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IV MATERIAIS E MÉTODOS

V. 4 – Biomarcadores de estresse oxidativo

Tabela V –defesas antioxidantes em Órgão Digestor de Anomalocardia brasiliana para o ponto controle (PC) e sítios da Lagoa da Conceição (P1 a P4).

PARÂMETROS SÍTIOS AMOSTRADOS

(MÉDIA E ERRO PADRÃO) PC P1 P2 P3 P4

TBARS (nmol g-1) 57,65 ± 5,98 ** 870,59 ± 39,11 ** 534,51 ± 40,26 * 160,78 ± 12,67 72,16 ± 7,31 SOD (USOD g-1) 111,63 ± 16,20 * 198,22 ± 25,54 74,86 ± 12,95 * 184,87 ± 6,80 125,70 ± 30,69

CAT (mmol min-1 g-1)

12,64 ± 0,69 ** 32,27 ± 0,63 11,16 ± 0,20 ** 64,75 ± 1,76 ** 22,93 ± 1,21 GPx(µmol min-1g-1) 0,19 ± 0,04 ** 1,78 ± 0,37 * 0,60 ± 0,08 ** 2,59 ± 0,37 * 1,13 ± 0,26 GR (µmol min-1g-1) 0,06 ± 0,005 0,06 ± 0,003 0,045 ± 0,003 ** 0,325 ± 0,01 ** 0,166 ± 0,008 GSH (mM) 1,96 ± 0,10 ** 0,90 ± 0,14 ** 1,00 ± 0,07 ** 1,18 ± 0,08 * 1,55 ± 0,14 GSSG (mM) 0,58 ± 0,05 ** 2,26 ± 0,31 0,46 ± 0,02 1,01 ± 0,26 ** 1,96 ± 0,13 GT (mM) 2,44 ± 0,11 ** 3,16 ± 0,43 * 1,46 ± 0,06 2,19 ± 0,32 * 3,51 ± 0,22 GST(µmol min-1g-1) 3,09 ± 0,17 ** 0,56 ± 0,04 2,97 ± 0,30 ** 0,73 ± 0,05 ** 1,03 ± 0,08 P1: Rio Vermelho; P2: Osni Ortiga; P3: Ponta das Almas (Assoc. DNER); P4: Praia do

LIC; PC: Ponto Controle – Pontal da Daniela; * (p<0,05); ** (p<0,01)

Em relação ao sítio controle, níveis elevados de TBARS foram constatados em Anolamocardia brasiliana coletados em todos os sítios da Lagoa da Conceição, exceto no sítio P4, onde os níveis de TBARS foram semelhantes ao do sítio controle (Tabela V). A

atividade da SOD, mostrou-se mais elevada nos sítios P1 e P3 da Lagoa relativamente ao

conjectivamente ao sítio controle (Tabela V). A atividade da catalase apresentou-se variável nos diferentes sítios amostrados, sendo maior nos sítios P1, P3 e P4, e não diferente no sítio

P2 (Tabela V). A GPx apresentou um perfil muito semelhante ao da catalase, onde esteve

aumentada em todos os sítios amostrados, comparativamente ao ponto controle. Por outro lado, a GR apresentou atividade aumentada somente nos sítios P3 e P4, enquanto que os

sítios P1 e P2 não mostrou diferença significativa relativa ao controle (Tabela V). A

concentração média de glutationa reduzida (GSH) dos animais provenientes do sítio controle, foi significativamente maior em relação aos valores obtidos para os animais coletados em todos os pontos amostrais da Lagoa da Conceição (Tabela V).

As concentrações de glutationa oxidada (GSSG) em berbigões coletados nos sítios P1 e P4, apresentaram os valores mais elevados, comparativamente aos coletados no sítio

controle (Tabela V). Os níveis de glutationa total (GT) apresentaram, coerentemente, um perfil semelhante ao da glutationa oxidada, onde a concentração mais elevada da GT foi encontrada no sítio P4, enquanto que o valor mais baixo de GT para a Lagoa da Conceição

foi constatado para o sítio P2. Quanto às atividades da GST, constatou-se uma inibição nos

sítios P1, P3 e P4, enquanto que o sítio P2 exibiu valores próximos às verificadas nos

