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Humberto Alves Barbosa

2. Bioma Caatinga

O Bioma Caatinga é o principal ecossistema existente na região semiárida do Brasil (NEB). Em 2005, a região classificada oficialmente como semiárida aumentou de 892.309,4 km² para 969.589,4 km², o que representa um acréscimo de 8,66%. A região engloba 1.133 municípios dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Norte de Minas Gerais, totalizando uma população de 20.858.264 milhões de pessoas, 44% destas residindo na zona rural (MI, 2005a). Os critérios da nova classificação consistiram na inclusão de municípios com precipitação média anual igual ou inferior a 800 mm; com índice de aridez situado entre os limites de 0,21 a 0,50 e com déficits hídricos diários iguais ou superiores a 60% (MI, 2005a). Com essa atualização, foi abolida a utilização do “Polígono das Secas” como instrumento legal de delimitação das áreas do NEB sujeito às secas.

A designação Caatinga tem sido usada como sinônimo do termo de duas palavras de origem tupi - CAA (mata) e - TINGA (branca), e significa mata branca. Em termos botânicos e ecológicos, essa formação é de relevada importância, pois apresenta fisionomia e florística próprias, bem distinta das demais formações florestais dos Biomas de regiões semiáridas. Para Melo (1998), a consagração do termo Caatinga se deve a Gabriel Soares de Souza, em sua obra “Tratado Descritivo do Brasil”, publicada em 1587. De acordo com esse trabalho, Caatinga é um termo fitogeográfico genérico que designa o conjunto de todos os tipos de vegetação que recobrem o NEB, caracterizado pela caducidade das folhas durante a estação seca e presença frequente ou abundante de arbustos espinhentos e de grandes cactáceas. No entanto, o glossário de ecologia diferencia esse termo baseado na fisionomia da vegetação. Segundo o glossário (ACIESP, 1997), a fisionomia desse bioma é cálida e espinhosa, com estratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de altura), caducifólias (folhas que caem), com grande quantidade de plantas espinhosas (leguminosas), entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as bromeliáceas, onde as condições climáticas e edáficas definem a ocorrência desse complexo fitofisionômico denominado de Caatinga. No entanto, o trabalho de Andrade-Lima (1981) considera a Caatinga pelo determinismo dos fatores climáticos, edáficos e antrópicos. As informações sobre a estrutura e o funcionamento desse ecossistema ainda são escassas. É um dos biomas mais vulneráveis às alterações climáticas globais associadas aos efeitos

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de aquecimento global induzido pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera. Em paralelo, 70% de sua área foram alteradas por ações antrópicas (ARAÚJO et al., 2005).

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As espécies observadas nessas condições apresentam adaptações fisiológicas e/ou morfológicas, capacitando-as para resistir à deficiência hídrica estacional como armazenamento de água em partes da planta, deciduidade (queda das folhas no período seco), órgãos para absorção da umidade atmosférica ou de chuvas e outras. Até o momento, a vegetação da Caatinga é caracterizada por cerca de 930 espécies, estimando-se que haja um total de 2000 a 3000 plantas. A fisionomia dessa formação é caracterizada pela abundância de Cereus (mandacaru e facheiro), Pilocereu (xiquexique), leguminosas (mimosa, acácia, emburana), cactáceas e outras. A retirada de madeira dessa formação, nas últimas décadas, foi muito intensa, principalmente de espécies de grande porte de mandacaru (Cereus hildmanianus Schum).

