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3. Constru¸c˜ ao da base de dados

3.5. Os indicadores de pobreza e de distribui¸c˜ao de renda

3.5.4. Resultados dos indicadores para 2002

A seguir ser˜ao apresentados alguns n´umeros que caracterizam os grupos de fam´ılias consideradas com rela¸c˜ao aos seus n´ıveis de renda. Todos os resultados foram calculados a partir das informa¸c˜oes de renda de 88.564 fam´ılias retiradas dos microdados da PNAD de 2002. A vari´avel renda se refere `a renda familiar per capita mensal, calculada dividindo-se a renda familiar total pelo n´umero de moradores da residˆencia. Os grupos de fam´ılias foram divididos da forma como foi descrito anteriormente neste cap´ıtulo. Na tabela 3.6 observa-se a participa¸c˜ao de cada grupo de fam´ılias no total considerado. As fam´ılias do setor rural representam 17,16% do n´umero total de fam´ılias. Enquanto isso, as do setor informal respondem por 38,43% desse total. As fam´ılias do setor formal representam 38,54% das fam´ılias, sendo 22,79% qualificadas e 15,75% n˜ao-qualificadas. Quanto `as fam´ılias capitalistas, estas s˜ao 5,87% do total de fam´ılias.

20 A equa¸c˜ao proposta para o c´alculo desse indicador proposta por Sen (1976) era: S =

Pq

i=1(z−xi)(q+1−i)

(q+1)nz . A

equa¸c˜ao 3.25 pode ser utilizada apenas para um grande n´umero de pobres ou para um q grande. Como ser´a visto

na se¸c˜ao seguinte, os indicadores de pobreza e desigualdade ser˜ao calculados a partir de uma amostra com mais de 80.000 fam´ılias. Por esse motivo, empregou-se a equa¸c˜ao 3.25 para o c´alculo do ´ındice de Sen.

Tabela 3.6: N´umero de fam´ılias por grupo

Tipos de Fam´ılias Tamanho da amostra Participa¸c˜ao (%)

Rural 15.194 17,16 Informal 34.035 38,43 Urbana Qualificada 20.188 22,79 Urbana N˜ao-Qualificada 13.948 15,75 Capitalista 5.199 5,87 Todas 88.564 100,00

Fonte: Microdados: Pnad 2002. Elabora¸c˜ao pr´opria.

Na tabela 3.7, est˜ao reportadas algumas medidas de posi¸c˜ao e de dispers˜ao da distribui¸c˜ao da renda dos grupos de fam´ılias. Examinando esses n´umeros, constata-se que as fam´ılias capitalistas s˜ao as que possuem maior renda m´edia e, no outro extremo, as fam´ılias do setor rural s˜ao as mais desprovidas de renda. Ademais, cabe assinalar que os grupos de fam´ılias do setor rural, informal e formal n˜ao-qualificado possuem renda familiar per capita m´edia inferior `a m´edia do total das fam´ılias. A renda mediana desses mesmos grupos indica que metade do n´umero de fam´ılias que trabalham nesses setores tem renda familiar inferior `a mediana da renda de todos os grupos.

Tabela 3.7: Medidas de posi¸c˜ao e de dispers˜ao da renda familiar

Fam´ılia

Indicador

M´edia Mediana DesvioPadr˜ao Coeficiente deVaria¸c˜ao M´edia da rendados pobres

Rural 150,579 100 205,807 1.366 32,499 Informal 325,154 166,666 591,504 1.819 51,158 Urbana Qualificada 619,715 335 941,568 1.519 61,403 Urbana N˜ao-Qualificada 207,785 160 189,683 0.912 56,092 Capitalista 1078,112 600 1677,721 1.556 61,690 Todas 384,847 200 863,078 1.947 58,441

O coeficiente de varia¸c˜ao indica qu˜ao dispersa est´a a renda em cada grupo de fam´ılia. Os maiores n´ıveis de dispers˜ao s˜ao observados entre as fam´ılias do setor informal, do setor formal qualificada e capitalistas. Cabe ressaltar que apesar da renda m´edia das fam´ılias n˜ao-qualificadas do setor formal ser a segunda menor dentre as demais, nesse grupo ´e observada a menor dispers˜ao de renda entre os grupos contemplados.

