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3. Constru¸c˜ ao da base de dados

3.2. Uma Matriz de Contabilidade Social para o Brasil

3.2.2. Desagrega¸c˜ao da MCS

Nesta se¸c˜ao, ser˜ao descritos os procedimentos adotados para desagregar a MCS e torn´a-la compat´ıvel com o modelo de equil´ıbrio geral que ser´a utilizado neste estudo. Na matriz ser˜ao identificados dois grandes grupos de atividades econˆomicas: um setor rural e um setor urbano. O setor urbano ´e dividido ainda em trˆes subsetores: setor formal, setor informal e setor p´ublico. Considerou-se que as atividades produzem apenas um tipo de bem homogˆeneo e que os setores institucionais realizam apenas as transa¸c˜oes que constam no MEGC.

O fator trabalho ser´a dividido em trabalho qualificado e trabalho n˜ao-qualificado. Quanto `as fam´ılias, estas ser˜ao separadas em cinco grupos, conforme sejam a origem de sua renda e a qualifica¸c˜ao do chefe da fam´ılia. Os grupos s˜ao: fam´ılias do setor rural, fam´ılias do setor urbano

informal, fam´ılias qualificadas do setor urbano, fam´ılias n˜ao-qualificadas do setor urbano, fam´ılias capitalistas.

A escolha da forma de desagrega¸c˜ao da conta das fam´ılias, segundo Thorbecke (2000) e Keuning & Ruijter (1988), deve seguir algumas premissas. Os autores n˜ao recomendam desagregar as fam´ılias por classe de rendimento, uma vez que podem ser inclu´ıdas num mesmo grupo rotulado de fam´ılias pobres, por exemplo, fam´ılias da zona rural, do setor informal, do setor formal e desocupadas, descaracterizando, portanto, o padr˜ao de homogeneidade esperado nesse grupo em termos de fonte de renda e padr˜ao de despesa. Segundo os autores supramencionados, seria interessante desagregar as fam´ılias utilizando as seguintes informa¸c˜oes:

1 - Local onde residem; 2 - Origem da renda; 3 - Qualifica¸c˜ao; 4 - Posse de bens.

Com outras palavras, poderia-se afirmar que a informa¸c˜ao relevante que deve ser levada em conta na constru¸c˜ao dos grupos de fam´ılias n˜ao ´e o tamanho da renda e sim a sua origem. Nesse sentido, a forma de desagrega¸c˜ao da conta das fam´ılias adotada neste trabalho procura respeitar tais recomenda¸c˜oes, com o objetivo de manter a homogeneidade desses grupos.

Quanto aos impostos indiretos e diretos, estes foram contabilizados diretamente na conta do governo. Manteve-se uma conta para as contribui¸c˜oes sociais e outra que contempla os impostos sobre importa¸c˜ao. Por fim, a conta de capital foi desagregada em dois componentes: investimentos p´ublicos em infra-estrutura e demais investimentos, podendo, assim, identificar o montante dos investimentos em infra-estrutura realizados em 2002.

3.2.2.1 Fontes de informa¸c˜oes

Devido `a escassez de informa¸c˜oes sobre o setor informal, a desagrega¸c˜ao dos grupos de ativi- dades econˆomicas foi realizada com base nos resultados reportados nas MCS do modelo IMMPA aplicado ao Brasil, cujo ano-base ´e 1996 (ver Ag´enor et al., 2003). Especificamente, a estrutura de consumo intermedi´ario do setor informal apresentada no IMMPA, aplicado `a economia brasileira, foi utilizada para calcular a demanda e a oferta de insumos intermedi´arios do setor informal da

matriz de 2002. Portanto, fez-se aqui uma atualiza¸c˜ao dos valores do consumo intermedi´ario do setor informal apresentados no modelo IMMPA.

