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Belém (PA): aspectos históricos e atuais de uma cidade estuarina

Mapa 3- Distribuição espacial das OTMH de Belém (PA) Projeto do

4 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE PESQUISA

4.2 Belém (PA): aspectos históricos e atuais de uma cidade estuarina

Belém é um município brasileiro e capital do estado federativo do Pará, que está localizado geopoliticamente na região norte do Brasil e politicamente pertence a Amazônia Oriental Brasileira. Foi fundado em 12 de janeiro de 1616 pelos

portugueses. A sua fundação faz parte da história da colonização da Amazônia Brasileira, em que se revelou a supremacia dos desbravadores ibéricos por meio das práticas colonialistas da imposição à cultura local indígena e a marcação de um sítio estratégico para proteger o território contra a invasão de outros povos europeus.

A posição estratégica de Belém favoreceu o surgimento de um núcleo urbano em torno do forte do castelo, uma fortificação armada construída para monitorar a entrada dos navios para o interior do território amazônico. Nesse contexto, Chaves (2009, p. 156) salienta que:

Como bem observou Capistrano de Abreu, “a Amazônia foi uma descoberta espanhola e uma conquista portuguesa; ao contrário, o Prata foi uma descoberta portuguesa e uma conquista espanhola”. O Governo português, preocupado com a penetração espanhola no alto Amazonas e com as tentativas exploratórias de franceses, ingleses e holandeses, criou o Estado do Maranhão e Grão-Pará, em 1621, prolongando a jurisdição da antiga Capitania do Maranhão até o norte da embocadura do Amazonas e fortalecendo a autoridade responsável pela colonização dessa área. “A grande capitania da conquista foi a do Grão-Pará, onde, a partir de S. Luís, se iniciou, com Francisco Caldeira de Castello Branco, a história das bandeiras fluviais paraense amazônicas”, escreve, com muita propriedade, o historiador amazonense Samuel Benchimol. Graças à ação do governo português, guarnecendo a cobiçada foz do Amazonas e expandindo ocupação lusitana até as proximidades das nascentes andinas, foi possível, em 1750, a assinatura do Tratado de Madrid, baseado no uti possidetis. Com a independência, o poder e o Império, baseado no Rio de Janeiro, atingiam o território amazônico com menos intensidade que o fizera o governo português, criador de um status especial para o Estado do Maranhão e Grão-Pará, ligado diretamente a Lisboa.

Portanto, a Amazônia foi descoberta, colonizada e explorada, em sua maior parte, pelo povo ibérico. Loureiro (2002) ressalta que a história da região esteve, da chegada dos primeiros europeus até os dias atuais, dentro de uma trajetória de perdas e danos. Nota-se que essa descoberta se deu por meio dos rios amazônicos, onde os colonizadores europeus ibéricos penetraram o território ocupado e ergueram as suas fortificações para designar a tomada do espaço e estabelecer as suas relações de poder sobre as populações locais residentes.

Nesse caso, percebe-se que Belém tem seu território circundado por águas e ilhas e também possui uma sociodiversidade oriunda dos processos de miscigenação e dos fluxos migratórios para a Amazônia Brasileira, ocorridos desde o período áureo da borracha, conhecido como “Belle Époque”, e intensificado com a abertura da rodovia Belém - Brasília.

Nesse sentido, Sarges (2000) destaca que a “Belle Époque” foi o período artístico, cultural e político vivido na Amazônia Brasileira, nas cidades de Belém e Manaus, materializado pelo ciclo econômico da borracha (1870-1920). Weinstein (1993) salienta que o ciclo econômico da borracha assegurou à região amazônica a condição de região econômica próspera no Brasil e no mundo. Ainda, de conformidade com Weinstein (1993), este ciclo da economia extrativista amazônica teve seu declínio em função da concorrência da borracha produzida na Malásia pelos ingleses, que inusitadamente subtraíram amostras coletadas na Amazônia para a produção em suas colônias na Ásia.