VI – DISCUSÃO

Os maiores valores de metais-traço encontrados neste trabalho, em ordem crescente, estão para os organismos dos sítios P3>P1>P2>PC>P4. O sítio P1 apresentou o maior valor

para OD (10,7 mg/L), ficando o sítio P4 com o menor valor (4,59 mg/L), o que sugere uma

concentração de matéria química que utiliza o oxigênio para sua oxidação e/ou devido à restrita circulação de maré local, acompanhada de um déficit de oxigênio e um aumento na produção de H2S, ou processos locais de eutrofização (SORIANO-SIERRA, 1997). A alta

condutividade verificada no sítio controle refletiria a alta concentração de sais dissolvidos, natural em águas salobras e maior em estuários, devido à ação constante da maré oceânica. O índice de cor e turbidez encontrados no sítio controle (PC), foi provavelmente devido à

grande contribuição de materiais em suspensão derivados do manguezal vizinho, pertencente à reserva do Carijós. O decréscimo da salinidade verificado na Lagoa da Conceição vem sendo registrado ao longo dos últimos anos, decorrência provável do assoreamento da única comunicação da laguna com o oceano, o canal da Barra da Lagoa (SIERRA DE LEDO & SORIANO-SIERRA, 1999). No entanto, a diminuição da salinidade encontrada nos sítios neste trabalho, pode estar relacionada com a amostragem que se deu nas margens da laguna, onde o aporte de águas provenientes de escoamento superficial de toda a bacia estaria causando este desvio. O valor baixo de pH para o sítio P4

poderia ser explicado por ser um ambiente que recebe águas drenadas das encostas incrementadas com despejos humanos, alterando o valor do pH. Pode-se atribuir também esta variação à decomposição de matéria orgânica oriunda de ação antropogênica, gerando grandes concentrações de ácidos húmicos presentes naquele local e, conseqüentemente, diminuindo o valor do pH (PANITZ, 1992; 1997).

Os números encontrados para os microorganismos, coliformes totais e coliformes fecais, sugere forte influência antropogênica, com principal atividade no lançamento de esgotos domésticos, principalmente nos sítios P1 (Trapiche do Rio Vermelho), P2 (Osni

Ortiga) e P3 (Ponta das Almas). Para o sítio P1, esta contaminação poderia ser proveniente

da porção nordeste da laguna, que possui forte ocupação urbana, visualizado através da Fig.10. As concentrações de microorganismos encontradas nos sítios P2 e P3, devem-se

pluvial da laguna, observadas em simples contraste visual naqueles sítios, as quais apresentam uma grande concentração de algas na saída destes escoamentos, caracterizando um processo local de eutrofização (SIERRA DO LEDO & SORIANO-SIERRA, 1999).

As concentrações de elementos-traço encontradas no berbigão indicam fortemente que elas devem estar relacionadas com as concentrações encontradas nos sedimentos da Lagoa (GARCIA, 1999). Concentrações de 196,59, 71,35 e 21,69 µg.g-1 para Zn, Ni e Pb,

respectivamente, foram reveladas no sedimento em variados pontos da Lagoa da Conceição, e valores similares foram encontrados por RIVAIL (1995) para os mesmos elementos. Em contraste, as concentrações de metais em tecidos de moluscos filtradores são geralmente maiores do que as encontradas nas águas mais superficiais (DE GREGORI et al., 1996). Correlações entre concentração de metais-traço acumuladas em moluscos bivalves e as presentes no sedimento destes organismos filtradores já foram reportados na literatura (LYTLE & LYTLE, 1982; LYNGBY, 1987; DE GREGORI et al., 1996). Estudos de elementos-traço em bivalves da espécie Chione sp., C. palmula e C. corteziensis da Lagoa Navachiste no México (HAMILTON, 1991), revelaram concentrações dos elementos Cd, Ni, Cr, Zn e Pb muito semelhantes às encontradas no presente trabalho.

A bioacumulação de metais em organismos já foi confirmada em diversos trabalhos, incluindo uma forte correlação com o estresse oxidativo em organismos aquáticos (VIARENGO, 1989; PHILLIPS & RAINBOW, 1989; RAINBOW, 1990; DI GIULIO et al., 1995; ROBINSON, 1999; TORRES et al., 2002). Estes valores verificados nos sedimentos foram aproximadamente 20 a 100 vezes mais elevados do que os encontrados no órgão digestor do berbigão, exibindo um perfil de concentração que se sobrepõe um ao outro. Em outras palavras, a bioacumulação destes metais-traço pelo órgão digestor do berbigão, e, provavelmente, pelos demais tecidos deste organismo, segue de modo muito próximo a disponibilidade destes elementos junto ao sedimento, particularmente junto às águas intersticiais do sedimento, local de grande concentração de metais-traço (RAND, 1995).

