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3 SUSTENTABILIDADE E TURISMO: CONTRIBUIÇÕES DAS ATIVIDADES

3.3 Turista e residente: o turismo local como elemento estruturante da

3.3.2 Bairro Lavapiés

Lavapiés, localizado entre a Calle Atocha e Ronda de Toledos e Calle Mesón de Paredes e Santa Isabel, é o bairro que representa em Madrid o multiculturalismo. Suas ruas estreitas, seus prédios antigos e ladeiras são peças que representam parte da história de Madrid.

Alonso, escritor madrilenho, comenta a formação judia do bairro Lavapiés

[...] la judería madrileña, cuya aljama está situada en un reducido barrio limítrofe a la Puerta de La veja,la importancia de las existentes en aquellas mencionadas ciudades; pero en el siglo XIV ya se han consolidado ciertas fortunas de famílias cambistas y arrendadoras; sin olvidar a los médicos y cirujanos judíos que gozan de indiscutíble fama. (ALONSO, 2010, p.26) O nome Lavapiés deve-se a presença de uma fonte onde os judeus, comunidade presente no bairro, usava para lavar os pés antes de entrar na sinagoga - onde hoje se encontra a igreja de San Lorenzo (RECONQUISTA, 2009). Sua história passa exatamente pelo ano de 1391 quando aconteceu o ataque aos judeus, ficando muitos restritos às muralhas. Em 1492 aconteceu a expulsão definitiva dos judeus, e os poucos que ficaram tiveram que trocar seus nomes com medo de represálias.

Durante muito tempo, Lavapiés converteu-se em um local recebedor de imigrantes de todas as partes do mundo. Muitos foram fixando residência, fortalecendo o comércio e a diversidade cultural. O encontro de culturas diversas tais como muçulmanos, chineses, índios e latinos, revela uma mistura diferente e única do Lavapiés.

Para Veksler (2004, p. 14) “la vida en Lavapies es como un eterno retorno, una história circular que recrea experiencias vividas”, pois a vida comunitária nesse lugar é mais forte e presente, o que garante a humildade do povo e a prosperidade dos dias de hoje.

Nesse século, Lavapiés converteu-se de um bairro periférico, barato, simples e humilde, em um ambiente multicultural, com teatros, cinemas, Universidade de Belas Artes, bares, tabernas, restaurantes com comidas do mundo todo, onde à noite a boemia dá o charme que faltava ao bairro. Dentre as festas e eventos principais, destaca-se o Ramadam e o Fim do Ano Chinês.

O que impressiona nesse bairro é a convivência pacífica e respeitosa dentre as culturas e o intercâmbio cultural que se pode verificar pelas ruas e ladeiras de Lavapiés. Lado a lado um restaurante chinês, com outro de origem árabe. Os inúmeros locutórios (Lanhouses) e a feira do rastro (de objetos antigos) atraem a atenção de viajantes, que abandonam por um momento os pontos turísticos tradicionais para experimentar as temáticas cosmopolitas do Lavapiés.

Durante o dia, um bairro simples, familiar, pessoas transitando apressadas para seus destinos de trabalho, de afazeres com os prédios antigos como os corralas (construções do século XVI que abrigavam os imigrantes pobres que chegavam a Madrid) de fundo. Pelo final da tarde, as sessões de cinema com filmes de Bollywood, o comércio diversificado, os salões de beleza e as exposições na Casa Encendida, que abriga mostras culturais da Obra Social Caja Madrid e a famosa Zapatilla, um sanduíche quente que se pode provar em um bar na calle Zurita.

Su geografia urbana es un dibujo de caminos convergentes. Se pude llegar a suponer que esa curiosa geometría constituye un símbolo de que em la diversidade es posible lograr una superación enriquecedora, que esas decenas de patrias que se llevan a cuestas y se cruzan temerosas por las calles de Lavapiés puedan encontrar ese ansiado espacio compartido de intercambio creativo, constructivo y esperanzado de uma futura patria común. (Veskler, 2004,p.14)

Lavapiés é um bairro globalizado, que abriga inúmeras etnias, sem perder a singularidade. Seus quarteirões representam uma das zonas mais emblemáticas da multiculturalidade madrilenha. Cafés e restaurantes árabes, lojas chinesas e africanas, linguarejares senegaleses, lamentos de guitarras flamencas, eis algumas das peças do quebra-cabeça de Madrid contemporânea que o viajante descobre nas ruas estreitas de Lavapiés, particularmente na Calle Mesón de Paredes.

A observação desses dois bairros distintos de Madrid rendeu uma experiência importante quando o assunto é desenvolvimento social do turismo local. Madrid não se resume aos monumentos, parques, praças ou museus, ela é constituída mais pelo seu povo, sua cultura e história que muitas vezes não estão fisicamente à mostra. O Lavapiés com sua multiculturalidade exposta e o Chueca com sua diversidade de gênero, construíram em Madrid espaços peculiares de desenvolvimento do turismo, aonde essa atividade vem contribuindo dia após dia na valorização do patrimônio cultural, artístico e de eventos.

O turismo nesses espaços colabora com a regeneração de bairros antes degradados, excluídos, malvistos e pouco frequentados, em ambientes organizados, preservados e cheios de vida tanto noturna como de dia, oferecendo uma estrutura de hotéis, restaurantes e casas de shows que atraem estrangeiros de todas as partes do mundo para entender de forma mais realista que o Madrid tem de melhor.

A experiência adquirida na observação dos modos de vida das comunidades é o elo que unem visitantes ao local, trazem uma aquisição viva e real do que vale a pena quando se vive em um espaço rico de história e de luta, do respeito a dignidade humana, aos modos de relacionamento, as manifestações calorosas de amizade, de orgulho e de luta pela preservação dos prédios, das lojas, dos cinemas. Como uma consequência a preservação também da identidade de um povo que foi formado pelo conjunto de culturas, de tipos distintos de populações, mas que convivem em harmonia, com organização e que escolheram esses locais para manter vivas suas lutas, sejam elas pela liberdade do sexo, do respeito as escolhas sexuais, ou pela conservação de pequenos rituais, cultos ou folclore, tentando manter intactas de alguma maneira suas origens, suas heranças recebidas de seus antepassados e que em contrapartida deixam para Madrid dois exemplos valorosos de desenvolvimento de turismo.