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2.4 Bertha Lutz e a Federação Brasileira para o Progresso Feminino

Bertha Lutz tinha um excelente trânsito com a elite vigente. Essa condição apresentava grande importância, na medida em que facilitava a aprovação dos seus projetos. Em 1922, recém chegada dos Estados Unidos, organizou o Primeiro

Congresso Internacional Feminista no Rio de Janeiro. No mesmo período nascia a mais importante organização em defesa do direito da mulher, cujo nome era Federação Brasileira para o Pregresso Feminino(FBPF). (Soihet ,2002).

A partir dos anos 1920 vem num crescente a luta sufragista em muitos países da América Latina, estando na linha de frente mulheres de classe média e alta. No Brasil, não foi muito diferente a condução desse processo. Há informações de registro de federações em diferentes estados, como por exemplo na Bahia, onde foi fundada a filial

30 - Para os leitores mais atentos, a impressão que é passada pelos estudiosos como Goldenberg (1992) e

Heleieth Saffiot (1984) é que somente as mulheres brancas intelectuais se contrapunham ao regime político e patriarcal da época. Mas, se assim for, isso não condiz com a verdade, pois dezenas de mulheres negras, não com pouca dor e sofrimento, mostraram a sua sagacidade no sentido de mostrar que, embora não tendo as mesmas oportunidades às mulheres brancas da elite, também sabiam fazer política, como a atuação da “mãe preta” que através de sua “resistência passiva”, com suas estórias, criou, segundo Gonzales(1982,p.93),uma espécie de “romance familiar”, que teve uma importância fundamental na transformação de valores e crenças da sociedade brasileira.

baiana da FBPF , conforme aponta Vieira (2001). E estados como Minas Gerais, São Paulo, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte também tiveram as suas filiais. São escassas as informações sobre o alcance desses núcleos. De qualquer forma é surpreendente que, embora tenham enfrentado diferentes obstáculos de comunicação e deslocamentos, tivessem conseguido divulgar as idéias dos direitos das mulheres em estados tão distantes da cidade do Rio de Janeiro, lugar principal da irradiação do movimento das mulheres.

Na luta pela conquista do voto feminino Bertha Lutz e as militantes da FBPF realizaram um persistente trabalho de lobby político. Soihet (2002) relata como foi o trabalho delas na aprovação de algumas questões específicas de gênero, como o voto feminino, na Assembléia Constituinte:

A liderança da FBPF acompanhou todo o trabalho desenvolvido pela Assembléia Constituinte, no sentido de evitar qualquer retrocesso, empenhando-se, igualmente, pela aprovação de determinadas questões que consideravam básicas. Na verdade os seus temores não eram infundados. Havia representantes como o Sr. Aarão Rebelo, que combatiam ferrenhamente o voto feminino com base em argumentos do tipo “porque ela segue o pai e o marido.” Ou ainda como o Sr. Zoroastro Gouveia, que completa tal pensamento: pior que isso, seguir o confessor. O voto feminino foi, apenas, manobra da direita para se garantir contra o surto esquerdista. Outros, como o Sr. Morais Leme, propunham o voto obrigatório somente para os homens, argumentando que as mulheres ensaiavam os seus primeiros passos na vida política, e, por isso, o voto dado pela representante conjugal deve corresponder ao voto da família. (Soihet, 2002).

Na busca de apoio na opinião pública elas não mediam esforços, a exemplo da divulgação do abaixo-assinado com mais de 2.000 assinaturas de mulheres a nível nacional, levado ao Senado pelas representantes da Federação, quando da votação,em 1927 do projeto sobre o voto feminino. Essas assinaturas são realmente de uma magnitude excepcional, na medida em que sabemos que, além da dificuldade de comunicação, havia também o entrave da distância entre de uma cidade a outra. Na época, além da maioria das mulheres estarem no seu espaço privado, ou seja, da sala para a cozinha, havia outro empecilho: poucas sabiam ler e escrever. (Paiva ,2003).

Vale mais uma vez ressaltar que a luta principal da Federação representada por Bertha Lutz era pelo direito ao voto. E a Federação teve apoio de grandes políticos, como foi o caso do governador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, que assumiu publicamente a aliança com a Federação, na busca do direito ao voto da mulher. Na sua campanha para governador, em 1927, as ativistas em questão subiram

nos palanques, proferiram palestras, deram entrevistas nos jornais locais, lançaram panfletos sobre a cidade em troca do compromisso do candidato de que caso fosse eleito implantaria o voto feminino no seu estado. Lamartine assim que ganhou as eleições cumpriu com o que havia prometido. Sancionada a lei, um número considerado de mulheres correram à Justiça local na busca do cumprimento da Lei que dava a elas o direito de votar e ser votadas.(Pinto ,2003)

Apesar da aparente unidade entre as mulheres da FBPF, muitas vezes a liderança de Bertha Lutz foi contestada por militantes como a advogada gaúcha Natércia Silveira. Natércia, contudo, ao apoiar a candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da República, enfraqueceu sua participação no espaço político da Federação e conseqüentemente teve que se afastar. Essa ingerência de Natércia com Bertha cria um declarado conflito entre as feministas da FBPF. Natércia, que sustentava o engajamento político à candidatura de Getúlio, é responsabilizada por criar naquele momento um desequilíbrio à causa do voto feminino. (Pinto, 2003).

Em 1932, o novo Código Eleitoral permitiu à mulher o direito de votar. Então, elas se sentiram vitoriosas e não viram mais a necessidade de lutar politicamente por essa razão, uma vez que haviam conseguido o seu intento maior. Mas isso não quer dizer que a FBPF diminuiu suas atividades. Ao contrário, voltaram a descarregar suas ações em outras áreas: tentaram, apesar do insucesso, eleger Betha Lutz para a Constituinte de 1934; pressionaram parlamentares para incluírem na Constituição novos direitos para as mulheres; promoveram uma convenção nacional na Bahia com objetivo de dar nova estrutura hierárquica e burocrática à federação, transformando-a em uma grande organização de cunho nacional. (Pinto ,2003).

Com a morte de um deputado, Bertha Lutz assume a cadeira de deputada e, no mesmo ano, a FBPF promove o III Congresso Nacional Feminista. Alguns projetos para fortalecer os direitos das mulheres constaram na pauta do encontro. Mas, com o Golpe, em 1937, a movimentação das mulheres na arena política foi terrivelmente enfraquecida. Com esse enfraquecimento, a FBPF quase foi extinta, perdendo consideravelmente seu espaço. Em 1945 veio a redemocratização, mas mesmo assim não havia mais clima no cenário brasileiro para movimentações vultuosas dessas mulheres como as anteriores ao golpe.