Níveis elevados de chumbo e zinco foram encontrados em outro molusco bivalve, Tagelus plebeus, unha-de-velho, em sistema estuarino de Alagoas (LE CAMPION, 1992), em níveis que excederam os limites estabelecidos internacionalmente. Considerando que

moluscos bivalves bioacumulam metais-traço de modo a refletir proporcionalmente as concentrações presentes no sedimento adjacente (PHILLIPS & RAINBOW, 1989; RAINBOW, 1990), e que sua eliminação é lenta e parcial, mesmo levando-se em conta as particularidades de cada metal-traço neste particular (RAINBOW, 1990), a contaminação de organismos filtradores e outros organismos aquáticos é preocupante, principalmente se considerar o consumo destes animais por pescadores e gastrônomos locais. Os valores de alguns metais-traço em determinados sítios da Lagoa da Conceição excederam aqueles máximos permitidos em legislação estrangeira (USERO et al., 1996). Outro molusco bivalve examinado nos manguezais da ilha de Santa Catarina, o marisco-do-mangue Mytella guyanensis (TORRES et al., 2002), também utilizado localmente para consumo humano, apresentou concentrações de chumbo (0,41-0,91 µg.g-1) limítrofes aos valores

permitidos, tanto pela legislação espanhola, como pela norte-americana. De modo semelhante, outras espécies de molusco bivalve, Mytilus edulis, coletado em lago aparentemente não contaminado no Chile, evidenciou valores de chumbo muito próximos aos do berbigão (0,6 – 2,6 µg.g-1), sugerindo que valores relativamente elevados e acima

daqueles permitidos por legislação pertinente são comuns a moluscos filtradores. Provavelmente, a grande capacidade de bioacumulação destes organismos, ao longo de grandes períodos de tempo de seu ciclo biológico, permite elevar estas concentrações teciduais (RAINBOW, 1990). Por outro lado, considerando que o chumbo ainda é largamente utilizado como aditivo em combustíveis, é provável que aí resida a maior fonte de contaminação aquática na Lagoa da Conceição.

Os valores dos níveis de metais no sedimento da Lagoa da Conceição variaram de acordo com as estações inverno/verão (GARCIA, 1999) e revelaram uma maior concentração para o elemento Zn nas duas estações seguido do Ni e Cu. De modo semelhante, no presente trabalho detectou-se o elemento Zn com a maior concentração no berbigão, seguido do Cr e do Ni, enquanto o elemento Cd, mostrou a menor concentração de metais-traço nos moluscos dos diferentes sítios analisados. Para GARCIA, (1999), coincidentemente os menores valores encontrados no sedimento da Lagoa também se referem ao Cd, encontrados igualmente por RIVAIL (1995).

Estudos no Hemisfério Norte realizados sobre contaminantes e defesas antioxidantes, em organismos aquáticos, especialmente Mytillus edulis e Mytillus.

galloprovincialis, mostram correlações positivas entre níveis de defesas antioxidantes e o conteúdo de xenobióticos encontrado nestes organismos. Mytillus galloprovincialis exposto a ambientes poluídos no Mediterrâneo, exibiu máxima atividade de suas defesas antioxidantes durante o verão, quando os níveis de metais-traço foram menores (REGOLI & PRINCIPATO, 1998). Estudos realizados no Brasil, com órgão digestor do mexilhão Perna perna em cultivo, mostraram altos níveis de TBARS correlacionados com variações sazonais de temperatura e ciclo reprodutivo. Resultados obtidos por GARCIA (1999) no sedimento da Lagoa da Conceição, demonstraram uma menor concentração de metais-traço no sedimento no verão quando comparados ao inverno. Os valores encontrados para metais-traço no sedimento da Lagoa da Conceição por GARCIA (1999), corroboram com RIVAIL (1995), que sofreram um acréscimo considerável compreendido entre os anos de 1995 até 1998, podendo ter origem no crescimento populacional, principalmente no verão, o que ocasiona um efeito estressante no ambiente lagunar, devido ao aumento no uso de embarcações, e também pelo aumento de lançamento de efluentes domésticos e outros poluentes na Lagoa (GARCIA, 1999). Aumentos nas concentrações dos elementos-traço presentes no sedimento do fundo da Lagoa, podem ser de procedência natural, através do intemperismo das rochas, solos e através da atmosfera (GARCIA, 1999). Por outro lado, o aumento populacional e as atividades correlacionadas, dentre elas, as atividades náuticas, ocasionam sérias intervenções nos ambientes aquáticos, trazendo prejuízos à flora e fauna, aumentanto os riscos de exposição à saúde humana, considerando-se a bioacumulação de xenobióticos por organismos aquáticos, transferidos ao homem por meio da teia trófica.

