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Barreiras ao desenvolvimento da criatividade

CAPÍTULO 3 RESULTADOS

3.10 Barreiras ao desenvolvimento da criatividade

Um último tópico focalizado na entrevista foram as barreiras percebidas pelo professor ao desenvolvimento da criatividade dos alunos. Conforme pode ser observado na Tabela 7, foram apontadas 12 (40%) barreiras referentes ao aluno; oito (26,67%) ligadas à instituição (26,67%); quatro (13,33%) relativas aos colegas de profissão; três (10%) inerentes à formação do professor (10%) e três (10%) relacionadas ao modo de ser do professor em sala de aula.

Nota-se que, para os entrevistados, o maior número de barreiras estava relacionado aos alunos. A timidez e as personalidades diferentes não os deixavam se

expressar de forma criativa. O cansaço, sobretudo nos alunos das instituições particulares, cujos cursos eram noturnos e os alunos trabalhavam, de modo geral, durante o dia, foi considerada barreira para o professor tentar fazer algo diferente. Por outro lado, para os professores, os alunos demonstravam uma certa avidez por teoria, pois muitos pensavam que o professor que não agia dentro dos “padrões normais de despejar teoria”, era um professor que queria “enrolar o tempo”. O professor F16 se admirava com os jovens que chegavam à educação superior absolutamente contra o novo, porque isso implicava

esforçar-se mais mentalmente e percebia que eles queriam continuar a fazer o que todo o mundo fazia, porque o novo dava mais trabalho. Essa espécie de aversão ao

novo também ficou patente na observação do professor F18, que constatou que os alunos do primeiro semestre eram mais resistentes dos que os dos semestres seguintes, porque vinham do ensino médio, voltado para o vestibular, cuja preocupação era fazer o maior número de ingressantes nos cursos superiores. Outra barreira indicada foi a pouca predisposição dos alunos à leitura, o que impedia a realização de trabalhos mais criativos: “Ah... os alunos brasileiros lêem pouco.” (F13).

Seguem algumas respostas ilustrando as barreiras referentes aos alunos:

Alunos, ah, muitos não querem, por exemplo, os que não querem lecionar são mais inibidos, não querem esse tipo de aula prática, né? Outros acham, se esquecem que estão fazendo licenciatura e acham que o nível da aula do 3º grau deve ser absolutamente o mais próximo do mestrado. (P1).

Se você criar métodos diferentes em sala de aula, questão de discussão, eles vão dizer que nós não estamos dando aula: ué, cadê a aula? (P5).

Olha, a principal barreira... é difícil, às vezes, da gente transpor, é quando o aluno é introvertido, quando ele é tímido, é mais complicado você fazer com que ele crie [...] (F19).

Foram também realçados fatores ligados à instituição, sobretudo rigidez no cumprimento da grade curricular e falta de material, principalmente nas instituições particulares, como se pode perceber nas seguintes respostas:

É... os materiais, talvez, que a gente tem para lançar mão dentro da faculdade são precários, porque são sempre os mesmos; a gente não tem como, aonde buscar coisas diferentes para trabalhar. (P6).

E falta é... nas instituições, geralmente, falta espaço, faltam é... materiais que possam te ajudar a ter um trabalho bom, também não dá para a gente ter tudo. Isso também, se tivesse um cantinho, né... tipo uma sala [...] (P15).

E algumas vezes também a instituição não oferece grandes possibilidades – você tem o que ser feito naquela grade, dentro daquele momento, e se você foge demais [...] (P17).

Outra barreira apontada foi a resistência dos colegas de profissão; vários deixaram de adotar procedimentos mais criativos em suas aulas por causa de colegas que se sentiam inferiorizados, mas não queriam ter mais trabalho. Isso se nota nas respostas a seguir:

Agora, o que acontece, a gente encontra a resistência maior, não é do aluno, a resistência maior, acho, são certos colegas, é... é... eles... é... começa aquela coisa: ah... porque você quer se mostrar, porque... entender, às vezes ganhando até certas inimizades, por querer fazer uma coisa bacana, uma coisa diferente. (P2).

É... as barreiras principais são as pessoas...é... vamos dizer assim, aquelas pessoas que ocupam um cargo superior a nós, alguns professores, e até os alunos também podem se constituir em barreiras, devido ao desconhecimento, à ignorância – eu não trabalho o que o professor pretende fazer. (F12).

Os colegas detestam, às vezes, porque... se ela está fazendo assim, eu vou ter que fazer também [...] (F16).

As barreiras relacionadas ao professor em sua formação ou em sua atuação em sala de aula se referiam, especialmente, à formação tradicionalista com ênfase no conteúdo, ao desconhecimento do assunto criatividade, à falta de atualização e ao ensino teórico, que vem sendo transmitido nos cursos de formação de professor, inclusive no Curso de Letras, como exemplificado:

[...] falta de atualização dos professores, né... que faz com que não desenvolva o potencial dos alunos, fica preso à mesma coisa, acha que está sempre com a mesma turma, a falta de escuta também por parte dos professores - a gente escuta pouco os alunos. (P3).

Sim, sim, a todo momento, e eu inclusive, até me irrito frequentemente com... porque a academia e o sistema de ensino de modo geral, não gostam da criatividade; normalmente, não gostam. (F14).

Tabela 7: Barreiras apontadas pelos professores ao desenvolvimento da criatividade do aluno BARREIRAS APONTADAS f % ►RELACIONADAS AO ALUNO ▪Timidez ▪Cansaço

▪Avidez por teoria

▪Personalidades diferentes ▪Pouca leitura

▪Desmotivação para a disciplina ▪Resistência à mudança e ao novo ▪Despreparo 12 40,00 ►RELACIONADAS À INSTITUIÇÃO ▪Horário ▪Grade curricular ▪Academicismo

▪Carência de espaço para laboratórios, teatro ▪Carência de materiais

▪Carência financeira

8 26,67

►RELACIONADAS AOS COLEGAS DE PROFISSÃO ▪Resistência à criatividade

▪Resistência em fazer diferente o que vem fazendo

4 13,33

►RELACIONADAS À FORMAÇÃO DO PROFESSOR ▪Formação tradicionalista

▪Falta de atualização

▪Não saber escutar os alunos ▪Desconhecimento do assunto

3 10,00

►RELACIONADAS AO PROFESSOR EM SALA DE AULA ▪Conteúdo teórico

▪Academicismo

3 10,00

TOTAIS 30 100,00%

Nota: as porcentagens foram calculadas a partir do total de barreiras apontadas pelos professores e não a partir do número de professores.

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