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BILINGUISMO E IDENTIDADE: DUAS LÍNGUAS, DUAS IDENTIDADES?

Partindo da hipótese de que a língua é um dos principais aspectos de formação identitária do falante e levando em consideração os contextos bilíngues das comunidades de Virmond e Candói, a pergunta que se coloca é: ao falar duas variedades, o falante passa a

constituir duas identidades?

A resposta para essa questão, considerando o conceito de identidade exposto anteriormente (v.1.2), não pode ser categórica, mas, pode-se afirmar que, como a identidade vem sendo construída pelo falante no decorrer de suas experiências, tanto sociais quanto linguísticas, por isso, ele pode construir identificações que se diferenciam conforme a língua que ele utiliza.

De acordo com Hall (2000), o falante de duas variedades linguísticas, também é constituído por diferentes identidades, pois não há uma identidade fixa e é o falante que fabrica e a constitui de forma inconsciente pelos atos de sua linguagem e de acordo o contexto em que se inserem suas relações culturais e sociais.

No entanto, de acordo com Krug (2004), essas questões identitárias exigem que os aspectos linguísticos que fazem com que um indivíduo seja classificado como bilíngue e as relações estabelecidas entre as línguas em contato sejam analisadas de maneira mais sucinta.

Dessa forma, no caso desta pesquisa, há um contato linguístico entre o português e o ucraniano, no município de Candói e, do português com o polonês no município de Virmond, o que evidencia um traço em comum entre esses dois grupos, umas vez que ambos possuem características que os diferenciam dos grupos majoritários, principalmente no que diz respeito às suas línguas de imigração e a preservação de seus costumes linguísticos e culturais, permitindo que sejam classificados como bilíngues.

Ao classificar esses grupos como bilíngues, leva-se em consideração a definição de bilinguismo feita por Mackey (1972), evidenciada no subtítulo 1.3 desse estudo. De acordo com essa definição, não é necessário que o falante possua domínio da língua em todas as suas modalidades, por isso, apesar de a língua de imigração dessas duas comunidades analisadas ser pouco utilizada pelos falantes em suas interações sociais, ela provoca nos indivíduos descendentes de ucranianos e/ou poloneses, sentimentos identitários diferenciados e que estão em constante transformação.

Essa transformação identitária é tratada por Hall (2000), que acredita que pela linguagem, o indivíduo passa a assumir diferentes identidades num contínuo processo de construção e reformulação. Assim, por serem integrantes de grupos minoritários, a identidade dos descendentes de poloneses e/ou ucranianos pode estar ligada a questões de prestígio ou estigmatização, sendo transformada de acordo com a percepção que o falante possui de si mesmo e sua variedade ou ainda, pela atribuição de prestígio ou desprestígio feita pela

sociedade.

Nesse sentido, as identidades podem ser tanto positivas quanto negativas, dependendo dos sentimentos dos indivíduos diante de sua variedade e de sua origem étnica. Entretanto, no caso das comunidades pesquisadas, há uma busca significativa de manutenção da língua de imigração e os falantes têm consciência de que pertencem a grupos minoritários. Os indivíduos pertencentes a essas duas comunidades bilíngues (Virmond-Candói), identificam- se como sendo diferentes, em termos linguísticos e culturais, e reivindicam o seu direito à representação.

Com isso, constituem sua identidade como sendo ucranianos ou poloneses ao utilizarem a variedade minoritária com os demais integrantes de seu grupo étnico e como brasileiros ao utilizarem o português para a comunicação com os demais indivíduos da sociedade que não possuem a mesma origem étnica, ou seja, possuem duas identidades.

3 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

Com base na metodologia de análise qualitativa dos dados e sob o enfoque da pluridimensionalidade, busca-se alcançar esse objetivo a partir da aplicação de um questionário metalinguístico que serve para verificar se o falante atribui à sua língua e a sua etnia uma relação que faz com que construa uma identidade a partir de sua descendência.

De acordo com Liebscher (1998), o método de pesquisa qualitativo é apropriado para o estudo de fenômenos complexos e normalmente são utilizados para um melhor entendimento de contextos sociais e culturais. Dessa forma, para usar métodos qualitativos, é preciso que o pesquisador aprenda a observar, registrar e analisar as diferentes interações entre as pessoas, ou seja, a partir de uma visão que leva em consideração os fatos de acordo com o modo em que estão inseridos e significam em determinados contextos.

A pesquisa qualitativa, com base nas considerações de Triviños (1987), exige algumas informações do investigador em referência ao que ele deseja pesquisar, este tipo de estudo tem a pretensão de descrever fatos e fenômenos conforme a realidade, ou seja, aproximando- se das perspectivas que os participantes possuem dos acontecimentos. Dentre os métodos mais usados nessa pesquisa estão a observação, observação participante, entrevistas informais e análise de anotações de campo.

A pesquisa qualitativa ainda envolve a pesquisa de campo e, nesse caso, os pontos selecionados para pesquisa são os municípios de Virmond, cuja população é formada essencialmente de descendentes de poloneses e Candói que possui uma significativa presença de habitantes descendentes de ucranianos. A pesquisa de campo possui como característica as investigações que vão além das análises bibliográficas e documentais e passam a realizar coleta de dados junto à população que será analisada, envolvendo diferentes recursos de pesquisa (FONSECA, 2002).

Dentre esses recursos, é feito o registro dos contextos pesquisados por meio de notas de campo, gravações de áudio, conversas livres, relato e análise sobre os dados coletados. Patton (1990) afirma que a utilização do gravador contribui para a preservação do conteúdo original dos dados coletados, pois permite registrar não só as palavras como também os silêncios, os vacilos e as mudanças que ocorrem no tom de voz do informante conforme o assunto de que trata.

estudo são o diário de campo, tomado como ferramenta para o registro de dados que não são captados pelo gravador, a entrevista informal e a aplicação de um questionário metalinguístico que contribui para a compreensão dos valores que os sujeitos atribuem à sua etnia e a importância e papel da língua para a formação de sua identidade.

O instrumento de coleta de dados utilizado para esta pesquisa foi um questionário metalinguístico composto por trinta e quatro questões (vide questões em anexo), sendo trinta destinadas a verificar o grau de conhecimento linguístico dos informantes de descendência polonesa, além de investigar se eles tem conhecimento do uso diferenciado que fazem da língua falada e quatro para identificar o grau de bilinguismo dos descendentes poloneses. Em suma, a presente metodologia apresenta primeiramente os pontos de coleta de dados seguido da escolha dos informantes e por fim são apresentados os instrumentos de coleta e análise de dados.