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Segregação socioespacial em Mossoró/RN

5. SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE

5.1. Segregação socioespacial em Mossoró/RN

Pensar o urbano através da organização espacial e das classes sociais nos reporta a diversos problemas, tais como: Pobreza, violência, miséria, degradação ambiental, segregação, entre outros. E nesse contexto, a cidade se torna cada vez mais o lugar de atuação dos agentes de produção do espaço.

A segregação espacial constitui parte integrante e fundamental da produção do espaço urbano. O espaço da cidade capitalista, particularmente da grande cidade, caracteriza-se por

Mapa 1: Estacoes elevatórias na cidade de Mossoró/RN. Fonte: Secretária de Infraestrutura de Mossoró-RN.

ser fragmentado, o que dá origem a um mosaico irregular, com áreas de diferentes tamanhos, formas e conteúdos, geradas por distintos processos espaciais e agentes sociais, e criadas em diferentes momentos do tempo.

É a Camada de mais alta renda que, ao consumir e valorizar de forma diversificada o espaço urbano produz de maneira peculiar a segregação socioespacial. Vale salientar que é a existência de tal segregação permite que a classe dominante continuar no domínio sobre a classe de menor renda, assim como o espaço urbano, conforme seus interesses próprios. Somente esta separação entre as classes sociais existentes em uma região pode agir como instrumento e meio para o poder da classe mais rica.

Esta segregação espacial possui uma longa trajetória na História da humanidade, pois desde os tempos da Antiguidade, nas cidades gregas, romanas, chinesas, já existiam divisões definidas, social, política e economicamente, e isso gerava de certa maneira o processo de construção dos espaços urbanos e particularmente o desenvolvimento ou não das grandes cidades.

Segundo Marcuse3, historicamente existe um padrão geral de segregação das classes

sociais, que podemos dividir da seguinte maneira:

1. Divisão Cultural – realiza-se através da língua, da religião, das características étnicas, estilo arquitetônico, por país ou nacionalidade;

2. Divisão Funcional – é resultado da lógica econômica, resultando na divisão entre bairros residenciais e comerciais, áreas rurais e indústrias. Ela pressupõe a divisão do espaço pela função exercida para cada atividade.

3. Divisão por Diferença no Status Hierárquico – reflete e reproduz as relações de poder na cidade. Pode ser representada, por exemplo, por um enclave (condomínio fechado) ou pela distribuição dos serviços públicos pelo Estado.

A partir da Revolução Industrial, a segregação espacial passa a se dar em torno de dois conceitos, o de classe social e o de etnia, ou seja, a segregação se dá a partir deste momento através da classe social no qual os indivíduos pertencem, seja ela mais alta ou mais baixa, conforme o poder monetário de cada classe, e também pelas etnias, levando em consideração a origem de cada pessoa, de cada sociedade.

Com isso, podemos citar como exemplo morar num bairro periférico, onde hoje significa muito mais do que ser apenas segregado, significa ter oportunidades desiguais em nível social, econômico, educacional, cultural, quer dizer, que morar em um bairro periférico 3 MARCUSE, Peter. Enclaves, sim; guetos, não: a segregação e o estado. In: Espaço e Debates. São Pau- lo: NERU. v. 24, n. 45, jan./jul. 2004.

pobre implica em condições mínimas de melhorar socialmente e isso se da por causa da reprodução da força de trabalho e do capital com o qual Marx já falava com propriedade.

A segregação socioespacial não é somente a distinção das áreas de uma cidade em áreas ricas e pobres, nobres e periféricas, mas também implica nas condições a que são submetidas às populações de cada área, as oportunidades que existem para cada área e isso cada vez mais tem se tornado uma grande diferença.

Isto acontece porque os investimentos públicos são voltados para as áreas nobres das cidades, por se situarem próximos ao centro urbano e os bairros de classe de renda mais baixa, por se localizarem afastados do centro das cidades, esses investimentos acabam chegando – quando chegam - de maneira bastante precários.

Um grande expoente da linha marxista, David Harvey, na sua obra A Justiça Social e

a Cidade (1980), argumenta o significado de segregação com base em discussões teóricas, no

qual a diferenciação residencial significaria acesso diferenciado a recursos escassos necessários para se adquirir oportunidades de ascensão social.

A diferenciação residencial deve ser interpretada como chances desiguais de se ascender socialmente. Geram-se, assim, acessos diferenciados à infra-estrutura urbana, à serviços educacionais e, conseqüentemente, à manutenção do status quo, o controle e a reprodução do exército de mão-de-obra de reserva nas cidades segregadas. (NEGRI, 2008, p. 138).

