• Nenhum resultado encontrado

Bom senso como prática que supre falhas estratégicas

A necessidade de assumir diferentes posições de sujeito é narrada pelas professoras como decorrência das falhas das políticas que atendem a população infantil. Por exemplo, Cristi Jaqueline na começa a doar fraldas para o aluno em função da interrupção de uma política de assistência que a família acessava por meio do CRAS. Amanda, por sua vez, diz o seguinte:

Amanda: Eu acho que tem uma interferência direta, não é?! Direta…

Catharina: Tu consegues me dizer um pouco sobre o que tu achas dessa interferência das políticas públicas no

nosso trabalho?

Amanda: Há interferência até quando elas não funcionam. Essa falta de política em determinadas situações é o

que acaba deixando uma responsabilidade maior para nós, não uma responsabilidade, uma demanda.

Eu começo o doutorado inquieta com isso porque eu também entendia que as “coisas acabavam sobrando para nós” e que, de certa forma, isso era uma falha absorvida pela escola e pelas professoras. E o que pude compreender ao longo da feitura dessa pesquisa foi que esse “sobra para nós” pode ser entendido não como falha ou inoperância das políticas, mas como efeito estratégico da razão de estado regida pela governamentalidade neoliberal em articulação com pressupostos de gênero.

Para sustentar esse argumento retomo o que diz Foucault, em Segurança, território e população, ao definir o que entende como governamentalidade. Ali, ele (FOUCAULT, 2008a, p. 158) afirma que sua analítica sobre as disciplinas lhe permitiu “sair dos pontos de vista internos, para os pontos de vista externos”, ou seja, lhe possibilitou transitar de dentro de uma verdade para a exterioridade que permite enxergar a história [de um objeto] e as condições de sua emergência. Em suas palavras, compreender a potência desse movimento era “recusar-se a adotar um objeto já pronto [...]. Era recusar-se a querer medir as instituições, as práticas e os saberes com o metro e a norma desse objeto já dado”. E, ao fazer essas constatações que o levarão, justamente, a pensar sobre governamentalidade, Foucault sugere que

[...] a história real [de um objeto, como por exemplo, a relação entre políticas públicas e docência da Educação Infantil] não é comandada pelos sucessos e fracassos de sua funcionalidade, mas ela se inscreve na verdade em estratégias táticas que se apoiam até mesmo nos próprios déficits funcionais. (FOUCAULT, 2008a, p. 158).

Na esteira desse pensamento pude pensar que, implicadas com as crianças, de dentro da escola eu e minhas colegas professoras estamos certas ao dizer que há falhas, gaps, déficits, pontos não previstos pelas políticas públicas para fazer a atenção à população infantil funcionar. Desde o nosso entendimento, o estado falha no cuidado com a população infantil, pois não prevê o todo necessário para as intervenções na vida das crianças. As professoras dizem que a rede não funciona e, em função disso, muitas coisas “sobram” para elas e, em função dessas “sobras” e da inexistência de uma rede de atenção plena, elas veem a necessidade de usar o bom senso. Como ferramenta analítica, o gênero permitiu-me colocar em suspenso essa noção de falha para olhá-la desde uma ótica “de fora” e isso levou-me a torcer minha compreensão, do modo como passo a expor agora.

Vejamos o que dizem as professoras:

Catharina: Estou tentando pensar na relação que se estabelece entre a política do PIM e a escola, com os

primeiros anos da escola infantil, e queria escutar vocês sobre isso. Eu estava perguntando antes, em que o trabalho das visitadoras se aproxima ou se distancia do trabalho que nós, como professoras na Educação Infantil, fazemos? Me corrijam se eu estiver errada, vocês estão dizendo que as visitadoras têm um número reduzido de crianças então elas podem fazer uma escuta, lançar um olhar para as crianças que são diferentes da escuta e do olhar que a gente consegue fazer no coletivo da escola, é isso? Agora vocês começaram a trazer que isso, que essa pouca quantidade de crianças qualifica esse olhar e essa escuta, isso lá no PIM. Mas e aí? O que isso significa em termos de proposição e de oferta da escola de Educação Infantil? Como vocês veem isso? Então, vamos pensar, somos pedagogas, não estamos lá no PIM PIA, estamos na escola, mas vocês dizem que o PIM PIA é qualificado. Essa é a nossa posição frente a esse programa? O que esse programa significa para a escola e em termos de proposição do Estado para a primeira infância?

