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3.3 BIBLIOTECA ESCOLAR

3.3.2 Biblioteca escolar no Brasil

Os conceitos, funções e objetivos da biblioteca e do bibliotecário escolar apresentados nas teorias e conceitos estão distantes da realidade da maior parte das escolas brasileiras. A literatura existente no país aponta uma série de problemas enfrentados que se referem, por exemplo, ao espaço físico, ao acervo, aos recursos humanos, aos professores, aos bibliotecários e a sua função e desempenho dentro do ambiente escolar. Também mostra o descaso e negligência que sofre por parte dos governantes, profissionais da educação e bibliotecários, que parecem não lhe dar a devida atenção, dessa que é de fundamental importância para a transformação social do indivíduo.

Fonseca (1983, p. 4) afirma que as bibliotecas escolares deixam de ser estudadas no Brasil porque não existem, e por não existirem, cai sobre elas o silêncio. Silva (1995, p. 45-57) aponta que a biblioteca escolar brasileira é uma das maiores deficiências do aparelho escolar, já que ela é concebida como dispensável para o processo de educação formal, e que algumas escolas chegam a contar como biblioteca um punhado de livros guardados em um armário, situado numa sala de aula qualquer, e que boa parte delas está situada em espaço inadequado, em algum canto da escola, apertado, mal-iluminado, desconfortável. Hillesheim e Fachin (2003/2004, p. 39) afirmam que a triste realidade do ensino público (municipal, estadual, federal) recaiu na falta de profissionais nas várias instâncias e que ao se conhecer a realidade, desespera-se ao observar a não existência de biblioteca escolar em sua função primordial na maioria das escolas.

Assim, não há critérios do que seja uma biblioteca para a escola, podendo ser qualquer lugar, muito menos de sua função em seu contexto.

Quando existem nas escolas espaços denominados bibliotecas, estes não passam, na maioria dos casos, de verdadeiros depósitos de livros ou, o que é pior, de objetos de natureza variada, que não estão sendo empregados no momento, seja por estarem danificados, seja por terem perdido sua utilidade. Às vezes, a “biblioteca” é um armário trancado na sala de aula, ao qual os alunos só têm acesso se algum professor se dispõe a abri-lo... quando a chave é localizada. (SILVA, 1995, p. 13)

Em relação ao acervo das bibliotecas, esse em geral é pobre e desatualizado, em função da carência crônica de recursos, que não atinge apenas a biblioteca mas a escola pública como um todo. Assim, sem uma política de seleção, depende apenas de doações que não tem a intenção de elevar a qualidade do acervo. Restrições e rigidez no horário de funcionamento, nos regulamentos, nas regras de empréstimos, no acesso às estantes, nos catálogos mal-organizados e confusos, no comportamento passivo ou técnico dos funcionários, impedem o estímulo da frequência à biblioteca e o apreço pela leitura (Id. 1994, p. 57-61).

Em relação aos funcionários que trabalham em biblioteca escolares o quadro é desanimador. Kieser e Fachin (p. 8-9) afirmam que trata-se, por exemplo, de pessoal não qualificado e que, na maioria dos casos, muitas contam com professores ou agentes administrativos que não estão mais aptos a exercerem suas atividades específicas. Estas pessoas não se interessam pelos trabalhos e serviços biblioteconômicos e sequer se interessam pelas necessidades dos usuários. Fragoso (2005, p. 170) aponta que nas

bibliotecas escolares das escolas públicas, conta-se, às vezes, com profissionais sem qualificação para ocupar a função, sem motivação, e aguardando a hora de se aposentar, como também se encontra profissionais sem habilitação, mas que buscam atuar nesse ambiente leitores com desenvoltura e com entusiasmo, e a ausência de um profissional com formação específica para a atividade é sentida devido à não existência do cargo de bibliotecário nessas instituições.

Dentre os funcionários que atuam em biblioteca escolar, incluem aqueles professores que, por doença, velhice ou fastio pedagógico, são encostados nas bibliotecas das escolas, visto que este é, no espaço escolar, o melhor lugar para o repouso profissional, até que chegue a aposentadoria ou outra oportunidade de trabalho. (SILVA, 1995, p.14)

Silva (1995, p. 17) também aponta o descaso dos professores em relação à biblioteca escolar. Esses, ao utilizarem como prática docente aulas exclusivamente expositivas ou rigidamente obedientes ao comando do livro didático, impedem a participação de outros elementos no processo ensino-aprendizagem. Dessa forma há poucas ocasiões para a utilização da biblioteca escolar, salvo os seus usos clássicos como espaço do castigo ou espaço da cópia. E são muitos os professores que nunca entraram nas bibliotecas das escolas em que lecionam, ou que argumentam a não utilização da biblioteca por ela estar desatualizada, sem recursos ou sempre fechada, não se mobilizando para mudar a situação, dando provas de que ela é perfeitamente dispensável.

Mesmo nas escolas que contam com bibliotecas, o professor nem sempre acompanha os alunos nesse espaço e quando os encaminha, conduz um número muito grande de alunos ao mesmo tempo, e também não define adequadamente o tema e o que deverá ser coletado, não indicando referências bibliográficas e quando informa, restringe somente a uma obra (BEZERRA, 2008, p.8).

Quando existem bibliotecários em bibliotecas escolares – que são principalmente da rede privada – a relação bibliotecário/comunidade escolar ainda é distante, sem a prática necessária para o desenvolvimento de projetos integrados. Num contexto informatizado, esse profissional corre o sério risco de se transformar em um operador de equipamentos de informática, distanciando-se de sua função primordial – estar em constante interação com a comunidade escolar. Percebe-se ainda que a relação

leitor/bibliotecário (sendo leitor toda a comunidade pedagógica – alunos, professores, orientadores, supervisores, funcionários administrativos) é burocrática, ou seja, as iniciativas de incentivo à leitura não são desenvolvidas através da biblioteca, e esta se apresenta apenas como suporte para as atividades. A relação que se estabelece é a de um estranho balcão de achados e perdidos, ou seja, leitores perdidos sem encontrar respostas para seus questionamentos diante de profissionais alheios, que não satisfazem os anseios dos que transitam pelo ambiente (FRAGOSO, 2005, p. 169-170).

O bibliotecário – quando existente nas escolas, especialmente as públicas – raramente é considerado ou se considera um educador. Geralmente lhe são atribuídas funções técnicas e até burocráticas, que o distancia do fazer pedagógico e da aceitação como bibliotecário escolar. O que costumeiramente acontece é que por exigência do estabelecimento de ensino, ou por falta de consciência do próprio bibliotecário relacionada a seu papel pedagógico, a demanda de serviço como (simples) organização de estantes e empréstimo de livros, acaba por ocupar quase todo o tempo, restando alguns poucos momentos para uma atividade de interação direta com o estudante e demais membros da comunidade escolar que envolva o emprego de técnicas pedagógicas (SALES, 2004, p. 54).

Assim, observa-se que são muitos e diversos os problemas pelos quais passam as bibliotecas escolares no país, e que muito já deveria ter sido feito. Para transformar a condição da biblioteca escolar do estado atual para o ideal, são necessárias ações do Estado através de políticas públicas que contemplem profissionais da educação e bibliotecários e a sociedade.

3.4 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA BIBLIOTECA ESCOLAR NO BRASIL: O