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Bem jurídico43 é o bem da vida que, por conta de sua grande relevância social, recebe proteção do direito penal44.

Zaffaroni e Pierangeli (2004, p. 439) definem que:

Bem jurídico penalmente tutelado é a relação de disponibilidade de um indivíduo com um objeto, protegida pelo Estado, que revela seu interesse mediante a tipificação penal de condutas que o afetam.

41 “Cyber crimes are not necessarily new crimes; many cases involve rather classic types of crimes where

criminals exploit computing power and accessibility to information. However, it seems that the anonymity provided through the Internet encourages crimes that involve the use of computer systems, since criminals believe that there is a small chance of being prosecuted, let alone being caught for their actions. Criminals are also increasingly taking advantage of hacker techniques and malicious code. Cyber crimes can be automated (such as spam, worms, Trojans, viruses, spyware) or specifically targeted such as theft of proprietary information or intellectual property, sabotage etc.” (KARYDA; MITROU, 2007, p. 2). Em tradução livre: “os

crimes cibernéticos não são necessariamente novos crimes; muitos casos envolvem tipos de crimes bastante clássicos em que os criminosos exploram o poder de computação e a acessibilidade à informação. No entanto, parece que o anonimato através da Internet encoraja crimes que envolvem o uso de sistemas informáticos, uma vez que os criminosos acreditam que as chances de serem processados são pequenas, e muito menos de serem capturados por suas ações. Os criminosos também estão se aproveitando cada vez mais de técnicas de hackers e códigos maliciosos. Os crimes cibernéticos podem ser automatizados (como spam, worms, trojans, vírus,

spyware) ou direcionados especificamente, como roubo de informações ou de propriedade intelectual, sabotagem

etc.”

42 Cf. Para um maior apanhado acerca da nomenclatura/definição dos delitos informáticos recomenda-se a leitura dos seguintes trabalhos: Karyda and Mitrou (2007), Kerr (2011), Ferreira (2015), Santo (2015) e Dornbush (2002).

43 Conforme enuncia Ferrajoli (2006, p. 428) “palavras como ‘lesão’, ‘dano’ e ‘bem jurídico’ são claramente valorativas. Dizer que um determinado objeto ou interesse é um ‘bem jurídico’ e que sua lesão é um dano é o mesmo que formular um juízo de valor sobre ele; e dizer que é um ‘bem penal’ significa, ademais, manifestar um juízo de valor que avaliza a justificação de sua tutela, recorrendo a um instrumento extremo: a pena.”

44 Beviláqua (2007, p. 76) explica, a seu modo, que “o objeto do direito é o bem ou vantagem, sobre que o sujeito exerce o poder conferido pela ordem jurídica. Podem ser objeto do direito: 1º) Modos de ser da própria pessoa na vida social (a existência, a liberdade, a honra, etc.); 2º) As ações humanas; 3º) As coisas corpóreas ou incorpóreas, entre estas últimas incluindo-se os produtos da inteligência.”

Acrescentam esses autores que quando se diz que o bem juridicamente tutelado é a honra, por exemplo, isso é como que uma abreviatura, uma vez que o mais correto é dizer que o bem jurídico é o “direito de dispor da própria honra”; da mesma forma, quando se fala do bem jurídico propriedade, o correto é entender como “o direito de dispor dos próprios direitos patrimoniais.” (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2004, p. 439).

Segundo Brandão (2007, p. 7):

O conceito de bem jurídico foi formulado em 1834, por Birnbaum45

, inspirado nas idéias iluministas e liberais dos séculos XVIII e XIX. Esse conceito surgiu como uma fonte de limitar o poder penal do Estado. Quando se afirmava que o crime era uma violação ao bem jurídico, expurgava-se do Direito Penal as meras violações à lei moral ou às leis religiosas.

Para (GOMES, 2002, p. 75) o fato de determinado bem ter significação social, não faz dele um bem jurídico-penal, isso porque “os bens jurídicos não devem receber uma proteção absoluta e uniforme do Direito, senão seletiva e fragmentária”. Isso fica evidente por conta da análise, feita anteriormente, sobre o princípio da fragmentariedade, para o qual apenas certos aspectos mais relevantes da ilicitude importam.

Silva (2003, p. 64) observa que:

Na atuação ilícita por meio de sistema informático, o que se verifica é a possibilidade de afetação aos mais variados bens jurídicos. Pode o agente agir contra o sistema informático, caracterizando uma ação danosa contra o hardware ou contra o software, ou, ainda, agir sobre o objeto material informação armazenada, provocando, de conseqüência, a intranqüilidade social.

Em se tratando do delito de acesso não autorizado a sistemas computacionais, de acordo com Vianna (2003, p. 10), o bem jurídico protegido corresponde aos dados informatizados. Em sua obra, Silva (2003, p. 64) lembra que quando da análise de qual bem jurídico é afetado a partir da ação delituosa contra as informações armazenadas, utilizando-se equipamentos informáticos, é necessário descobrir qual o objeto tutelado. Desse modo, escreve a autora, se o agente envia um e-mail caluniando outra pessoa, a honra terá sido o bem jurídico alvo de lesão, por exemplo.

Apesar de aparentemente simples de ser feita, a identificação do bem jurídico em alguns casos de crimes praticados por meio de sistemas informáticos torna-se difícil para a doutrina, haja vista que, por conta da insuficiência tratativa do tema pela legislação, algumas 45 “Birnbaum não falou diretamente em ‘bem jurídico’ (Rechtsgut), mas indiscutivelmente foi o primeiro autor a introduzir no Direito Penal a ideia de ‘bem’ (um bem material) como objeto de tutela, em contraposição com a doutrina do iluminismo, que via na danosidade social e na violação de direitos subjetivos (Rechtsverletzung) os fundamentos da punição estatal.” (GOMES, 2002, p. 75) (grifos no original).

condutas ainda são desconhecidas do ordenamento jurídico (SILVA, 2003, p. 65). Evidente que já existem tipos penais informáticos (aqueles trazidos pelas Leis nº 12.735 e nº 12.737, ambas de 2012, por exemplo), mas condutas inovadoras tendem a surgir devido à dinamicidade da tecnologia.

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