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Turismo e sustentabilidade: apontamentos para uma nova visão do desenvolvimento e da cidadania

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Academic year: 2021

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SUL – UNIJUI

Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação

Departamento de Estudos Agrários Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

ALINE DORNELLES MADRID

TURISMO E SUSTENTABILIDADE: APONTAMENTOS PARA UMA NOVA VISÃO DO DESENVOLVIMENTO E DA CIDADANIA

Ijuí (RS) 2012

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ALINE DORNELLES MADRID

TURISMO E SUSTENTABILIDADE: APONTAMENTOS PARA UMA NOVA VISÃO DO DESENVOLVIMENTO E DA CIDADANIA

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa Direito, Cidadania e Desenvolvimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador:Prof. Dr. Daniel Rubens Cenci

Ijuí (RS) 2012

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M183t Madrid, Aline Dornelles.

Turismo e sustentabilidade : apontamentos para uma nova visão do desenvolvimento e da cidadania / Aline Dornelles Madrid. – Ijuí, 2012. –

123 f. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Daniel Rubens Cenci”.

1. Turismo. 2. Cidadania. 3. Consumo. 4.

Sustentabilidade. I. Cenci, Daniel Rubens. II. Título. III. Título: Uma nova visão do desenvolvimento e da cidadania.

CDU: 379.85

Catalogação na Publicação

Tania Maria Kalaitzis Lima CRB 10/ 1561

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

TURISMO E SUSTENTABILIDADE: APONTAMENTOS PARA UMA NOVA VISÃO DO DESENVOLVIMENTO E DA CIDADANIA

elaborada por

ALINE DORNELLES MADRID

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Daniel Rubens Cenci (UNIJUÍ): _________________________________________

Prof. Dr. Douglas André Roesler (UNIOESTE): ____________________________________

Prof. Dr. Gilmar Antonio Bedin (UNIJUÍ): ________________________________________

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Para meus pais Sandra e Moacyr, grandes incentivadores na minha caminhada em busca do aperfeiçoamento profissional, com todo o meu amor.

Para Nancy, minha tia querida, minha imensa gratidão.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela inspiração, iluminação e proteção nas idas e vindas de Santo Ângelo a Ijuí, nas inúmeras e felizes viagens e, principalmente, pela oportunidade do amadurecimento e crescimento pessoal.

Às minhas queridas irmãs, que mesmo longe, emanavam pensamentos positivos e de carinho, me auxiliando na conclusão de mais essa jornada.

Às amigas e colegas Maristela, Fabiane e Balbina, pela amizade sincera, pelas opiniões e sugestões sempre pertinentes. Tenham certeza de que nunca esquecerei cada força dada durante esse tempo de estudo.

Às amigas, companheiras de intercâmbio, Raquel e Priscila: não tenho palavras para agradecer tudo o que vivi com vocês, e nas aventuras que juntas desbravamos na Europa. Sei que nossa amizade seguirá pós mestrado.

Ao Instituto Estadual de Educação Odão Felippe Pippi, pelo apoio e a flexibilidade de horários que tornou possível a assiduidade nas aulas do mestrado.

Ao professor e orientador Dr. Daniel Rubens Cenci, que com sua competência, sabedoria e amizade me levou a acreditar que seria possível desenvolver este estudo, pensando o turismo sempre de forma sustentável. Por saber encontrar a melhor maneira de me fazer construir uma linguagem e um pensamento acadêmico e nas oportunidades felizes de participação em eventos nacionais e internacionais.

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RESUMO

A presente dissertação analisa as dimensões da sustentabilidade como base para o desenvolvimento do turismo, suas perspectivas e desafios na valorização da cidadania. Para tanto, primeiramente, aborda a formação histórica e conceitual do turismo dos primórdios da humanidade à contemporaneidade, observando as mudanças mundiais, o significado e os efeitos da globalização para o turismo, bem como, o surgimento da massificação das atividades relativas ao lazer e da sociedade de consumo. Em um segundo momento trata das transformações ocorridas nos conceitos de cidadania e as perspectivas para uma cidadania cosmopolita, com a elitização do consumo e os impactos da eclosão do turismo nas dimensões econômicas, sociais e ambientais para a sustentabilidade. Por fim, traz uma análise dos paradigmas do desenvolvimento e as propostas de aplicabilidade das dimensões de sustentabilidade para o turismo, apresentando o modelo de desenvolvimento turísticos de dois bairros de Madrid – Espanha e os caminhos pelos quais o turismo sustentável e a cidadania podem traçar para alcançar um consumo consciente das atividades turísticas.

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RESUMEN

El presente trabajo de conclusión del Master, analisa las dimensiones de la sostenibilidad como base para el desarrollo del turismo, sus perspectivas y desafíos en la apreciación de la ciudadanía. En prímer lugar analiza el desarrollo histórico del turismo y princípios conceptuales de la humanidad a lo contemporáneo, la observación de que el mundo cambia, el significado y las implicaciones de la globalización para el turismo y la aparición de la masa de las actividades relacionados con el ocio y la sociedad del consumo. En un segundo paso traerá las transformaciones en los conceptos de ciudadanía y de las perspectivas de una ciudadanía cosmopolita, con el aburguesamiento de consumo y los impactos del turismo sobre el brote de la sostenibilidad económica, social y ambiental. Finalmente, se presenta un análisis de los paradigmas del desarrollo y la aplicación de las dimensiones propuestas de sostenibilidad para el turismo, la presentación del modelo de desarrollo turístico en dos barrios de Madrid - España y las formas en que el turismo sostenible y la ciudadanía pueden seguir para lograr un consumo consciente de las actividades turísticas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1 O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO:ASPECTOS HISTÓRICOS E NOVOS CENÁRIOS PARA A CIDADANIA... 1.1 Turismo no mundo: construção histórica e conceitual... 1.1.1 Desenvolvimento contemporâneo do turismo... 1.1.2 Conceitualização do turismo... 1.2 Mudanças mundiais e os impactos no desenvolvimento das atividades turísticas... 1.2.1 O significado e os efeitos da globalização para o turismo... 1.3 Crescimento turístico e o consumo através dos tempos: desafios para a sustentabilidade do turismo... 1.3.1 A massificação do turismo na sociedade de consumo... 2 TURISMO E CIDADANIA: DA ELITIZAÇÃO E CONSUMO AO DIREITO A CULTURA E LAZER... 2.1 A sonegação da cidadania frente às formas tradicionais de promoção do turismo... 2.2 Eclosão do turismo e os impactos ambientais, sociais e econômicos... 2.2.1 Dimensão do impacto econômico do turismo para a sustentabilidade... 2.2.2 Dimensão do impacto social do turismo para a sustentabilidade... 2.2.3 Dimensão do impacto ambiental do turismo para a sustentabilidade... 2.3 Lazer e cultura: propostas para uma nova visão do turismo... 2.3.1 Os tipos de turismo: motivações para o exercício do lazer... 2.3.2 O progresso urbano e as implicações para as dimensões sociais do lazer e da cultura para o turismo... 2.4 Cidadania local e as perspectivas para uma cidadania cosmopolita... 3 SUSTENTABILIDADE E TURISMO: CONTRIBUIÇÕES DAS ATIVIDADES TURÍSTICAS PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL... 3.1 O paradigma do desenvolvimento e as implicações ao turismo... 3.2 As dimensões da sustentabilidade e sua aplicabilidade no desenvolvimento do turismo... 3.2.1 Dimensão econômica sustentável... 3.2.2 Dimensão social sustentável... 3.2.3 Dimensão ambiental sustentável... 3.3 Turista e residente: o turismo local como elemento estruturante da sustentabilidade – o caso de Madrid... 3.3.1 Bairro Chueca... 3.3.2 Bairro Lavapiés... 3.4 Turismo sustentável e cidadania: caminhos para um consumo consciente... 09 12 14 20 23 26 29 35 42 48 50 58 60 63 66 68 70 73 77 83 85 90 91 93 96 98 102 104 106

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CONSIDERAÇÕES FINAIS... REFERÊNCIAS...

