• Nenhum resultado encontrado

2.1 – Bilhetes de passagens e estadas em hotéis

O primeiro traço que certificou as transações, transições e transformações do pensamento estético em Belém se fez por meio do movimento físico-humano, ou seja, pessoas (artistas, escritores, arquitetos, poetas, críticos) procedentes de diversos lugares no mundo vieram para Belém trazendo em suas bagagens novas ideias e práticas concernente as atualizações artísticas .

Foi, sobretudo, a partir de 1940 que alguns nomes importantes notificaram a movimentação de novas ideias, como foi caso da residência em

Belém de: Robert Stock (1923 – 1981) 8, Frederico Barata (1900-1962). Como

a estada também de Waldemar da Costa (1905-?) e de Quirino Campofiorito, etc.

A presença do poeta americano Robert Stock (1923-1981) teve grande

importância para a atualização estética literária. Stock chegou a Belém pelos anos de 1950 e traduziu em primeira mão para língua portuguesa, vários poetas importantes da literatura universal como: T. S. Eliot, Ezra Pound9, Richard Eberhardt, Robinson Jeffers, Marianne Moore, W. H. Auden (1907- 1973), Dylan Thomas, Elisabeth Bishop (1911-1979), William Carlos Williams, Cummings etc. Essas traduções, geralmente, eram publicadas na revista Norte, assim como, no Suplemento de Arte e Literatura da Folha do Norte.

Entende-se que Bob Stock, como era chamado pelos amigos em Belém, trouxe nas malas: a Beat Generation, os estudos do zen-budismo e do Tao-te ching, o gosto de andar pelas ruas, perambular pelas estradas. Possuia uma caixa de madeira onde guardava seus livros, com alguns poemas traduzidos para língua portuguesa, e uma única calça quadriculada, o que obrigava o poeta a desmarcar encontros, caso a mesma estivesse molhada (CRUZ, 2002, p.177).

8 Cf. com índice biográfico nos anexos desta pesquisa.

9 Conhecido como o Pai da Poesia Moderna anunciou em 1912 os princípios de um novo movimento poético que chamou de Imagismo. Influenciado pela poesia oriental, haiku, terá grande importância para poetas de Belém como Max Martins, Age de Carvalho etc. Pound também contribui com o modernismo nas artes plásticas e na música. Pound, Ezra. Do caos à ordem, visões de sociedade dos cantares de Ezra Pound. Trad. Luisa M. L. Q. Campos e Daniel Perlman, Lisboa. Assírio & Alvim, 1993, p. 09.

A literatura local era impactada pelo modo de pensar por meio da poesia em sua nova estrutura textual. Os novos poetas, como os novos artistas se envolviam na proposta de uma nova poética. Max Martins foi um desses artistas que participou do grupo Gestalt, movimento cultural multidisciplinar que se ocupou com o renovo estético literário e plástico em Belém.

Figura 1 Foto de Robert Stock na capa do livro Selected Poems 1947-1980. Ed. Crane& Hopper. 1980. Acervo do poeta Max Martins.

Outro momento importante para atualização estética em Belém foi a residência de Frederico Barata (1900-1962); no ano de 1947 o jornalista e crítico de arte amazonense assumiu a superintendência do jornal “A Província do Pará”. Barata também era membro da Association Internacionale des Critiques d’Art e da Societé des Americanistes, ambas sediadas em Paris, o que fez com que ativasse o exercício da crítica artística na cidade. Desenvolveu, também, muitos estudos na área cerâmica de Santarém, além de outros (ROCQUE, 1968, p. 242).

Frederico Barata também contribuiu como colecionador de arte, pois disponibilizou seu acervo aos jovens artistas e críticos paraenses, na sua coleção de arte podiam se encontrar obras de: Portinari, Visconti, Pancetti, Oswaldo Goeldi, Roaul, Balloni, Burle Marx, Quirino Campofiorito, cerâmica de Picasso etc. (MOKARSEL, 2000, p.07).

Figura 2Cabeça de Frederico Barata, s.d, escultura João Pinto. Fonte: Revista Espaço, Ano 1, Nº 03, dezembro de 1977. Pg. 26)

Waldemar da Costa foi outra importante visita que Belém recebeu próximo dos anos 40. Quando esse artista, de volta a sua terra depois de quase trinta anos, traz em sua bagagem uma moderna exposição coletiva de artistas de São Paulo (MOKARZEL, 2000, p. 7). Outra presença significativa foi a de Quirino Campofiorito, que participou como júri, conferencista, e crítico nos dois salões universitários do Pará (1963-1965), os quais serão abordados nesta pesquisa10.

A citação desses artistas e críticos que transitaram por Belém esteve mais vinculada a exemplificar o movimento físico-humano na região, no período da retomada do desenvolvimento artístico da cidade. Não se abordou o movimento físico-humano, no sentido de dentro para fora, ou seja, a saída e impactos dos artistas paraenses com outros centros artístico como as Bienais em São Paulo11.

Nos anos 60 em Belém, o movimento físico-humano se realizou em novos fluxos de circulação cultural, ações mais direcionadas como: cursos, palestras, críticas, exposições, etc. por meio dos quem vinham como

10 Cf. com o sub-capítumo 3.1 Cenas Conflituosas de dois salões, pg 49.

11 Esse impacto gerado pelo deslocamento do artista de dentro (de seu lugar) para fora (outros centros culturais) será tratado nos capítulos 5.1 e 5.2, quando se abordará sobre os artistas Valdir Sarubbi e Branco de Melo.

convidados. Essas medidas agitaram o panorama artístico da cidade com a circulação de vários profissionais do ramo artístico.

Mesmo reconhecendo que no Brasil na década de 60 se instala uma crise de diálogos e encontros por todas as esferas do conhecimento humano, sobretudo na cultura, pois é muito freqüente o exílio e o êxodo de muitos intelectuais do Brasil em decorrência do regime militar imposto no mesmo. (AMARAL, 2006, p. 255).

Apesar de uma política contrária ao diálogo, intelectuais, artistas e críticos forçaram interações culturais entre algumas capitais. De modo que não mais existiu uma só via oficial (as academias) para essa atualização artística na modernidade. As potências criadoras foram alimentadas por novos fluxos de circulação cultural, uma interculturalidade, de faces dolorosas, mas dinâmica (CANCLINI, 312).

Na cidade de Belém algumas aberturas de diálogos (Salões universitários, I Cultural do Pará, Pré-Bienal, etc.) foram apresentadas como provocações e transações de ideias salutares para o desenvolvimento de uma postura estética local integrada num diálogo mais amplo com um panorama artístico global.