A PNAD de 2002 foi a fonte de informa¸c˜ao para desagregar o fator trabalho. A partir dos seus microdados, foi selecionada a parcela do total dos sal´arios pagos aos trabalhadores qualificados e n˜ao-qualificados. Conforme procedeu Ag´enor et al. (2003), um trabalhador foi considerado qualificado caso ele possu´ısse nove ou mais anos de estudo, ou o segundo grau completo. Os trabalhadores que possu´ıam menos do que nove anos de estudo foram rotulados de n˜ao-qualificados. Uma vez feita essa divis˜ao, partiu-se para a desagrega¸c˜ao setorial do trabalho. Por hip´otese, o fator trabalho empregado no setor rural ´e n˜ao-qualificado, assim, toda a remunera¸c˜ao do trabalho desse setor foi alocada na conta do trabalho n˜ao-qualificado. No setor urbano formal, parte do trabalho ´e qualificado e outra parte ´e n˜ao-qualificado. A propor¸c˜ao de cada tipo de trabalho empregado no setor urbano formal foi retirada da PNAD. O mesmo aconteceu com o setor p´ublico, onde coexistem as duas categorias de trabalho. A parcela do total dos sal´arios pagos no setor urbano informal foi calculada a partir da PNAD. Por hip´otese, o trabalho nesse setor ´e classificado como n˜ao-qualificado. O rendimento dos autˆonomos foi computado na renda dos trabalhadores do setor informal. Do total do rendimento dos autˆonomos observado nas contas nacionais, foi retirado o correspondente dos que trabalham no setor rural.

As fam´ılias ser˜ao representadas pelo chefe da fam´ılia, ou, na terminologia da PNAD, pela pessoa de referˆencia da fam´ılia. Assim os grupos ser˜ao identificados da seguinte forma na PNAD:

• Fam´ılias do setor rural: fam´ılias cujo chefe trabalha no setor rural;

• Fam´ılias do setor urbano informal: fam´ılias cujo chefe trabalha no setor urbano informal; • Fam´ılias qualificadas do setor urbano: fam´ılias cujo chefe ´e classificado como qualificado

e trabalha no setor urbano;

• Fam´ılias n˜ao-qualificadas do setor urbano: fam´ılias cujo chefe ´e classificado como n˜ao-

qualificado e trabalha no setor urbano;

• Fam´ılias capitalistas: fam´ılias cujo chefe ´e um empregador;

As transferˆencias do governo para cada tipo de fam´ılia foram determinadas a partir de in- forma¸c˜oes da PNAD 2002. Dos microdados calculou-se a participa¸c˜ao de cada tipo de fam´ılia no total das transferˆencias governamentais (previdˆencia e pens˜ao paga pelo governo ou instituto de previdˆencia). Por hip´otese, apenas as fam´ılias capitalistas se apropriam dos lucros remetidos pelas

empresas. As fam´ılias capitalistas tamb´em recebem toda a renda (juros e dividendos) enviada do resto mundo.

A estrutura de gastos dos grupos de fam´ılias foi retirada da observada na matriz do modelo IMMPA aplicado `a economia brasileira. A inexistˆencia de dados sobre o padr˜ao de consumo das categorias de fam´ılias consideradas para o ano de 2002 justifica esse procedimento. Recentemente foi realizada uma Pesquisa de Or¸camentos Familiares (POF), a partir da qual seria poss´ıvel identificar o padr˜ao de consumo dos grupos de fam´ılias presentes nesse trabalho. Entretanto, at´e o presente momento, as vari´aveis ocupa¸c˜ao e atividade principal dos trabalhos das pessoas do question´ario de recebimento individual (POF5) n˜ao constam nos microdados dessa pesquisa. Numa tentativa de mostrar que n˜ao houve mudan¸cas expressivas no padr˜ao de consumo familiar no Brasil, entre 1996 e 2002, faz-se um confronto na Tabela 3.2 entre os padr˜oes de consumo coletados pela Pesquisa de Or¸camentos Familiares de 1995/1996 e 2002/2003.