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INTRODUÇÃO

O mundo globalizado e o modelo de vida proposto no contexto pós-moderno (BAUMAN, 2003), onde as informações rapidamente se espalham pelo planeta e as fronteiras são a cada dia mais facilmente vencidas, faz emergir o turismo como um dos principais eixos de movimentação e sustentação da economia no mundo. Atualmente estimula-se o turismo na forma tradicional, direcionando seu foco nos campos dos negócios, viagens de compras, de lazer, exploração de recursos naturais, entre outros; esses estilos configuram um modelo de turismo de consumo, que raramente tem se preocupado com as dimensões voltadas para a sustentabilidade. Em contra posição a proposta da sustentabilidade do turismo apresenta a utilização responsável dos recursos turísticos buscando uma valorização das diferentes culturas inclusive de uma mudança na postura do turista. Não como alguém que pensa no consumo apenas, mas que aproveita seu momento de lazer para realizar trocas culturais, de vivências, de bem estar e de um ócio produtivo, capaz de realizar o ser humano enquanto cidadão.

Os problemas que surgem com esses aspectos suscitam questionamentos como: Quais mudanças são necessárias para que a prática do turismo possa estar ao alcance dos cidadãos como realização do direito humano ao lazer e, concomitantemente, proporcione a viabilidade econômica e ambiental, tornando-se prática sustentável? Quais os principais entraves para a construção de um turismo sustentável? Há espaço para proposição de mudança no paradigma do turismo tradicional focado no consumo, em favor do respeito aos cidadãos?

Para pensar esses questionamentos é importante destacar a caminhada histórica do turismo e do próprio homem, já que desde os primórdios as pessoas vêm utilizando o espaço que habitam para desenvolver suas necessidades, primeiramente básicas e de sobrevivência da espécie e após para suas necessidades secundárias de produção, expansão e consumo. Esse conjunto de necessidades, bem como o desejo do homem em mover-se pelo globo, foi, ao longo do tempo, ganhando características importantes e sendo incorporadas na construção das identidades dos sujeitos.

A partir daí a explosão demográfica e tecnológica causadas principalmente pela globalização, influenciou uma mudança das relações humanas como também uma

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mudança na prática das atividades turísticas. Neste sentido surgem diferentes hipóteses para o enfrentamento das crises dentro do campo turístico, englobando o ambiental, o econômico e o social. Essas hipóteses podem estar alicerçadas na recolocação do local como ponto de partida, isto é, tornar as pessoas agentes de mudanças necessárias, em favor da realização da cidadania e da sustentabilidade

O encontro de pessoas proporcionado pelo turismo gera diálogos suficientes entre culturas, capazes de proporcionar um desenvolvimento sustentável, gerando qualidade de vida e proposição de novos valores voltados para a cidadania. Isto levar a crer que o turismo pode coexistir com o consumo responsável e prudente, que fortaleça a cidadania quando sustentada pelas dimensões sociais, econômicas e ambientais.

Vivemos em uma sociedade em transformação constante com um crescimento vertiginoso nos mercados econômicos, ampliando a competitividade, o consumo e os conflitos resultantes desse avanço. Essa tendência externalizada nas relações humanas é frequentemente observada nas atividades turísticas onde as possibilidades de trocas, conflitos e impactos é maior entre os agentes desse processo: turista e residente. Mas cabe destacar que esses efeitos são atuais e vem ganhando destaque na sociedade pós-moderna devido à rapidez com que ocorrem as modificação nos interesses e nas condutas.

A expansão dos meios de transportes e das comunicações e o encurtamento das distâncias vêm facilitando a abertura de fronteiras pelo mundo. Dessa maneira o uso excessivo de produtos, tecnologias e consequentemente dos recursos naturais, produziram um viajante consumista, capaz de estar em muitos lugares em pouco tempo, movimentando a economia e influenciando culturas. Essas marcas tornam-se significativas e são capazes de produzir mudanças no comportamento do turista, da comunidade que recebe o estrangeiro e no desenvolvimento do turismo como um todo. A globalização está presente em todos os setores da sociedade e por sua vez também nas atividades turísticas, produzindo impactos importantes e que merecem uma atenção especial nesse estudo.

É notória a exigência atual de novas posturas coletivas e individuais de atenção ao patrimônio comum, seja o cultural ou natural, percebendo a importância do papel que o turismo deve desempenhar na evolução dessas práticas e na mudança do comportamento de viajar para consumir ao máximo para um turismo voltado à ética de usufruir, sem degradar, respeitando os limites naturais, sociais e econômicos,

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gerando renda e bem-estar.

Dentro dessas perspectivas de mudanças, busca-se conhecer mais profundamente os impactos das práticas turísticas, sejam positivas ou negativas, como também a influência desse fenômeno que é o turismo, na ampliação ou fortalecimento da cidadania local vislumbrando uma cidadania cosmopolita.

Nesse contexto torna-se justificável a elaboração desse estudo, pois ele busca analisar se as mudanças que o turismo enfrenta em face da globalização surtiram efeitos no desenvolvimento da cidadania plena tanto a nível local como global. Esses efeitos são profundos, pois revelam um turismo intrinsecamente ligado e dependente da cultura e do consumo, que por vezes impulsiona uma crise nas relações entre sujeitos, tornando-se, em alguns casos, um problema para o desenvolvimento das atividades turísticas.

Assim, este trabalho tem por objetivo buscar estudos teóricos que permitam analisar como as atividades turísticas, podem se reestruturar em favor da qualidade de vida dos cidadãos visando a sustentabilidade.

Terá por base também, a realização de pesquisa do tipo exploratória, em base bibliográfica, com a consulta a diferentes fontes que possibilitem uma investigação profunda e satisfatória sobre o tema, procurando estar sempre dentro das delimitações pretendidas nos objetivos desse estudo. O enfoque se construirá com análise hipotético - dedutiva, bem como, numa perspectiva dialética, entre o turismo tradicional e de consumo e as perspectivas de sustentabilidade, com uma abordagem interdisciplinar, porquanto o estudo impõe uma complexidade de temáticas.

O turismo aliado à cidadania pode desempenhar uma função ainda mais relevante, o de propiciar reflexão sobre as dimensões da sustentabilidade turística, onde turista e residente participam juntos e ativamente dessa estruturação, pensando sempre nas contribuições relevantes dessas atividades para a melhoria da convivência entre os diferentes e consequentemente na ampliação da qualidade

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1 TURISMO E DESENVOLVIMENTO: ASPECTOS HISTÓRICOS E NOVOS CENÁRIOS PARA A CIDADANIA

O turismo é um fenômeno conhecido do homem há muito tempo, não exatamente nos conceitos e significados estabelecidos nos dias de hoje, mas pela sua essência que é observada já nas primeiras manifestações de deslocamento humano pelo globo terrestre, quando buscava o alimento para a sobrevivência de sua família ou tribo; para expandir seus domínios e também para a exploração de novas terras, sempre existentes na sua curiosidade pela infinita procura do desconhecido, do acúmulo e da ideia de dominação que esses deslocamentos proporcionavam àqueles que pela força, estratégia e poder aumentavam suas terras, suas posses e consequentemente sua área de mando.

A cada nova terra conquistada o homem aprimorava seus conhecimentos e suas técnicas; incorporava culturas, estilos de vida. O progresso urbano ajudava a consolidar muitas nações. Importantes cidades foram erguidas, estruturas construídas, culturas foram extintas, outras modificadas e nesse ritmo e estilo de desenvolvimento a população foi aumentando e as várias maneiras de viajar e de usar o tempo livre também receberam influências dessa construção histórica. O turismo foi ganhando seus contornos nos moldes produzidos pelas sociedades de cada época, representando em cada momento o perfil consolidado em uma região ou país. Geralmente representando a imagem da nação dominante.

