• Nenhum resultado encontrado

Várias circunstâncias foram importantes para que a genealogia de uma praia moderna se constituísse. Contudo, Alain Corbin (1989) é bastante categórico em assumir que “Muito rapidamente, a invenção da praia acompanha a descoberta das virtudes da água do mar.” (p.82). O banho de mar teria sido uma prática primordial para que um contato mais próximo e nos moldes modernos com o litoral fosse possível. Foi uma prática pioneira, inicialmente sistematizada por uma literatura médica higienista do século XVIII e XIX na Europa, com finalidades de cura, de combate à melancolia e de amenizar novas ansiedades das classes dominantes.

Corbin (1989) sugere ainda que os banhos de mar na Europa teriam sido inspirados por modelos já propostos pelas estâncias termais, da mesma forma Joana Schossler (2013) pondera essa relação. Outros autores, como Freyre (2000), Araújo (2007) e o próprio Corbin (1989) em alguns momentos também insinuam a possibilidade da prática dos banhos de rios terem influenciado os banhos de mar. É muito possível que a popularização dos banhos de mar na cidade de Fortaleza entre as décadas de 1920 e 1940 tenha sido influenciada também por uma literatura médica, assim como se deu em outras cidades litorâneas. Os banhos d e rios, lagos e lagoas, também já apareciam nas fontes, inclusive como notícias de afogamento, podendo ter facilitado a transmissão das práticas de banhar-se.

Outra consideração importante sobre as origens do banho de mar e sua popularização é presumir que ela já fazia parte das práticas de cura de uma medicina popular na cidade de Fortaleza. Juvenal Galeno foi um escritor, poeta, bastante interessado pela cultura popular, lendas, canções e outras manifestações. Em sua obra sobre medicina caseira, em formato de verso, Galeno (2010) dá a entender que o banho de mar já era considerado como prática de cura pelas culturas populares, em casos de enfermidades do corpo, das emoções e da mente: histeria, hemorroidas, desânimos fruto de relações amorosas.

Sempre foi a conselha do Ba nho na s á gua s do ma r, Pa ra quem sofre histeria De vez em qua ndo a chora r. Na s hemorroida s dos velhos E na s do moço ta mbém, Com clisteres da mesma á gua É útil, fa zendo bem.

E a mocinha enfra quecida, Por a mor contra ria do,

Na pra ia ca nte modinha E tome o ba nho sa lga do. É que a çoita da das onda s, Fica forte e com juízo: O tuba rã o nã o surgindo, Nã o ha verá prejuízo.77

O primeiro verso, “Sempre foi aconselhado”, sugere que Galeno refere-se a um tempo anterior ao seu. Juvenal Galeno viveu entre os anos de 1838 e 1931, e como indica Gadelha (2010) no posfácio da obra, o escritor vinha coletando e registrando as práticas culturais de cura desde 1850. Juvenal Galeno teria escrito a maior parte da obra em 1918, “no momento em que a medicina científica começava a se firmar e a se consolidar como saber prático e erudito sobre a forma de medicar e quando o Ceará assistia, em plena Bélle Époque, à grandes transformações no que se refere ao desenvolvimento urbano e cultural.” (GADELHA, 2010, p.179-180). Medicina Caseira teria sido um livro escrito para preservar a memória de práticas de cura advindas das culturas populares. É muito provável, portanto, que já em meados do século XIX, senão anteriormente, a prática dos banhos de mar para fins de cura fosse conhecida e praticada. Assumindo essa suposição, podemos pensar que o aparato científico, médico e higienista, que viria aportar no final do século XIX, mas sobretudo no começo do século XX, pode ter se apropriado de uma prática popular já existente, sistematizando-a, controlando-a e difundindo-a agora na sua linguagem. A carência de fontes, nos faz parar por aqui nessa questão, mas a reflexão parece intrigante.

