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Barreiras ao envolvimento parental na escola

Capítulo II- O envolvimento parental na escola

2.6. Barreiras ao envolvimento parental na escola

Na perspetiva de Hornby e Lafaele (2011) existem distintos fatores e razões para a lacuna evidenciada entre o que a literatura patenteia e as práticas reais de envolvimento vividas nas escolas que podem ser intituladas como barreiras ao envolvimento parental. A análise dos obstáculos ao envolvimento parental deve basear-se no modelo de esferas de influências sobrepostas de Epstein (2001) contemplando os fatores familiares, escolares, sociais e comunitários. Com efeito, Hornby e Lafaele (2011) desenvolveram um modelo no qual contemplam os fatores relacionados com os pais e com a família (por exemplo, as crenças dos pais sobre o envolvimento parental, os contextos de vida dos pais, as perceções dos pais relativamente aos convites de envolvimento apresentados pela escola e o estatuto socioeconómico, a identidade étnica e o género), os fatores relacionados com a criança (por exemplo, a idade, a existência de dificuldades de aprendizagem, necessidades educativas especiais, de sobredotação, de talentos específicos e de problemas do comportamento), os fatores relacionados com a relação dos pais com os docentes (atitudes, linguagem e disponibilidade diferentes) e os fatores sociais (questões históricas, demográficas, políticas e económicas).

A relação entre a escola e a família depara-se fundamentalmente com quatro tipos de dificuldades: a tradição de separação entre a escola e as famílias, a tradição de culpar os pais

pelas dificuldades dos filhos, as mudanças na estrutura das famílias e, por fim, os constrangimentos culturais. Tradicionalmente, as famílias percecionavam a escola como o espaço privilegiado de instrução. Por seu turno pertencia à família ensinar um conjunto de valores básicos relativos a normas de comportamentos e relações de cortesia.

Atualmente este modelo reducionista não responde às condições e desafios de uma escola em que quer a população estudantil quer a classe docente são cada vez mais heterogéneas do ponto de vista cultural, social e étnico. Simultaneamente, observam-se mutações profundas na estrutura familiar com aparecimento de novas formas de família. Adicionalmente, o papel da mulher tem vindo a alterar-se significativamente na sociedade do século XXI, ou seja, a entrada da mulher no mercado de trabalho originou a falta de tempo para dedicar-se quer aos filhos quer aos assuntos escolares.

Os docentes tendem a culpabilizar os pais pelo fracasso escolar dos alunos ao invés de questionarem a estrutura escolar e a sua incapacidade em lidar com os fenómenos sociais complexos. Para ultrapassar as dificuldades no estabelecimento de uma relação profícua entre a família e a escola é necessário em primeiro lugar, utilizar uma linguagem acessível a todos os pais; em segundo lugar, as reuniões devem ser agendadas no horário pós-laboral com o objetivo de facilitar a presença dos pais; em terceiro lugar, criar espaços de atendimento onde seja salvaguardada a confidencialidade e privacidade. No que concerne aos pais difíceis de estabelecer uma comunicação a escola deve criar formas alternativas de diálogo, em particular, a realização de visitas domiciliárias comandadas por equipas de psicólogos educacionais e assistentes sociais (Marques, 2001).

Marques (2001) destaca que não existe um único modo de envolver os pais na vida escolar o que pressupõe que as entidades escolares devem disponibilizar um “menu” variado a fim de adaptar-se às características e necessidades da comunidade educativa. Logo, os programas de envolvimento parental devem privilegiar uma relação de diversidade e de intensidade, ou seja, o envolvimento parental só é possível quando existem reuniões frequentes entre os pais e os professores e o recurso à comunicação mútua frequente.

2.7. Síntese

Ao longo deste capítulo esclareceu-se acerca da temática do envolvimento parental na escola. Constatou-se que o conceito de envolvimento parental na escola continua a ser

ambíguo e carece de uma operacionalização aceite universalmente sendo adotados definições unidimensionais e multidimensionais (Carlisle, Stanley, & Kemple, 2005; Fan & Chen, 2001). Esta diversidade metodológica impossibilita largamente a comparação das evidências empíricas de vários trabalhos (Bakker & Denessen, 2007; Karbach et al., 2013; Pedro, 2010).

A investigação empírica reconhece que a família desempenha um papel fulcral na promoção do sucesso educativo das crianças e adolescentes, no seu desenvolvimento integral e no evitamento de comportamentos de risco (Lavenda, 2011; Pereira et al., 2008). Além disso, a investigação empírica reconhece que o envolvimento é influenciado por fatores individuais, socioculturais e económicas (Desforges & Aboucher, 2003; Pereira et al., 2003).

O modelo de esferas de influência sobrepostas de Joyce Epstein (1995) fornece um contributo importante à investigação empírica pois sublinha a centralidade da parceria entre a escola, a família e a comunidade no desenvolvimento e sucesso educativo dos alunos.

Por outro lado o enfoque do modelo de Hoover-Dempsey e Sandler (1995, 1997) identifica as variáveis explicativas da decisão dos pais envolverem-se na educação dos filhos e, por fim, o modelo de Eccles e Harold (1993) centra-se nas variáveis exogéneas e endógenas influentes no envolvimento dos pais na escola.

A literatura sublinha que as expectativas parentais face à escola desempenham um papel significativo ao longo da escolaridade das crianças e jovens e são promotoras de um desempenho académico elevado nos alunos e de comportamentos adaptativos nos alunos (Bowen, Rose, Powers, & Glennie, 2008; Fan & Chen, 2001; Froiland & Davison, 2014).

Foram enunciados benefícios relevantes para os alunos, para os pais e para os professores decorrentes da relação escola-família. No entanto, apesar do reconhecimento de que uma relação positiva entre a escola e a família acarrete uma panóplia de benefícios, muitas vezes, na realidade concreta nas escolas predomina geralmente o sentimento de desconfiança mútua entre os diferentes protagonistas educativos e uma separação entre as duas entidades. A compreensão e explanação dos obstáculos ao envolvimento parental apenas podem ser explicadas incluindo fatores familiares, escolares, sociais e comunitários (Hornby & Lafaele, 2011; Marques, 2001).