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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.5 BIBLIOTECA ESPECIALIZADA

A necessidade histórica da humanidade em registrar e preservar informações é a própria gênese da biblioteca. Milênios antes da era cristã, desde a época dos homens da pré-história e, posteriormente, dos egípcios, sumérios, assírios e babilônios, já havia inscrições do

conhecimento humano nas formas mais rudimentares, em suportes como placas de argila e pergaminho.

Desde então, até os tempos do registro magnético, a biblioteca é vista como parte do desenvolvimento econômico, político e social dos povos. Suas atribuições básicas de sistematização, armazenamento e disseminação de informações embasam a educação e a pesquisa científica em todos os tempos.

Biblioteca, termo proveniente do grego bibliotheke, lugar ou móvel onde se depositam livros, que por sua vez deu origem a bibliothéca, palavra do latim, formada por biblíon, que significa livro e théka, que quer dizer caixa, consta no dicionário como “coleção pública ou privada, de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta.” (FERREIRA, 1999, p. 295).

Com esse termo é designado também o edifício, recinto, local ou construção que abriga as coleções e onde as pessoas vão ler, estudar ou pesquisar. É, portanto, um conjunto organizado de informações, armazenado com o objetivo de consulta ou utilização posterior.

Atualmente, quando se fala em biblioteca já não se refere apenas a livros, periódicos ou documentos impressos, mas, também, a vários tipos de coleções, como microfilmes, gravações, slides, fitas magnéticas, fotografias, vídeo e, recentemente, até o livro eletrônico, o e-book. A palavra biblioteca é também utilizada nos dias atuais para designar programas de computador ou arquivos de dados.

O surgimento da imprensa, com Gutenberg, no século XVI, foi uma verdadeira revolução social que causou grande impacto na história da biblioteca. A produção e a circulação do livro foram intensificadas, pois, mais e mais pessoas começaram a se interessar pela leitura. Por outro lado, a evolução da educação e o aparecimento das universidades e academias também refletiram no aumento da produção de livros. Antes da imprensa, o conhecimento era limitado ao clero e aos nobres. Depois, os burgueses já podiam encaminhar seus filhos para serem instruídos nas universidades que proliferavam cada vez mais. Instituições foram sendo criadas para conservar e organizar livros e documentos, com o fim de permitir a preservação e disseminação do conhecimento. Depois do século XVIII, aos poucos, a idéia da biblioteca como organismo estático foi se modificando, quando passou a ser vista como instituição viva e atuante, necessária ao aprimoramento cultural dos indivíduos. Posteriormente, foi deixando de ser repositório de livros e documentos antigos, incorporando também filmes, discos, gravuras, fotografias etc. Após a Revolução Francesa, com a secularização das bibliotecas monásticas e eclesiásticas, essas instituições ganham mais popularização e adeptos. É nessa época que se percebe a necessidade de reunir a produção de

determinado país, surgindo assim as bibliotecas nacionais (CAMPOS, 1994; MARTINS, 1996).

A partir do século XIX, quando a educação passa a ser mais difundida, as bibliotecas recebem novo impulso e há um grande incentivo à leitura e à cultura em geral, surgindo, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, as bibliotecas públicas. É nesse período que se destaca o nome de Melvil Dewey, que deu grande incentivo à biblioteca, pois foi responsável por teorias bibliotecárias, principalmente a classificação do conhecimento e contribuiu para a popularização dessa instituição, uma vez que, como grande incentivador da democracia americana que era, defendia que todos deveriam ler para se tornar cidadãos mais conscientes. Com esse estímulo à leitura, as pessoas acorreram, em maior número e com mais freqüência, à biblioteca (FRY; MALONE; ROSE, 2000, p. 2).

Não é pacífica a forma como os estudiosos classificam as bibliotecas. Em geral há referências a apenas dois tipos: a pública e a privada ou particular, mas tal classificação é insuficiente, dada a existência de bibliotecas nas empresas, indústrias, escolas, hospitais etc. Assim, surgiram critérios para classificá-las, como, em relação ao tipo de público ou ao tipo de acesso, estabelecendo-se como públicas aquelas que não sofrem qualquer restrição no que concerne ao uso por parte de quantos se interessam e particulares as que pertencem a determinadas pessoas e famílias, que indicam quem pode ter acesso aos seus acervos (PINHO; MACHADO, 2003).