A imigração parece também ter sido uma influência relevante na difusão dos hábitos dos banhos de mar no Brasil, como atestam pesquisas de Freyre (2000), Schossler (2013), Freitas (2014), dentre outras. Em Fortaleza, encontramos poucos trabalhos sobre a presença de imigrantes na cidade e no estado do Ceará. A maior parte dessas pesquisas tiveram como objeto as atividades comerciais desenvolvidas por esses grupos e pouco debruçam-se sobre seus costumes. Destacamos aqui a pesquisa de Maciel (2017) sobre os comerciantes portugueses no Ceará no século XIX, mas que situa também brevemente a presença dos ingleses; e a pesquisa de Gisele Schimmelpfeng (1989) sobre a participação de alemães na economia cearense, principalmente no começo do século XX. Uma única menção ao litoral foi identificada, no texto de Schimmelpfeng (1989), em momento autobiográfico, a autora relembra que na década de 1930 havia ainda coqueirais que faziam sombras e faz menção ao restaurante Beira-mar, conhecido como Ramon, na Praia de Iracema. Os banhistas, segundo a

77

autora, “eram geralmente estrangeiros” (p.67). Apesar de não ser maioria, constatamos, nas nossas fontes, a presença de alguns estrangeiros (portugueses, espanhóis e alemães), sobretudo nas notícias de afogamentos. Nessa perspectiva, podemos assumir que a presença de imigrantes europeus, vindos de países em que o costume de frequentar o litoral e banhar-se no mar já era difundido, também influenciou na propulsão desse hábito em Fortaleza, embora essa prática não parecia ser majoritariamente aderida por eles, como afirmou Schimmelpfeng (1989).

Associado a isso, podemos pensar também que circulava uma rede de influência a respeito desse costume entre cidades litorâneas do Brasil. A então capital Rio de Janeiro e o estado de Pernambuco, o qual o Ceará foi administrativamente dependente até o começo do século XIX, assistiram a ascensão do hábito do banho de mar anteriormente que Fortaleza. A circulação de indivíduos, famílias e grupos provenientes dessas localidades em Fortaleza, bem como a possibilidade de a imprensa transitar um pouco mais entre diferentes cidades podem também ter sido fatores relevantes. Lembremos que uma das primeiras casas na Praia do Peixe provenientes de família abastada, a Vila Morena, era do Coronel José de Magalhães Porto, natural de Pernambuco.

Superemos agora as causalidades e passemos a pensar os sujeitos e sentidos envolvidos na prática dos banhos de mar. Que sentidos essa prática foi expressando a

medida em que a praia assimilava novas disposições? Como é possível pensar as representações de uma prática tão cotidiana, tão banal, como os banhos de mar? A

pouca recorrência de relatos a respeito d essa prática passaria ao largo, não fossem as trágicas notícias de afogamentos e os conflitos morais em torno do ambiente litorâneo, constituindo a maior parte de nossas fontes.

Os afogamentos são eventos que aconteciam com bastante recorrência, aparecendo em todos os jornais consultados no período recortado. Através dessas notas, algumas características, hábitos e normatizações podem ser inferidos. Havia, por exemplo, uma variedade de sujeitos que buscavam o banho de mar com distintas finalidades. As faixas etárias eram diversificadas, desde crianças, inclusive uma grande quantidade delas eram as trágicas vítimas. Havia também jovens entre 15 e 25 anos, e pessoas mais velhas, entre 26 e 50 anos. Os homens apareciam com maior recorrência nos casos de vítimas trágicas, mas a presença de mulheres também era atestada, seja como vítimas, seja como testemunhas dos acidentes. Indivíduos pertencentes a camadas socais distintas aderiram ao banho de mar, embora o tamanho da nota de falecimento, as narrativas, a utilização de vocativos e a indicação da família fosse mais elaborada e explícita na medida em que se ascendia

socialmente. Havia uma variabilidade de profissões: pedreiros, pescadores, estudantes, auxiliar de comércio, caixeiros, um menor leiteiro, soldados, comerciantes, funcionários da prefeitura, operários, bombeiros; ou verificava-se expressões mais genéricas de posição social, como “tomava banho na Praia de Iracema varias pessôas, de relevo em nosso meio social”78. Loucos, suicidas, bêbados, isto é, indivíduos marginalizados daquela sociedade também apareceram em alguns relatos. Muitos dos banhistas eram sujeitos naturais de Fortaleza ou do estado do Ceará, mas havia também estrangeiros e pessoas naturais de outros estados.

