A idea de applicar ao tratamento da febre ty- phoïde as tentativas da bacteriotherapia veio de vários experimentadores.
Ora se tem proposto utilisai- a concorrência
vital de espécies bacteriannas, pondo em pre- sença do bacillo de Eberth um outro micróbio susceptível de se tornar pathogenico no homem, posto que não o seja senão em certas espécies animaes; n'este caso estão o bacillo pyocyanico e as bactérias saprophytas.
Ora se tem procurado crear a immunidade por culturas attenuadas e esterelisadas do bacillo de Eberth.
Bacteriotherapia com a cultura de bacillos pyocyanicos. —O professor Rumpf
(de Hamburgo) injectou na região nadegueira a cultura esterilisada de bacillo pyocyanico come- çando pela dose de meio centímetro cubico.
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Observou a princio uma ligeira elevação de tem- peratura, em seguida um abaixamento da tem- peratura primitiva.
Se no segundo dia se faz nova injecção, novo abaixamento se nota e o estado geral melhora- se; vè-se desapparecer o delirio e a somnolencia.
Se as injecções não continuam a temperatu- ra sobe de novo, mas a evolução da doença é menos grave.
Quando porém as injecções tem continuado injectando no quarto dia já dois centimetros cú- bicos; no sexto quatro; no oitavo seis; em seis ou oito dias viu desapparecer a febre e a conva- lescença estabeleceu-se.
A elevação de temperatura depois de cada injecção acompanha-se em regra de um arrepio. O auctor d'esté methodo tem visto febres ty- phoides evolucionar rapidamente com este trata- mento. Observou que a febre em alguns doen- tes diminuía, á injecção de dois centimetros cú- bicos. Outros tem tido recahidas que cedem ao mesmo tratamento. O tratamento é tanto mais efticaz quanto mais cedo for applicado. Sobre 30 casos tratados assim teve dois mortos (he- morrhcigia e pneumonia); 6,6 por cento de mor- talidade.
M. Kraus que recentemente adoptou esta therapeutica não tem sido tão feliz. Preparou um liquido de injecção aquecendo durante vinte
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minutos, a 60° e 80° um caldo, contendo uma cultura, de três dias, de bacillo pyocyanico.
Tratou com este liquido doze casos de febre
typhoide, tendo os, doentes de 18 a 33 annos, e
um alcoólico de 50 annos. O tratamento foi co- meçado desde o principio do segundo seteno, até ao meio do terceiro.
Eram casos de gravidade, mas sem complica- ções. Dois doentes morreram, e pelas autopsias pôde assegurar-se que o bacillo .pyocyanico não mata o bacillo typhico, nem impede a evolução das lesões anatómicas.
Nos casos seguidos de cura, os symptomas geraes não soffreram alteração. Só em três ca- sos a febre parece ter soffrido uma acção bené- fica. Em alguns casos o estado geral foi muito melhorado
Kraus, conclue que pouco ha a esperar d'es- té tratamento, na mesma relação que a tubercu- lina de Kock, na cura da tuberculose.
Jtaeteriotherapia com as bactérias de ptitrefação. Ghelmonski fez o tratamen-
to pelas injecções de bactérias de putrefação: um extracto aquoso obtido pela maceração de carne de boi no seu peso d'agua durante oito dias submettido á ebullição, em seguida filtrado. Ghelmonski injecta uma quantidade de ex- tracto aquoso, que corresponde de um a oito milligrammas de extracto secco.
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Experimentando sobre o homem são, obser- vou, passados cinco a oito horas depois da in- jecção, uma reacção febril com mal estar, suo- res, etc., cuja duração era de 24 a 36 horas.
Experimentando nos typhosos observou um abaixamento considerável de temperatura.
ISaeteriotherapia com cultura de hacillo de JEberth.—Frœnkel (de Hambur-
go) e Mouchot empregaram as culturas de ba- cillo typhico, esterelisadas com cuidado.
As injecções foram feitas quer no tecido cel- lular da região illiaca, quer nos músculos da re- gião nadegueira, com muito pouca dôr e sem reacção inílammatoria. Gincoenta e sete casos, nenhum benigno, e doze graves foram submet- tidos a este tratamento, e cujo diagnostico foi bem feito e confirmado.
Depois de dois dias de observação, o doente recebia a primeira injecção de meio centímetro cubico; nenhum effeito se notava. No segundo dia, com uma injecção de um centímetro cubico notava-se um arrepio e uma elevação de tempe- ratura. No terceiro e quarto dia a temperatura baixava até um grau abaixo da que o doente ti- nha no principio do tratamento.
Quando se faziam as injecções de dois ern . dois dias, augmentando sempre um centímetro Cubico a cada injecção, a temperatura baixava á normal. Era tempo de acabar as injecções.
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Gomo em todas as medicações, notoii-se que a resistência ao tratamento é proporcional á ap- plicação tardia.
As remissões da febre são acompanhadas de suores profusos e de uma abundante diurese. O período febril diminuído, a perda de forças menor, e a convalescença mais rápida, taes são os resultados d'esté tratamento que não impede, nem previne as complicações.
Sôrotherupia.—Em França tem-se utili-
sado as injecções de soro d'animaes immunisa- dos contra a febre typhoyde. Começando por fundar-se que uma dose variável de cultura de bacillo typhico, que mata um caviá, não o mata, só muito excepcionalmente, desde o momento em que se lhe tenha inoculado o caldo de cul- tura esterilisado do bacillo typhico, isto é os pro- ductos elaborados pelo bacillo.
Ao mesmo tempo tem-se demonstrado que o soro de um homem atacado de febre typhoide é prophylactico e therapeutico para um animal typhoso.
Strum, injectando simultaneamente culturas de bacillo typhico e soro de indivíduos ataca- dos de febre typhoide no peritoneo de um caviá obteve alguns bons resultados. Notando que o soro extrahido com 26 dias de convalescença,
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ou ainda dez annos depois da cura, e mesmo dos que morreram de febre typhoide, e dos que nunca a tiveram dão bom resultado com a con- dição de serem empregados em grandes doses.
Emflra experimentaram em homens com (10 e 11 dias de doença) a injecção subcutânea de soro de caviás immunisados, mas nada obtive- ram.
D'aqui concluíram que é necessário para a sôrotherapia ser efficaz, que a injecção de soro, deve seguir immediatamente a penetração do bacillo, coisa que é impossível no estado da sciencia, de hoje reconhecer.
Talvez não venha longe o tempo em que a sôrotherapia occupe o primeiro logar no trata- mento da febre typhoide.
Eis aqui o conjuncto de meios therapeu ticos que nós temos ao nosso dispor para o trata- mento da febre typhoide.
Quaes d'elles serão os que devemos empre- gar? Qual será o methodo preferido?
Nenhum até hoje tem podido arrogar-se de ser especifico, todos mais ou menos falliveis.
Por isso eu entendo que todo e qualquer nos serve contanto que a boa hygiene e a boa ali- mentação sejam postas em pratica com todo o cuidado. Porém dentre elles aquelle que parece merecer mais confiança é o methodo de Brand, posto que muitas vezes o não empreguemos em vista do estado d'espirito dos nossos nacionaes, isto já se vê no geral.
Direi portanto como Dujardin-Beaumetz: Le
meilleur traitement de la fièvre typhoide est un bon medicin.