Outro critério estabelecido foi a condição do possuidor ou mantenedor da biblioteca, quando foram então classificadas em privadas e estatais, as quais podem ser federais, estaduais e municipais. Adotou-se também uma classificação de acordo com o grau de ensino, em universitárias e escolares, e quanto ao tipo de acervo, em gerais e especiais.

Pinho e Machado (2003) registram que existem bibliotecas de vários tipos, como nacionais, universitárias, públicas, escolares e especializadas, enquanto Vergueiro (1989, p. 29) estabelece que, de acordo com o tipo, a biblioteca pode ser:

a) pública, quando instalada na jurisdição política por ela servida;

b) escolar, que serve aos professores, funcionários e alunos matriculados na instituição; c) universitária, que visa principalmente atender ao corpo docente, discente, servidores

e a comunidade em geral; e

d) especializada, que atende à entidade que a criou, como fundação, empresa, órgão público etc.

A literatura brasileira não é pródiga em produção sobre biblioteca especializada, com poucos trabalhos voltados para o exame de suas particularidades, sendo um dos mais citados o

de Nice Figueiredo (1979), que estabelece comparações entre biblioteca especializada e universitária.

A conceituação de biblioteca especializada é diversificada, uma vez que ora toma-se como ponto de referência o acervo, ora o usuário. Considerando o acervo, "[...] é uma biblioteca quase exclusivamente dedicada a publicações sobre um assunto ou sobre um grupo de assuntos em particular.” (ASHWORTH, 1967, p. 1).

Maia, Passos e Costa (1991) fornecem uma definição mais ampla e que melhor se alinha ao que seja biblioteca em uma organização, considerando-a como centro processador de informações, o qual dá suporte às atividades informacionais e veicula a informação relevante para planejamento, tomada de decisão e solução de problemas.

Há definições que sugerem tratar-se de uma coleção ou grupo de coleções de livros e outros materiais impressos e não impressos, organizada e mantida para leitura, consulta, estudo e pesquisa, ao que poderia ser acrescentado para uso de um grupo específico de pessoas ou profissionais (PINHO; MACHADO, 2003).

Seja qual for a definição que se dê para biblioteca, prevalece a idéia de um organismo social criado para satisfazer as necessidades informacionais de uma determinada organização, quer governamental, quer particular, geralmente em um campo específico de interesse. Fazem parte de indústrias, órgãos governamentais, instituições particulares de pesquisa, associações de comércio, hospitais, bancos, escritórios de profissionais liberais, como engenheiros, advogados, contadores etc., e contam com bibliotecários e pessoas treinadas para prover serviços que atenderão às necessidades da instituição a que pertencem.

Segundo Ashworth (1967, p. 4), uma das peculiaridades da biblioteca especializada é que ela arquiva mais informações do que material. Das características apontadas por Figueiredo (1979), é possível estabelecer como mais relevantes:

a) tipo de material diversificado, como livros, folhetos, periódicos, publicações governamentais, relatórios, catálogos comerciais e industriais, teses, patentes, diretórios, mapas, recortes de jornal, microformas, fotografias, coleções de leis e jurisprudência, filmes, CDRoms etc;

b) acervo relativamente pequeno, o que demanda avaliação constante e cooperação intensa entre bibliotecas congêneres;

c) serviços especiais e personalizados; d) atualidade constante da coleção;

f) tipo de usuário. São geralmente profissionais de uma determinada organização e possuem bom nível de formação, com habilidades especiais em áreas específicas do conhecimento;

g) profissionais com conhecimento técnico, mas sobretudo conhecedor dos temas de interesse da organização, os quais necessitam respostas urgentes;

h) tratamento exaustivo da documentação, com descrição do conteúdo documental, que proporciona pesquisa mais concisa.

Essas características das bibliotecas especializadas não são rígidas e tendem a se moldar de acordo com as necessidades da organização, como a questão do acesso que, em geral, hoje não é limitado somente ao seu público interno. Nos órgãos públicos principalmente, para atender ao princípio de que a informação deve ser acessível a todos, apenas o empréstimo é restrito aos usuários internos. Por outro lado, a biblioteca funciona como um importante canal de divulgação das informações do órgão público e um meio de aproximá-lo da sociedade.

