• Nenhum resultado encontrado

São Luís (MA) e Belém (PA): considerações e desafios para o

Mapa 3- Distribuição espacial das OTMH de Belém (PA) Projeto do

4 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE PESQUISA

4.3 São Luís (MA) e Belém (PA): considerações e desafios para o

O desafio atual dos territórios é promover o acesso justo e humanizado à água para fins de consumo e usos domésticos. Logo, a água torna-se território e é apropriada para servir como mercadoria (FRACALANZA, 2005, MORIN, 2016) e desenvolver o seu ciclo hidrossocial (SWYNGEDOUW, 2004). Ravena (2012) aponta que o caminho para a regulação da água no Brasil passa pelo embate entre o técnico e o burocrático, comumente visto na intervenção estatal.

Com isso, as concessionárias de água nos estados brasileiros tentam levar com seriedade o processo de captação e tratamento, visto que os recursos hídricos têm uma importância estratégica no processo de crescimento e desenvolvimento local, uma vez que a escassez de água desmantela os processos produtivos e reprodutivos do capital, assim como o bem estar da população local residente.

Nessa acepção, o acesso a serviços de água no Brasil perpassa por territórios cercados por pobreza e saneamento precário, comumente visto na Amazônia Brasileira Legal. Giatti e Cutolo (2012, p. ) apontam que:

Em um panorama regional verificamos um sério déficit para a Amazônia Legal, sendo que o percentual de domicílios permanentes ligados à rede de abastecimento de água na região em 2009 foi de 58,5%, bastante inferior ao

nacional no mesmo ano (83,1%). De modo mais alarmante consta o percentual de domicílios em estados amazônicos com ligação à rede de esgotos sanitários, que em 2009 foi de apenas 9,4%, enquanto o nacional figurou 52,5%.

Portanto, urge-se por sérios investimentos em planejamento e gestão, principalmente no que tange ao processo de captura, tratamento e distribuição de água, pois a restrição do acesso promove constrangimentos socioambientais. Nisso, verifica-se, tanto em São Luís (MA)como em Belém (PA), uma visível problemática em torno do acesso à água face a uma urbanização crescente e desordenada que favorece um déficit na oferta de serviços de tratamento e abastecimento de água local.

Nessa direção, a questão relacionada aos problemas de abastecimento de água, na capital maranhense e paraense é de responsabilidade da CAEMA e COSANPA, respectivamente. De acordo com o sítio eletrônico da CAEMA, ela foi criada em 6 de junho de 1966, sob o decreto n° 2.653, a ser uma sociedade de economia mista e instituída em 29 de julho de 1966, com o objetivo de gerir a política de saneamento básico no Estado do Maranhão e, especialmente, planejar, coordenar, implantar, ampliar, construir e explorar serviços de abastecimento de água e de esgoto. A CAEMA utiliza mananciais superficiais de dentro e fora da ilha, assim como mananciais subterrâneos para fornecer água tratada à população local.

A COSANPA surgiu, em 21.12.1970, da extinção do Departamento de Águas e Esgotos (DAE), com a missão de atender a população urbana do Estado do Pará com serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, de forma a alcançar elevados níveis de qualidade e de universalização, segundo consta no seu sítio eletrônico.

Quanto aos aspectos relacionados ao uso e disponibilidade de água em Belém, os estudos de Mendes et al. (2012) analisaram os hábitos e as maneiras de uso das águas no ambiente doméstico e seus reflexos no sistema de abastecimento público, a partir das percepções dos usuários, bem como de suas condições socioeconômicas. Para estes estudos, foram investigados 283.667 domicílios distribuídos em 6 Distritos Administrativos (DA)17 de Belém, formados por 48 bairros, conforme tabela 1, a seguir, abaixo:

17 DAICO - Distrito Administrativo de Icoaraci; DABEN - Distrito Administrativo do Benguí; DAENT - Distrito Administrativo do Entroncamento; DASAC - Distrito Administrativo da Sacramenta; DABEL -

Tabela 2- Distribuição da amostra de acordo com os DA/Belém

Fonte: Mendes et al. (2012, p. 11).

Mendes et al. (2012, p. 17) concluíram que:

Os hábitos individuais de consumo de água que provocam desperdício (desperdício individual ou hábitos perdulários), não são dependentes das condições socioeconômicas dos usuários. O distrito com maior nível socioeconômico, o DABEL, possui hábitos perdulários equivalentes aos do DAGUA, distrito com pior situação socioeconômica da cidade; O desperdício referente à forma de pagamento pelos serviços de abastecimento é expressivo, posto que é grande o número de usuários de baixa renda e por isto pagam através de taxa ou simplesmente não pagam. Com esta política, as concessionárias dos serviços de abastecimento, indiretamente estão incentivando o desperdício; O número de domicílios não atendidos por água encanada é expressivo, configurando mais de 160 mil habitantes da capital (12,5%), demonstrando a necessidade de ampliação e aperfeiçoamento dos sistemas de abastecimento; A qualidade da água preocupa os usuários, que a avaliam como de regular à péssima.

