Bateria de avaliação do movimento para crianças

O instrumento utilizado para averiguar o nível de prestação psicomotora dos indivíduos em estudo foi a Bateria de Avaliação do Movimento para Crianças (versão portuguesa do Movement ABC de Henderson e Sugden, 1992) cuja tradução e validação para a população nacional de 11-12 anos foi realizada por Leão no seu estudo de 2008 (Anexo XVI, Anexo XVI, Anexo XVII, Anexo XVIII, Anexo XIX, Anexo XX).

Esta bateria de avaliação do movimento, validada e utilizada internacionalmente (Rosblad e Gard, 1998; Schoemaker, Smits-Engelsman e Jongmans, 2003; Leão, 2008), é considerada uma ferramenta clínica e educacional de extrema importância pois, através da utilização dos seus dois testes distintos e complementares, permite a detecção de dificuldades/problemas motores em crianças em idade escolar:

Teste motor (Movement ABC) – método de diagnóstico detalhado que é composto por testes que permitem avaliar três componentes: destreza manual, habilidades com bola e equilíbrio (estático/dinâmico);

Questionário (na forma de lista de verificação) que é utilizado como instrumento de rastreio de dificuldades.

Os testes atrás referidos (Anexo XVI), em conjunto com o questionário (Anexo XX), fornecem-nos informações quantitativas e qualitativas e foram concebidos para serem aplicados a crianças dos 4 aos 12 anos.

O teste motor é dividido em bandas de idade e cada uma delas tem 8 itens (32 no total) com vários níveis de complexidade. Nas idades mais baixas, 4-6 anos, são aplicadas as tarefas mais simples, aumentando progressivamente a sua

complexidade até à idade de 11-12 anos (Leão, 2008, p. 4). Estas provas constituem um método de diagnóstico detalhado que permitem identificar crianças com dificuldades.

Quanto à lista de verificação (Anexo XX), está dividida em cinco secções, contendo cada uma delas doze itens, analisa de aspectos motores e comportamentais da criança, e viu as suas qualidades psicométricas, para a banda em questão (Banda 4 – 11-12 anos), validadas por Schoemaker, Smits-Engelsman e Jongmans (2003, pp. 437-439).

O teste motor (Quadro 6) da banda escolhida para o nosso trabalho (destinado a crianças com 11-12 anos) compreende um conjunto de habilidades organizadas em três secções, conforme descrito no quadro seguinte:

Quadro 6 - Teste motor - secções e pontuação (adaptado de Wright e Sugden, 1996, p. 361).

Banda de

idade Teste ABC

Itens, pontuação (0-5 em cada) Destreza manual Virar peças Recortar elefante Delinear flor

Habilidades com bola Lançar e agarrar bola com uma mão Tiro ao alvo

Banda IV (11-12 anos)

Equilíbrio estático e dinâmico

Equilibrar em duas tábuas Saltar e bater palmas Deslocar à retaguarda Pontuação motora total

<10 = normal >10 = dificuldades motoras >14 = dificuldades motoras graves

O protocolo idealizado por Henderson e Sugden (cit. por Leão, 2008, p. 48) tem a sua génese na concepção de que grande parte das aprendizagens das crianças acontece através da exploração das mãos, que o equilíbrio está presente em quase todas as tarefas motoras, da mesma forma que as habilidades com bola contemplam um aspecto cultural importante por fazerem parte da maioria dos jogos e brincadeiras das crianças.

À medida que as crianças realizam as diferentes tarefas do teste motor, (num intervalo temporal aproximado de 20 a 30 minutos) procede-se ao registo da

sua prestação (Anexo XVIII) através de um valor que reflecte o desempenho na prova:
número de passos;
número de acertos;
número de erros;
tempo dispendido;

recusa da realização da prova (R);
realização inapropriada (I).

Em seguida, estes resultados são convertidos para a escala de pontuação própria do teste motor (Anexo XVII), o que permite a classificação do desempenho da criança e a sua comparação com as normas de percentil individual (Anexo II), tornando possível o despiste de eventuais dificuldades ao nível da motricidade em cada uma das áreas avaliadas (Destreza Manual; Habilidade com bola e Equilíbrio estático e dinâmico).