Os locais dos afogamentos também indicam as partes do litoral que eram mais frequentadas. As águas da Praia de Iracema e da Praia Formosa certamente eram aquelas que mais levavam vítimas, aparecendo inclusive referências mais específicas dessas praias (em frente ao Ramon ou restaurante Beira-mar, próximo à Ponte Velha ou ao Paredão, no Poço da Draga, etc). As Praias do Meireles, do Pirambu e Barra do Ceará também aparecem, mas certamente com menor recorrência. Curiosamente, o Mucuripe79, comunidade de pescadores que ia se estruturando e urbanizando-se aos poucos, não aparece, atestando ainda seu caráter de povoado longínquo do centro urbano, ainda não muito procurado pela maior parte da população como atrativo litorâneo.

Os horários durante o dia eram bastante variáveis, não havendo grande diferença entre a manhã e a tarde. O dia da semana mais recorrente certamente era domingo, embora os outros dias também apareçam em certas ocorrências.

Apresentado os sujeitos e outras características básicas dos banhos de mar, cabe pensar, como foi possível que uma prática que antes não figurava no rol dos atrativos da cidade, tenha se tornado parte do cotidiano de seus habitantes e quais representações e sentimentos estavam associados aos banhos de mar e consequentemente ao litoral. Pensar nessas questões é pensar o que significava praticar o banho de mar para aqueles sujeitos.

Em dado momento de sua pesquisa sobre o litoral, Alain Corbin (1989) se lança uma pergunta: “uma prática autônoma do banho de onda, suscitada pela busca do prazer, não teria precedido, no meio das classes dominantes, a moda nascida da prescrição médica?” (p.90). O autor reconhece que não é possível chegar precisamente a uma resposta, mas não se esquiva totalmente dela. Para ele, embora os banhos de mar possam já anteriormente ter a conotação mais marcadamente pela busca do prazer, afirma sem hesitar que o código terapêutico,

78 Sa lva ndo os ba nhista s inca utos. Correio do Cea rá , Forta leza , 03 /03/1931, p.5.

79 Regiã o onde a tua lmente loca liza -se a Beira -Ma r, sendo a pa rte do litora l ma is va loriza da pelo merca do

79

formulado no século XVIII, teria sido uma primeira forma de induzir e ordenar os usos da praia. Se transferirmos essa questão para o contexto desta pesquisa, uma imprecisão na resposta também se manifesta. Os sentidos e finalidades (cura, terapia, divertimento, higiene, beleza) eram borrados, ora aparecendo em paralelo, ora confundindo-se.

Retomando brevemente os versos de Juvenal Galeno (2010), os banhos de mar ali estavam associados a ideia, fundamentado na medicina popular, de cura e de tratamento. Dois romances do final do século XIX e começo do XX, vão mencionar a ida ao litoral e os banhos de mar a partir do mesmo sentido, embora nestes casos estejam mais próximos de uma medicina moderna, que buscava basear-se em preceitos científicos. O romance de Domingos Olímpio (2003), Luzia-Homem, que se passa na seca de 18781 no interior do estado, a mãe da protagonista Luzia-Homem sofreria de uma doença respiratória e de reumatismo, e no decorrer da história, há várias referências em levá-la à Fortaleza, especificamente ao litoral, com finalidade de tratamento. Da mesma forma, o já abordado romance A Afilhada, de Domingos Olímpio (1961), menciona a ida das estudantes à praia, atendendo a conselhos médicos. A finalidade principal anunciada nas três fontes na busca pelo litoral e pelos banhos de mar está associada à terapêutica, o que não impede, em alguns casos, como na A Afilhada, que descrições desse passeio estivessem também permeado por imagens do prazer, do divertimento, do encantamento com a paisagem e com as possibilidades de socialização naquele espaço.

Podemos pensar que na década de 1920, quando a faixa do litoral era ainda denominada de Praia do Peixe, os banhos de mar eram fortemente reconhecidos por suas capacidades terapêuticas, como indica a revista Ceará Illustrado:

O ba nho de ma r é uma thera pia elega nte e de ta nta effica cia , qua nto a quella na usea nbunda e prosa ica do a zeite de ca rra pa teira .