No entanto sua complexidade e notoriedade são atuais, porque é característico da modernidade, estando ligado principalmente ao desenvolvimento tecnológico e na organização solidificada dos Estados. A evolução das ciências ajudou a amadurecer as atividades turísticas que dependiam em boa parte do seu sucesso às melhorias nos acessos rodoviários, na rapidez e segurança dos transportes e na aproximação das distâncias que alguns artefatos tecnológicos ajudaram a fortificar em um período espalhando-se e diversificando-se já na atualidade. A organização da economia e do mundo do trabalho propiciou um ajuste nas relações do homem com seu tempo livre. Esse fator contribuiu, junto com a tecnologia investida nos transportes a reconhecer o turismo como indústria.1

1

Jost Krippendorf aborda a industria do turismo como sendo a indústria das agências de viagens, das empresas aéreas, marítimas, rodoviárias e ferroviárias, da rede hoteleira, bares, restaurantes e dos estabelecimentos de diversão e lazer. Seria uma indústria de dinâmica própria visando o melhoramento financeiro.

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Impulsionado pelo sistema capitalista vigente e pelo impacto de outro fenômeno no mundo: a globalização, o turismo de mero coadjuvante passou a produzir transformações. Essas mudanças foram sendo percebidas a medida que as preocupações com o meio ambiente e com o aumento da pobreza e das disparidades econômicas e sociais aumentaram. Estudos apontam que o turismo, essa indústria considerado por muitos intelectuais como “sem chaminé”, poderia causar efeitos nocivos, impactos tanto na economia, nas culturas como na natureza. Assim como o desenvolvimento impulsionou o turismo para o topo como setor responsável pelo aumento da empregabilidade, da geração de renda, também gerou um setor frágil, causador de danos, principalmente quando mal planejado.

À medida que a internacionalização dos mercados se acelera, devido à globalização, o consumo de bens e serviços turísticos aumenta de amplitude por causa do cosmopolitismo do consumo e das relações com culturas estrangeiras. Com isso, o tempo tanto de trabalho e de lazer, é repensado em favor da massificação da demanda por setores envolvidos com as viagens, o lazer e o entretenimento.

A observação das consequências do turismo e de seu papel frente aos problemas vividos pelas sociedades é de grande importância, porque possibilita a realização de um estudo mais aprofundado sobre o seu significado e um repensar sobre suas dimensões. Se o mundo passa por transformações importantes de consciência e de responsabilidade, o mesmo acontece com as atividades turísticas, que almejam sua inserção dentro de novas posturas que incluam o coletivo em ações que visem à consolidação da cidadania.

O papel do turismo é fundamental nesse cenário, pois permite que as viagens continuem a acontecer afetando ao mínimo os espaços percorridos e desempenhe ações relevantes, não só nas comunidades turísticas, mas também naquelas que não recebem muitos visitantes, demandando políticas públicas democratizantes. A exploração turística vivida no início do século XX, do consumo do turismo tradicional e altamente impactante, pode dar lugar a um novo tipo de turista, e a um novo tipo de profissional do turismo: ambos preocupados com um consumo responsável, com a preservação da natureza, com a melhoria na qualidade de vida dos residentes nas localidades que recebem o viajante e principalmente, que desenvolva práticas cidadãs. A cidadania é possível dentro da prática turística quando difundida em rede, articulada com conceitos, com planejamento e a participação efetiva dos

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envolvidos: a comunidade.

Ao mesmo tempo em que constitui um fenômeno social porque fomenta o deslocamento de pessoas de um lado ao outro do planeta fazendo do ser humano o sujeito responsável pela sua expansão e efetivação, o turismo assume a responsabilidade com todos os participantes dessa relação. A fragilidade do planeta requer um pensar turístico consciente, responsável, preocupado com o bem estar das pessoas e com a melhoria na qualidade do tempo livre e com as atividades que serão oferecidas em cada fase.

A mudança pela qual o turismo deve passar está ligada a desconstrução do pensamento da lógica do consumo exagerado, que ao invés de contribuir, explora, degrada, exige das populações o esgotamento de suas culturas, de sua história e das paisagens. A base fundamental que pode ser alicerçada nessa nova etapa, pós exploração, é a de um turismo sustentável, que fundamenta a participação social, as potencialidades locais, a preservação dos recursos naturais, contribuindo com a valorização da diversidade do planeta e diminuindo o abismo social. É um novo repensar sobre os modelos de desenvolvimento do turismo, almejando práticas mais sustentáveis e éticas para com todos os envolvidos.

Assim, torna-se importante compreender como o turismo surgiu, sua trajetória ao longo do tempo, a influência que sofreu com os inúmeros movimentos do homem sobre o planeta, apoiado pelo domínio do conhecimento científico e tecnológico, a importância de entender seus conceitos, que a cada fase histórica modifica-se e ganha contornos e características marcantes. A relação dessa atividade com o ambiente, e a forma como o homem tem “coisificado” a natureza, também participa do debate, pois se observa uma expansão significativa do turismo como mercadoria, onde o viajante “consome” o lugar, as culturas, as paisagens, valorizando o ter e muito pouco o ser, nessa rede frágil que compõe os sistemas vigentes nas sociedades capitalistas.

1.1 Turismo no mundo: construção histórica e conceitual

O turismo está intimamente conectado aos deslocamentos e viagens. As viagens são deslocamentos temporários de pessoas, que vão de um ponto a outro do planeta motivados por razões diversas, tais como negócios, compras, lazer, cultura. O gosto por viajar sempre esteve presente entre os diferentes povos do mundo, mas

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os motivos pelos quais se colocavam em movimento, dependendo da época, e do período histórico, poderia variar e surtir efeitos diferentes na construção histórico-social de cada sociedade. As primeiras manifestações não lembram a estrutura complexa que o turismo possui nos dias de hoje, eram apenas trajetos percorridos por grupos humanos em busca de sobrevivência.

A alimentação, caracterizada pela caça e pela coleta de frutas serviu de impulso para que muitos povos primitivos realizassem os primeiros deslocamentos pela superfície da Terra. Quase sempre eram viagens difíceis, pesadas e perigosas porque pouco se sabia sobre o caminho a ser percorrido, quanto tempo levaria e se encontrariam em tempo hábil o alimento e a segurança necessária para aquele grupo de indivíduos. Yasoshima e Oliveira (2002, p. 17) afirmam que nesse período o homem pré-histórico se deslocava respondendo ao instinto natural de sobrevivência.

Algumas vezes a fome era a principal responsável pela evasão dos indivíduos de sua sociedade. Para os que fugiam era a oportunidade de conseguir alimentos em outras paragens; para os que ficavam era consolo de poder ter um quinhão um pouco maior na repartição dos alimentos que ainda existiam.

Essa busca pelo alimento em ambientes diversos confrontava tribos, que na disputa pela subsistência, competiam na força pelo território, inflando o desejo de conquista e de domínio sobre a terra em questão. Descobriu-se nessas incursões que a fixação de moradia, a agricultura e a domesticação de animais, poderiam melhorar a questão da falta de comida, no entanto, a aquisição de terras passou a representar status e poder e a conquista de territórios promoveu uma nova “febre” por viagens, aliado a invenção da roda pelos povos sumérios, melhorando o desenvolvimento dos transportes, diminuindo o esforço físico (YASOSHIMA e OLIVERIA, 2002).