Valentina: É que é complicado porque é a mesma rede, né?! O programa é da rede, a escola é da rede e a escola

não tem o mesmo apoio que o programa tem. Porque quando passou o vídeo eu até anotei aqui rede de apoio, ali eles trouxeram Bolsa Família, CRAS, FASC, posto para pegar remédio, para pegar livro na Secretaria da Cultura. Então essa família conhece tudo, o que que eu vou trazer da minha realidade? As minhas famílias não sabem que elas têm essa rede de apoio, eu não sabia dessa rede de apoio, eu fui saber dessa rede de apoio quando eu fui lá pra escola de Ensino Fundamental. Lá na escola de Ensino Fundamental, através do SOE, as famílias sabem que elas têm essa rede de apoio, as crianças vão pro CRAS, as crianças vão pro encaminhamento do posto, tudo se resolve assim, acompanhamento de psicólogo, parece que no Fundamental tudo funciona e a infantil é sempre esquecida. A gente precisa encaminhar uma criança, a gente não sabe pra onde que a gente vai, sabe?!

Jaqueline: E se a gente [referindo-se a Educação Infantil] encaminha pra um posto ela vai conseguir um ano

depois, dois.

Luiza: Tem isso do Fundamental. Eu sou pedagoga com habilitação em Orientação Educacional, pelo que foi

me passado, nós como orientadoras nunca poderíamos fazer um encaminhamento dizendo “Olha a gente encaminha pra psicólogo, pra fono”, não, a gente encaminha para o pediatra e em anexo coloca o relatório de avaliação daquela criança. E entrando para o Fundamental eu me deparei com “Não, a gente tem uma ficha que encaminha…” eu pensei assim “Meu deus do céu, quanto tempo eu perdi?”. Porque assim, têm crianças que a gente acaba criando vínculo com as famílias. Quantas mães vão lá e dizem “Meu Deus, agora meu filho foi pro 3° ano e ele não vai ser aprovado porque ele ainda não sabe ler, ele não sabe escrever” e eu já tinha feito esse encaminhamento lá no Jardim, tinha dito pra essa mãe “Procura porque tem alguma coisa que não tá legal, não é normal, têm algumas coisas que ela já deveria ter superado” e aí a mãe “Ah pois é tá difícil, não sei o que”, entra no Ensino Fundamental até se darem conta já passou um ano e vai ficando. E essa criança? Ela vai ficar assim sempre a margem?

Catharina: Vai ficando em termos de que? Luiza: De conhecimento, de cognitivo.

Jaqueline: A rede de apoio funciona pra apoiar a produção desses conhecimentos? Na construção desses

conhecimentos, na opinião de vocês, é isso?

Luiza: O que a gente gostaria é que a nossa rede de apoio ela conseguisse chegar também nas escolas de

Educação Infantil pela porta da frente. Sabe aqueles casos, por exemplo, nós temos as assessoras da educação especial e quando elas vão na escola a gente coloca para elas a situação, só que tem coisas que fogem do trabalho delas, porque é uma questão mais assim, de um encaminhamento para um pediatra e tal. Outra coisa, a questão das visitas, a gente não consegue mais fazer porque a nossa carga horária é tão fechada e o nosso acúmulo de trabalho é tão grande que nós não temos assim dois ou três dias pra fazer uma visitação em um posto, em um CRAS. Ou a gente vai com as crianças tudo ou não vai.

