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3. Constru¸c˜ ao da base de dados

3.3. Balanceamento da MCS

O procedimento de desagrega¸c˜ao da MCS empregado nesta tese pode ser interpretado como uma tentativa de concilia¸c˜ao de informa¸c˜oes sobre os agentes econˆomicos e os agregados macroe- conˆomicos. Como foi aqui constatado, a inclus˜ao desse conjunto de informa¸c˜oes resultou em dese- quil´ıbrios nas contas da MCS gerada. Estes foram eliminados empregando-se o m´etodo de m´etrica entropia (ME).

O m´etodo ME ´e baseado na teoria da informa¸c˜ao desenvolvida por Shannon (1948) e foi aplicado ao problema de estima¸c˜ao e inferˆencia estat´ıstica por Jaynes (1957). O procedimento de estima¸c˜ao consiste em minimizar a medida de entropia de Kullback-Leibler da distˆancia entre as probabilidades novas e a priore estimadas. Aplicado ao problema de balanceamento de MCS, o problema pode ser entendido como encontrar uma nova MCS X1, pr´oxima de uma MCS X0 j´a existente, atrav´es

da minimiza¸c˜ao da distˆancia de m´etrica entropia entre entre elas, respeitando algumas restri¸c˜oes (Fofana et. al, 2002).

Aplica¸c˜oes desse m´etodo para balancear MCS podem ser vistos nos trabalhos de Robinson et al. (2000), Robilliard & Robinson (2001). No Brasil, Andrade & Najberg (1997), para obterem uma MCS para a economia brasileira do ano de 1995, a partir da estrutura de uma MCS constru´ıda para o ano de 1993, aplicaram a m´etrica entropia conjuntamente com a m´etrica quadr´atica ou m´etodo de m´ınimos quadrados. Os autores n˜ao encontraram argumentos para apontar qual das duas metodologias gerou os melhores resultados e limitaram-se a um exerc´ıcio de compara¸c˜ao entre as matrizes encontradas pelos dois m´etodos.

Neste estudo, foi utilizada a estrutura da matriz de contabilidade social do modelo IMMPA como base de informa¸c˜ao para desagregar as atividades econˆomicas e os grupos de fam´ılias, resul- tando, assim, numa matriz Xo desbalanceada. Por seu turno, o m´etodo de m´etrica entropia ser´a empregado para encontrar, a partir de X0, uma matriz X1 balanceada. Sendo X0

e X∗1 as matrizes dos coeficientes xoij e x1ij, os quais reproduzem a estrutura de X0 e X1, o problema de obten¸c˜ao de matriz X1 pela m´etrica entropia pode ser formalizado da seguinte forma:

min H =X i X j x1ijln³ x 1 ij x0 ij ´ , (3.15)

sujeito `as seguintes restri¸c˜oes:

X

X

x1ij =X i

x1ij. (3.17)

A fun¸c˜ao objetivo ´e a fun¸c˜ao de m´etrica entropia que mede a distˆancia entre a matrizes de coe- ficientes X0

e X∗1. A matriz X1 ´e alcan¸cada, minimizando essa distˆancia, sujeita `as duas restri¸c˜oes acima. A primeira delas ´e chamada de restri¸c˜ao de consistˆencia e a segunda, de balanceamento.

Al´em dessas duas restri¸c˜oes, poder´ıamos acrescentar uma terceira, que diz respeito aos limites de varia¸c˜ao dos componentes da matriz X0, a saber:

lij ≤ x1ij ≤ uij, (3.18)

onde lij e uij delimitam o intervalo de varia¸c˜ao dos componentes de X0.

Uma metodologia alternativa a da m´etrica entropia para balancear a MCS seria o m´etodo RAS. Em virtude da sua larga aplica¸c˜ao para balancear matrizes de contabilidade social, ser´a destinado aqui, algum espa¸co para esse m´etodo15. Em seguida, ser˜ao apresentadas as justificativas para

escolha do m´etodo de m´etrica entropia em detrimento do RAS.

Essencialmente, o m´etodo RAS procura encontrar uma nova matriz de coeficientes A1

que ´e semelhante a uma matriz de coeficientes A0 preexistente, para gerar um matriz de transa¸c˜oes T ∗ com novos totais nas colunas e nas linhas. Essa nova matriz ´e obtida atrav´es da aplica¸c˜ao de opera¸c˜oes biproporcionais de linhas e colunas na matriz A0

:

A1= RiA0∗Sj, (3.19)

onde Ri e Sj s˜ao vetores de escalares, encontrados por um processo interativo que ´e repetido at´e a matriz convergir para uma matriz balanceada.