Característica do século XX, marcado pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia e pelo conseqüente aumento da informação, as bibliotecas especializadas – apesar de terem se expandido logo após a segunda guerra mundial, pois as guerras impulsionam tecnologia e exigem sistemas de informação eficazes – continuam tendo destaque como organizações voltadas para fornecimento de informações especializadas e como suporte para a instituição à qual se integram, embora seja possível verificar que, após o advento da internet, a demanda pelos seus serviços já não é tão intensa.

As bibliotecas especializadas requerem que os bibliotecários sejam qualificados, não só do ponto de vista técnico, mas em assuntos relacionados à própria instituição a que servem, cujos objetivos norteiam suas atividades. Segundo Figueiredo (1979, p. 11), a biblioteca especializada tem como principais objetivos o armazenamento, a organização e a disseminação das informações pertinentes à instituição da qual faz parte.

Para cumprir esses objetivos, de acordo com a autora são, entre outras, funções das bibliotecas especializadas:

a) desenvolver a coleção, de acordo com as necessidades da organização;

b) disponibilizar a informação de forma rápida e eficaz para que possa ser facilmente acessada;

c) disseminar a informação corrente por meio de exposições, fornecimento de cópias, preparação e distribuição de listas de novas aquisições, de boletins e publicações especiais, de sumários de periódicos, bem como notificações pessoais, de acordo com as necessidades dos usuários;

d) preservar a informação, incluindo digital e remota;

e) indexar e resumir relatórios internos e correspondência técnica;

f) manter serviço de referência para fornecimento de respostas a questões rápidas ou que requeiram maior tempo e para a localização de material ou de informação em qualquer fonte ou em outras bibliotecas;

g) assistir em matéria editorial às publicações da organização;

h) realizar serviços personalizados como buscas na literatura, compilação de dados, listas selecionadas com resumos de artigos de periódicos, serviços de alerta etc.; i) orientar em levantamentos da literatura e treinamento no uso da coleção, nos

recursos da biblioteca e na elaboração de trabalhos.

Essas funções devem ser constantemente revistas e atualizadas, uma vez que o acelerado avanço tecnológico possibilita prestação de serviços inovadores. Strouse (2004 apud KIRTON; BARHAM, 2005, p. 4) afirma que enquanto alguns dos papéis tradicionais para os bibliotecários dessas bibliotecas estão desaparecendo, há novas e estimulantes funções que podem substituir as antigas, dentre as quais, acresce este estudo, a relacionada à normatização de documentos elaborados no âmbito das organizações e as voltadas para a educação, não só do usuário interno, como também de toda a população. Defende-se aqui, a idéia de que, se o órgão público tem como objetivo principal atender à população, que muitas vezes desconhece seus direitos e deveres, seria uma nova função da biblioteca esclarecer essa população, sobretudo a mais excluída, sobre os serviços e informações prestados pelo órgão, podendo implantar treinamentos contextualizados em competência informacional, os quais seriam desenvolvidos em parceria com escolas, associações comunitárias e entidades diversas comprometidas com a formação da cidadania. Percebe-se, assim, a importância do papel que pode ser desenvolvido pela biblioteca especializada na organização a que ela se subordina e a cujos objetivos tem que atender de maneira eficiente.

Observa-se, entretanto, que as bibliotecas especializadas de órgãos públicos nem sempre estão conseguindo realizar seus objetivos, uma vez que, comparadas às facilidades advindas do uso da internet, elas parecem caminhar em ritmo mais lento do que o proporcionado pelos mecanismos informatizados de busca. Figueiredo (1979, p. 13) apontava, há mais de duas décadas, que havia uma imagem errônea na mente de muitos administradores de que a função da biblioteca era circular livros. Se naquela época, apenas circular livros já não era bem visto, hoje – com a profusão de novos serviços que podem ser realizados por uma biblioteca especializada, aparelhada tecnicamente e com pessoal bem qualificado – não é aceitável que alguma biblioteca a isso se limite.

Destarte, as bibliotecas especializadas devem se manter em contínua atualização, atentas às necessidades dos órgãos aos quais servem, revisando seus acervos e serviços, munindo-se de meios e recursos para oferecer respostas aos desafios da contemporaneidade . Devem, também, assumir os papéis que lhes cabem, redefinindo estratégias para servir a uma sociedade que vem se tornando mais exigente com os serviços por ela financiados. Para tanto, é preciso que sejam proativas, indagando aos especialistas, que em geral precisam de respostas urgentes para tomada de decisões, suas reais necessidades e as lacunas que podem ser preenchidas, para se caracterizarem como eficazes serviços de informação.