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Como já dito anteriormente, os municípios de Virmond e Candói são ainda pequenos e fora as pessoas que moram nas regiões mais próximas, são poucos os que conhecem essas duas comunidades e tão pouco sabem da existência de famílias de descendência polonesa no Virmond e de descendência ucraniana no Candói. Dessa forma, para que seja mais fácil a localização, destaca-se no mapa do Paraná os dois municípios pesquisados.

Figura 1: Mapa do Paraná adaptado pela pesquisadora. Mapa original disponível em: https://www.google.com.br/search?q=mapa+do+parana.

3.1.1 Virmond: comunidade bilíngue em português-polonês

Virmond é uma pequena cidade situada na região centro-sul paranaense na microrregião de Guarapuava. Pertencente à comarca de Cantagalo, o município está a 338 km de Curitiba, capital do Paraná. De acordo com o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), tem uma população que totaliza 3.950 habitantes e área de 243.17km2. A economia do município gira em torno da agricultura, pecuária, produção florestal e caprinocultura.

A fundação de Virmond se deu em 28 de dezembro de 1874, quando o coronel Frederico G. Virmond Júnior, vindo do Rio de Janeiro, requereu ao governo oito léguas de terras públicas que não pertenciam a ninguém em particular e nem eram habitadas. No ano de 1920, o primeiro cônsul da República da Polônia, Kazimierz Gluchowski começou a formar uma sociedade colonizadora no Paraná. Em uma reunião realizada em Curitiba chegou-se a conclusão de que as terras previstas para a colonização eram as áreas do planalto de Guarapuava e a missão de explorar essas terras foi dada a Wladyslaw Radecki (PREFEITURA MUNICIPAL DE VIRMOND).

Nas negociações preliminares feitas por Wladislaw com o ex-presidente do Paraná Afonso Camargo, foram propostas para escolha as áreas do Chagu, Candói, Catanduvas e entre os rios Catanvi e Iguaçu, sendo que Wladislaw escolheu essa última, pois as terras eram boas e havia abundância de rios e riachos. O contrato desses 24 mil hectares de terras foi assinado em 27 de maio de 1921 por Radecki que as colonizou. Nessa região, Frederico Virmond formou uma colônia, a antiga Amola Faca, nome dado a esse território devido à grande quantidade de tropeiros que paravam nessa localidade para amolar suas facas e foices (ZAPAHOWSKI, 2012)

Enquanto iniciava-se a colonização da fazenda Amola Faca, na Polônia as terras continuavam nas mãos de latifundiários que exploravam as pessoas de diversas nacionalidades sem escrúpulos, depois veio a falta de trabalho e os latifundiários juntamente com o governo decidiram enviar poloneses para além do oceano. Com isso, o conde Gawronski e o duque Lubomirski juntamente com o cônsul Zbigniew Miszke vieram a Guarapuava, no Paraná, e depois à Colônia Amola Faca (Virmond) a fim de examinar o terreno e gostaram da organização da colônia, assim, com a ajuda de Wladislaw Radecki apresentaram o projeto de colonização da Amola Faca à Sociedade Emigratória polonesa

(ZAPAHOWSKI, 2012).

Essa colônia foi sendo formada por famílias de imigrantes poloneses que estavam espalhados pelo Brasil. Mais tarde, a cidade passou a ser designada como Virmond, uma homenagem ao coronel Frederico G. Virmond. Como a maioria da população dessa cidade é de imigrantes poloneses, esta localidade também é chamada por muitos de Varsóvia. As primeiras famílias polonesas que chegaram ao Virmond foram Mierzva, Iachinski, Wachak, Lissoski, Radecki, Fridrik e Fredecheski. Em 1923 foi construída a primeira escola polonesa e em 1928 a primeira igreja, período em chegou à localidade o padre Paulo Schneider (PREFEITURA MUNICIPAL DE VIRMOND).

Assim como na Polônia, a padroeira de Virmond é Nossa Senhora de Częstochowa, conhecida no Brasil como Nossa Senhora de Monte Claro. Na época da chegada dos imigrantes poloneses a Virmond, falava-se o polonês e eram mantidos os costumes, crenças e as comidas tradicionais da Polônia, como a broa de centeio – moído na jorna, o pirogue – pastel de requeijão ou batatinha e a batata doce. As ações e o movimento para a emancipação da cidade de Virmond iniciaram-se por volta de julho do ano de 1989 e se deu no dia 25 de março de 1990. Este acontecimento ocorreu no distrito de Virmond e deu origem à sua emancipação (ZAPAHOVSKI, 2012).