A grande vantagem do RAS ´e a facilidade com a qual ele pode ser empregado para balancear uma MCS. O programa de minimiza¸c˜ao do m´etodo ME n˜ao possui solu¸c˜ao fechada, assim ´e necess´ario utilizar um m´etodo num´erico para resolvˆe-lo16, demandando um esfor¸co de programa¸c˜ao bem maior

do que o utilizado para implementar o m´etodo RAS. No que concerne a qualidade dos resultados obtidos a partir dos dois m´etodos, n˜ao existe um consenso sobre qual deles ´e o melhor. Robinson et al. (2000), ap´os conduzir um experimento de monte carlo, sugere que o ME ´e superior ao m´etodo

15 Para maiores detalhes sobre o m´etodo RAS, ver Bacharach (1970), e Miller & Blair (1985).

RAS, contrastando com McDougall (1999) que recomenda o uso do m´etodo RAS para balancear matrizes em vez do m´etodo ME. Analiticamente o m´etodo de m´etrica entropia ´e similar ao m´etodo RAS generalizado, como apontam Fofana et al. (2002) e McDougall (1999). Tal similaridade sugere, segundo Fofana et al. (2002), que as diferen¸cas entre os dois m´etodos dependem da magnitude dos ajustes a serem feitos. Quanto menores forem os desequil´ıbrios, menores ser˜ao as diferen¸cas entre os dois m´etodos. Neste estudo, a m´edia dos desequil´ıbrio era de 0,86% do total das linhas da MCS, assim, n˜ao se espera obter resultados muito divergentes dos alcan¸cados empregando-se o m´etodo RAS.

Para se certificar de que o resultado alcan¸cado pelo RAS realmente n˜ao diverge muito do obtido pelo m´etodo ME, realizou-se aqui um exerc´ıcio de balanceamento empregando o m´etodo RAS, uti- lizando os totais das linhas da MCS (rendas) como vetor-alvo17. Comparando os resultados do RAS

com os da ME, nota-se que os totais das linhas da MCS geradas pelos dois m´etodos divergem, em m´edia, apenas 3,2%. Um ind´ıcio de que ambas as metodologias de balanceamento geram resultados bastante semelhantes.

A possibilidade de impor intervalos de varia¸c˜ao para alguns elementos da MCS no processo de balanceamento ´e a grande vantagem da m´etrica entropia. Foi esse o motivo pelo qual empregou- se o m´etodo ME para balancear a MCS. ´E importante destacar que os m´etodos normalmente empregados no balanceamento de MCS s˜ao puramente matem´aticos e podem, na passagem de uma matriz n˜ao-balanceada para uma matriz balanceada, comprometer a manuten¸c˜ao de elementos da MCS, sobretudo os estruturais, importantes na descri¸c˜ao da forma como os agentes econˆomicos est˜ao inter-relacionados. N˜ao impondo restri¸c˜oes ao m´etodo de balanceamento no tratamento das informa¸c˜oes de com´ercio internacional, por exemplo, o sinal do saldo balan¸ca comercial poderia ser invertido nesse processo apenas para manter a igualdade entre a soma das colunas e linhas da MCS, resultando numa realidade econˆomica diferente daquela de fato obervada.

No caso particular desta tese, a imposi¸c˜ao de restri¸c˜oes sobre alguns elementos da MCS foi necess´aria para adequar a MCS `as hip´oteses do modelo de equ´ılibrio geral a ser empregado. Essas hip´oteses estabelecem a forma como a renda do trabalho e o EOB s˜ao distribu´ıdos entre as fam´ılias. A renda do trabalho e o EOB do setor rural s˜ao todos destinados `as fam´ılias da zona rural. Sem impor essas restri¸c˜oes ao m´etodo de balanceamento, n˜ao h´a garantias de que essas hip´oteses ser˜ao verificadas. Conseq¨uentemente, a renda dessa categoria de fam´ılia n˜ao ser´a compat´ıvel com a renda

gerada no setor de onde ela aufere seus rendimentos. Em anexo, apresenta-se a matriz balanceada e o c´odigo em GAMS empregado na implementa¸c˜ao do m´etodo de m´etrica entropia.