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4 RESULTADOS DO PLANO

4.4 Balanço: Prós e Contras

O Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento destaca-se por ser a última tentativa governamental no sentido de se procurar desenvolver o País de forma mais ampla possível, com o intuito de transformar o Brasil em um país desenvolvido, especialmente no âmbito industrial. Além disso, o II PND teve amplas consequências positivas e negativas, sobretudo no que tange dívida externa.

Por esses motivos, o plano é cercado de controvérsias quanto às suas múltiplas diretrizes, e por sua importância foi estudado por vários autores notavelmente conhecidos e que divergiam sobre diversos temas do plano.

Batista (1987) observa aspectos positivos e negativos desse plano. Dentre os negativos, o fato de que o plano subestimava a situação do País quanto a capacidade produtiva, já que as dificuldades eram ainda maiores do que as constatadas pelo plano, como o fato dessa capacidade já se encontrava em plena utilização, e determinados setores se encontravam em uma situação de superaquecimento. Outro ponto negativo, segundo esse autor, era o fato dessa estratégia contar, de modo irrealista, com um cenário positivo da conjuntura internacional.

Quanto aos pontos positivos, Batista (1987) ressalta o fato de o plano recusar a estratégia de ajuste recessivo, por uma estratégia de ajuste estrutural, não reduzindo de maneira brusca, o crescimento da economia nacional, investindo e direcionando a produção para bens de capital e insumos básicos, e não bens supérfluos. Além disso, esse autor analisa positivamente, a estratégia de investimentos nos setores de energia e infraestrutura.

Já Velloso (1998) defende que o II PND tinha uma fundamentação econômica e que ela se apoiava na estratégia adotada no plano, ou seja, o ajuste estrutural em detrimento do ajuste conjuntural, onde se tentava corrigir as distorções advindas da crise internacional e das deficiências e problemas internos, não recorrendo a uma recessão. Para isso, recorreu-se a

uma estratégia de minidesvalorizações cambiais e tentativas de impulsionar as exportações dos bens mais importantes para o plano, e diminuir suas importações.

Para esse autor, essas medidas adotadas pelo governo, consubstanciadas pelo plano, foram de fundamental importância no sentido de tornar o Brasil, um país menos dependente de petróleo, melhorar seu desempenho nas exportações, diminuir as importações, além dos demais investimentos. Além desses pontos, Velloso (1998) também defende as políticas de financiamento adotadas, assim como, para esse autor, as atitudes adotadas pelo governo, foram no sentido de se distanciar de políticas do tipo patrimonialistas.

Castro e Souza (1985) defendem o que ele chama de “Estratégia de 74”, defendendo o II PND, que se materializa como sendo uma estratégia não recessiva, mais sim de mudança da estrutura produtiva brasileira, que tentava procurar quais os principais problemas de entrave da economia nacional, e quais eram as melhores saídas.

A estratégia adotada em 1974, segundo Castro e Souza (1985), elevou a capacidade produtiva da economia brasileira a um patamar superior, melhorando a situação das transações correntes, melhorando o nível de reservas internacionais, contendo a dívida, gerando grandes avanços nas exportações e contendo as importações.

Finalmente, o plano mudou amplamente a estrutura produtiva nacional, e interrompeu a marcha forçada que teve início em 1974, e que, para Castro, é substituída, no final da década de 80, por uma política macroeconômica errônea.

Já para Fonseca e Monteiro (2007) essa estratégia é “politicamente determinada”, cercada por determinantes políticos, dentro de uma retórica de um governo que buscava legitimar suas decisões por meio de ferramentas de dominação racional. Os condicionantes políticos existiam, mas, não tornavam a racionalidade econômica do plano incoerente ou irreal. Além disso, esses autores analisam que o plano tinha características de neopatrimonialismo, mais essas características não são o fundamental do II PND.

Defendem também, que as intenções do plano tinham coerência com os seus diagnósticos internos e externos. Além dos autores apontarem, todas as intenções do plano, também mostram quais eram as intenções do governo com o plano.

Para Aguirre e Saddi (1997), o governo Geisel exercia uma estrutura de dominação do tipo racional, justificando essa conclusão nas decisões políticas desse governo, “profissionalizando” o staff governamental. Mas, esse caráter racional não afastava a estrutura neopatrimonialista desse governo, dado o papel do governo nas ordens da política de industrialização, procurando tanto desenvolver economicamente o País quanto continuar o

Fishlow (1986) opõe a estratégia de ajuste estrutural adotada pelo governo militar e caracterizada pelo II PND. Esse autor defende que era necessário não se postergar o ajuste de médio prazo, e que as altas taxas de crescimento econômico do período anterior não deveriam servir de parâmetro de continuidade. Essa decisão, por uma política de ajustamento estrutural, ampliou os problemas relativos à dívida externa.

As conclusões de Fishlow (1986) diferem em partes da analise feita por Castro e Souza (1985), caracterizando-a como deficiente quanto à análise do cálculo da poupança externa de dividas dos anos 1983 e 1984, e nas consequentes constatações feitas a partir dele, e da continuação da argumentação da política de substituição de importação, nos anos subsequentes. Além de outra varias criticas a Castro e Souza (1985), Fishlow (1986) também é avesso à estratégia de diminuição ao mínimo da atuação governamental.

Por fim, outro importante trabalho que analisa a estratégia de desenvolvimento adotada no governo Geisel, é “A Estratégia do Desenvolvimento 1974-76: Sonho e

Fracasso.”, de Carlos Lessa. Nesse livro, o autor analisa todos os pontos relativos ao Segundo

Plano Nacional de Desenvolvimento, desde suas principais diretrizes, passando por seus diagnósticos, até as relações feitas para por essa estratégia em prática.

Lessa (1978) visualiza no II PND uma tentativa de se desenvolver um novo padrão de industrialização, a partir da estratégia de industrialização por substituição de importação, escolhendo alguns bens como prioritários, e que já foram analisados no decorrer deste trabalho. Outra tentativa era corrigir os desbalanceamentos existentes na Organização Industrial, tanto entre setores, quanto entre regiões, com o intuito de desenvolver o chamado tripé neocapitalista: capital público, privado e o estrangeiro, mas focalizando no capital privado nacional.

Outro ponto importante analisado por esse autor é a relação com o exterior, observando que o II PND tentava fortalecer a integração com outros mercados, além de buscar atingir novos mercados; viabilizar a entrada de investimentos estrangeiros que se juntassem ao capital público e ao privado.

Analisa também, a dinâmica e o estágio do capitalismo no âmbito nacional e internacional no período, observando as atitudes do governo como neocapitalistas.

Quanto aos bens escolhidos, Lessa (1978) faz uma ampla analise da escolha por bens de capital e insumos básicos, assim como energia e infraestrutura. Observa, também, a questão do financiamento e dos desequilíbrios regionais, analisando as políticas de desconcentração industrial.

Além de analisar os impactos do sistema financeiro internacional na dinâmica econômica brasileira, considera que o governo brasileiro agiu de forma equivocada quando permitiu e facilitou essa entrada maciça de capitais, fruto de empréstimos internacionais, e que se agravaram com a alta das taxas de juros internacionais, o que ampliou a dívida externa nacional, devendo o governo ter priorizado a empresa privada nacional.

Para Lessa (1978), essa prioridade pelo capital que vinha de fora, em detrimento do capital privado do País, tornou o modelo de crescimento com endividamento adotado no governo Geisel fracassado no sentido de tornar o Brasil um país altamente industrializado.

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