Segundo o autor, a diferenciação residencial é uma chance para que o controle e a reprodução do exército de mão de obra sejam mantidos e que haja uma ascensão social das classes existentes, e que de certa maneira as diferenças entre elas a determinados serviços urbanos seriam uma maneira de reproduzir na prática tal ascensão.

Tal diferenciação residencial deve ser interpretada nas relações sociais de dentro de uma sociedade capitalista, ou seja, o fator dominante para que haja diferenças, especialmente nos serviços urbanos citados é o fator econômico, onde no sistema capitalista, o poder econômico de cada classe social é preponderante conforme manutenção do status quo determinante.

Contudo, há uma grande variável nessa questão, a qualidade de vida da população, no que tange aos recursos básicos que a cidade pode e deve oferecer, no qual já foi citado neste trabalho. Há também um prejuízo cultural, no que diz respeito ao modo como as pessoas passam a enxergar o mundo e no que Marx denomina de consciência de Classe, no qual fica fragilizado devido aos inúmeros problemas existentes em certa localidade, bem como as realidades que cada indivíduo passa.

E aqui pode haver um grave problema, onde as pessoas podem se acostumar a viver com certo estilo de vida, e assim querer de certa maneira estagnar sua vida, sem ao mínimo querer mudar, querer avançar, eis o que Lefebvre conceitua de “Alienação urbana”, no qual envolve e perpetua todas as outras alienações.

Sendo assim, a segregação poderia ser generalizada por classe, bairro, profissão, etnia, idade e sexo, fazendo com que exista uma consciência ou uma falta dela, para a existência de uma segregação e que haja também modos de ver a realidade da sociedade de outras maneiras.

A alienação no qual Lefebvre chama a atenção é ao fato de que possa surgir em certos indivíduos, em certas localidades, o pensamento de que os diversos problemas existentes são pertinentes e passíveis de se conviver sem se atentar a uma mudança, e isso de certa forma implicaria a permanência dos fatos tal qual ele são, uma homogeneização dessa segregação, das residências, dos bairros, etc.

Ainda na questão do modo como as pessoas passam a enxergar o mundo através da segregação espacial, existe ainda a questão da violência e do crime, que podem gerar desconforto e impedimentos para que certa ascensão social, por exemplo, aconteça. Ou até dificultar a implantação de políticas públicas voltadas para o crescimento e desenvolvimento de um bairro, por exemplo. A violência acaba sendo, portanto, reflexo das condições sub- humanas a qual está submetida toda a periferia pobre da cidade.

Na cidade de Mossoró, a segregação socioespacial tem se dado com a valorização econômica (encarecimento dos imóveis) de determinadas avenidas de bairros específicos, como por exemplo, a Avenida João da Escócia no Bairro Nova Betânia, a Avenida Presidente Dutra, no Alto do São Manoel, a Avenida Alberto Maranhão que atravessa a cidade no sentido norte-sul e Avenida Costa e Silva. O Estado, por sua vez, contribuiu substancialmente com a segregação socioespacial, visto que, investiu em infraestrutura somente nessas localidades, deixando à margem ruas do entorno nesses bairros. Exceto o bairro Nova Betânia que recebeu infra-estrutura em sua totalidade, o que fez tornar o bairro dos condomínios verticais, universidade privada e lojas destinadas a clientes de maior poder aquisitivo da cidade.

Com isso, a questão da segregação sócia espacial demonstra-se em múltiplas facetas e depende de diversos fatores que estão inerentes as realidades sociais e econômicas da população, tal qual a violência é um desses fatores que contribuem para que as classes sociais se distribuem na cidade de formas desiguais, mas que em certas localidades estas mesmas classes sociais se aproximem justamente por conta dessa mesma violência, que deixa medos e

angústias nas pessoas. As condições de moradia dos habitantes de Mossoró que residem nos bairros periféricos, em geral, possuem acesso água encanada proveniente de poços profundos e das adutoras, porém, apenas durante 3 dias na semana. Sistema de coleta de esgotos se resume a galerias a céu aberto que atravessas os bairros, onde a população jogam dejetos. Percebe-se nitidamente as diferenças de tratamento e investimentos, por parte dos poder público entre as localidades destinadas a moradias das populações de baixa renda e as de maior poder aquisitivo. Como mostra a imagem a seguir.

Esse é justamente um novo padrão de transformações socioespaciais, onde geralmente a

segregação espacial é definida e estudada com estruturas urbanas dualizadas entre ricos e pobres, ficando aquém da localidade de bairro ou cidade, onde as elites controlam a produção e o consumo das cidades, auxiliadas pelo Estado e pelo sistema capitalista, mas que com estes fatores que estão além do panorama geral, contribuem para que haja uma proximidade nessas estruturas sociais, mesmo contendo desigualdades.

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