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Bairros periféricos e a População de baixa renda: condições de vida

5. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE

5.2. Bairros periféricos e a População de baixa renda: condições de vida

No município de Mossoró, como em qualquer outro município, existem contrastes e segregações socioespaciais, no que diz respeito a habitação da população, bem como a economia de cada localidade da região. É o que comumente denomina-se de áreas periféricas e áreas nobres, contudo, esta denominação traduz um pensamento de que as pessoas são medidas pela sua contribuição econômica, o que muitas vezes, devido as condições capitalistas no qual a sociedade é inserida favorece para propagação deste pensamento.

O uso da cidade, e aqui em todas as suas formas de uso, para fins de sobrevivência, é comumente ligado ao poder aquisitivo do ser humano e ao modelo econômico existente, mas especificamente, a lei da oferta e da demanda. Podemos citar o exemplo da moradia, onde os preços são mais elevados, visto que as moradias com preço mais alto na cidade e que são habitadas ficam localizadas em bairros nobres, onde muitos ficam próximos ao centro do município, perto de setores comerciais principalmente.

No caso das grandes cidades, Ana Fani destaca que a população de maior poder aquisitivo procura habitações com um novo modo de vida, lugares mais arborizados, mais amplos e na maioria das vezes afastados dos centros urbanos, mas que estes lugares têm mais aspectos negativos como poluição, congestionamento, barulhos, etc. (CARLOS, 2007).

No município de Mossoró, acontece que estas áreas de maior contribuição no que diz respeito ao poder aquisitivo da população está muito próxima ou aos redores do centro da

cidade, tendo contato diretamente com a parcela de setores que contribuem para economia local, bem como a localização de escolas da rede privada que se destacam na educação regional.

As outras regiões da cidade, no qual são chamadas de periferia, áreas ocupadas pelas camadas sociais em estado de vulnerabilidade social, são aquelas onde as moradias não têm preços tão altos, onde o poder aquisitivo da população não chega a ser tão alto e os meios de produção de capital muitas vezes são autônomos, ou seja, não são diretamente ligados a produção de empresas privadas ou não da cidade.

Em suma, é o processo de reprodução do capital que vai indicar os modos de ocupação do espaço pela sociedade, baseados nos mecanismos de apropriação privada, em que o uso do solo é produto da condição geral do processo de produção da humanidade, que impõe uma determinada configuração ao espaço urbano. Tal configuração decorre de dois modos de uso do solo: a) vinculado ao processo de produção e reprodução do capital e b) vinculado a reprodução da sociedade, tanto da força de trabalho (enquanto exército industrial ativo, ou exército industrial de reserva), quanto da população em geral (consumidores). Tal diferenciação emergiu da construção da noção de espaço-produto. (CARLOS, 2007, p. 49).

O espaço urbano é baseado nessa relação, na configuração de produção, seja ela humana, nas relações sociais, seja ela nas relações de produção econômica, nas relações de trabalho, e no caso da ocupação das áreas periféricas da cidade, nas relações de consumo.

A questão importante a se discutir é no que diz respeito às condições no qual é inserida a população que reside nessas áreas de menor poder aquisitivo, onde muitas vezes são submetidos ao abandono de políticas públicas que possam atender suas necessidades básicas e contribuir para a melhoria de vida.

Claro, há as diferenças entre as áreas mais centrais da cidade, onde existe maior circulação de produtos, de pessoas, de capital, e as áreas mais afastadas do centro, onde os habitantes não têm tanta diversidade de produtos, de capital. Porém, fica evidente, principalmente em Mossoró, que essas diferenças estão cada vez mais acentuadas, com relação às políticas públicas, que deveriam diminuir tais diferenças.

Na área do Saneamento Básico, que é objeto de estudo deste trabalho, fica evidente as contradições e diferenças existentes para estes dois conceitos de divisão Sócio espacial da cidade, como vimos no capítulo que se remetia a lei 11.445/07, as políticas de saneamento devem ser voltadas para todos os cidadãos, sem exceção e o poder Municipal deve realizar medidas para que essas políticas públicas sejam realmente feitas de acordo com o poder aquisitivo da população, em relação as taxas para as atividades, que devem ter qualidade no serviço.

Vimos também no capítulo anterior, que existem áreas em Mossoró que os serviços, especialmente de abastecimento de água e coleta da rede de esgotos ainda é precária e a população tenta realizar tais serviços de forma manual e individual.

Os bairros periféricos da cidade ainda sofrem com relação a estes serviços de saneamento básico, seja porque a CAERN ainda não realizou o sistema de avaliação e construção de medidas, caso das áreas rurais, onde em muitas comunidades para o abastecimento de água é feito por caminhões pipa e que pelas próprias condições econômicas das pessoas, muitas vezes eles não tem condições de comprar desses caminhões pipa. Como também o serviço de esgotamento sanitário, que em alguns casos, é feito por fossa séptica.

E também tem as áreas dos bairros que estão próximos, de certa forma, ao centro da cidade, mas que por diversos fatores se tornam periféricos, onde por causa de várias manutenções nos poços e nas estações elevatórias o abastecimento de água fica prejudicado, ficando em alguns casos, dias sem receber água em suas casas, como é o caso dos bairros Santo Antônio, um dos maiores da cidade, Santa Helena, Cajazeiras, Redenção.

As condições de vida da população de baixa renda que reside em bairros periféricos são claramente contrárias a população que reside nas áreas mais nobres da cidade, e que a assistência do poder público municipal deixa a desejar, mas que ao longo dos últimos anos o governo local tenta mudar essa situação, tentando implementar medidas e políticas públicas que possam adentrar no interior dessas áreas mais periféricas, onde a própria economia local tem-se modificado e os meios com que esta população busca sobreviver tem-se transformado.

Ao passo que os investimentos para melhorias do sistema de saneamento básico do município tenham crescido, e aqui especialmente o de abastecimento de água e esgotamento sanitário, a cidade também cresceu, a população tem crescido muito nos últimos anos, assim como os bairros da cidade, no qual existe este contraste, onde há melhorias no sistema, mas que muitas vezes não suporta e não acompanha o crescimento exponencialmente da cidade em suas diversas áreas, deixando, como já vimos, a população de baixa renda a mercê de serviços que por vezes não são suficientes para atender as demandas dos bairros.

Por conseguinte, o restante da cidade possui configuração do saneamento básico diferente, na maioria dos bairros simplesmente não existe. Quando há dutos no subsolo das ruas, não há permissão para que os moradores conectem seus tubos a rede, visto que ainda não existem bacias receptoras e muito menos manutenção da rede de esgoto que são muitos antigos, portanto, ineficientes. Na maioria das outras localidades, a população faz uso de fossas sépticas e sumidouros ou simplesmente jogam os dejetos nos esgotos das ruas e galerias que estão a céu aberto. O bairro Santo Antônio, por exemplo, o mais populoso e um

dos mais antigos da cidade, ainda não possui rede de coleta de esgotos em todas as ruas nem coleta de lixo regula.

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