Leônidas Monte20 membro a Sociedade Artística Internacional – SAI, apoiado pelo governo conseguiu instituir o I Salão Oficial de Belas-Artes do Pará em 1940. A partir de 1943, o mesmo salão abriu para modalidades como, pintura e escultura moderna; entre os ganhadores e menções honrosas dessa última categoria destacam-se: Leônidas Monte (pintura), Mariz Filho (pintura), Barandier da Cunha (escultura), João Pinto (escultura). Nos anos seguintes receberam menção honrosa na categoria de arte moderna: Geraldo Corrêa (pintura), Veiga Santos (Pintura), Augusto Morbach (pintura) (MOKARSEL, 2000, p. 7). E em sua XIX versão (1948) Salão premiou também projetos arquitetônicos modernos (SOBRAL, 2002, p.39)
Os Salões realizados pela Universidade Federal do Pará, respectivamente em 1963 e 1965, foram praticamente as últimas pedras na fundação de uma consciência criadora local, como também tiveram papel na atualização de uma linguagem brasileira (norte brasileiro) com o mundo contemporâneo, ou seja, universalismo embebido na auscultação da cultura local, no reconhecimento da terra sobre a qual essa cultura se estabeleceu 21.
Podiam participar da seleção artistas oriundos dos Estados do Amazonas, Maranhão e o território Federal do Amapá, e houve o crítico Harry Laus (Jornal do Brasil), Renato Miguez (que proferiu palestra sobre arte popular), Quirino Campofiorito (que foi jurado nas duas edições dos Salões), Mário Barata (que palestrou sobre a obra de Picasso), Edith Behring (que ministrou um curso de gravura) e Waldemar da Costa (jurado) e Armando Balloni que completavam o júri de seleção 22.
20 Cf. com o índice biográfico.
21 No entendimento de Aracy Amaral o modernismo nos amadureceria para uma percepção mais apurada do local, sem nos tornar regionalizantes. Amaral, Aracy. Obra cit. p. 16.
22 A Província do Pará, 09 novembro de 1963, p.6
Quem não é capaz de tomar partido deve calar-se. Walter Benjamin
Outro papel importante que exerceu o Salão da Universidade foi a criação do prêmio viagem à bienal, pois essa premiação proporcionou que vários artistas paraenses se deslocassem à São Paulo para que desenvolvessem contatos com a mais recente produção artística do mundo naquele período; essa experiência provocou um repensar nas dimensões das obras, e fez com que os artistas paraenses buscassem temas mais universais etc.
Os dois Salões tinham como metas não só contribuir para renovar, dignificar e atualizar o trabalho artístico no Norte do Brasil, mas também, desejavam que a arte produzida na região despertasse a consciência e a
capacidade do povo amazônida, afirmavam os catálogos23.
Na década de 60 ainda era muito presente o amadorismo nos artistas locais, o que ficou patente para os críticos que acompanhavam os certames. Harry Laus assim se referiu a esse aspecto:
[...] Caracteriza-se pelo autodidatismo e pelo academicismo e figurativismo um tanto primário, resultante da falta de informação artística a que a região está sujeita. Nenhuma escola de arte, raríssimas exposições, influências do pintor Balloni – praticamente o único artista que lá expõe regularmente e que ensina pintura em Belém (LAUS, 1963, p. 6).
O I Salão de Artes Plástica da Universidade do Pará24 de 1963 funcionou timidamente. Um crítico chegou a descrevê-lo como “acúmulo de aberrações pictórico-amadoristas”, e vaticinou, a partir de suas considerações, que muitos dos artistas participantes não vingariam.
O salão premiou na pintura, Ruy Meira e Benedicto Mello, primeiro e segundo prêmio respectivamente; distribuiu menções honrosas a Dionorte Drumond e Maria José Sampaio Costa e concedeu prêmio de viagem para visitar a Bienal de São Paulo para Ruy Meira, Benedicto Mello, Dionorte Drumund Nogueira, Luigi Giandolfo, Manuel Rodrigues Branco de Melo e Roberto La Rocque Soares.
