2.3. Sustentabilidade da Construção
2.3.1. Definição da construção sustentável
A indústria da construção é um dos maiores e mais ativos setores em toda a Europa, representando uma faturação anual de 750 milhões de euros, representando 25% de toda a produção industrial europeia, considerando-se o maior exportador mundial com 52% do mercado. Esta indústria consome ainda cerca de 3000 Mt/ano de matérias-primas, o que representa quase 50% em massa que, em termos ambientais, é responsável por 30% das emissões de carbono. Além disso, o parque edificado consome 42% da energia produzida (Torgal, Eires, & Jalali, 2009).
Com os números apresentados anteriormente, facilmente se observa que este setor é insustentável. Os problemas relacionados com a construção, como evidenciado anteriormente,
passam pela poluição ambiental, através da emissão de dióxido de carbono (CO2) para
atmosfera, pela produção de resíduos associados à construção e demolição de edifícios, poluindo a água e o solo, e também pelo consumo desmedido e inconsequente dos recursos naturais.
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Assim, considera-se que a construção sustentável é a resposta que a indústria da construção civil necessita. Em 1994, o Conselho Internacional da Construção, definiu o conceito de construção sustentável como “a criação e manutenção responsáveis de um ambiente construído saudável, baseado na utilização eficiente de recursos e no projeto baseado em princípios ecológicos” (Kibert, 2008).
Ainda, segundo o Conselho Internacional da Construção (1994), foram formulados 7 princípios fundamentais para a construção sustentável:
• Redução do consumo de recursos; • Reutilização de recursos;
• Utilização de recursos recicláveis; • Proteção da natureza;
• Eliminação de tóxicos;
• Aplicação de análises de ciclo de vida em termos económicos; • Ênfase na qualidade.
Ao longo de todo o ciclo de vida de uma construção, podem aplicar-se os princípios da construção sustentável. São necessários recursos para produzir e explorar o ambiente durante o seu ciclo de vida, como a terra, os materiais, a água, a energia e os ecossistemas. A aplicação destes princípios deve ser feita de forma adaptada, a todas as fases que integram o ciclo de vida de uma construção, fases essas denominadas de projeto, construção, operação/manutenção e demolição/deposição (Mateus, 2004). O ciclo de vida de uma construção é visível na Figura 2.13.
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Figura 2.13: Abordagem integrada e sustentável às fases do ciclo de vida (adaptado de Bragança & Mateus, 2006)
A crescente preocupação e regulamentação ambiental, aliada à crescente importância e pressão da opinião pública, colocam progressivamente a questão do desempenho energético e ambiental, cada vez mais na agenda das entidades competentes.
Segundo uma publicação do Conselho Internacional da Construção em 1999, denominada “A Agenda 21 para a Construção Sustentável”, os maiores desafios para a construção civil são: a promoção da eficiência energética, a redução do uso e consumo de água potável e a contribuição para um desenvolvimento urbano sustentável. No sentido de obter uma construção mais sustentável, existem áreas que deverão sofrer várias intervenções (Pinheiro, 2006). Estas intervenções encontram-se identificadas de forma resumida na Tabela 2.3.
Tabela 2.3: Áreas de intervenção para uma construção sustentável (Adaptado de Pinheiro, 2006)
Área Principais Problemas Estratégias
Ocupação
do solo Uso eficiente do solo
Aproveitamento dos edifícios existentes
Aumento das atividades de reabilitação e
recuperação
Criação de edifícios multifuncionais;
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Tabela 2.4: (Continuação) Áreas de intervenção para uma construção sustentável (Adaptado de Pinheiro, 2006)
Área Principais Problemas Estratégias
Ocupação do solo
Escolha do local
Consideração do contexto local: clima,
topografia, impacte visual, ruído, economia local
Aumento da utilização de transportes públicos
Criação de zonas de boa acessibilidade aos
transportes públicos nas proximidades dos edifícios
Proteção da natureza Proteção da flora e da vida animal
Criação de zonas de boa permeabilidade
Energia
Otimização do consumo de energia
Utilização de sistemas de gestão energética
Utilização de fontes de energia renovável
Eficiência energética dos materiais de
construção utilizados
Adoção de sistemas de construção/demolição
simples Otimização da
iluminação
Maximização da iluminação natural no
interior dos edifícios Otimização de
aquecimento/ Arrefecimento
Conceção procurando que, devido à orientação
do edifício e aos materiais adotados, não seja necessário recorrer exageradamente à
utilização de sistemas de aquecimento/arrefecimento Água
Otimização do consumo de água
Utilização de sistemas de gestão de água
Reutilização de águas de lavagem
Aproveitamento de água da chuva
Materiais
Escolha dos materiais a utilizar
Seleção de materiais com melhor desempenho
ambiental
Seleção de materiais prevendo a reciclagem
em fim de vida Edifícios recicláveis e
reutilizáveis
Projeto e construção com consideração do
destino fina Materiais não tóxicos e
controlo climático
Maior consideração da toxicidade ambiental e
ocupacional dos materiais
Utilização eficiente de matérias-primas
Utilização de materiais locais e de métodos de
construção tradicionais
Aumento da utilização de materiais renováveis
Utilização de técnicas de desconstrução
apropriadas de forma a otimizar a reciclagem
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Tabela 2.5: (Continuação) Áreas de intervenção para uma construção sustentável (Adaptado de Pinheiro, 2006)
Área Principais Problemas Estratégias
Resíduos Gestão de resíduos
Minimização da produção de resíduos, tendo
em conta a política dos 5 R’s – Reduzir, Reutilizar, Recuperar, Renovar e Reciclar
Sistemas integrados de recolha de resíduos
Realização de planos de prevenção e gestão de
resíduos disponíveis no local da obra
Outros Durabilidade dos
edifícios
Maximização da durabilidade dos edifícios
através de tecnologias construtivas e materiais de construção duráveis
Conceção com vista à
flexibilidade/adaptabilidade dos edifícios de modo a permitir o ajuste a novas utilizações
Planeamento da conservação e da manutenção,
de forma a permitir a dilatação do ciclo de vida dos edifícios