Variações sazonais são importantes na avaliação de diferentes biomarcadores, notadamente aqueles relacionados com o estresse oxidativo (WILHELM FILHO et al., 2001a,b), pois os níveis de contaminação estão intimamente relacionados com mudanças metabólicas vinculadas às variações sazonais (LIVINGSTONE, 1982; LEMLY, 1996). Níveis mais elevados de Pb e Cd coincidiram com o inverno, enquanto Cu e Zn exibiram níveis mais elevados no verão no molusco Ártico islandica do Mar Báltico (SWAILEH, 1996). Por outro lado, Mytillus edulis mostrou níveis de Cr mais elevados na primavera e verão, provavelmente coincidindo com o período reprodutivo (WALSH & O’HALLORAN, 1998).

Aparentemente, somente alguns metais promovem aumentos no processo de lipoperoxidação, isto é, aumentos nos níveis de TBARS ou MDA (malondialdeído, o principal produto de oxidação lipídica). A análise do efeito do Cd, Zn e Cu em tecidos de Mytillus galloprovincialis, mostraram que somente o cobre promoveu aumento na produção de MDA (VIARENGO et al., 1990). Da mesma maneira, a exposição de Unio tumidus, molusco bivalve de água doce, ao cobre, provocou alterações significativas em diversos antioxidantes presentes no órgão digestor e brânquias (DOYOTE et al., 1997). Considerando esta especificidade de resposta ao cobre e não aos demais metais-traço, é possível inferir, analisando o conjunto de respostas obtidas no presente trabalho, de que a poluíção decorrente da atividade microbiológica de coliformes fecais, e não a contribuição dos metais-traço, poderia estar afetando prioritariamente os níveis de peroxidação lipídica no órgão digestor do berbigão. Estudos mais específicos em laboratório poderiam eventualmente corroborar estes resultados de campo.

Níveis elevados de TBARS foram encontrados nos berbigões coletados em todos os sítios da Lagoa da Conceição, quando comparados ao sítio controle, sendo o sítio Rio Vermelho (P1), o que apresentou o maior dano celular no órgão digestor. Estes altos níveis

de TBARS indicam uma relação estreita com o estresse oxidativo que estes animais estão enfrentando, e que, provavelmente, estão vinculados à presença local de diferentes contaminantes. No caso do Rio Vermelho, além da presença local e acentuada de coliformes totais e fecais, denunciando a contribuição de poluentes de efluentes domésticos que poderiam estar chegando naquele ponto, em virtude dos ventos que sopram com maior freqüência do quadrante nordeste e, por isso, poderiam também estar trazendo esta pluma contaminada com coliformes fecais de outros pontos da Lagoa que possuem uma ocupação urbana mais densa, como é o caso da Costa da Lagoa, que está localizada em frente ao sítio amostrado P1 ou, ainda, da extremidade nordeste da Lagoa, onde a ocupação urbana

igualmente é bem representativa naquela porção lagunar. Os níveis de TBARS poderiam também estar elevados devido à presença de árvores da floresta pinatifolia de Pinus, as quais liberam uma resina ácida na orla lagunar, principalmente no sítio amostrado P1 (Fig.