O tempo passou e o povo virmondense tentou manter os costumes trazidos pelos imigrantes poloneses e conseguiu, exceto a língua polonesa. Até pouco tempo, o pároco da cidade dava uma aula de polonês por semana, mas a língua já não era prestigiada e foi tirada do currículo escolar. Depois, formou-se o grupo folclórico de “polaquinhos” “Mali Polacy” que é composto por meninos e meninas que se apresentam em datas comemorativas trajando roupas típicas polonesas. A composição étnica dos habitantes de Virmond mudou muito, mas a maioria dos descendentes ainda é de poloneses, netos e bisnetos da antiga “Colônia Amola Faca”. Nos dias atuais, a língua polonesa já não é falada, exceto por alguns moradores mais antigos e a variedade polonesa só perde o estigma de língua minoritária quando é utilizada para o mercado, ou seja, para a realização de festas, formação de grupos folclóricos e venda de comidas típicas da culinária polonesa (ZAPAHOWSKI, 2012).

3.1.2 Candói: Comunidade bilíngue em português-ucraniano

localizado na região centro-sul do Paraná, pertence à comarca de Guarapuava e abrange uma área de 1.656,76m2. Essa cidade tem uma população de aproximadamente 20.000 habitantes, sendo que cerca de 50% da população reside na área rural e 50% vive na área urbana. Candói está a 324,20 km da capital do Paraná. As áreas urbanas de Candói são divididas em quatro: Sede, Lagoa Seca, Paz, Cachoeira e as áreas do Alagado do Iguaçú.

Os primeiros moradores dessa terra foram os índios votorões, os dorins e os camés, todos da tribo kaingangue. Esses índios consideravam essas terras sagradas pelo fato de possuírem amplos e férteis campos. Chamavam essas terras de os “Campos do Paiquerê”. O nome dado à cidade é de origem kaigangue e além de ser referência ao Rio Candói, também teria sido uma homenagem ao índio Kandoy, índio bravo e guerreiro que tentando defender seu povo e suas terras teria cravado uma lança em seu próprio peito para que nenhum homem branco o matasse. Como era costume indígena dar nomes ligados à natureza, o nome Kandoy significa “Clareira na Mata”. O primeiro contato dos índios com o homem branco foi em 1771 (PREFEITURA MUNICIPAL DE CANDÓI).

Essa chegada do homem branco nas terras de Candói não foi um processo pacífico, pois os índios que habitavam Candói foram sendo integrados à civilização do homem branco, mudando seus nomes e tornando-se católicos. Depois disso, foram chegando ao município imigrantes vindos de várias partes do país, inclusive os que vieram diretamente da Europa no início do sec. XX, dentre eles, os ucranianos. Hoje o município de Candói é habitado por luso-brasileiros e tem uma significativa presença de imigrantes ucranianos em sua população, sendo aproximadamente 400 famílias que vivem no município e preservam seus costumes (IBGE, 2013).

As comunidades ucranianas buscam preservar seus costumes e sua língua, mas a variedade ucraniana já está se perdendo de geração em geração e hoje. Também é possível notar nesse município que a língua ucraniana só não é estigmatizada quando é “utilizada” no comércio, ou seja, quando são realizadas festas, eventos com culinária típica ucraniana. Entretanto, em Candói ainda é fácil encontrar falantes dessa língua de imigração e que buscam manter os costumes como a benção dos alimentos na páscoa, o coral ucraniano que sai na véspera de natal cantar nas casas das famílias ucraínas, atividade denominada colhade, na ceia de natal os descendentes de ucranianos, principalmente as famílias mais antigas, ainda cultivam a tradição de manter sobre a mesa os 12 pratos típicos representando os 12 meses do ano e/ou os 12 apóstolos.

Dentre os pratos típicos estão o kutiá, grãos de trigo cozidos adoçados com mel, uvas passas, nozes ou castanhas, o borchtch, sopa de beterraba e repolho servida com pão de centeio, o holubtsí, rolinhos de repolho e o perohê, pastel de batatinha, feijão ou repolho cozido. Entretanto, apesar de ser grande o número de famílias ucranianas em Candói, a língua só é valorizada nas comunidades em que esses indivíduos vivem e entre os demais imigrantes, já nos demais contextos da cidade, a variedade ucraniana é estigmatizada, o que também se torna um forte “agravante” para o apagamento dessa língua.