Com o passar do tempo, os trajetos percorridos pela humanidade foram se adaptando, criando condições novas na maneira de percorrer os espaços e na maneira de viver. Foi o progresso urbano, principalmente dos povos da Grécia e Roma na Antiguidade Clássica, que produziram importante papel na organização das viagens e dos meios de transportes. Cada investimento na estrutura viária e marítima permitia uma maior e melhor mobilidade daqueles que utilizavam essas vias, aumentando o fluxo de passageiros, por terra ou por rios e mares. O interior

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desses países também era explorado, tanto para viagens a pé, como a cavalo ou em carroças.

A maior parte do que se conhece desse período é baseado nos escritos de Heródoto, considerado também o primeiro narrador de viagens. Ele morreu por volta de 430 a.C. Segundo Holloway (1997,p.36), Heródoto viajou muito e registrava, até com uma ponta de cinismo, outras versões diferentes daquelas narrativas fantasiosas que os guias de viagens faziam na época.

Diversas eram as razões pelos quais as pessoas eram motivadas a viajar. O povo grego não viajava motivado pelo lazer, mas por motivos de ordem moral e religiosa, dando pouco tempo ao ócio e ao divertimento, ao contrário do que frequentemente faziam os romanos, que privilegiavam todas as formas de prazer, incluindo as viagens (YASOSHIMA e OLIVERIA, 2002).

De acordo com os autores já citados, a saúde dos gregos servia de grande impulsionador das viagens. Os banhos gregos por volta do ano V a.C. eram o destino pelo qual os doentes faziam longos trajetos para experimentar as fontes de águas minerais com poderes curativos. Nesses centros de cura, eram erguidas estruturas de hospedagem e de diversão para o público, como teatros e estádios, para a realização de eventos esportivos. A saúde foi, durante muito tempo, um dos grandes impulsionadores do turismo na Grécia, porque ajudou a desenvolver um conjunto variado de infraestrutura turística, aumentando o número de atendidos nessas fontes, bem como o de peregrinação a esses lugarejos. A hospitalidade, como afirma Cunha, era praticada por todos os gregos e baseada em preceitos divinos.

Os estrangeiros e viajantes eram protegidos por Zeus Xênios, ou Zeus Viajante. A Hospitalidade constituía-se num ato honroso e numa instituição que obrigava o cidadão grego a receber com benevolência os estrangeiros que chegassem à cidade. Aqueles que recebiam deviam dar de beber aos hóspedes, oferecer-lhes sal e lavar-lhes os pés, mesmo antes de perguntar-lhes o nome e saber o motivo da viagem (1997,p.63).

Nessa época, as pousadas foram criadas próximas aos templos e em portos marítimos, com a função de atender às necessidades dos viajantes. Os donos desses estabelecimentos ofereciam o básico, como cama para dormir em um dormitório sem calefação, sem janelas e sem instalações sanitárias. Com essa estrutura, um importante evento ganhou destaque nesse período, que foram os Jogos Olímpicos, realizados no santuário de Olímpia. Para o êxito desse evento

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foram construídos o estádio e o pódio, onde homenageavam os vencedores e onde se localizava a chama olímpica (CAMPOS e GONÇALVES, 1998).

Já as termas romanas, embora não se destinassem propriamente à hospedagem e sim ao lazer, dispunham de água quente, instalações de até 100mil metros quadrados e cômodos para os usuários descansarem. Esses locais demonstravam a organização e a força do povo romano. O maior período de crescimento ocorreu durante os últimos cem anos a.C. e especialmente quando Júlio César estava no poder. “As conquistas romanas que se estenderam da Bretanha até o sudoeste do Egito só foram possíveis pela eficiente distribuição de trabalho, da rede de transportes e de comunicações e, também, na crença de um modo superior de vida” (YASOSHIMA e OLIVEIRA, 2002, p. 24). Os romanos foram responsáveis por dois séculos de pax romana. Isso significava que o viajante podia fazer um trajeto do muro de Adriano até Eufrates, sem cruzar fronteiras hostis. Isso gerou uma prosperidade propícia a mobilidade dos homens e de suas mercadorias.

Esse clima harmonioso, fez crescer uma classe média voltada às viagens regionais e sazonais de férias de verão, cujos principais destinos ficavam à beira-mar. Holloway esclarece que os ricos construíram casas de veraneio próximas de Roma, a fim de que pudessem também usá-las em suas reuniões sociais da primavera (1997,p.37). O turismo, nessa época, passou a receber status de férias e grandes balneários surgiam no litoral italiano. Cícero afirmava que era “graças ao otium que a vida valia a pena ser vivida”.

Esse clima de prosperidade durou exatamente o tempo de que alguns lugares precisavam para se consolidar turisticamente. No entanto, a queda do Império Romano trouxe grande empecilho para o desenvolvimento das viagens. Os deslocamentos “tornaram-se perigosos e difíceis devido à falta de segurança, aos saques e assassinatos e aos ataques dos bárbaros” (YASOSHIMA e OLIVEIRA, 2002, p. 31). Com a queda do Império, muitas estradas foram destruídas e a mobilidade ficou reduzida e restrita a pequenos trajetos. Houve nesse grande período da história um retorno das pessoas para o campo, para a agricultura, ficando as viagens em terceiro plano, pois não havia excedentes que permitissem o luxo das viagens ou dos lazeres. Yasoshima e Oliveira destacam que nesse período os movimentos estavam ligados as feiras e aos itinerários de fé, que motivava o viajante a ocupar seu espírito e seu coração com indulgências e graças espirituais (2002). Com as peregrinações, as abadias e os mosteiros serviam de hospedarias

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para os fiéis, acolhendo e alimentando os peregrinos.

Vários destinos religiosos surgiram nessa época das peregrinações medievais. A visita a Jerusalém e Roma, sede da Igreja Católica, eram destinos procurados. No século IX foi descoberta a tumba de Santiago de Compostela, dando início às peregrinações dos jacobitas ou jacobeus (de origem do nome do Apostolo São Tiago, o Maior, cujo nome próprio em francês é Jacques, latinizado para Jacob). Também as peregrinações a Meca pelos muçulmanos atraiu milhares de pessoas ano após ano.

Segundo Feifer (1985) por volta dos séculos XIII e XIV as viagens de fiéis já era um fenômeno de massa e por trás dessas viagens, de motivação religiosa, havia uma verdadeira indústria de indulgências plenárias e de comércio de relíquias de Cristo, da Santa Cruz e dos Santos, que muitas vezes não eram autênticas.

Para Barreto, a valorização das manifestações religiosas ajudaram a ampliar o movimento de viajantes, peregrinos, soldados e mercadores pelos caminhos europeus e a transformar pequenas hospedarias em pousadas mais avançadas e lucrativas. Nessa época, também começou o intercâmbio de professores e alunos entre as universidades europeias (2003, p. 46). As peregrinações ainda eram importantes nesse contexto, mas as jornadas eram cada vez menores pelo avanço do protestantismo na Europa. O ímpeto de viajar para aprender foi impulsionado pela divulgação dos trabalhos da Renascença Italiana. As monarquias estáveis garantiam a segurança das viagens (REJOWSKI, 2002).

O Renascimento dá um novo impulso às viagens, ganhando contornos culturais e acadêmicos. Rejowski afirma que o grand tour, “caracterizado como uma viagem de estudos e complementação da formação do jovem inglês, pertencente à nobreza e depois à alta burguesia” (2002, p. 39) surgiu com força e ano após ano, foi agregando momentos de diversão e lazer aos estudos realizados nessas viagens. As informações pertinentes a essas rotas precisavam ser difundidas e cada roteiro planejado, cada viagem realizada foi sendo transformada em pequenas publicações, ou guias de viagens, que orientavam os mais variados viajantes, pelos diversos caminhos europeus.

O final desse período está marcado pela motivação do deslocamento. Do estudo, e das peregrinações, para o lazer, a contemplação, mostrando tendências para a segmentação do turismo como é conhecido hoje (negócios, saúde, religião, cultura, lazer, entretenimento). No entanto, foi somente na modernidade que o

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turismo passou a ser discutido como fenômeno, merecendo conceitos e classificações que até hoje são motivo de análise e aprofundamento do seu estudo.

