricaré (Valanginiano) e Mariricu (Aptiano). A Formação Cricaré se caracteriza pelo predomínio de arenitos e conglomerados intercalados com rochas vulcânicas da Formação Cabiúnas, além de camadas de folhelhos, carbonatos e margas. O ambiente predominante durante esta seqüência era lacustre, com sistemas de leque aluvial e fluvial nas bordas dos falhamentos. A Formação Mariricu é caracterizada por depósitos mais novos que se assentaram discordantemente sobre os sedimentos da Formação Cricaré, sendo constituídos por arenitos e conglomerados intercalados por folhelhos e níveis evaporíticos (JOSE, 2005; FRANÇA et al., 2007).

O Grupo Barra Nova é composto pela Formação São Mateus, com predomínio de arenitos, e Formação Regência, com calcários de alta a baixa energia. A deposição dos sedimentos correspondentes a este grupo iniciou-se em um ambiente de mar epicontinental, com a deposição dos estratos condicionada pelas variações relativas do nível do mar. A litologia é caracterizada por arenitos, siltitos, folhelhos, calcarenitos, calcilutitos e calcissiltitos (FRANÇA et al., 2007).

O Grupo Espírito Santo apresenta uma maior distribuição em comparação às outras grandes unidades litoestratigráficas da bacia, sendo dividido nas formações Urucutuca, Caravelas e Rio Doce, com as idades dos sedimentos variando desde o Cenomaniano até o Recente (JOSE, 2005). Este grupo é formado por uma sequência de plataforma continental progradacional, constituída por uma fácies arenosa proximal, correspondente a Formação Rio Doce, intercalada com carbonatos da Formação Caravelas. Junto ao talude e à bacia profunda, o conjunto torna-se pelítico, que corresponde à Formação Urucutuca (MILANI et al., 2001).

A Formação Urucutuca retrata uma efetiva retrogradação da linha de costa que teria se iniciado no Cenomaniano e se estendido até o final do Paleoceno. É uma formação essencialmente constituída por folhelhos, com arenitos e conglomerados derivados de fluxos turbidíticos associados. A Formação Caravelas é constituída predominantemente por calcarenitos bioclásticos (algas vermelhas, foraminíferos, briozoários e corais) e calcilutitos plataformais, depositados em plataformas carbonáticas e com idade atribuída ao Paleógeno, baseada na bioestratigrafia de foraminíferos bentônicos. E por fim, a Formação Rio Doce é parte integrante do sistema deposicional clástico-carbonático, com depósitos predominantemente arenosos gerados por sistemas fluviais e leques costeiros (JOSE, 2005; SANTOS FILHO, 2009; RODRIGUES, 2010).

Cabe ressaltar que durante o Cenozóico ocorreu um importante episódio magmático que definiu a Formação Abrolhos, tendo como resultado o rearranjo estrutural da bacia. Esta unidade corresponde a rochas vulcânicas e vulcanoclásticas que foram extrudidas durante o intervalo Paleoceno-Eoceno (MILANI et al., 2001). Esse evento ocasionou a formação do Banco de Abrolhos e sua continuidade a sul, a Cadeia Vitória-Trindade, constituída por bancos e montes submarinos (JOSE, 2005). Além desta formação de rochas ígneas, sedimentos da Formação Barreiras são encontrados na bacia. Esta formação ocupa uma área expressiva ao longo de toda a faixa costeira, constituída por conglomerados, argilitos e folhelhos, depositados em ambiente continental flúvio-aluvial (RODRIGUES, 2010).

Para o Quaternário, os sedimentos descritos para a bacia correspondem aos de planície, próximo à foz do rio São Matheus e do rio Doce, além dos cordões litorâneos ao longo da costa (FRANÇA et al., 2007). Os depósitos sedimentares acumulados durante as várias etapas da evolução quaternária são característicos de ambientes marinhos, fluviomarinhos, lagunares e eólicos (IBGE, 1987). Esses depósitos quaternários foram mapeados por Leite et al. (2004) ao longo do litoral norte do estado do Espírito Santo, estando relacionados na Tabela 3 e na Figura 5.

Tabela 3 - Depósitos sedimentares quaternários mapeados para o litoral do estado do Espírito Santo

Pleistoceno

Depósitos Detrito-Lateríticos: areias com níveis de argila e cascalho e crosta laterítica Alinhamentos de cordões litorâneos antigos: sedimentos arenosos e areno-argilosos costeiros.

Depósitos aluvionares antigos: areia com intercalações de argila e cascalho e restos de matéria orgânica.

Depósitos marinhos e continentais antigos: sedimentos arenosos marinhos e/ou lagunares.

Depósitos Detrito-Lateríticos: areias com níveis de argila e cascalho e crosta.

Depósitos colúvio-aluvionares antigos: sedimentos arenosos, areno-argilosos e conglomeráticos.

Holoceno

Depósitos litorâneos indiferenciados recentes: depósitos de praia marinhos e/ou lagunares, sedimentos arenosos.

Coberturas detríticas indiferenciadas recentes: areia, cascalho e lama.

Depósitos flúvio-lagunares recentes: areia e lama sobrejacentes a camadas de areia biodetrítica e/ou sedimento lamoso de fundo lagunar, e ocorrência de turfa, areia e cascalho.

Depósitos aluvionares recentes: areia com intercalações de argila e cascalho e restos de matéria orgânica.

Depósitos colúvio-aluvionares recentes: cascalho, areia e lama resultantes da ação de processos de fluxo gravitacionais e aluviais de transporte de material de alteração das vertentes.

Alinhamentos de cordões litorâneos recentes: sedimentos arenosos a areno-argilosos costeiros.

Depósitos de paleocanais recentes: depósitos residuais associados a paleocanais fluviais compostos por areia e cascalho.

Depósitos de pântanos e mangues recentes: areia e silte ricos em matéria orgânica e turfa.

Figura 5 - Mapa geológico simplificado da planície costeira do rio Doce (modificado de MARTIN et al., 1996). As estrelas indicam os depósitos sedimentares estudados. 1. Li01. 2. Lagoa do Macuco. 3. Lagoa Canto Grande. 4. Lagoa Bonita