Valentina: Essa questão que a Luiza traz da assessoria especial, né, que parece que acabou agora, na SMED não

tem mais o setor. Isso foi assim, eu sei que não é a nossa discussão, mas eu acho importante trazer porque é uma comparação que eu faço tendo vivido as duas realidades de Educação Infantil, em escola de Ensino Fundamental do município e em Educação Infantil na escola de Educação Infantil. A escola de Ensino Fundamental tem a

SIR,39 então essas crianças com alguma limitação, elas são atendidas pela SIR e a SIR tem toda uma questão de

encaminhamentos para neuro, para psicólogo, para fono, fisio... Então essa criança tem todo um apoio e daí é desde a criança da Educação Infantil, então pega tudo. E a gente quando está lá na Infantil não, a gente tá lá com aquela criança, a gente não tem qualificação porque acabaram também com os educadores especiais. Acabaram com a habilitação que tinha do curso de graduação, a gente não tem mais as pessoas especialistas, a gente recebe às vezes uns estagiários da Educação Especial, mas que eles são da História, da Matemática.

Luiza: Mas eu estou agradecendo porque as últimas de Pedagogia que eu tive dá vontade de jogar na parede e

eles, tô com dois meninos lá fantásticos. Meu deus, o trabalho que eles fazem, eu digo “Olha meninos, vocês vão ser ótimos professores”, porque eles têm um cuidado, eles têm uma atenção, eles sentam, eles brincam com as crianças, coisas que pedagogas não faziam, de sentar no canto e ler. Teve uma, o auge, porque ano passado a gente teve e eu prefiro não ter estagiário, ela comeu o lanche do menino. O menino trazia, a mãe fazia o lanche e o guri não quis comer, sim, autista, celíaco, aquela coisarada toda, imagina aí “Ai mas ele não quis”, “Mas tem que voltar pra casa pra mãe saber o quanto…”, “Ah é”. Gente, sabe?! Enfim, estou contando isso para dizer que não tem mais esse profissional.

Valentina: Então, é o que a gente tem, sabe? Então a Educação Infantil não tem. Tem as assessoras, mas eu

acho que eu vi as assessoras da especial umas três vezes esse ano lá na escola e a gente tem crianças que precisam muito de uma atenção. E a gente faz o que com essa criança? Que inclusão é essa que a gente não sabe o que faz com essa criança? Vai passando, vai passando, os dias vão passando, os anos vão passando e a criança vai chegar no Fundamental como? Vai chegar no 3° ano como? Como que a gente vai entregar? Porque a gente se preocupa como que a gente vai entregar, porque a gente está vendo que a gente precisa fazer alguma coisa com aquilo ali. E a Educação Infantil é de competência do município e o município não tem esse olhar para a Educação Infantil porque a Fundamental tem, porque o PIM PIA tem e a Educação Infantil não tem.

Leila: E a impressão que eu tenho é que cada vez menos eles estão tendo esse olhar. Então agora esse ano então... Luiza: E essa criança vai chegar no Ensino Fundamental e não vai ter as questões que não são especificamente

de aprendizagem, é de tudo. É na qualidade de vida, é nas relações, o sofrimento quanto às dificuldades que ela vai enfrentando, é tudo.

Ao comentar o filmete institucional do PIM PIA Porto Alegre, as professoras vão dizendo que não reconhecem a articulação entre serviços que o programa expressa. Elas dizem que, como professoras nas escolas onde trabalham, não reconhecem uma rede articulada de Atenção à Primeira Infância, e sinalizam que tampouco as famílias que elas recebem nessas escolas reconhecem ou acessam essa rede nesses moldes de pleno funcionamento. A seguir apresento o diálogo que segue entre elas, a partir da minha mediação:

Catharina: Vamos recuperar uma coisa que a Valentina estava dizendo. Vimos o filmete institucional do Pim

