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Barreiras para Utilização da Ventilação Natural

Lista de Tabelas

2 A Ventilação Natural nos Edifícios

2.5 Barreiras para Utilização da Ventilação Natural

Além das barreiras citadas no item 1.3 que estão relacionadas ao uso da ventilação natural em ambiente urbano, existem diversas outras. Segundo Cotting, é importante identificar as barreiras vistas pelos projetistas e tomadores de decisão que restringem a implementação da ventilação natural e promovem a decisão de instalar a ventilação mecânica nos edifícios, mesmo naquela onde esta não é estritamente necessária. O conhecimento destas barreiras é o primeiro passo para o desenvolvimento das soluções (COTTING, 1998).

As barreiras para utilização da ventilação natural em edifícios de escritórios podem ser divididas em três grupos.

O primeiro grupo se refere às barreiras encontradas durante o projeto do edifício. Neste grupo, estão incluídas as normas técnicas específicas de ventilação, ou a falta delas, e outras que tratam de assuntos que podem entrar em conflito com a sua utilização, tais como as normas de segurança contra fogo e também as normas de acústica.

A falta de conhecimento, por parte dos projetistas dos processos da ventilação natural e a dificuldade de utilização das ferramentas disponíveis implicam em risco de funcionamento inadequado, o que, aliado a não remuneração pelo projeto específico, desencorajam os projetistas tornando- se barreiras para o uso da ventilação natural durante a fase de projeto.

Ferramentas simples de projeto, softwares ou diagramas aplicáveis no desenvolvimento de projetos por arquitetos, engenheiros, consultores ou projetistas para analisar as vantagens e desvantagens dos diferentes conceitos de ventilação precisam ser desenvolvidos (COTTING, 1998). Durante o processo de projeto as soluções de arquitetura e engenharia propostas devem ser checadas em relação a sua performance em condições normais ou extremas. Para isso os projetistas precisam ter ferramentas confiáveis e acessíveis. A ventilação natural é uma área onde as ferramentas são particularmente escassas ou difíceis de serem manipuladas (ALLARD, 1998). Isso gera desconforto para o projetista, pois

além da modelagem ser complicada, a análise dos dados pode ser confusa para não especialistas. Esta dificuldade pode ser minimizada com a elaboração de novas ferramentas, mais acessíveis para a maior parte de projetistas, o que seria suficiente nos casos mais simples, mas também com a conscientização de que algumas tipologias arquitetônicas ou edifícios específicos, como é muitas vezes o caso dos edifícios de escritórios, demandam um trabalho mais complexo, onde somente especialistas são capazes de escolher as melhores soluções a serem implementadas e desta forma precisam estar envolvidos o quanto antes no projeto.

As diferentes barreiras para implementação da ventilação natural como única ou a principal estratégia de resfriamento do edifício, bem como a incerteza sobre a habilidade de controle dos ambientes internos em diversas circunstâncias, certamente significam um risco para o projetista de que o empreendedor ou os próprios usuários não fiquem satisfeitos com o seu projeto. É certamente mais fácil e mais confortável a adoção de soluções mecânicas convencionais por parte do projetista com desempenho garantido apesar do maior custo.

O segundo grupo se refere às atividades exercidas nos edifícios de escritórios e barreiras durante a sua operação.

Em climas frios, a movimentação do ar no interior do edifício pode causar incômodo, efeito “draught”. Este efeito ocorre quando se exercem atividades sedentárias e o ar frio provoca o resfriamento excessivo do corpo como um todo ou de uma de suas partes. Também é desagradável a sensação provocada pela colisão de ar em alta velocidade contra as pessoas ou a movimentação indevida de materiais, este último bastante indesejável em ambientes de escritórios (RUAS e LABAKI, 2001). Neste grupo podemos incluir ainda a poluição e os altos níveis de ruído externo existentes nos meios urbanos, e outras questões como a segurança contra invasões ou a segurança física dos usuários e a necessidade de controles para que o edifício possa funcionar bem com a utilização da ventilação natural.