Por fim, calculou-se a renda familiar m´edia daqueles considerados pobres. Neste trabalho, a pobreza ´e entendida como insuficiˆencia de renda. Uma pessoa ´e considerada pobre caso sua renda

familiar per capita mensal seja inferior a R$100,00: meio sal´ario m´ınimo no ano de 2002. Para as fam´ılias da zona rural, essa linha de pobreza foi estabelecida em R$ 60,00, que corresponde a 60% do valor da linha de pobreza das fam´ılias da zona urbana, em conformidade com Ag´enor et al. (2003). Os resultados sugerem que a pobreza na zona urbana ´e mais intensa entre as fam´ılias que trabalham no setor informal e entre as fam´ılias n˜ao-qualificadas do setor formal.

Na tabela 3.8, encontram-se os valores dos indicadores de pobreza e de distribui¸c˜ao de renda para as fam´ılias consideradas. Os resultados do FGT, com α = 0, mostram que o grupo de fam´ılias do setor informal concentra a maior propor¸c˜ao de pobres dentre todas as categorias contempladas, com 33,61% das pessoas possuindo renda inferior `a linha de pobreza. Logo em seguida, vˆem as fam´ılias do setor rural, com 31,57% e as n˜ao-qualificadas do setor formal com 29,11%. Apresentando um padr˜ao de pobreza bastante distinto desses trˆes grupos considerados, as fam´ılias qualificadas do setor formal tˆem em sua composi¸c˜ao 10,31% de pobres e as capitalistas, 5,11%. Calculando o FGT com α = 1, observa-se que a pobreza ´e mais intensa ou a renda m´edia dos pobres se distancia mais da linha de pobreza, entre as fam´ılias do setor informal e entre as fam´ılias n˜ao-qualificadas do setor formal, seguidas pelas fam´ılias do setor rural. Analisando esse indicador para as fam´ılias qualificadas e capitalistas, encontra-se, mais uma vez, um padr˜ao de pobreza bem diferente, em particular entre os rentistas. O FGT com α = 2 revela, claramente, que a pobreza ´e mais severa entre as fam´ılias do setor informal, ou seja, a distribui¸c˜ao de renda entre os pobres sugere que h´a muitos indiv´ıduos com renda inferior `a renda m´edia dos pobres. Em seguida, a pobreza ´e mais severa entre as fam´ılias n˜ao-qualificadas do setor formal e as do setor rural.

Tabela 3.8: Indicadores de pobreza e de distribui¸c˜ao de renda

Fam´ılias Indicador FGT (α=0) FGT (α=1) FGT (α=2) Gini Sen Rural 0,3157 8,3664 316,9327 0,5063 0,1915 Informal 0,3361 14,2441 916,0737 0,5945 0,2009 Urbana N˜ao-Qualificada 0,2911 9,5827 538,0488 0,4054 0,1400 Urbana Qualificada 0,1031 3,5668 240,518 0,5536 0,0544 Capitalista 0,0511 1,6063 85,1894 0,5598 0,0234 Todas 0,2927 12,1642 770,9959 0,6095 0,1719

Examinando o ´ındice de Gini, constata-se que o grupo de fam´ılias do setor informal apresenta o maior ´ındice de desigualdade entre as fam´ılias consideradas. Percebe-se tamb´em que a desigualdade

de renda ´e maior entre as fam´ılias qualificadas do setor formal e capitalistas do que entre as fam´ılias do setor rural e n˜ao-qualificadas do setor formal. Ao mesmo tempo, esses dois ´ultimos grupos apresentam uma maior propor¸c˜ao de pobres do que os dois primeiros. Explica-se esse resultado, em grande medida, pela grande dispers˜ao de renda observada entre as fam´ılias com trabalho qualificado e capitalistas. Esse fato pode ser constatado examinando os coeficientes de varia¸c˜ao apresentados na tabela 3.7. O ´ındice de Sen explora outra dimens˜ao da desigualdade, uma vez que leva em conta no seu cˆomputo, al´em do ´ındice de Gini entre os pobres, a pobreza dos indiv´ıduos. Os n´umeros desse indicador sugerem o seguinte ordenamento do maior para o menor n´ıvel de pobreza entre as fam´ılias: fam´ılias do setor informal, do setor rural, n˜ao-qualificadas do setor formal, qualificadas do setor formal e capitalistas.