Barreto (2003) confirma essa hipótese quando analisa que somente com a Revolução Industrial no século XVIII foi que começaram as primeiras viagens organizadas com a intervenção de um agente de viagens. Isso porque esse período se caracterizou pelo surgimento da sociedade industrial com importante avanço econômico e tecnológico, com separação entre o produtor e os meios de produção através da expropriação de trabalhadores, para a acumulação capitalista.

Só por volta do século XIX a atividade foi se consolidando como turismo moderno. Esse período provocou inúmeras mudanças econômicas e sociais, “com os trabalhadores migrando das áreas rurais de agricultura básica para as áreas urbanas, onde se localizavam as fábricas. A nova tecnologia da máquina a vapor, a princípio implantada nas fábricas de forma estacionária, foi aplicada aos navios e ao trem” (REJOWSKI, 2002, p. 42). “Em 1830 a ferrovia Liverpool – Manchester, na Inglaterra, foi a primeira a preocupar-se mais com o passageiro do que com a carga. Começava a era da ferrovia, determinante para o desenvolvimento do turismo” (BARRETO, 2003, p. 51).

A urbanização teve seu aclive, dando singularidade ao padrão de vida urbana. Para Coriolano (2006, p. 29) “a sociedade industrial criara o espaço urbano/fabril, intensificara o processo de urbanização que acompanhava as particularidades específicas de cada cidade e consolidara a classe burguesa hegemônica e a classe trabalhadora ou o chamado proletariado”. A organização dos serviços turísticos passou a ser objetivada, aprimorando os atendimentos e a infraestrutura de hotéis, restaurantes. A organização das viagens adquiriu importância sendo necessário que alguém desempenhasse o papel de organizador, de administrador dessas práticas. Assim surge o agente de viagens, preconizado por Thomas Cook.

O pioneirismo de Thomas Cook2 em 1840, trouxe ao turismo a peculiaridade do planejamento e da gestão, porque dele partiu a responsabilidade pela organização da primeira viagem agenciada. Seu dinamismo em alugar um trem para 570 pessoas, bem como verificar acomodações e melhores tarifas, a fim de levar os fiéis de sua igreja para um congresso antialcoólico, rendeu frutos e prosperou criando, um ano depois, a primeira agência de viagens, a Thomas Cook & Son. Era o começo

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do turismo coletivo, a excursão organizada.

Deve-se ressaltar a importância do desenvolvimento dos transportes movidos a vapor, que deu maior velocidade, comodidade e capacidade de transportar viajantes e mercadorias, permitindo que o hábito de viajar se transformasse, aparecendo novos e diferentes destinos, para a classe média em ascensão (REJOWSKI, 2002). Essa estrutura urbana impulsionava a organização das sociedades em seus diversos aspectos: financeiros, culturais e políticos. Nesse período o mundo estava envolvido dentro de uma esfera denominada Estado Moderno, que pode ser formada por uma comunidade homogênea, conhecida por Estado-nação.3

1.1.1 Desenvolvimento contemporâneo do turismo

O turismo através dos tempos sofreu as mudanças necessárias para que se constituísse de fato em uma atividade de notória importância e expansão, isso paralelamente ao amadurecimento do Estado como instituição soberana e que agregava um novo sujeito, aquele que passou a ser inserido no mercado de trabalho e nas discussões da economia mundial e de suas problemáticas.

O Estado-nação formou uma sociedade tipicamente interestatal, constituindo-se como entidade política soberana e representante legítima de seus respectivos povos e de suas estruturas institucionais. Mesmo os Estados sendo soberanos, há nessa época, uma crescente relação interestatal, ou relação internacional, seja pela economia, ou pelo turismo que já despertava interesse por fomentar viagens muito além das fronteiras europeias, movimentando os mercados econômicos e aumentando a preocupação com a figura de uma comunidade internacional (BEDIN, 2003).

Na modernidade, além da soberania estatal, as comunidades europeias passavam por um longo processo de desenvolvimento das indústrias, dos transportes e da organização trabalhista. Esses fatores incrementaram as possibilidades de deslocamento no continente europeu e no extremo oriente. No ponto de vista de Schumpeter (apud BAUMAM 1999), o progresso não resultou

3

O Estado é o sistema constitucional - legal e a organização que o garante; é a organização ou aparelho formado de políticos, burocratas e militares que tem o poder de legislar e tributar, e a própria ordem jurídica que é fruto dessa atividade. A nação é a sociedade que compartilha um destino comum e logra ou tem condições de dotar-se de um Estado tendo como principais objetivos a segurança ou autonomia nacional e o desenvolvimento econômico. Finalmente, o Estado-Nação é a unidade político - territorial soberana formada por uma Nação, um Estado e um território (GELLNER, 1993).

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apenas da multiplicação do número de diligências, mas da invenção e produção em massa de meios de transportes novos – trens, automóveis, aviões.

Com a implementação tecnológica dos transportes, outros serviços precisaram se adaptar às mudanças. Os meios de hospedagens buscavam se aprimorar. Aproveitando ambientes de intensa movimentação de viajantes, hospedarias instalavam-se dentro de ferrovias para que o hóspede pudesse pernoitar enquanto aguardava o horário de saída de sua locomotiva. Em Rejowski e demais autores, verifica-se que “a primeira estação com um hotel de ferrovia foi o de Euston, em Londres (1838), entre outras e eram destinados apenas a acomodar os viajantes quando utilizavam o trem como meio de transporte” (REJOWSKI et al. 2002, p.61).

A crescente urbanização fez expandir os serviços de alimentação e restaurantes surgiram para satisfazer a demanda, tanto da cozinha simples como da alta gastronomia, com numerosos e abundantes pratos. Os eventos também contribuíram com a organização do turismo, como as feiras mundiais, ou exposições mundiais e a reedição dos Jogos Olímpicos, sendo a primeira em 1896 em Atenas (Grécia) e a segunda em 1900 em Paris.

Mas por razões da manutenção da soberania, dentro das relações internacionais do mundo moderno o que prevalece é o poder político. Portanto Bedin (texto, s.d.) afirma que, um Estado soberano, para fazer valer o seu poder político, suas decisões e interesses, por vezes, poderia fazer valer-se da violência e da guerra para alcançar tais objetivos. E nesse clima de conflito, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, onde as atividades turísticas foram interrompidas e as pessoas passaram a reagir com uma forte comoção. Khatchikian (2000) descreve que durante o conflito, muitos hotéis luxuosos, como os da Côte d'Azur, foram utilizados para hospedar tropas militares ou para abrigar quartéis generais e hospitais. A primeira Guerra Mundial trouxe além de prejuízos turísticos, prejuízos humanos.

Com o fim da Primeira Grande Guerra, a atividade turística voltou a se organizar. Mais ainda com a fabricação em série dos automóveis, ônibus e dirigíveis. As nações captavam receitas oriundas do turismo e reconheciam sua importância econômica tanto nos países europeus quanto em outros países. Tempos depois com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, que consequentemente repercutiu em toda a Europa causando a desvalorização monetária na Inglaterra e na Alemanha o turismo declinou. E em 1939, com a Segunda Guerra Mundial, o turismo paralisou de fato, voltando a acontecer somente cinco anos depois.

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Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, relevantes fatores contribuíram para que se fortalecessem o processo de internacionalização dos direitos humanos e da cultura de paz. Dentre eles, o mais importante foi a maciça expansão de organizações internacionais com o propósito de cooperação mundial. A criação das Nações Unidas para Piovesan (1997, p.150) “demarca o surgimento de uma nova ordem internacional que instaura um novo modelo de conduta nas relações internacionais, com preocupações que incluem a manutenção da paz e segurança internacional (...)”

