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2.2. Técnicas de construção em Terra

2.2.3. Blocos de Terra Compactada – BTC

A técnica construtiva em blocos de terra compactada vai ter uma especial atenção ao longo desta dissertação, visto que, será objeto de estudo. A pesquisa é por isso mais profunda relativamente a este tipo de solução desde o seu fabrico, quantidade, materiais estabilizadores, processo de fabricação e colocação na obra.

O BTC é uma técnica que resulta tradicionalmente do adobe tendo surgido de uma evolução do adobe por estabilização do solo por meios mecânicos. Assim, consiste na prensagem do solo confinado num molde, permitindo obter pequenos bolos de terra prensada (Torgal, Eires, & Jalali, 2009). A principal diferença, entre estas técnicas está na resistência, pois o adobe atinge a sua resistência máxima após sofrer um processo de cura enquanto que, o BTC atinge a sua resistência máxima com a compactação da prensa. A compactação da terra com uma prensa, melhora as qualidades do material, pois se por um lado as formas dos blocos ficam mais regulares, por outro, a superior densidade torna maior a resistência à compressão, bem como a resistência à erosão e à degradação através do contacto com a água (Mateus, 2004).

Este método implica prazos de construção mais curtos, pois praticamente não exige tempo de espera entre a produção e aplicação do material. Permite também uma fácil montagem e uma diminuição de resíduos. A produção pode ser assegurada todo o ano, independente das condições climatéricas (Torgal, Eires & Jalali, 2009).

A eficácia e a simplicidade do sistema de produção de blocos garantiram o seu sucesso e a difusão por todo o mundo, sendo atualmente um dos métodos de construção em terra mais utilizados (Lourenço, 2002).

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A execução de unidades habitacionais com alvenarias de BTC é ainda pouco frequente em Portugal, tendo no entanto vindo a aumentar. Isto acontece, devido à elevada sustentabilidade que lhe está associada com a vantagem adicional de apresentar desempenhos superiores às alvenarias de adobe (Torgal, Eires, & Jalali, 2009).

Segundo Rigassi (1985), a primeira prensa manual surgiu em 1952, desenvolvida pelo Engenheiro Raul Ramirez, um equipamento prático e de dimensões reduzidas denominado por prensa CINVA-RAM. Atualmente existem uma grande diversidade de prensas, baseadas neste mecanismo.

As prensas manuais necessitam de grande quantidade de mão-de-obra e tempo de fabrico (Figura 2.11 (a)), contudo, por outro lado, têm a vantagem de ser possível colocá-las no local da obra, ser económicas em termos energéticos e possibilitar o uso do solo no local de obra (Torgal, Eires, & Jalali, 2009).

Recentemente surgiram as prensas hidráulicas, que não necessitam de força humana, tornam um processo de fabrico mais rápido, produzindo vários blocos ao mesmo tempo. Os blocos fabricados neste tipo de prensas apresentam uma maior resistência mecânica comparativamente à prensa manual (Quintino, 2005).

As prensas hidráulicas podem ser fixas ou móveis, a mobilidade destas últimas permite a execução dos blocos no local da obra, tal como nas prensas manuais, com a vantagem de uma maior rapidez no fabrico (Figura 2.11 (b)). Assim, é possível manter uma maior sustentabilidade deste tipo de construção evitando o transporte desnecessário e economicamente desvantajoso dos blocos.

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Por vezes o solo não possui as características desejadas para os BTC, para isso precede-se à estabilização, isto é, ocorre uma alteração das características de forma a melhorar o comportamento mecânico e físico.

Segundo Moreira (2009), os métodos para a estabilização de solos para a construção em terra subdividem-se em 3 de acordo com o que se apresenta na Tabela 2.2.