23 Cf. Catálogos dos dois Salões.
Q1 - PARTICIPANTES DO SALÃO DE ARTES DA UNIVERSIDADE - 1963
ARTISTAS ORIGEM MODALIDADE SITUAÇÃO
Fúlvio Juliano AP Pintura
PA
Concy Cutrim Pintura
PA
Fernando Luiz Pessoa Escultura
PA
João Pinto Escultura
Mário Luiz Barata AP Pintura
Yara Brasil PA Pintura
PA
Paulo Albuquerque Pintura
PA
João Maciel Mercês Pintura
PA
José Pires Moraes Rego Pintura
Paulo Roberto D´Astuto AM Pintura
AP Pintura
Raimundo Braga de Almeida
AP Pintura Erno Kenderessy Pintura AM Gualter Batista Pintura AM Afrânio de Castro Pintura AM
José Aldair da Encarnação Moraes
Pintura AM
Branca Ferreira Amande
Pintura AM
Moacyr Couto de Andrade
PA Pintura
Roberto de La Roque Soares
PA Pintura
Ruy Meira
PA Escultura
Arnaldo Vieira dos Santos
PA Pintura
Maria José Sampaio Costa
PA Pintura
Mário Pinto Guimarães
PA Pintura
André Furresz
Augusto Morbach PA Pintura não concorrente
PA
Raymuindo Viana Pintura não concorrente
PA Pintura
Zuleide Vieira Cardoso
PA Escultura
Marialva de Castro Ribeiro
PA Pintura
Luigi Fazio Giandolfo
PA Pintura
Maria José Silva
PA Pintura
Pintura José Fernando da Rocha
PA Pintura
Aderbal Meira Matos
PA Pintura
Antônio Afonso Haus
PA Pintura
Dionorte Drumond Nogueira
PA Pintura
Luiz Gonzaga Neves
PA Pintura
Elias Paulo de Macedo
PA Pintura
Carlos Augusto Santa Brígida do Nascimento
PA Pintura
Conceição Merces Falcão
PA Pintura
Amara Rocha Lopes de Oliveira
PA Pintura
Angelo Barreto
PA Pintura
Manuel Rodrigues Branco de Melo
PA Pintura
Dina Maciel Guimarães
PA Pintura
Paulo Altman
PA Pintura
Carmélia Cascaes Dourado
PA Pintura
Orlando Lima da Cunha
PA Pintura
Douglas Domingues
PA Pintura
Ana Batista Panzuti
PA Pintura
Raphael Ferreira Alvez
PA Pintura
Dimitri Romariz
PA Pintura
Joaquim Lassance Maria
PA Pintura
Guilherme Paulo Leite
PA Pintura
Antônio de Sales Barreto
PA Pintura Moura Filho PA Pintura Eduardo Abdelnor PA Pintura Eloy Silva PA Pintura Benedito Mello PA Escultura Álvaro Amorim PA Cerâmica Álvaro Pascoa PA Escultura
Alsa Maria Maués Barra
SP Pintura não concorrente
Armando Balloni
Yeso Saldanha MA Pintura
Pintura MA
Antônio Almeida
MA J. Figueiredo
LEGENDA: PA - Pará; MA - Maranhão; SP - São Paulo; AM - Amazonas; AP - Amapá Fonte: RICCI, P. “As Artes Plásticas no Pará”, c. 1978.
Figura 11 – Roberto de La Rocque Soares, 1963, Óleo s/ tela. Obra Composição, exposta no
I Salão de Salão de Artes Plásticas da Universidade Federal do Pará. Acervo Elza Soares. Foto Moises Resende
Figura 12 – A cerimônia de abertura do I Salão de Artes Plásticas da Universidade Federal do
Pará.
O II Salão de Artes Plásticas da Universidade do Pará de 1965 abriu ao público em novembro, no mesmo espaço galeria que havia recebido o I Salão, na Assembléia Paraense, situada na avenida Presidente Vargas. Participaram artistas do Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará. O II Salão ainda promoveu cursos e palestras sobre arte.
Durante o período na exposição a Universidade ofereceu vários cursos ministrados por artistas e críticos tais como: Quirino Campofiorito (1902-1993), Hilda Campofiorito (1901-1997), Aluízio Magalhães (1927-1982) e Rossini Perez (1932-2005) O objetivo principal era elevar o nível da cultura e o
reconhecimento da arte produzida em Belém25. Quirino Campofiorito ministrou
curso sobre decoração moderna, pintura e cerâmica. Hilda Campofiorito contribuiu com um curso de pintura sobre tecido e Rossini Perez realizou um curso sobre gravura. Este último foi apresentado pelos jornais locais como um artista de larga experiência, pois, havia participado de importantes salões de arte moderna em São Paulo, Paris, Munique, Oslo, Moscou, Jerusalém, Bruxelas, Washington, Bueno Aires, Madrid, Tel-Aviv, Viena; além de bienais em Lugano (Suíça), Paris, México, Carrara e Veneza26.