Após a Segunda Guerra Mundial, a atividade turística tomou novos rumos, consolidou-se, expandiu-se e profissionalizando-se. (...) Mas acima de tudo, o que caracterizou esse período foi a massificação do turismo possibilitada por fatores políticos, econômicos, educacionais, culturais, sociológicos, trabalhistas, etc. (REJOWSKI et al. 2002, p.85)

O turismo, aproveitando o forte apelo pela não violência das comunidades europeias e pela efetivação dos trabalhos da ONU, espalhou-se consideravelmente, estando acessível a uma parte importante da população de médio poder aquisitivo, que comprava viagens econômicas organizadas por agências e operadoras turísticas. Muitas famílias mudaram seus hábitos, desejando desfrutar de passeios de longa distância, principalmente no período de férias. Os citados autores acrescentam que nesse momento os países que estavam esgotados pelo conflito bélico, buscavam sua recuperação econômica através da promoção do turismo, que gerava receitas e empregos e um maior contato e intercâmbio de ideias entre os turistas e os residentes.

A ONU tem por finalidade “promover a cooperação internacional para resolver problemas de caráter econômico, social, cultural ou humanitário e para encorajar o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais [...]” (MATIAS, 2006). Nesse conceito, pode-se observar a importância desse órgão para a busca da consolidação de um cenário de paz, visando contribuir para o melhoramento das relações políticas, mediante o afrouxamento das tensões e da criação de laços de confiança entre as partes.

O desenvolvimento de relações amistosas entre os Estados e a abertura das fronteiras para o turismo e para o mercado econômico levam a uma preocupação importante sobre o padrão desses serviços, incluindo saúde, proteção ao meio ambiente e dos direitos humanos. Assim, o turismo vem tomando corpo, ganhando

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curvas ao longo do tempo principalmente pela ação contundente do ser humano. A valorização das atividades turísticas gerou uma busca pela conceitualização desse fenômeno. Afinal, o turismo é uma indústria? Qual o significado e a essência do turismo? Será um setor que oferece possibilidades financeiras ilimitadas? Inúmeras podem ser as conclusões, no entanto é importante que se destaquem alguns desses fundamentos do turismo, almejando sempre a elucidação dessas indagações, principalmente com relação aos problemas que o aumento desordenado do fluxo de turistas vem trazendo a alguns países, com a consequente perda de bens naturais e culturais, apontadas pelos estudos de capacidade de carga e turismo sustentável (BARRETO, 2003).

1.1.2 Conceitualização do turismo

As viagens de turismo, originadas dos primeiros deslocamentos humanos, é hoje uma atividade complexa, que requer planejamento, organização e gestão e que está interligada aos fenômenos financeiros, climáticos, tecnológicos e culturais. Isto é, independentemente de como é praticado, ou por quem, ele será influenciado pelos diversos setores e segmentos que o compõe. Para Gastal e Moesch o turismo é

um campo de práticas histórico-sociais que pressupõem o deslocamento dos sujeitos em tempos e espaços diferentes daqueles dos seus cotidianos. É um deslocamento coberto de subjetividade, que possibilita afastamentos concretos e simbólicos do cotidiano, implicando, portanto, novas práticas e novos comportamentos diante da busca do prazer (2007, p. 11)

Esse conceito explora as dimensões do relacionamento do sujeito com o ambiente por onde ele se movimenta, bem como a carga emocional que este constrói e desconstrói à medida que interage com toda a atmosfera incluída nesse processo. A descoberta do novo que motiva e influencia esses deslocamentos, serve de base para esse direcionamento apresentado pelas autoras já mencionadas.

Dentro desse universo, o deslocamento de sujeitos pode ter diferentes motivações: profissionais, culturais, sociais, de saúde, lazer entre outros. Independente do desejo, as viagens geram necessidades de organização de produtos turísticos que contemplem, na sua composição, uma base cultural/ecológica, e uma estrutura que atenda e proporcione hospitalidade, boa gastronomia e informações qualificadas (GASTAL e MOESCH, 2007). No entanto,

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nem sempre a preocupação com a gestão do turismo, foi o foco de suas conceitualizações. Assim como sua história foi construída com todas as mudanças geradas com a participação das sociedades, o conceito de turismo também passou por esse processo.

Para Ignarra (2003), as definições do turismo estão ligadas ao período histórico em que se desenvolveu, incluindo discussões já no ano de 1910 onde se levava em consideração aspectos mais econômicos do que as relações das pessoas com as pessoas/meio. Nessa época o foco era no tempo em que a pessoa permanecia no lugar e os deslocamentos dentro e fora de seu país de origem.

Seguindo essa linha econômica, Alberto Sessa (1993) definiu o turismo como uma atividade industrial porque para ele as atividades turísticas transformam as matérias-primas em produtos que são comercializados e consumidos no mercado. Esse conceito alavanca o setor econômico, mas não contempla toda a complexidade do campo turístico. Palomo (1991) defende e conceitua o turismo como setor estritamente econômico elencando cinco fatores determinantes em seu ponto de vista:

1 - a propensão de viajar é um ato humano;

2 - a recreação é uma atividade desenvolvida por indivíduos, isolada ou em grupo; 3 - os deslocamentos são atos que compreendem gastos e receitas;

4 - o consumo de bens e serviços turísticos pode enquadrar-se em mais de uma atividade econômica;

5 - a geração de riqueza por meio de um processo produtivo é clara e tipicamente uma atividade econômica.

As abordagens tradicionais tendem a operacionalizar e a reduzir o turismo a uma série de atividades ou de transações econômicas, no contra ponto, há pesquisadores mais contemporâneos que fazem crítica a esse tipo de reducionismo, ressaltando a existência de estruturas pós-modernas complexas que exaltam a importância e o significado do turismo para os indivíduos (COOPER, 2005).

Na visão holística, o turismo ganha contornos acadêmicos. Beni afirma que o Turismo é o estudo

[...]de um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si

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para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios (2001, p. 37)

Essa definição reconhece aspectos que se centralizam no turista, permitindo um foco interdisciplinar e multidisciplinar de seus conceitos. Ele está articulado com diversos setores da atividade social humana sendo a principal causa da grande variedade de conceitos, por se tratar de um fenômeno dinâmico, real e postulado no cotidiano de milhões de sujeitos consumidores e produtores desse fenômeno.

Esse debate, acerca das definições do turismo, é importante para que se permita uma universalização do seu conceito. Em 1994, a Organização Mundial do Turismo – OMT formalizou todos os aspectos do turismo, a partir da definição de que esse setor compreende as atividades realizadas por pessoas durantes suas viagens a lugares distintos, por um período de tempo consecutivo e inferior a um ano, tendo por finalidade o lazer, os negócios entre outros.

Independente do conceito apresentado até agora, o importante é que alguns elementos são comuns a todos como: o movimento do turista no espaço/tempo; o período de estadia; as diferentes atividades realizadas; a motivação do turista e a complexidade de produtos e serviços capazes de satisfazer as necessidades dos viajantes, do mais simples, ao mais exigente.

O turismo visto como fenômeno pode envolver diferentes abordagens, sendo importante o papel de reestruturação do sistema econômico e do território. Nessa atividade, Coriolano destaca a existência da interação de lugares, mercados, pessoas, empregos, trabalho, políticas como força motriz do desenvolvimento regional. “O destaque definidor do turismo, é o lazer na viagem, isto remete ao cerne do turismo, porquanto se não houver, lazer e entretenimento, prazer e satisfação, não há turismo” (2006, p.40). Mesmo com a existência concreta desses lugares, ambientes, o turismo é em si uma abstração desses patrimônios (naturais, culturais, históricos) a serem usufruídos pelas populações locais e viajantes.