Tabela 2.2:Tipo de estabilização dos solos

Tipos de Estabilização

Mecânica

A resistência mecânica, a porosidade, a permeabilidade e

a compressibilidade são alteradas através da

compactação e da adição de fibras. Física

A alteração da textura da terra é realizada através da mistura controlada de partículas de diferente composição e granulometria; podem também conseguir-se os mesmos resultados através de tratamentos térmicos e elétricos. Química

As propriedades da terra são modificadas por adição de produtos químicos que alteram as características da terra através de reações químicas

Segundo Lourenço (2002), o estabilizante mais utilizado no fabrico de BTC é o cimento. Contudo, atualmente, a cal assume-se como um estabilizante mais barato e mais sustentável, não tendo um impacte ambiental tão elevado, pelo que é expectável que a sua utilização venha, no futuro, a aumentar. A estabilização do solo por adição de cimento consiste na preparação de uma mistura homogénea de solo pulverizado, com cimento e água, em proporções determinadas (Cruz & Jalali, 2007).

Os BTC podem ser utilizados como estrutura portante ou servir de enchimento de uma estrutura portante de madeira ou betão armado. Como os BTC podem ser moldados de diversas formas tornam-se encaixáveis, podendo reduzir ou mesmo eliminar o uso de argamassa (Torgal & Jalali, 2011).

Na técnica construtiva do BTC destacam-se inúmeras vantagens que demonstram a sua potencialidade de aplicação (Centromaoterra, 2015):

• Baixo custo de produção, matéria-prima existente no local e mão-de-obra semiqualificada;

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• Tecnologia de fácil aprendizagem, exigindo poucas capacidades técnicas;

• O equipamento necessário à produção está disponível na forma de prensas manuais ou hidráulicas, permitindo uma adaptação à necessidade de produção;

• É possível um controlo na produção, aumentando a qualidade e regularidade, permitindo assim diversos acabamentos.

Porém, esta técnica, apresenta algumas limitações (Centromaoterra, 2015): • Necessidade de uma caracterização do solo;

• Impossibilidade de construção de grandes vãos e de edifícios em altura;

• Desempenho mecânico baixo quando comparado com o betão e com outros materiais mais populares;

• Necessidade de algum conhecimento das equipas de trabalho para a produção de BTC com qualidade;

• Falta de regulamentação adequada.

2.2.3.1. Normas disponíveis para o BTC

Devido às circunstâncias atuais, a preferência por técnicas consolidadas em betão e aço, prevalece em relação à construção em terra em muitos países, inclusive em Portugal, onde os métodos de produção deste tipo de elementos ainda se processam de forma primitiva e antiquada, baseados principalmente no saber empírico das gerações anteriores, e não no conhecimento científico atual (Oliveira, 2014).

No entanto, existem alguns países como a Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos da América que têm desenvolvido regulamentos de forma a normalizar a construção em terra, tentando eliminar as suas limitações e demonstrar as suas vantagens. Assim, o interesse e o desenvolvimento da construção em terra está em contínua expansão, sendo possível referir o caso de países como a Espanha, que apresentando um parque edificado semelhante ao português, começa a ir de encontro às necessidades que têm vindo a surgir, com a criação de novas regulamentações para a utilização da terra como material de construção (Oliveira, 2014). A norma espanhola UNE 41410 (2008), refere que a terra destinada à construção como o BTC deve ser essencialmente constituída por cascalho, areia, silte e argila, misturada com água, e opcionalmente com estabilizantes e aditivos. No caso de os aditivos serem cimento, cal ou gesso, a sua percentagem deve corresponder no máximo a 15% da massa seca do BTC. A norma

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espanhola UNE 41410 (2008) também apresenta alguns critérios quanto à estabilização dos solos, quando estes não apresentam as características necessárias.

A norma australiana HB 195 (2002) é um pouco mais detalhada, recomendando uma série de ensaios expeditos e laboratoriais para a caracterização do solo. Quanto à necessidade de estabilização do solo, a norma australiana, define uma série de possibilidades, nomeadamente, estabilização com cimento, com cal, com betume, com aditivos químicos e com fibras.