O corpo medico preconisa a os seus doentes de a ffeções nervosa s, porque os fa culta tivos observa m que os pa cientes se tonifica m e enrija m a o conta cto da s a gua s sa lga da s.80

Nesse caso, as afecções nervosas poderiam ser tratadas com as águas do mar, que segundo a fonte, “tonificam e enrijam” os pacientes. A injunção terapêutica, como sugere Corbin (1989), ao mesmo tempo que vai iniciar sobre o corpo, vai também manifestar um projeto moralizador. Além disso, caracterizar os banhos de mar como “therapia elegante” é uma forma de legitimar e ensejar uma marca social para essa prática, em oposição à da

“nauseabunda” terapia proveniente do azeite de carrapateira, provavelmente associada à sabedoria popular.

Contudo, é principalmente na década de 1920 que essa prática dos banhos de mar ganhava novos sentidos e iniciava uma incursão no repertório de divertimentos da cidade, como assinala a mesma revista: “Muita gente, entretanto, mergulha no mar por méro desporto, por medidas de hygiene, ou por volupia de exhibir, ao sól dos tropicos, as curvas musculosas «que a natureza fartamente quiz lhe dar»”81. Nesse caso, o banhos de mar poderiam estar, para alguns sujeitos, associado ao “mero desporto”, isto é, um divertimento de engajamento corporal; “por medidas de hygiene”, talvez ligada a uma ideia mais literal de limpeza ou a um projeto mais amplo referente à higiene vinculada à preservação e manutenção da saúde; ou “por volúpia de exhibir” o corpo, um sentido mais hedonista, de preocupações relativas à beleza.

Nas notícias de afogamentos verifica-se que o mais comum era tomar banho de mar acompanhado, muitas vezes por mais de uma pessoa. São vários os exemplos, as fontes dos afogamentos sempre mencionavam esse dado: “Um grupo de senhores banhava-se nas immediações da Praia de Iracema”82 , “tomavam banho na praia de Pirambu diversos alumnos da Escola de Aprendizes Marinheiros”83, “foi com alguns companheiros tomar banho de mar”84, “Joao Fernandes sem prevenir os seus para lá se dirigiu acompanhado dos amigos José Wagner Magalhaes Benevides, Edmilson Moura Brasil, Wilson Theophilo e Lindolpho.”85, “Na praça do Ferreira encontrou-se com dois amigos. Convidou-os para o banho e apezar da hora impropria la se foram os três á praia. (...) Uma vez na praia os rapazes lançaram-se nagua.”86, “O menor Suseni Soares Pinto, de 13 anos de idade, (...), tomava banho, ontem, pela manhã, na praia Formosa em companhia de outros companheiros”87.

São realmente poucos os casos em que a vítima estava sozinha. É possível que esse hábito, de estar sempre acompanhado, fosse antes uma precaução, dado o imaginário de perigo que rondava essa atividade, que mais se assimilava a uma aventura. Contudo, entrar no mar na maior parte das vezes em companhia de familiares, amigos e amigas, companheiros e companheiras de trabalho ou de escola, fazia dos banhos uma prática essencialmente de socialização. Aquele era um momento de compartilhamento de vínculos, de socialização de

81 idem

82 Ia m morrendo a foga dos. O Nordeste, Forta leza , 01/06/1929, p.7 83 Um ba nhista desa pparece...O Nordeste, Forta leza , 21 /04/1929, p.12 84 Morreu a foga do no Pira mbú. Correio do Cea rá , Forta leza , 27 /02/1931, p.2 85 Tra gico ba nho de ma r. Correio do Cea rá , Forta leza , 03/07/1934, p.8 86 Morreu a foga do. Correio do Cea rá , Forta leza , 25/01/1937, p.12 87 Ia morrendo a foga do. Correio do Cea rá , Forta leza , 17 /06/1940, p.4

81

costumes e hábitos, de maior exposição dos corpos, de enfretamento coletivo d o mar, da natureza. As modalidades de fruição desse lugar, do litoral, o modo de apreciá-lo, os signos de reconhecimento, o emprego do tempo, o arranjo do espaço, como analisa Corbin (1989), são impostos pelas formas de sociabilidades, manifestando uma maneira de estar junto nesse espaço.