Seguindo essa visão em rede, Barreto (2001) afirma que turismo é “movimento de pessoas” e que depende diretamente de pessoas. Para essa autora é um ramo das Ciências Sociais e não das Ciências Econômicas, porque transcende a esfera das meras relações da balança comercial. Por isso é considerado um fenômeno complexo, porque é uma combinação de atividades, de serviços que se relacionam com a concretização de uma viagem.

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Assim os conceitos de turismo precisaram se complementar, amadurecer, buscando interagir com as transformações sociais no mundo. Dessa maneira, exige-se estudo, pesquisa e análiexige-se sobre o turismo e as circunstâncias em que está sendo desenvolvido, pois sua prática desempenha importante função na dinamização territorial dos países, principalmente pela massificação dessa atividade causada pela abertura dos mercados, das fronteiras e pela globalização mundial, fenômeno importante na construção da atual situação histórica, econômica, social e ambiental do planeta.

1.2 Mudanças mundiais e os impactos no desenvolvimento das atividades turísticas

Novos tempos, novos costumes, novos relacionamentos. O mundo compartilha diariamente a novidade com seus habitantes. A globalização tem contribuído, com rapidez, para que as transformações ocorram em cada canto do planeta, mudanças essas positivas e negativas. Giddens (1991, p.60) destaca que “a transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais através do tempo e do espaço.” Pode-se dizer que a novidade gerada pela mudança quebra paradigmas, velhos conceitos, transformando as culturas e as relações entre as pessoas.

Para Bauman (1999, p.07) “globalização é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível, é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira.” Portanto, não há como se esquivar desse processo emergente que universaliza tecnologias, informações, culturas e economias.

O processo de globalização está presente nas sociedades humanas há pelo menos 500 anos; o marco foi o período das grandes navegações, com os europeus comerciando na África, na Ásia e nas Américas. Na verdade, é um processo que parece novo, mas é bem antigo, marcado por algum revés, e que no limiar do século XX ressurge e se transforma em algo que aponta para um caminho sem volta (GIGLIO e NOGUEIRA, 2008).

A diferença da globalização de antes, para a de agora, é o modo como o homem recebe a informação, como se desloca no tempo e no espaço e a rapidez com que o mercado expandiu e tornou aberta sua economia, como também vulnerável.

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aspectos físico-geográficos, regiões, pontes, rios, divisas, aduanas. As fronteiras tornaram-se virtuais, e as distâncias receberam novos conceitos dependendo do ponto de vista. E nesse novo conceito de fronteiras, estão as comunidades, os povos que percebem que mudanças ocorrem e reagem à elas diferentemente uns dos outros.

Com relação ao tempo e espaço Bauman observa as distâncias em dois pontos de vista, um positivo e outro negativo:

Com as distâncias não significando mais nada, as localidades, separadas por distâncias, também perdem seu significado. Isso, no entanto, inaugura para alguns a liberdade face à criação de significado, mas para outros pressagia a falta de significado. Alguns podem agora mover-se para fora da localidade – qualquer localidade – quando quiserem. Outros observam, impotentes, a única localidade que habitam movendo-se sob seus pés (1999, p. 22).

Na economia, as transformações promovidas pela globalização são visíveis. A criação de um mercado global em que há livre fluxo de capitais, serviços e mercadorias, geram a livre concorrência e a racionalização da produção. Um retorno às ideias liberais mescladas à utilização de novas tecnologias de produção (GIGLIO e NOGUEIRA, 2008, p.63). A competição criada no mercado global afeta, de diversas formas, as sociedades, que precisam rapidamente adaptar-se a essa novidade.

A vida das pessoas está diretamente vinculada às consequências da globalização. No entanto, o que se busca analisar é de que forma o ser humano está adaptando-se a essa tendência e como entende e pratica o turismo em tempos tão conturbados.

A globalização tem afetado de diversas formas a movimentação das pessoas no globo. Mesmo a tecnologia favorecendo o encontro, a transposição das fronteiras, tem sido vista como um processo que torna as pessoas globais, como também em seres individuais. Com crises de identidade, de cultura e até mesmo de sociedade.

Um dos efeitos mais expressivos dessa crise que as sociedades enfrentam, está no fato de que o significado do tempo livre também mudou. Hoje ele pode ser considerado um “fazer nada”, ou ócio, tanto para o lazer individual como coletivo. “Muitas vezes as atividades realizadas no tempo livre servem para reforçar habilidades ou conhecimentos necessários à atividade profissional” (Trigo, 1998, p. 34). Dessa maneira, as viagens podem ganhar elementos que complementam a

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ideia de lazer e trabalho associadas, justificando a mudança no perfil atual dos turistas.

Grande parte da sociedade fica perplexa com as inúmeras mudanças ocorridas e a valorização crescente do tempo livre e do direito de sentir prazer, causando um enfrentamento de velhos paradigmas enraizados em conceitos de viagens de descanso, para poucos e com grande investimento financeiro.

Para HALL (2006) o efeito geral dos processos de globalização é o enfraquecimento das identidades culturais, ele afirma que muitas vezes as identificações globais podem apagar as identidades nacionais. Isso provocaria uma fragmentação de códigos culturais, o que ele denomina de pós-moderno global.

E acrescenta o mesmo autor:

Os fluxos culturais, entre as nações, e o consumismo global criam possibilidades de 'identidades partilhadas' – como consumidores para os mesmos bens, 'clientes' para os mesmos serviços.[...] À medida em que as culturas nacionais tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural (2006, p.74).

Cada ação humana atualmente, se modifica de acordo com as regras do jogo, ditadas pela globalização, pelo livre mercado, pelo consumo. Bauman (1998, p.113) considera que:

No jogo da vida dos homens e mulheres pós-modernos, as regras do jogo não param de mudar no curso da disputa. [...] significa tomar cuidado com os compromissos a longo prazo. Recusar-se a 'se fixar' de uma forma ou de outra. Não se prender a um lugar, por mais agradável que a escala presente possa parecer. [...] Não controlar o futuro, mas se recusar a empenhá-lo: tomar cuidado para que as consequências do jogo não sobrevivam ao próprio jogo e para renunciar à responsabilidade pelo que produzam tais consequências [...].

Esses processos de mudança, tomados em conjunto, representam um processo de transformação tão fundamental e abrangente que se pode concluir que é a própria modernidade que está sendo transformada. Dessa forma, as sociedades passam a ser consideradas sociedades de mudança, mudança constante, rápida e permanente, trazendo para os sujeitos, reflexões a cerca da vida atual frente às experiências de convivências com mudanças rápidas, abrangentes e contínuas (HALL, 2006, p.14).

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humano, que tem passado por crises importantes em sua identidade, em sua cultura em seu ambiente. Muitos desses efeitos foram e são produzidos pela rapidez com que as pessoas se deslocam de um canto ao outro do planeta, confrontando culturas e costumes nem sempre de forma pacífica. As atividades turísticas são esses elementos conflitantes, pois elas propiciam esse encontro e nem sempre aqueles que trabalham com esse setor, avaliam os efeitos positivos e negativos existentes entre turistas, residentes e a natureza.

O turismo, nesse cenário, não é um mero agente passivo desse fenômeno, mas um ator central na construção desse novo mundo. Com seus perigos, oportunidades e contradições, a globalização tem dominado a pauta de diversos segmentos da sociedade internacional. Contudo, seria desastroso optar pelas seguintes atitudes: ignorar como ela tem alterado profundamente e inexoravelmente esse mundo e tomar uma atitude dogmática frente às mudanças globais.

1.2.1 O significado e os efeitos da globalização para o turismo

O mundo pós-moderno é pensado a partir da participação ativa do fenômeno da globalização no mundo. Para melhor ressaltar essas características, é necessário pensar nos conceitos de globalização, as implicações desse fenômeno nos diversos setores, inclusive no turismo e como alguns autores dialogam sobre o tema.

