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Bloco Internacional dos Direitos da Criança

“Todos os direitos se aplicam a todas as crianças sem exceção” (ONU, 1989, p. 6). Seguindo a cronologia dos ordenamentos apresentados na tabela acima, buscaremos uma interlocução entre os documentos e o foco da pesquisa, observando as devidas instâncias internacionais, nacionais e distritais destacando os aportes a respeito da criança e da educação.

O panorama mundial no início do século XX foi marcado pelas disputas políticas e econômicas entre as grandes potências globais, o que culminou na primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914-1918, na qual os países da Europa foram os principais campos de batalha.

O Brasil teve uma participação modesta neste fato, limitando-se ao envio de poucas tropas, entre elas, um corpo médico ao front em 1918, último ano do conflito.

No ano seguinte, em Londres, tomam corpo as primeiras organizações em defesa dos diretos das crianças.

A Liga das Nações, posterior Organização das Nações Unidas – ONU, teve como objetivo a manutenção da paz entre as nações e atualmente tem como extensão a Unesco, que atua nas áreas de Educação; Ciências Naturais; Ciências Humanas e Sociais; Cultura; Comunicação e Informação, e adota a Declaração de Genebra de 1924, uma decisão de influência internacional, que tinha a prerrogativa de proteção à criança e ao adolescente. Suas ações foram muitas e os princípios foram adotados por vários países membros.

A organização global sofreu novo abalo com a segunda Guerra Mundial entre 1939-1945, desta vez envolvendo quase todas as nações do mundo e com maior poder bélico destrutivo. Foi neste cenário pós-guerra e no intervalo de treze anos que se deu o surgimento e fortalecimento dos principais organismos e convenções mundiais, entre elas o Fundo das Nações Unidas para a Infância - Unicef, 1946; A Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU em 1948 e a Declaração dos Direitos da Criança, em 1959.

A Declaração dos Direitos da Criança trouxe em suas proclamações princípios como: “A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar- se-ão em promover o gozo deste direito”.

A Convenção Universal dos Direitos das Crianças de 1989, adotada pela Assembleia Geral da ONU, foi um marco para as políticas em defesa e proteção da criança e do adolescente, apoiada também nos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Os direitos a proteção às crianças contém 54 artigos que prezam por garantias em todas as estâncias da vida, ou seja, na esfera afetiva; educacional; familiar; física; social e moral, com o intuito de garantir à criança uma proteção especial, conforme os Títulos da não discriminação.

Destacamos os artigos 28 e 29, que apontam sobre o direito e os objetivos da educação, quando declaram assim: “A educação deve destinar-se a promover o desenvolvimento da personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicas, na medida das suas potencialidades” (UNESCO, 1989, p. 20).

Coadunando com esses princípios, os próximos documentos se caracterizam por conteúdos mais voltados ao campo da educação, que promoveram ampliação e garantias de direitos.

A Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990) foi aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos em Jomtien, Tailândia, tendo como ponto de partida a “satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”, além dos 10 (dez) artigos que foram firmados e estabelecidos no Plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, com calendário de ações para a década. De contínuo, reafirmando a educação como um direito fundamental, aliada aos outros direitos preconizados pelos tratados sobre Diretos Humanos. Dessa forma, a missão de garantir “Educação para Todos - EPT” ficou como legado.

A Declaração de Salamanca de 1994, na Espanha, propôs novas oportunidades para os estudantes. O documento Regras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências inaugurou um novo paradigma para as escolas e com maior impacto para a educação inclusiva, estabelecendo assim, que “aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades” (UNESCO, 1994, p. 1). Garantindo uma educação para todos.

A Cúpula Mundial de Educação, de Dakar no ano 2000, contou com a presença de 160 representantes de países no encontro, incluindo o Brasil, que tem representação da Unesco no país desde 1964.

Este episódio destacou-se pelas seis metas a serem alcançadas até 2015. As metas estão divididas entre Educação na primeira infância; Educação primária universal; Habilidades de jovens e adultos; Alfabetização de adultos; Paridade e igualdade de gênero; e Qualidade da educação. Muitas ações foram mobilizadas, porém os desafios são muitos ainda.

O Relatório Um tesouro a descobrir (2010) ficou mais conhecido por apresentar e debater os Quatro Pilares da Educação, cujos conceitos foram inaugurados pelo autor na década de 1990 e revisados no Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, sob a égide do próprio Delores. São eles: Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a viver juntos, por fim Aprender a ser.

O Relatório de Monitoramento Global ETP de 2013, notadamente uma publicação independente, porém de caráter colaborador das articulações para EPT, tem autorização e apoio da Unesco, mas não representa juridicamente a Organização. Isso pode ser verificado quando observamos uma importante ressalva: “A seleção e a apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como as opiniões nele expressas, são responsabilidade da equipe do Relatório de Monitoramento Global de EPT” (UNESCO, 2014, p. 2).

O Relatório está na sua 11º publicação, o primeiro título foi Educação para Todos: o mundo está no rumo certo? (2002).

A publicação destacada aqui se refere ao balanço das metas estabelecidas em Dakar-2000, cujo Relatório de Monitoramento Global de EPT 2013/4 possui o título: Ensinar e Aprender: Alcançar a Qualidade para Todos, que foi publicado no ano 2014 e alertou para a não concretização das metas dentro do prazo: “Faltando menos de dois anos para terminar o prazo de cumprimento dos objetivos da Educação para Todos (EPT), está claro que, apesar dos avanços da última década, nenhum objetivo será conquistado globalmente até 2015” (UNESCO, 2014, p. 6).

Apresentarmos a seguir os dados do documento sobre a segunda meta, correspondente à Universalização da educação primaria. Os dados referem-se às condições que necessitam ser superadas. Os números são alarmantes, tendo em vista a meta da educação para todos:

Objetivo 2: É provável que não se alcance a educação primária universal, por uma grande margem. O número de crianças fora da escola, em 2011, foi de 57 milhões, metade das quais viviam em países afetados por conflitos. Na África Subsaariana, apenas 23% das meninas pobres das áreas rurais completaram a educação primária até o final da década. Se persistirem as tendências recentes da região, os meninos mais ricos alcançarão a educação primária universal completa em 2021, enquanto as meninas mais pobres somente o conseguirão em 2086 (UNESCO, 2014, p. 6).

O Fórum Mundial de Educação Incheon, do ano 2015 na Coréia do Sul, propôs uma avaliação das metas anteriores, compilando em nova Declaração. O evento contou com a participação da Unicef e do Banco Mundial, entre outras Organizações. O novo compromisso tem a seguinte meta: “Educação 2030: rumo a uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e à Educação ao longo da vida para todos”. Assim, podemos destacar o seguinte trecho: “Comprometemo-nos, em caráter de urgência, com uma agenda de educação única e renovada, que seja holística, ousada e ambiciosa, que não deixe ninguém para trás” (UNESCO, 2015, p. 1).

Após a revisão dos marcos históricos de lutas que foram trilhados até o presente para a proteção das crianças e o fortalecimento da educação em âmbito internacional, quando este apresenta um espaço a ser preservado e acalentado pela educação, em que a criança é protagonista do seu conhecimento, vemos, portanto, hoje que a educação das crianças é agenda mundial. Ou seja, tendo a defesa do direito do cidadão, a escola tornou-se cada vez mais requisitada nesta função.