A morfologia, fisiologia e ecologia dos tipos de vegetação da Caatinga determinam as características xerofíticas do bioma. As espécies possuem caráter comportamental e fisiológico em relação às características físicas e socioambientais do meio, determinando, dessa forma, o conhecimento das características funcionais desse ecossistema e, por conseguinte, de sua resistência a diversos fatores de tensão decorrentes, sobretudo, da atividade antrópica. São reconhecidos 12 tipos diferentes de Caatingas, que chamam atenção especial pelos exemplos fascinantes de adaptações aos hábitos semiáridos. De acordo com Alves (2007), as Caatingas constituem um mosaico de fitofisionomias onde densidade, altura e porcentagem de cobertura de espécies variam continuamente desde parque até arbóreo-arbustiva. Para o autor, esses gradientes fisionômicos de Caatingas contrastam com as áreas florestadas compostas por espécies medindo em torno de 5 a 7m de altura; mais ou menos densas, com grossos troncos. Em contraposição, Caatinga parque é composta, principalmente, pelas espécies Mimosa acustipula, Auxema oncolalyx e Aspidosperma pyrifolium. Esta área recebe este nome por recobrir pequenas depressões capeadas que, à época das chuvas, são alagadas e, também, por ter seus indivíduos pseudo-ordenados sobre dENOS tapete gramíneo-lenhoso.

No que se refere à caracterização fisionômica (visual), a Caatinga apresenta três estratos: arbóreo (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros). Estima-se que pelo menos 930 espécies já foram registradas para esse bioma, sendo 380 endêmicas. Algumas poucas espécies não perdem as folhas na época seca, entre essas se destaca o juazeiro (Zizyphus joazeiro), uma das plantas mais típicas desse ecossistema. As espécies vegetais que habitam esse ecossistema são em geral dotadas de folhas pequenas, uma adaptação para reduzir a transpiração. Essas espécies se encontram em estágio avançado de perturbação, já tendo sofrido interferências antrópicas de diferentes naturezas como extrativismo seletivo e outros, que continuam até hoje, em

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intensidades variadas, tornando complexa a discussão sucessional desse Bioma, já que praticamente inexistem remanescentes não degradados dessas formações para a maioria do NEB (ALVES, 2007). As Figuras 1, 2, 3, e 4 retratam a diferença das formações Caatinga arbórea aberta (fechada) e Caatinga arbustiva-arbórea aberta (fechada).

Figura 1 - Caatinga arbórea aberta

Figura 2 - Caatinga arbórea fechada

Figura 3 - Caatinga arbustiva arbórea

aberta

Figura 4 - Caatinga arbustiva arbórea

fechada

É necessário enfatizar a vulnerabilidade a que está exposta a maior parte do Bioma Caatinga em decorrência da instabilidade climática, dramatizada pelas secas que ocorrem, em média, a cada 5 anos. Rebouças (1997) aponta que os

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valores médios anuais das chuvas podem ocorrer em apenas um mês ou se distribuir de forma irregular nos 3 a 5 meses do período chuvoso, com coeficiente de variação superior a 45%. Nos últimos anos, as secas foram responsáveis por redução da ordem de 9% no produto da agropecuária regional, e de 4,5% no PIB (Produto Interno Bruto). A população atingida chegou a quase 12 milhões, e o número de trabalhadores inscritos nas frentes emergenciais de trabalho, a 2 milhões. A grande dificuldade dos agricultores é lidar com a elevada variância dos fatores climáticos, que oscilam fortemente entre um ano e outro. A sazonalidade climática se expressa claramente na estrutura e no funcionamento do Bioma Caatinga que apresenta diferentes fenofases dos grupos de espécies que nela se desenvolvem. A condição de solo raso (litólico), com elevada acidez, baixa capacidade de retenção hídrica do solo na estação seca, atuam como fatores edáficos seletivos para ocorrência de espécies. Tal formação geológica limita a capacidade de infiltração do solo, propiciando maior escoamento superficial, por sua vez dificultando a capacidade de armazenamento de água subterrânea. O relevo da região da Caatinga constitui um importante fator para a compreensão do clima semiárido de seu interior (SUASSUNA, 2009). As serras e planaltos formam grandes barreiras geológicas para a ação do vento e de outros fatores, impedindo as chuvas nas regiões mais altas do lado oriental e setentrional das serras e planaltos. A partir desses condicionantes meteorológicos e geomorfológicos, no semiárido, a precipitação média anual varia de 250 a 600 mm ao ano. O semiárido tem seu bioma caracterizado pela Caatinga.