Para Robertson (1992) “a globalização é um processo de concentração de capitais, das finanças e de todos os outros recursos de escolha e ação efetiva, mas também – talvez, sobretudo – de concentração da liberdade de se mover e agir”. Nessa leitura observa-se que o conceito da globalização origina-se na área financeira, cuja complexidade penetra no comportamento humano, nesse caso a liberdade de movimentar-se em quaisquer direções, transformando as escolhas desse sujeito e ampliando suas opções. Nesse caso, as pessoas interagem umas com as outras pelo encurtamento das fronteiras e por possuírem liberdade para determinar suas vidas.

Para Bauman (1999, p.07) “globalização é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível, é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira”. Portanto, não há como se esquivar desse fenômeno emergente que universaliza tecnologias, informações, culturas e economias.

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chegam de um ponto a outro do planeta, são hoje necessários, e combinam com o estilo de vida adotado por muitas sociedades. O que naturalmente vai sendo absorvida e aceita, deixando de ser um fenômeno, para fazer parte, de fato, do cotidiano das pessoas. Mesmo que isso gere algum desconforto, e consequências pouco positivas.

Já na concepção de Milton Santos (2000) a globalização é um processo que torna o mundo confuso e perverso para quase a totalidade da população mundial, pois ele acredita que o mundo vem caminhando dentro de três visões: a globalização como fábula, a globalização como perversidade e por outra globalização. Na primeira o autor apresenta fantasias, ou irrealidades dadas como certezas ou verdades; na segunda o pessimismo predomina colocando as misérias e a violência como doenças crônicas da sociedade e na última Milton Santos abre uma brecha para a mobilização das massas que podem criar um novo discurso para o planeta buscando soluções mais humanas e solidárias.

Numa visão mais sistêmica, McGrew (1992) coloca a globalização como processos que atravessam fronteiras, criando vínculos entre as comunidades e organizações com novas percepções do espaço-tempo, tornando o mundo mais conectado. Nesse modo de enxergar a mundialização o movimento das pessoas pelo planeta é valorizado, sendo o turista, esse incansável viajor, um importante representante dessa nova dinâmica global, pois participa da abertura e da conquista de regiões e espaços ambientais e culturais. Prova disso é o próprio processo histórico do turismo que configura concretamente as mudanças do pensamento humano e da estrutura de mundo, verificadas no modo como as viagens passaram a se organizar e na evolução dos estabelecimentos de hospedagem dentro e fora dos centros urbanos como foi apresentado anteriormente.

Nessa conjuntura de esforços por tornar os espaços globais, o turismo assume o seu papel capitalista, porque dá um valor ao lugar, mercantilizando ambientes, criando o elo da produção com a distribuição, transformando pessoas e lugares em mercadorias “consumíveis”. A globalização provocou uma ampla disponibilização e acessibilidade mundial aos produtos, às instalações e aos serviços turísticos.

A condição pós-moderna induz a um estilo de vida marcado pela aquisição do conforto e do bem-estar. A alta tecnologia e o poderio econômico dos países desenvolvidos possibilitaram investimentos para grandes projetos nas áreas de lazer e turismo. “Essas novas opções surgem em um contexto caracterizado por novas

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exigências de opção de lazer por parte das pessoas e pela atuação das grandes empresas que criam novas necessidades e possibilidades para as massas (...)” (Trigo, 1998, p. 65).

Para Beni (2003, p. 33) atualmente vive-se tempos de extrema e profunda transição, onde o que hoje é válido e consumido, amanhã já se torna obsoleto e não responde mais às necessidades que pareciam satisfazer. “Os mercados buscam reagir rápido a essa situação, porque mudam também os produtos e serviços, os desejos e as motivações dos consumidores e suas decisões de compra, os canais de distribuição, a publicidade e o marketing competitivo.

A globalização muda a natureza do turismo internacional, pois traz a prosperidade em nações emergentes, aumenta a divisão do trabalho internacional e potencializa a informação via web. O turismo já é o mais importante setor da economia mundial no total d bens e serviços de exportação ( Beni, 2003,p. 85).

O que se tem hoje é um movimento que pode ser classificado de massa e que converteu o turismo em um bem de consumo disponível a uma significativa e crescente parcela da população do mundo. Wainberg (2000) explica que o fenômeno turístico espalhou-se nos quatro continentes, concentrando-se principalmente na Europa com cerca de 70% do recebimento de turistas.

O mesmo autor apresenta um dado importante que coloca o turismo, no ano de 1996, como a terceira maior indústria do mundo, perdendo somente para o petróleo e ainda para a indústria automobilística.

Se é verdade que vivemos a pós-modernidade, certamente o turismo, como fenômeno e a necessidade do testemunho como um de seus motivos propulsores, devem ser agregados às características geralmente listadas para definir esta nova fase da história – complexidade, contradição, ambiguidade, tensão, inclusividade, hibridismo, entre outros. (TRIGO, 1993, p.64)

A sociedade atual, influenciada pelas facilidades de acesso, de comunicação e de deslocamento, quer viver experiências exclusivas, diferentes, deixando de lado o que os antigos viajantes buscavam: o lazer para renovar-se. Querem o estranhamento, permitindo-se descobrir vivenciar o contraste, aguçando o etnocentrismo e de alguma forma a firmar sua identidade e auto estima, e menos para lançar-se a um tipo de observação participante típica das investigações antropológicas (WAINBERG, 2000), somando-se à isso a utilização das ferramentas

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tecnológicas e todas as facilidades do mundo globalizado.

Portanto, as viagens e o turismo agregaram-se a um vasto elenco de evidências que permitem identificar o novo fenômeno da globalização, entre eles a dos mercados financeiros, o mundo digitalizado e articulado em redes através dos serviços de telecomunicação, as marcas comerciais, de bens mundiais, e a presença de corporações transnacionais em diversos quadrantes do mundo. (Wainberg, 2003,p. 12)

Essa conclusão levantada por Wainberg evidencia o mérito da expansão de tais fluxos turísticos para comunidades e regiões arredias e isoladas. A abertura de fronteiras físicas e virtuais favorecem a ampliação dos movimentos em rede de comunicação, que incluem transportes, lazer e entretenimento. Consequentemente, aumentam os conflitos, o uso inadequado dos recursos, enfim, impactos de toda a natureza.

Os novos tempos para o turismo exigem desse setor um amplo estudo da influência, tanto positiva como negativa, nas diversas áreas que o abrangem, desde a hotelaria, o turismo receptivo, até mesmo na mudança do desejo e da satisfação dos consumidores e dos locais que recebem esse turista. Muitas vezes a questão da autenticidade cultural e social é repensada, dentro desses novos valores apresentados nas diversas práticas do turismo.

O espaço turístico sofre alterações por essa nova dinâmica de vida, mais rápida, mais impactante, digitalizada e complexa, modificando o modo como as pessoas optam pelo uso desses espaços e dos recursos naturais, culturais e históricos. Essa nova opção está ligada a questões econômicas, às características do local, aos estímulos promocionais, pois o mercado é atualmente, um forte regulador dos diversos setores que agem dentro das sociedades modernas e “ao imaginário simbólico” (Castrogiovanni 2003, p. 44) que tal espaço pode representar no contexto temporal. Esse mesmo autor afirma que “esse dinamismo também está associado à estagnação de certos destinos, que muito rapidamente recebem uma grande carga de alterações, perdendo com isto, em parte ou totalmente, os seus elementos constitutivos dos seus atrativos”.

Com tudo, o turismo precisa se adaptar a essas mudanças estruturais, envolvendo e organizando a sociedade, para que possa ser autora ou coautora no planejamento e na gestão local. Dessa forma o turista e o residente não serão vistos como um agente isolado do contexto globalizado, e nem como um articulador

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