O cronista do jornal A Província do Pará, Acyr Castro, afirmou que muitas pessoas (pensantes, acrescentou ele sem citar nomes) não aceitavam que o II Salão de Artes Plásticas da Universidade Federal do Pará, em 1965, trouxesse o marco do experimento, aqui entendido como amadorismo. Entendia que a cidade de Belém era um centro acanhado e tímido, sendo, portanto importante que os jovens-artistas da região desenvolvessem técnicas de pesquisas e investigações estéticas para seus trabalhos. O cronista ainda reconheceu que as buscas de técnicas, ou estilos, ocorreria pelos campos do abstrato, do geométrico, ou informal. Para fundamentar seu texto, Castro cita Bachelard em, “La Poétique de L’Espace”, com excerto do texto “Consciencia reveuse”, e defendeu que a arte devia ser entendida como preenchimento de uma parte da intimidade interior, a que o homem se recolhe do habitual. Findava suas considerações tecendo comentários elogiosos a: Arnaldo Vieira dos Santos, Rui Meira, Eduardo Falesi, Benedito Mello, Paolo Ricci, Roberto de La Rocque Soares e Oscar Ramos (CASTRO, 1965b, p3).
25 Cf. A Província do Pará, dia 06 de novembro de 1965, 2º Caderno, p.4. 26 Idem.
O que exigimos do pintor & do gravador & do desenhista & do escultor é que transmitam o que tem dentro de si ou que ansiosamente procuram “fora”, a fim de que a arte não se torne mero sinônimo de tecnologia ou de cientificismo mas “agrida” a nossa sensibilidade arrancando o humano do embrutecimento e do vazio (CASTRO, 1965b, p.3).
Na qualidade de artista convidada Fayga Ostrower, premiada na Bienal de Veneza com o Grande Prêmio; trouxe para Belém vinte e cinco gravuras: 13 nas categorias de xilo (coloridas), 10 em aguatinta; 1 em aguaforte e 1 em técnica mista.
Diante da qualidade do certame Campofiorito afirmou que o II Salão de Artes Plástica da Universidade Federal do Pará apresentava um panorama artístico de Belém muito promissor. Comentou a importância da parte didática do evento, “de amplos proveitos para os estudiosos do Pará”. Comentou sobre as bolsas de estudo para aperfeiçoamento distribuídas pela Reitoria aos jovens artistas da Amazônia (Pará, Amazonas, Acre, Amapá e Maranhão).
O crítico reconhecia que apesar do isolamento que a geografia impunha ao Estado do Pará, o mesmo se encontrava inserido num fenômeno de evolução da cultura brasileira, que começava a encontrar o seu próprio caminho. Sobre os artistas alertava que a “arte é a linguagem moderna por excelência, seja ela usada com implicações filosóficas ou por mera recreação ornamental”, após afirmar isso para o jornal, recomendou que o artista jamais seja indiferente às contingências que afetam o destino humano, sob pena de sua arte se tornar alienada27.
O Salão contou com a inscrição de 72 (setenta e dois) artistas do então Território Federal do Amapá, dos Estados do Amazonas, Maranhão e de várias outras cidades do nosso Estado, mas apenas 34 (trinta e quatro) foram selecionados. Abaixo a relação dos participantes do certame artístico e os ganhadores e menções honrosas em suas respectivas categorias:
27 Entrevista com Campofiorito concedida ao jornal A Província do Pará, publicada no dia 28 de novembro de 1965.
O Salão apresentou novas temáticas abordadas nas pinturas e esculturas. Um crítico avisou ao público para deixar de aplaudir a novidade como simples novidade ou simulacro de pesquisa para efeito de promoção comercial e concluía que a crítica não pode ser laudativa e nem confusionista o seu papel é o de educar28.
As realizações de salões de artes e os convites lançados a vários intelectuais e artistas, inclusive aos que haviam nascido em Belém e que na ocasião estavam como visitantes, contribuíram para se fortalecer as discussões artísticas que se vinha definindo na cidade. Mas, com as mudanças no cenário político nacional, com a deflagração da ditadura militar, tornou-se mais difícil manter o fôlego dos avanços no campo das artes em Belém. E isto, talvez, explique por que das bienais da Universidade Federal do Pará aconteceram apenas em duas versões. Todavia, entende-se que mesmo acontecendo somente em duas edições, tornaram-se um marco que provocou um novo momento no pensamento artístico da região.