11). Resinas ácidas produzidas por estas plantas, como ácido abiético, primário e dehidroabiético, possuem alta toxicidade e efeito acumulativo nos organismos (SOARES,

2001). Altos valores de TBARS também poderiam estar vinculados à presença de metais- traço, como cromo, chumbo e zinco, provenientes de tintas anticrustantes e do óleo e combustível dos barcos, já que naquele local existe um trapiche. Altas correlações entre concentrações teciduais de metais-traço e TBARS foram encontrados em Mytella guyanensis coletadas em manguezais poluídos na Ilha de Santa Catarina (TORRES et al., 2002). De modo semelhante, Mytilus galloprovincialis, quando expostos a altos níveis de Cu no Mediterrâneo, apresentaram uma elevada lipoperoxidação (VIARENGO et al., 1990), enquanto que CHEUNG et al., (2001) constataram altos níveis de MDA em Perna viridis coletado em locais poluídos de Hong Kong. Da mesma forma, WILHELM FILHO et al., (2001b) estudando efeitos da poluição e sazonalidade em Geophagus brasiliensis, espécie de peixe dulcícola, verificaram correlação positiva entre níveis de TBARS e poluição. O sítio P2 (Osni Ortiga) também apresentou elevados níveis de TBARS,

provavelmente associados à presença de esgoto doméstico no local de coleta, evidenciados pela presença de tubos de drenagem pluvial que lançavam esgoto clandestino de algumas residências por ocasião da coleta de amostras. As concentrações elevadas de coliformes totais e fecais encontradas neste sítio vêm corroborar esta inferência. O sítio P4 (LIC) não

mostrou níveis de TBARS distintos do sítio controle, coincidindo com a menor concentração de coliformes fecais em relação aos demais sítios da Lagoa, apesar de ser seis vezes maior daquela verificada no sítio controle. Baixos valores de TBARS foram constatados em estudos com Chamaelea gallina e Cassostrea gigas na costa espanhola, onde verificou-se pequena liperoxidação para sítios poluídos em relação ao controle (RODRIGUEZ-ARIZA et al., 1993). Segundo aqueles autores, os animais examinados na costa espanhola exibiram uma resposta antioxidante compensatória e adequada, atenuando o estresse oxidativo e diminuindo os níveis de TBARS.

A concentração de GSH no sítio controle apresentou-se mais elevada que nos sítios poluídos da Lagoa da Conceição. Em locais poluídos, o maior consumo deste tripeptídeo antioxidante e sua maior conversão na forma oxidada (GSSG), refleteria o estresse oxidativo enfrentado pelos moluscos nestes sítios. TORRES (2000) também constatou uma maior concentração de GSH para Mytella guyanensis provenientes de sítio não poluído. De modo análogo, para o mexilhão Perna viridis, também evidenciou-se um alto consumo de GSH com a poluição em vários pontos de coleta (CHEUNG et al., 2001). Coerentemente,

WILHELM FILHO et al., (2001b) verificaram uma baixa concentração de GSH em fígado de Geophagus brasiliensis, o peixe acará, quando coletados em local poluído. Este desequilíbrio entre GSH e GSSG ficou bem evidente para órgão digestor de Anolamocardia brasiliana, onde pode-se observar uma quantidade maior de GSSG em todos os pontos da Lagoa da Conceição. Altos níveis desta forma oxidada de glutationa consistem em um excelente biomarcador de estresse oxidativo pois, quanto maior for a utilização de GSH como antioxidante, ou indiretamente nas reações enzimáticas (GPx e GST), bem como na biotransformação de xenobióticos, maiores serão os níveis de GSSG (KOSOWER & KOSOWER, 1978). Os níveis elevados de GSSG são confirmados para os valores obtidos para Mytella guyanensis em dois sítios poluídos distintos de manguezais (TORRES, 2000), e valores muito semelhantes foram constatados para o órgão digestor de Perna perna (WILHELM FILHO et al., 2001a). No sítio controle, os menores níveis de GSSG asseguram que o Pontal da Daniela é local com pouca ação antrópica, reforçando sua condição de sítio controle no presente estudo.

