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164 banco, apesar de eu não achar que a gente ganhe bem, é que a gente ainda tem uma série de benefícios que se

você for incorporar no seu salário, para eu sair do banco e ter o mesmo padrão de vida que eu tenho hoje, eu teria que ter um salário muito bom. E para você começar num outro ramo eu não vou ter, e não sei se eu tenho disposição nessa altura da minha vida para recomeçar. Para prestar outro concurso tudo bem, e se entrar num desses concursos badalados você já vai entrar ganhando bem. O duro é você entrar. Mas por exemplo, eu sou bióloga por formação, e já pensei várias vezes em voltar para a minha área, que eu amo. Só que na época em que eu me formei, não existia campo para biologia de campo, e eu nunca tive a intenção de dar aula – eu não gosto, não tenho didática e nem paciência. Eu queria pesquisar, e quando me formei não existia campo. Hoje em dia, em qualquer ramo, tem que ter um biólogo para assinar, ou para fazer um laudo. Então já pensei mil vezes em voltar, só que para voltar, eu tenho que voltar a estudar, porque me formei em 1983.

E aí que está, o banco me desmotiva. Você chega em casa cansada, e não sei se tenho ânimo de voltar para a faculdade. E mesmo que eu volte para a faculdade, até eu conseguir alguma coisa na área... Então desestimula, e isso é inevitável. Quem trabalha em banco acaba ficando acomodado. Se você não fizer o que você fez – “entrei, não gostei e saí” – você não sai mais, ainda mais sendo num banco público, que para você ser mandado embora tenha que correr um processo administrativo. Se fosse num banco particular, você faz qualquer coisa e é mandado embora, mas num banco público a gente fica muito acomodada para falar a verdade. Você não tem um padrão de vida maravilhoso, não ganha muito bem, mas você tem uma vida confortável, e isso te acomoda. Eu ainda como sou solteira, e minha mãe é minha dependente, eu fico mais acomodada ainda, porque eu sei que por minha causa, minha mãe tem uma segurança médica, pois ela é minha dependente no plano de saúde; o que eu ganho de ticket dá e sobra para mim e para ela. Então eu falo que não tem como, e para eu sair do banco eu teria que ganhar um salário inicial no mínimo de uns seis ou sete mil reais, e onde eu vou arranjar um salário desses? Sinceramente, para mim não é se vangloriar dizer que sou bancária e trabalho no Banco do Brasil, e tenho até vergonha. Eu estudei para trabalhar no Banco do Brasil? Não, eu sou bióloga e adoro o que eu fiz. Tenho paixão por biologia. Adoraria falar para você que sou bióloga e trabalho com biologia. Mas o banco infelizmente te acomoda.

 Quais são suas perspectivas de carreira? Pretende continuar no banco?

Não, acho que justamente porque eu não gosto, não quero ser gerente, nem ser assistente. Eu pretendo continuar, mas por acomodação. Se daqui a uns dois meses eu respirar fundo e falar que vou estudar para valer, vou prestar outro concurso, ou vou voltar parar minha área, ou vou fazer uma pós – se eu tiver essa inspiração – eu saio com o maior prazer. O banco não é um serviço que eu falaria assim “ah, mas deixar o banco...”; eu conheço muita gente que veste a camisa e fala que o banco deu tudo o que tem na vida. Deu sim, porque eu trabalho lá e eu mereço; estou trabalhando para isso, e não acho que o banco tenha me dado. E tem gente que pensa assim, que o banco deu tudo – deu sim, deu porque você ralou lá dentro.

 Você acha que as condições de trabalho são boas? O que mais o incomoda e o que mais lhe agrada?

Na agência que eu trabalho hoje, na parte de relacionamento é muito boa. Na parte física é complicado. Na agência que eu trabalho tenho dois problemas grandes – o mobiliário e ar condicionado. Eu tenho rinite, sinusite, e o ar condicionado é ou ligado, ou desligado. Não tem meio termo. Não tem como, eu não tenho como exigir que desliguem o ar condicionado, pois o povo morre de calor, e eu sei que aquela agência não tem janela nenhuma. Se o ar condicionado estiver desligado, é impraticável. Teve uma época que a gente ficou com o ar condicionado quebrado e era inviável, eu tive que levar ventilador de casa. E com o ar condicionado ligado, eu trabalho com blusa de lã, porque o ar condicionado sai diretamente em cima da gente no caixa, que o teto é rebaixado, e do outro lado da agência não chega quase nada. Então o pessoal lá fica com calor, e eu com frio. Se tentar diminuir ou desligar o ar eu fico melhor, mas eles morrem de calor, e não tem meio termo. Se na rua está muito calor, o povo [os clientes] entra e olha para mim pensando que estou louca ou doente. Meu pé congela, aí a minha rinite ataca a sinusite, que ataca a enxaqueca. Isso é complicado.