Para tanto, em conformidade com os autores, a pesquisa realizada indica a necessidade de avaliar os serviços de abastecimento de água. De fato, isso é comprovado ao deparar-se com a tabela 2, a seguir e abaixo, do Atlas Brasil da Agência Nacional de Águas (ANA), que apresenta a situação do abastecimento de água em Belém (PA).

Distrito Administrativo de Belém; DAGUA - Distrito Administrativo do Guamá (MENDES ET AL., 2012, p. 10).

Tabela 3- Abastecimento urbano de água em Belém (PA)

Fonte: Atlas Brasil (ANA, 2010).

As informações do quadro mostram que a água é captada na sub-bacia hidrográfica Acará - Guamá e o abastecimento requer ampliação, melhorias e adequação do sistema atual, a levar em consideração a infraestrutura existente. Ainda, conforme o Atlas Brasil18, há um total de investimentos previstos para o Pará na ordem de R$ 170 milhões. Nesse montante, incluem-se as adequações previstas para o sistema integrado Bolonha-Utinga, que abastece a cidade de Belém e região metropolitana.

Por vez, em conformidade com a tabela 3, abaixo, o abastecimento de água em São Luís (MA), apresenta-se da seguinte maneira:

18 Para maiores detalhes ver o Atlas Brasil em:< http://atlas.ana.gov.br/atlas/forms/ analise/Geral.aspx?est=28>.

Tabela 4- Abastecimento urbano de água em São Luís (MA)

Fonte: Atlas Brasil (ANA, 2010).

A água é captada na sub-bacia hidrográfica Itapecuru e, assim como Belém, há a necessidadede ampliação do sistema de produção de água. Na tabela, acima, há o montante orçado em 54 milhões de reais para a ampliação do sistema São Luís-Italuís. Bezerra, Silva Jr. e Silva (2008) traçam um diagnóstico das formas de abastecimento de água e apresentam um panorama das perdas de água do sistema de abastecimento de São Luís. Abaixo, tem-se a figura 6, que ilustra os sistemas de abastecimento de água em São Luís (MA):

Figura 6- Abastecimento de Água de São Luís (MA)

Fonte: Imirante.com/especial água (2015).

Os autores constataram um padrão de abastecimento de água deficitário, principalmente para São Luís, que apresentou elevada perda de água durante o processo de abastecimento - acima dos 50% em todos os setores. Ainda, os autores enfatizam que o diagnóstico visa, mediante um futuro próximo de escassez hídrica, ser um instrumento de apoio na tomada de decisão da concessionária de água local. Nessa perspectiva, Coelho e Damázio (2006), em seus estudos, analisaram os aspectos da disponibilidade e uso da água na bacia do rio Bacanga e apontam que a cidade de São Luís tem sofrido com sérios problemas de falta de água para diferentes usos. Isso ocorre, conforme os autores, principalmente devido à crescente demanda por água decorrente do intenso crescimento populacional, industrialização e aumento no número de estabelecimentos comerciais.

Assim a bacia do rio Bacanga, com 23,7% da população da Ilha, contribui com 18% da totalidade de água disponibilizada para a mesma. Para tanto, urge-se por avaliar a capacidade de fornecimento sustentado de água superficial e subterrânea da ilha de São Luís, tendo em vista o processo atual de exploração, bem como os limites máximos permitidos.

Ainda, conforme os autores, os cursos de água que circundam a cidade de São Luísestão em acelerado processo de degradação ambiental, com poluição por esgotos e lixo doméstico face à ocupação desordenada, oriunda da constante expansão urbana e, mais ainda, pela falta de investimentos no setor de saneamento ambiental.

Nessa acepção, os serviços de abastecimento de água, tanto em Belém como São Luís, padecem de uma avaliação criteoriosa com fito a orientar ações de planejamento e gestão por meio da implantação de programas que otimizem o desperdício e o consumo perdulário face às possibilidades urgentes de escassez de água.

Diante dessa perspectiva, urge-se por ampliar a possibilidade de estudos, em ambas as capitais em questão, com vistas a avaliar a percepção sobre o uso da água e seu reflexo na sustentabilidade dos sistemas de abastecimento de usuários de cariz comercial e industrial, uma vez que estes usuários também consomem e disperdiçam água.

Nesse caso, enquadram-se as organizações turísticas de meios de hospedagem, como os usuários comerciais, que são consumidores intensivos e perdulários de água (GOOSLING, 2015; SINCLAIR; STABLER, 2009). Tanto em Belém como em São Luís, o turismo se faz presente, principalmente nos períodos considerados de alta estação para o turismo local, com aumento exponencial da demanda turística que pressiona o consumo de água e, consequentemente, compromete os mananciais disponíveis dos destinos turísticos.

Tal contexto provoca a necessidade de repensar os limites do acesso à água ao setor do turismo - demanda/oferta - em termos de governança, instrumentos de gestão e adequação dos serviços e atrações turísticas às exigências da eficiência energética. Logo, urge-se por indicadores de sustentabilidade na perspectiva do consumo energético de água pelo setor do turismo - demanda/oferta, a fim de medir

a eficiência energética da água no processo produtivo do turismo para a promoção de um turismo responsável e sustentável.

4. 4 O turismo em São Luís (MA) e Belém (PA): aspectos relevantes para um