Os níveis de GT indicam a soma de GSSG e GSH presentes nos animais coletados. Os valores de GT mostraram-se mais elevados para animais coletados em todos os sítios da Lagoa do que para o sítio controle, exceção aos sítios 2 e 3. Uma grande quantidade de GT presente nos sítios poluídos da Lagoa refletiria a necessidade do organismo de sintetizar o tripetídeo glutationa, como meio de compensar ou atenuar o estresse oxidativo verificado nestes animais. Analisando o conjunto das respostas de enzimas antioxidantes no berbigão coletado na Lagoa da Conceição, verificou-se que, exceção à elevação da atividade de glutationa peroxidase, e da catalase, a superóxido dismutase e a glutationa redutase mostraram atividades aumentadas em apenas dois sítios amostrais, enquanto que a glutationa S-transferase, ou permaneceu inalterada, ou sua atividade também foi diminuída, enquanto que a glutationa reduzida foi mais consumida em todos os sítios poluídos. Este quadro sugere uma condição de estresse oxidativo acentuado, sendo que a maior parte destas defesas já não atuariam de modo compensatório adequado. Resultado semelhante já fora obtido em peixes coletados em sítios poluídos cronicamente (WILHELM FILHO et al., 2001b). Por outro lado, quando o nível de poluição é relativamente menos intenso, em termos de concentração de contaminantes e tempo de exposição aos mesmos, certos organismos conseguem manter defesas antioxidantes adequadas, como por exemplo, o caso

da Mytella guyanensis, o marisco-do-mangue, estudado em manguezais poluídos da Ilha de Santa Catarina (TORRES et al., 2002).

A enzima GST não apresentou alta atividade em indivíduos de Anomalocardia brasiliana coletados na Lagoa da Conceição, quando comparados ao sítio controle (Pontal da Daniela). No entanto, o sítio 2 apresentou valor semelhante ao sítio controle e relativamente alto, quando comparados aos demais sítios da Lagoa. Este resultado não era esperado, uma vez que esta enzima de Fase II do processo de biotransformação de xenobiontes, encontra-se geralmente induzida em diversos organismos expostos a poluentes, como no caso de Mytella guyanensis coletada em locais poluídos (TORRES, 2000) e Perna viridis exposta a pesticidas (CHEUNG et al., 2001). Em contrapartida, outros estudos também não mostraram correlações entre GST e poluição, como é o caso de Unio tumidus exposto aos herbicidas PQ e DCP (PETUSHOK et al., 2002), bem como Perna perna e Crassotrea gigas expostos a outros tipos de pesticidas (ALVES et al., 2002). Inibições de GST em organismos expostos a contaminantes em ambiente aquático foram descritas em apenas dois outros trabalhos (WILHELM FILHO et al., 2001b;REFEREEEE). Até o presente momento, não existem evidências de que metais-traço possam induzir enzimas de Fase II do processo de conjugação e excreção de xenobiontes, como o caso da GST (REGOLI & PRINCIPATO, 1995; FITZPATRICK et al., 1997).

O uso de enzimas antioxidantes como biomarcadores de poluição aquática tem uma aplicação cada vez maior, apesar de sua complexidade, uma vez que se deve considerar flutuações sazonais, ontogenéticas, ciclo reprodutivo e de outros fatores naturais e biológicos (NIYOGI et al., 2001). Vários são os aspectos que interferem nas respostas antioxidantes de organismos expostos a poluentes. Quando expostos a contaminantes, é necessário levar em conta o tipo de poluente, tempo de exposição, e a concentração dos poluentes. Como conseqüência, a sazonalidade, o ciclo reprodutivo, taxas de bioconcentração e biotransformação de xenobióticos, bem como mecanismos específicos de excreção, são alguns fatores que interferem na acumulação e persistência de xenobióticos em diferentes organismos (LA TOUCHE & MIX, 1982; COIMBRA & CARRACA, 1990; WALSH & O’HALLORAN, 1998, LIVINGSTONE, 1999).

O aumento das defesas antioxidantes em organismos marinhos expostos a poluentes orgânicos é um indicativo da necessidade de compensação contra a geração de espécies

reativas de oxigênio, provavelmente vinculadas à presença de tais xenobióticos (LEMAIRE & LIVINGSTONE, 1993). Os dados encontrados no presente trabalho sugerem que os berbigões coletados nos sítios da Lagoa da Conceição necessitam mobilizar e adequar suas defesas antioxidantes para compensar o estresse oxidativo a que estão expostos, devido à presença de vários tipos de poluentes, sejam coliformes fecais, metais-traço ou outros, de acordo com observações preliminares que levaram à escolha dos sítios amostrais. A análise de metais-traço e de coliformes totais e fecais permitiu evidenciar que a Lagoa da Conceição está exposta a uma carga de contaminantes de natureza diversa, acentuando o

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