 Você tem alguma sugestão para melhorar as condições de trabalho no banco?

A parte de mobiliário é um problema do Banco Nossa Caixa e do Banco do Brasil. No estágio que eu fui para uma agência do Banco do Brasil percebi que o mobiliário de caixa deles é diferente do nosso, e as gavetas são frontais e não tem torção de tronco o dia inteiro. Então se eu for para uma agência BB... O Banco do Brasil está com um programa que é o BB 2.0 que é de remodelar as agências no aspecto físico e de sistema. E quando a gente viu as agências remodeladas no ano passado, vimos que todas têm móveis novos. Quanto ao ar condicionado não tem nem muito que falar, pois o prédio é alugado e não dá para mexer, mas a Geren quer mudar a gente de prédio. Pode até ser que aí melhore os dois para mim – o ar condicionado e o mobiliário.

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6. Greice: 39 anos, caixa. Agência prata.

Trabalho bancário

 Quais são as funções que você exerce em seu cargo? Houve alguma mudança desde sua admissão? O que você faz hoje no seu trabalho?

Na verdade a agência em que eu trabalho faz câmbio, vende moeda estrangeira. Então eu faço isso: venda de moeda estrangeira como dólar e euro, recompra. Eu sou caixa, mas eu tenho outra mesa separada, e não é no guichê de caixa. Lá onde tem o atendimento eu tenho essa mesa, em que eu converso com o cliente e vejo tudo o que ele quer, executo o que ele quer no sistema, e depois eu vou até o cofre e pego a moeda estrangeira que ele quer e trago. Isso eu faço pela parte da manhã, e à tarde, depois das 14h, eu fico no caixa mesmo. Quando entrei no banco eu era atendente, mas tem mais de dez anos que eu sou caixa.

 Houve alterações na forma como o trabalho é organizado no banco? Por exemplo, o modo como são determinadas as ordens. Ou como é a conformação das equipes.

É bem diferente, acho que agora é mais profissional – não sei bem se essa é a palavra. Antigamente era mais liberado, e mais fácil para o nosso lado, e agora é mais profissionalizado e às vezes isso se torna mais pesado.

 Como é sua relação com os superiores? Houve alguma mudança desde que você entrou no banco?

É tranquila, não tenho problemas. Mas no momento é, pois já tive problemas, inclusive de ficar afastada por conta do superior.

 Como é seu relacionamento com os colegas? Você acha que aumentou a competição com os colegas, na disputa por cargos ou cumprimento das metas? Exemplifique.

É tranquilo. Acho que por sermos caixas, não sinto isso [competição].

 Você participa na distribuição de metas da agência? Sente-se pressionado a colaborar? E o que você acha das metas?

Não. Pressionada não, pois no caso do caixa é o ‘se puder’, mas não é pressionado nem cobrado. Eu acho sempre abusiva, acho que o banco só quer o lucro, independente da necessidade do cliente. Até por isso, não sei se tem alguma coisa a ver, que eu não quero concorrer a nenhum cargo, pois eu não concordo.

 O que você acha da PLR? Ela o estimula a atingir as metas ou traz problemas para você? De que forma?

Para mim não estimula a cumprir meta. O que eu acho é que o banco, como um todo, independente de cumprir metas, é que ele ganha muito dinheiro. Então acho que não precisava ser dessa maneira, com essa cobrança que o banco trabalha como um todo, porque eu acho que tem lucro. É que até então a gente trabalhava tranquilamente, porque o lucro vem. Porque o trabalho do banco já é para ter lucro, só que descobriram essa tal de meta, e acho que está peitando o cliente e enfim, não me estimula.

 O que você acha sobre a venda de produtos e serviços nos bancos? O papel das vendas nas suas funções é importante?

Eu acho que seria válido se o cliente entrasse no banco e solicitasse aquele produto, mas não é isso o que é feito. Você entra no banco para uma determinada coisa, e você tem que sair com duas, sendo que você não estava interessado. Não sou cobrada [pelas vendas].

 As equipes/segmentos e processos de trabalho são organizados a partir dos diferentes produtos e serviços oferecidos?

Não, é tudo para todo mundo, sem distinção, sem ver o perfil, o perfil não é visto, é geral.  Quais são os critérios para indicação de funções comissionadas?

É indicação, e vai do seu chefe, seu jeito de ser e de trabalhar.

 Você sente grandes diferenças entre a jornada de trabalho formal e a real? Como ocorre no dia- a-dia?

No momento é bem tranquilo. Faço horas extras, mas é esporádico. É registrado, recebemos todo o valor, mas já trabalhei muito de graça.

 Você percebeu alguma mudança, desde que entrou no banco, em termos tecnológicos e como isso afetou seu trabalho?

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