Portanto, Weinstein (1993) e Sarges (2000) destacam que o espólio deste período pujante pode ser visto nos patrimônios históricos das cidades de Belém e Manaus, que no início do século XX tiveram uma modernização urbanística influenciada pela arquitetura europeia com o fito de atender às exigências das elites locais ambientadas pela “Belle Époque”. Logo, verifica-se que Belém apresenta um legado cultural, tanto material como imaterial, advindo desta época pujante vivida pela sociedade amazônica.

A prosseguir, Castro (2006, p. 14) definiu Belém como “uma cidade estuarina que representa tradicional centro de poder econômico e político e por isso, polarizando dezenas de cidades do seu entorno”. Nisso, percebe-se a cidade de Belém como importante território de desenvolvimento regional amazônico.

Ainda segundo Castro (2006, p. 14):

Belém tem seu desennho urbano delimitado pelos cursos de água. É uma cidade fluvial banhada na sua quase totalidade pelos rios do estuário amazônico. Por outro lado, foi assentada em terras baixas – marcadas outrora pelo igarapé do Piri, margeado de imenso igapó – e atravessada por pequenos rios e igarapés, o que conforma ainda hoje as divisões internas de seus bairros de terra firme e baixadas. Uma extensa rede de rios e igarapés drena a cidade, compondo fluxos de travessia e de escoamento das águas provenientes das chuvas. Ao norte, ela está voltada para a baía do Guajará e ao sul para o rio Guamá, tendo assim uma extensa orla densamente ocupada, onde encontramos diferentes usos: portos e trapiches, indústrias, comércios, turismo, instalações militares e administrativas.

Nesse contexto, Belém tem uma dinâmica urbana entrelaçada pelos cursos de água que a circundam, delineando espaços para o processo desenvolvimentista e ocupação assimétrica com exploração desordenada do território. Segundo o IBGE, Belém, conforme a figura 5, a seguir, apresenta os seguintes dados demográficos:

Figura 5- Censo Demográfico de Belém (PA)

Fonte: IBGE (2017).

Quanto à economia, o sítio eletrônico do IBGE informa que, no ano de 2014, Belém apresentou um PIB de R$ 20.034.40 per capita, em conformidade com o gráfico 4, a seguir e abaixo, em que prevaleceu a contribuição dos setores de serviços e indústria, respectivamente.

Na comparação com os demais municípios do estado, sua posição era de 12 de 144. Já na comparação com cidades do Brasil todo, sua colocação era de 1733 de 5570. Em 2015, tinha 58.8% do seu orçamento proveniente de fontes externas. Em comparação às outras cidades do estado, estava na posição 79 de 144 e, quando comparado a cidades do Brasil todo, ficava em 4838 de 5570. Este dado econômico indica que Belém está em vias para o crescimento econômico, porém com gradual processo de desenvolvimento socioeconômico.

Gráfico 4- PIB Belém (PA)

Fonte: IBGE (2017).

Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), para o ano 2010 aponta-se 0,746, conforme gráfico 5, abaixo, numa escala de 0-1, na qual quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano municipal.O IDHM de Belém tem evoluído nas últimas décadas, pois em 1991 o IDHM apontava 0,562 e em 2000, 0,644.

Gráfico 5- IDHM Belém (PA)

Fonte: IBGE (2017).

Quanto ao trabalho e rendimento, segundo o IBGE, em 2015, o salário médio mensal era de 3.7 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 30.5%, com 439.718 pessoas ocupadas. Considerando

domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 39% da população nessas condições, o que o colocava na posição 139 de 144 dentre as cidades do estado e na posição 2870 de 5570 dentre as cidades do Brasil. Este é um dado importante que evidencia um acentuado nível de desigualdade na reestruturação produtiva do mercado de trabalho local, principalmente centrado no setor de serviços.

Quanto aos aspectos de território e meio ambiente, segundo dados do IBGE, no ano de 2010: 67.9% de domicílios estavam com esgotamento sanitário adequado; 22.3% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização; e 36.1% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Estes números representam um dado importante para o processo de ordenamento territorial e para o turismo; esse é um fator positivo, já que o turismo concretiza-se sob a égide da infraestrutura física urbana das cidades.

4. 3 São Luís (MA)e Belém (PA): considerações e desafios para o ordenamento