• Nenhum resultado encontrado

Bairro da Liberdade: caracterização e organização bairro negro e

1 Algo sobre democracia e participação política

1.5 Bairro da Liberdade: caracterização e organização bairro negro e

Situado no centro histórico e comercial de São Luís, o bairro da Liberdade é vizinho do bairro da Camboa (chamado antigamente de Areal). Limita-se ao norte com o Rio Anil e ao sul com o bairro do Monte Castelo, a leste com o bairro da Camboa e a oeste com a margem esquerda do mesmo Rio Anil, e está ao lado do segundo maior sistema de televisão do estado, a TV Difusora, retransmissora do SBT. Em pesquisa realizada por Flávio Pereira da Silva (2005, p. 91), ele relata que:

[...] A formação do bairro da Camboa está intimamente ligada ao surgimento do bairro vizinho denominado de Liberdade. Esse bairro tem seus primórdios ligados à implantação do matadouro modelo nas proximidades do Rio Anil e da Estrada de Ferro (a partir de 1920). O matadouro foi criado em conjunto com o mercado modelo, por meio da lei 26 de 05 de janeiro de 1918 [...] Este matadouro funcionou até 1937 quando o contrato vigente até aquele momento é rescindido devido à precariedade em que se encontrava este estabelecimento [...].

Foi a partir da construção do Matadouro Modelo de São Luís, em 1918, que se originou a formação do bairro da Liberdade, que, aliás, recebeu o nome de Matadouro. A mudança para Liberdade ocorreu em 1967, na gestão do prefeito Cafeteira.

De acordo com dados do IBGE (2010), que utilizou o setor censitário para contar a população (visto que a cidade de São Luís não tem uma lei de bairros que permita o censo por rua ou bairro)31, a área levantada para esta pesquisa inicia-se na Camboa (embaixo da Ponte Bandeira Tribuzi), passando pela Liberdade, indo até a Fé em Deus (Hospital Sarah). Essas áreas possuem 30.833 habitantes32.

Figura 1

Área dos bairros Camboa, Liberdade, Fé em Deus, Alemanha, situada à margem esquerda do Rio Anil e à direita da Estrada da Vitória (até as proximidades do Hospital Sarah Kubitschek,

em São Luís/MA)

Fonte: IBGE – Sinopse do Censo 2010.

31 Somente os municípios de TIMON/MA e Matões/MA têm a lei de bairros aprovada pela

Câmara Municipal. Por isso, o censo é organizado por rua e bairros e não por setor censitário, como em São Luís.

32

A Liberdade caracteriza-se pela concentração de uma população remanescente de quilombo33. Apresenta-se como um bairro negro, o que coexiste com a percepção de que se trata de uma comunidade quilombola ou um quilombo urbano, tendo muitos oriundos principalmente do município de Alcântara/MA e de outras regiões da baixada ocidental maranhense. Segundo Almeida (2011, p. 42):

[...] Uma das maiores dificuldades enfrentadas no decorrer dos trabalhos de pesquisa do Projeto Vida de Negro34 concerne à

autoevidência que envolve o significado de quilombo. No estado atual de conhecimento se percebe os quilombolas menos como conceito, sociologicamente construído, do que através de uma definição jurídico-formal historicamente cristalizada [...] Está-se diante de um ato dissimulado de imposição, que precisa ser colocado em dúvida e classificado como arbitrário para que se possam alcançar as novas dimensões dos significados atuais de quilombo e de seus instrumentais interpretativos [...] Exatamente um século e cinco meses após a abolição formal da escravatura a figura do quilombo é reintroduzida no repertório das disposições legais. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, consoante o Art. 68 do Ato das disposições transitórias, asseverava o seguinte: “Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos [...].

Na maioria das vezes, bairros periféricos das grandes cidades são formados a partir da migração. Expulsos de seu meio, as famílias do interior migram para a capital e acabam por se instalar em terrenos periféricos, desocupados, muitas vezes alagadiços, beira de rio. É o caso de muitos dos moradores palafitados que foram descoladas de seus territórios, no caso de Alcântara, muito em função do conflito com o Centro de Lançamento de Foguetes (CLA). Parte deles, vitimados por esse deslocamento, é obrigada a vir para a cidade, no caso São Luís, e passam a morar

33 Ver Almeida

(2006) “grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória própria, dotados de relações territoriais específicas”.

34 Segundo Almeida (2001, p.34), o Projeto Vida de Negro iniciou suas atividades em abril de 1988, no âmbito da Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos (SMDDH) e do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), com o propósito de proceder ao levantamento das denominadas “comunidades negras rurais”. A mobilização em torno deste propósito começou em agosto de 1986, quando foi realizado o I Encontro de Comunidades Negras Rurais do Maranhão, em São Luís, tendo como tema central “O negro e a Constituição Brasileira”. Tratava-se de uma mobilização já vinculada às discussões que marcaram a Assembleia Constituinte.

de forma precária nos bairros da periferia35, como Camboa, Liberdade etc. Com dificuldades de pagar pelo solo urbano, sujeitam-se a ocupar espaços degradados. Dessa forma, constrói-se a cidade “ilegal”, no dizer de Maricato (1996). Duas razões desta ilegalidade são a baixa capacidade de renda de uma grande parcela da população urbana, como também a reduzida oferta de terras para esta população que não pode pagar. Assim é constituído o bairro da Liberdade, formado por indivíduos de baixa renda que passaram a abrigar ou ocupar empregos de pouca ou nenhuma qualificação, sem carteira de trabalho assinada, os conhecidos, como informais e com baixos salários, representados pelas empregadas domésticas, pedreiros, pescadores, porteiros, vigias. O que Braga (2012, p.19) denomina de precariado:

[...] Em suma, identificamos o precariado como a fração mais mal paga e explorada do proletariado urbano e dos trabalhadores agrícolas, excluídos a população pauperizada e o lumpemproletariado, por considerá-la própria à reprodução do capitalismo periférico [...].

Tal conceituação adotada por Braga (2012) observa-se na composição da mão de obra no bairro da Liberdade. Constatou-se através de entrevistas formais realizadas, inclusive em contatos informais envolvidos na comunidade da Liberdade, que a formação do bairro data de 1950 (SILVA, 1997, p. 31). Para a maioria dos moradores mais antigos, que foram testemunhas da formação do bairro, o processo de ocupação se deu inicialmente em sítios, quintas e vacarias, após a rescisão de contrato com a Companhia Matadouro Modelo. A partir daí, o município passou a controlar o Matadouro e as terras próximas. Para alguns moradores, nesse momento começa o processo de invasão, que resultou na consolidação do bairro da Liberdade.

35 Ver monografia da UFMA, de Ana Lúcia Duarte Silva (1997, p.32) De Matadouro a Liberdade:

formação histórico-cultural de um bairro de São Luís: “e foi na gestão do prefeito Antônio Costa

Rodrigues, em parceria com o governador Sebastião Archer (1946-1951) que loteou algumas áreas próximas ao Matadouro e logo em seguida começaram a ocupar exatamente aquelas áreas em que as pessoas haviam recebido e abandonado seus lotes, para logo em seguida formar uma grande área de ocupação”. E dissertação da UFMA, de Flávio Pereira da Silva (2005). A comunidade dos pretos