• Nenhum resultado encontrado

Modelos explicativos do envolvimento parental na escola

Capítulo II- O envolvimento parental na escola

2.3. Modelos explicativos do envolvimento parental na escola

Apesar das definições de envolvimento parental supracitadas apresentarem um cariz unidimensional e, por vezes, uma visão fragmentada do constructo, de seguida descreve-se alguns modelos explicativos cujos pressupostos assentam na multidimensionalidade do conceito.

2.3.1. Modelo das esferas de influências sobrepostas de Joyce Epstein.

Epstein (1995) preconiza que os docentes devem percecionar os alunos como crianças ou adolescentes em desenvolvimento. A autora salienta o papel fundamental desempenhado pela família bem como pela comunidade que, em parceria com o contexto escolar, deverão atuar conjuntamente no desenvolvimento e educação das crianças e adolescentes.

O modelo das esferas de influências sobrepostas (overlapping spheres of influence) é composto por duas estruturas: a estrutura externa e a estrutura interna (Anexo B). A estrutura externa reconhece a existência de três contextos principais nos quais as crianças aprendem e desenvolvem-se- a família, a escola e a comunidade- onde a sobreposição varia de acordo com o tempo, as experiências das escolas e as experiências das famílias e uma estrutura interna que apresenta as relações interpessoais e os padrões de influência que se desenvolvem entre as três entidades (Beja, 2009).

Segundo Epstein (1995), o envolvimento parental é constituído por seis tipos através da colaboração entre três entidades fundamentais no desenvolvimento da criança: a família, a escola e a comunidade designadamente o tipo 1: apoiar as famílias de modo a que possam construir um contexto familiar de suporte à educação e ao sucesso escolar das crianças e adolescentes (parenting); tipo 2: desenvolver formas efetivas de comunicação entre a escola e

a família e entre a família e a escola sobre os programas escolares e o progresso da criança (communicating); tipo 3: recrutar e organizar os pais para a ajuda e o apoio às escolas (volunteering); tipo 4: fornecer a informação necessária às famílias sobre a forma como os pais devem ajudar as crianças em casa através dos trabalhos de casa e outras atividades, decisões e planificações relacionadas com o currículo (learning at home); tipo 5: incluir os pais nas decisões da escola, incentivando a constituição de líderes e representantes dos pais (decision making) e o tipo 6: identificar e integrar os recursos e serviços da comunidade para reforçar os programas escolares, as atividades familiares e a aprendizagem e desenvolvimento das crianças (collaborating with community).

O modelo de influências sobrepostas entre a família, a escola e a comunidade enfatiza que os alunos são os principais responsáveis na sua educação, desenvolvimento e sucesso na escola bem como adota a perspetiva sistémica defensora que os vários sistemas se influenciam mutuamente, porém, mantêm a individualidade e autonomia próprias (Beja, 2009; Epstein, 1995).

2.3.2. Modelo de Hoover- Dempsey e Sandler.

Hoover-Dempsey e Sandler (1995, 1997) desenvolveram um modelo com o objetivo de determinar as variáveis que melhor explicam o envolvimento parental, e que poderão ser potenciais elementos de intervenção para promover a eficácia do envolvimento. O modelo apresenta a decisão básica dos pais em envolverem-se na escolaridade das crianças e os fatores associados à decisão.

Assim, o paradigma pretende explicar numa visão integrada e compreensiva, através de combinação de variáveis estruturais e variáveis dinâmicas, o envolvimento parental nos assuntos escolares. O modelo foi revisto por Walker, Wilkins, Dallaire, Sandler, e Hoover- Dempsey (2005) e inclui cinco níveis (Anexo C).

O primeiro nível consiste nos fatores que influenciam a decisão inicial dos pais de envolvimento nos assuntos escolares. Estes fatores incluem as crenças motivacionais dos pais sobre o seu envolvimento, nomeadamente a construção do papel parental, isto é, o sentido de responsabilidade dos pais face à escolaridade dos filhos e a autoeficácia dos pais, isto é, a crença dos pais na sua capacidade em contribuírem para o sucesso académico dos filhos. Além disso, no primeiro nível incluem-se ainda as perceções dos pais sobre convites de outros

agentes educativos, particularmente da escola, do diretor de turma e da criança e a perceção dos pais acerca dos seus contextos de vida, designadamente a perceção dos recursos de tempo e de energia disponíveis e a sua capacidade de competência e de conhecimento. Estes fatores possibilitam a criação de várias formas de envolvimento, conduzindo ao segundo nível do paradigma.

Estas formas de envolvimento são influenciadas pela localização em que o envolvimento ocorre seja na escola seja em casa.

O terceiro nível engloba os mecanismos de envolvimento nomeadamente os métodos utilizados pelos pais para influenciar a escolaridade das crianças que podem corresponder ao uso da modelagem, do reforço e das instruções.

O quarto nível consiste em dois fatores mediadores entre o efeito do envolvimento parental nos resultados escolares dos alunos. Estes dois fatores correspondem à idade da criança e a adequação entre os comportamentos dos pais e as expectativas da escola. O último nível do modelo consiste nos resultados académicos do aluno (Hoover-Dempsey & Sandler, 1995; Walker, Wilkins, Dallaire, Sandler, & Hoover-Dempsey, 2005).

2.3.3. Modelo de Eccles e Harold.

O modelo de Eccles e Harold (1993) sugere que o envolvimento parental resulta da

influência de múltiplas variavéis. Deste modo, os autores salientam a presença das variáveis exógenas como as características da família/pais (por exemplo os recursos sociais e psicológicos disponíveis para os pais, as crenças de autoeficácia dos pais, as perceções dos pais sobre o seu filho, as crenças do pais sobre o seu papel na educação e no sucesso académico da criança, as atitudes dos pais face à escola, e a sua identidade étnica e cultural), a influência da comunidade (por exemplo rede de apoio, recursos), as características da criança (por exemplo a idade, ano de escolaridade, experiências educativas anteriores), as características da escola e dos professores (por exemplo as práticas educativas dos professores, as atitudes perante o envolvimento) que influenciam as variáveis endógenas nomeadamente as crenças e representações dos pais sobre o envolvimento na escola.

Vários autores ( Eccles & Harold, 1993; Grolnick & Slowiaczek, 1994) indicam que o envolvimento parental regista uma diminuição nas escolas do ensino básico à medida que aumenta o nível de escolaridade dos alunos devido ao facto das famílias sentirem uma menor ligação e pertença à escola.