Um dos pontos mais importantes para os ocupantes dos edifícios é a segurança contra a entrada de pessoas não autorizadas. Segundo Allard, isso implica em que todas as aberturas no fechamento do edifício sejam

fácil. Existem outros intrusos indesejados como pequenos animais, pássaros, por exemplo, e também insetos que podem entrar através de aberturas grandes ou pequenas, baixas ou altas para as quais são necessárias soluções específicas. As grades de proteção e telas têm sido artifícios bastante utilizados para solucionar a questão da segurança (ALLARD, 1998).

O tamanho reduzido das aberturas para evitar a entrada de intrusos pode causar limitações na intensidade da ventilação natural, enquanto grades ou telas são bastante rejeitadas por diminuir a entrada de luz e prejudicar o contato com o meio externo, além de representarem um custo extra. As grades ainda representam uma grande barreira às rotas de escape e requerem compensação com outras soluções.

A chuva também pode ser uma barreira. As aberturas para ventilação natural também podem permitir a entrada de chuva causando danos aos materiais de acabamento interno, mobiliário, equipamentos, etc. Para preveni-la as aberturas devem ser controladas, seja pelos próprios usuários ou por algum tipo de controle automático. O controle manual requer a presença dos usuários no edifício, o que implica no fechamento das mesmas por razões de segurança, quando estes não estiverem presentes e desta forma compromete a ventilação natural - principalmente resfriamento noturno. A alternativa neste caso seria a utilização de janelas com soluções inteligentes de design como palhetas especiais que podem proteger contra a entrada de intrusos, insetos e também da chuva, entre outras soluções de projeto em esquadrias.

A ventilação natural se baseia no fluxo de ar por pressão dos ventos ou diferença de temperatura, porém estes requisitos não são constantes durante todo o ano, estações e mesmo durante um dia, e a suas variações podem gerar desconforto por vários motivos aos usuários de edifícios ventilados naturalmente. Assim algum tipo de controle é fundamental para ajuste das aberturas de acordo com as necessidades de cada momento. Estes controles podem ser manuais ou automáticos. No caso de controle manual, o usuário precisa ter um nível mínimo de conhecimento para operar as aberturas adequadamente e as mesmas precisam ser suficientemente simples para oferecer diferentes possibilidades de ventilação e ainda assim serem operáveis pelo usuário comum. De outra forma a automação se torna fundamental para

A escolha pelo tipo de controle não é tarefa tão simples, pois envolve a análise de outros sistemas como resfriamento ou aquecimento, arquitetura (divisões internas layout, etc), capacidade dos ocupantes de operarem apropriadamente o sistema, além do custo total (ALLARD, 1998).

Existe uma grande falta de conhecimento em termos de integração com outros componentes, mas também em relação a performance do sistema. Sistemas de controle simples e eficientes precisam estar disponíveis para tornar o usuário independente em sua operação. Seria também interessante o desenvolvimento de novas tipologias de esquadrias para promover melhor o fluxo do ar, evitar o “efeito draught”, facilitar o controle com melhor design (COTTING, 1998).

Tanto os sistemas manuais quanto os automáticos têm vantagens e desvantagens que devem ser avaliadas. Em geral um sistema automatizado oferece maiores vantagens em edifícios de escritórios (onde as cargas internas costumam ser maiores que 40W/m2), sendo que se o mesmo oferecer um mínimo de controle por parte do usuário se torna mais interessante apesar de ser tecnicamente mais complexo e mais caro (ALLARD, 1998).

O terceiro grupo de barreiras ao uso da ventilação natural se refere aos mitos na especificação das esquadrias.

Existe o receio dos projetistas de que as soluções necessárias ao bom funcionamento da ventilação natural possam impactar negativamente na arquitetura, além de alguns mitos como a geração de fluxos de ar incontroláveis por janelas abertas em edifícios altos, ou a possível perda de energia em caso de edifícios que combinam ar condicionado e ventilação natural, entre outros (BOERSTRA e KURVERS, 2000).