Figura 19 - As crianças, deitadas na praia, olhando a vastidão do mar. Fonte: Gazeta de Notícias, 04/08/1935, p.5

Figura 20 - Despreocupadas e alegres as crianças brincam com as ondas. Fonte: Gazeta de Notícias, 04/08/1935, p.5

Ambas as fotos (FIG.19 e FIG.20), foram publicadas juntas na Secção Infantil do jornal Gazeta de Notícias no ano de 1935, intitulada “Domingo, na Praia de Iracema”. Na

primeira imagem (FIG.19), a cena parece ensaiada, as crianças alinhadas, apenas um garoto mais distraído e no fundo uma banhista adulta nitidamente pousa para a fotografia. A legenda “As crianças, deitadas na praia, olhando a vastidão do mar” e a perspectiva da imagem (com o fundo para a cidade, e portanto, as crianças estariam olhando para o mar) forjam a ideia de contemplação da paisagem litorânea, embora a maior parte das crianças pareçam estar constrangidas ou muito mais entretidas no contato com a areia molhada do que com o deslumbramento da vista.

Na segunda imagem (FIG.20), a perspectiva muda, as crianças agora estão de costas para o mar, não é mais a contemplação que elas praticam, como indica a legenda “Despreocupadas e alegres as crianças brincam com as ondas”. A fotografia é mais espontânea, não parece existir acanhamento frente a câmera, uma garota, inclusive, está de costas para o fotógrafo. Nessa segunda imagem, aparecem ainda dois adultos, eles estão próximos do grupo de crianças, embora fora do semicírculo formado por elas. Provavelmente eram pais ou parentes e estavam exercendo ali o papel de acompanhantes das crianças. É muito possível que a presença deles na fotografia, embora pareça natural, tenha sido intencional, já que a presença de responsáveis era uma regulamentação do posto de salvamento, como veremos a seguir. Mais três crianças assomam-se na segunda fotografia, uma delas totalmente integrada às outras crianças e presente no foco da imagem, e outros dois garotos figuram no fundo, olhando para a cena que se compunha para a realização da fotografia. Nessa imagem, fica muito mais evidente o sentimento de deleitamento, diversão e prazer na postura, nos gestos corporais e na fisionomia das crianças.

Em meio às descrições dramáticas dos afogamentos, é possível identificar autenticas manifestações de divertimento na prática dos banhos de mar, uma aura de entusiasmo, contentamento, satisfação. Os momentos que antecedem o acidente são descritos de modo leve, quase como uma celebração: “Hontem, ás 15 ½ horas da tarde, estava animadíssimo o banho na Praia de Iracema e muitos eram os que nadavam a grandes distancias.”88, “Moacir e José Elias, garotos acostumados já a enfrentar as ondas, não se incomodaram com que o mar estivesse bravio. Jogando e pulando, alegres e satisfeitos, divertiram-se bastante, á beira-mar, após o que penetraram nas verdes ondas.”89. A manifestação dos banhos como um ato de celebração fica ainda mais evidente nos eventos de Banhos à Fantasia90, promovido pelos

88 Qua se morre a foga do. Correio do Cea rá , Forta leza , 21 /04/1931, p.7

89 Afoga mento na Pra ia de Ja ca reca nga. Ga zeta de Notícia s, Forta leza , 20/03 /1943, p.3

90 Os ba nhos de fa ntasia , seja em ma r ou rios, era pra tica do ta mbém em outra s cida des, sobretudo em períodos

83

clubes, em que grupos de banhistas se reuniam. Era uma “animada festa matinal que, por certo, será de grande brilho e constará de um banho de mar e de sol, a fantasia”91

Os prazeres dos banhos podiam estar associados ao deleite de refrescar-se nas águas salgadas, mas destacava-se, sobretudo, a alusão ao regozijo de um engajamento corporal. Pelas expressões que a acompanham, a prática dos banhos de mar, segundo as fontes, era compreendida efetivamente como manifestação daquilo que se entendia por cultura física. Algumas expressões, como “todas as vezes que se entregava ao esporte do banho de mar”92 ou “em exercício de desporto, efectuando o banho perto de 11 horas.”93, deixam claro que aquela prática se tratava de um divertimento com atributos esportivos. Por isso, os banhos de mar eram, muitas vezes, caracterizados como uma atividade salutar, associada às práticas corporais já estabelecidas, por exemplo o futebol, a ginástica ou mesmo atividades mais elementares, como correr e saltar: “Na praia, sem sol e as brisas frescas do mar e a chuva