Tabela 3.2: Padr˜oes dos gastos das fam´ılias em 1996 e 2002

Produtos e servi¸cos Ranking

1996 2002

Alimenta¸c˜ao 1 1

Transporte 2 3

Aluguel 3 7

Outras despesas correntes 4 2

Servi¸cos e taxas 5 4 Assistˆencia a sa´ude 6 5 Vestu´ario 7 6 Manuten¸c˜ao do lar 8 10 Educa¸c˜ao 9 9 Despesas diversas 10 8 Recrea¸c˜ao e cultura 11 12

Eletrodom´esticos, equipamentos do lar e som e TV 12 11

Mobili´arios e artigos do lar 13 13

Higiene e cuidados pessoais 14 14

Servi¸cos pessoais 15 15

Artigos de limpeza 16 17

Fumo 17 16

Consertos e manuten¸c˜ao de artigos do lar 18 18

Na primeira coluna observam-se os produtos e servi¸cos consumidos pelas fam´ılias. Na segunda e terceira coluna, est˜ao reportados os rankings ocupados pelas parcelas da renda dispendida com cada item em 1996 e em 2002. Esses n´umeros revelam a importˆancia dos dispˆendios das fam´ılias com cada um dos produtos ou servi¸cos acima relacionados, no total de suas rendas. O item alimenta¸c˜ao, por exemplo, representava a maior despesa entre os gastos das fam´ılias em 1996 e em 2002. J´a os gastos com transporte ocupavam a segunda coloca¸c˜ao entre as despesas das fam´ılias em 1996, e terceira em 2002. Analisando puramente o ranqueamento dos grupos de bens e servi¸cos consumidos, n˜ao se percebe nenhuma diferen¸ca significativa entre os padr˜oes de consumo entre os dois anos. Para corroborar essa impress˜ao, realizou-se o teste de correla¸c˜ao ordem de Spearman e chegou-se a uma estat´ıstica t no valor de 14.26, aceitando-se a hip´otese de que h´a correla¸c˜ao entre o ordenamento dos dois padr˜oes de consumo. Esse resultado parece sugerir que entre, 1996 e 2002, n˜ao houve mudan¸cas significativas no padr˜oes de consumo que impossibilitem o uso das informa¸c˜oes observadas na matriz do modelo IMMPA.

A fra¸c˜ao da renda de cada categoria de fam´ılia destinada ao pagamento dos impostos diretos e a destinada para a poupan¸ca foi retirada da matriz do modelo IMMPA. Segundo as premissas do modelo, as fam´ılias do setor informal n˜ao pagam impostos sobre a renda.

Os valores dos impostos sobre os produtos e produ¸c˜ao s˜ao retirados diretamente das tabelas de recursos e usos do IBGE. Por hip´otese, o setor informal n˜ao paga impostos indiretos. Assim, os impostos arrecadados em todas as atividades, exclusive o setor rural, s˜ao registrados na conta do setor urbano formal. Da mesma forma, s˜ao computados os impostos sobre os produtos importados na conta do setor rural e urbano formal.

O montante dos investimentos p´ublicos em infra-estrutura foi retirado do Sistema de Con- tas Nacionais de 2002. Especificamente, o valor dessa categoria de investimento foi retirado da tabela dos componentes da forma¸c˜ao bruta de capital fixo por setor institucional. Foi considerado investimento em infra-estrutura a parcela da FBCF do governo destinada a constru¸c˜oes.

A utiliza¸c˜ao de fontes de informa¸c˜oes diversas e a adapta¸c˜ao da MCS ao MEGC resultaram numa MCS desbalanceada, ou seja, a soma das colunas n˜ao se igualava `a soma das linhas. Para solucionar esse problema, utilizou-se um m´etodo matem´atico de balanceamento. O procedimento adotado baseou-se no m´etodo de m´etrica entropia14 ou Cross Entropy Method.