Caso a criança obtenha uma pontuação superior à indicada na coluna “Per 5”, em cada área do desempenho psicomotor referida, será de equacionar a existência de dificuldades motoras acentuadas; caso essa pontuação se encontre entre os valores das colunas “Per 5” e “Per 15”, haverá indícios para suspeitar de algumas dificuldades motoras; por último, casos as pontuações sejam inferiores aos valores da coluna “Per 15” estaremos perante crianças com um desempenho motor classificado como normal.

A escala utilizada para pontuar cada um das provas vai de 0 a 5, sendo que a pontuação mais baixa (zero) reflecte um desempenho sem dificuldades; por outro lado, a atribuição da pontuação mais alta indica que a criança realizou uma prestação que sugere limitações ao nível das competências solicitadas pela prova em questão (Silva, 2008, pp. 85-87).

Como é possível apreciar no Quadro 6, as provas a realizar são oito (três de Destreza Manual; 2 de Habilidades com bola; 3 de Equilíbrio estático e dinâmico) sendo o resultado máximo alcançável de 40 pontos. Conforme a observação da última linha do quadro atrás referido demonstra, os resultados:

Menores ou iguais a 10 são considerados “normais” e correspondem ao desempenho de 85% da população estudada por Henderson e Sugden (1992);

Superiores a 10 e inferiores a 14 sugerem a existência de dificuldades motoras e correspondem ao desempenho de 10% da população estudada por Henderson e Sugden (1992);

Já as pontuações superiores ou iguais a 14 indicam a existência de dificuldades motoras graves e correspondem ao desempenho de 5% da população estudada por Henderson e Sugden (1992).

Para se poder ter uma ideia global da distribuição dos percentis relativos às pontuações obtidas pelos indivíduos testados deverá ser consultado o Anexo I.

Quanto à lista de verificação/Checklist (Anexo XX), é considerada um meio económico para classificar as crianças no seu entorno escolar sendo ideal para o rastreio de dificuldades (Henderson e Sugden, 1992, p. 3).

Na utilização da Checklist, o avaliador deve socorrer-se da ajuda do professor ou dos pais da criança para melhor poder assegurar o preenchimento devidamente fundamentado de todos os itens. Este instrumento permite esboçar uma imagem das crianças no seu relacionamento com o ambiente numa perspectiva individual e ainda na sua interacção com o meio (Quadro 7).

Quadro 7 - Lista de Verificação do Movement ABC (adaptado de Wright e Sugden, 1996, p. 360).

Lista de Verificação do Movement ABC – Banda 4 (11-12 anos) Secção 1 (12 itens) Criança parada / Ambiente estável

Secção 2 (12 itens) Criança em movimento / Ambiente estável Secção 3 (12 itens) Criança parada / Ambiente em mudança

Secção 4 (12 itens) Criança em movimento / Ambiente em mudança Estes 48 Itens são pontuados de 0 (muito perfeito) a 3 (nada perfeito) A pontuação total das secções 1 a 4 permite a classificação das crianças em: Sem dificuldades motoras

< 35

Em risco / Algumas dificuldades motoras

35 +

Com dificuldades motoras

50+

A pontuação total da secção 5 permite a classificação das crianças em:

Os itens são pontuados de 0 (raramente) a 2 (frequentemente)

Secção 5 (12 itens) Indica problemas comportamentais que podem influenciar as aquisições da criança no domínio motor

Como vimos, existem na lista de verificação cinco secções, todas elas com 12 itens cada; as quatro primeiras estão directamente orientadas para monitorizar as competências motoras enquanto a quinta procura classificar comportamentos relacionados com a actividade motora (Wright e Sugden, 1996, p. 360), mas que pertencem à esfera social e afectiva (Leão, 2008, pp. 53-55), ou seja, são considerados os aspectos que podem influenciar as aquisições da criança no domínio motor (hiperactividade; passividade; timidez, impulsividade…).