Pia e vocês dizem que ele mostra uma rede de apoio. E vocês estão dizendo que a gente, na escola, não vê esse apoio, pelo menos na escola infantil, isso? Mas vamos pensar assim: a criança está conosco na escola e eu acredito que vocês desenvolvem, que nós desenvolvemos, determinados trabalhos com essas crianças, nós trabalhamos com essas crianças. Talvez não com a qualidade, quero dizer, vocês estão me anunciando que não com a qualidade que vocês gostariam de desenvolver, que seria com essa rede, mas vocês fazem coisas e eu gostaria que vocês pudessem me dizer o que fazem. Porque aí tu (apontando para Valentina) estavas dizendo “Ela vai passando”, o que é esse “ela vai passando”? Porque vocês não têm a qualidade que gostariam de ter, mas vocês trabalham. E aí qual é esse parâmetro? Quais são as decisões que vocês vão tomando dentro dessa situação que é ter as crianças na escola, mas sem o apoio como vocês dizem?

Maria Luiza: A nossa realidade lá, a gente sente a falta de apoio e de parceria das próprias famílias. Porque são

famílias despreparadas, né, então tem crianças, claro que não são todos, não dá pra generalizar, mas tem crianças que entram lá na escola, por exemplo, é a partir de Maternal 1, entra no Maternal 1 fica M1, M2, Jardim A e Jardim B, quatro anos com a gente e desde o M1 tu vai olhar a pasta da criança no arquivo e são N registros, N atas, várias. Porque a gente chama a família, a gente dá um encaminhamento, tem famílias que dizem para nós “Eu não vou levar, eu vou guardar, eu vou rasgar”.

Catharina: Então, em geral, vocês chamam as famílias para?

Maria Luiza: Para conversar, para orientar, para ver possibilidades com essa família de uma busca de uma

ajuda, visando o melhor para a criança. E tem famílias que não [ela não completa a frase].

Luiza: Não é 100%, mas um número razoável acontece isso. E assim ó, eu estou também participando, vou

começar a participar mais efetivamente da redinha, eu não sei se vocês conhecem as redinhas.

Maria Luiza: A gente teve até problemas com a redinha lá na escola, porque uma das pessoas que estava na

reunião conhecia determinada família que foi citada e a família citada soube, não foi ético. Desde então a gente tem uma restrição com a redinha. Porque a gente não passou por uma boa experiência.

Luiza: É, nós, assim, começamos o nosso trabalho, porque a escola tá do lado do CRAS, então nós começamos

também.

Catharina: Do lado, fisicamente tu dizes?

Luiza: Sim, é. E nós começamos com uma estagiária de assistência social, com um trabalho que ela queria

dessas questões para saber como era alimentado o sistema de informações dessas famílias beneficiárias. Então a família que tenha o Bolsa Família, como é que é? Como é que acontece? E a gente descobriu que é muito estanque, a saúde faz uma coisa, a escola faz outra e o CRAS faz outra. E aí a gente detectou nessas conversas que as famílias já sabem dar respostas convenientes a cada instituição. Por exemplo, a criança não está indo à escola, o CRAS chama porque recebeu lá na escola as faltas, aí a família vai lá, vai perder o benefício, “Não, é que ele estava doente”, “Mas vocês não falaram?”, “Não, é que eu estava sem passagem pra ir pra escola”. Aí tá, a escola então que não ligou para essa família, aí quando a escola chama, “Porque que está faltando?”, “Aí ele tá sem passagem, alagou a casa”. Tá, então quer dizer, era uma família para estar nos programas de habitação e tal. Aí vão os agentes de saúde, “Tá, essa criança tá doente aqui ó, teve tantas entradas lá no posto por pneumonia, por não sei o que, não sei o que”, “Ah, é porque o Bolsa Família foi cortado”. Então assim ó, eles para cada um sempre se vitimando e quando começa a apertar fogem como foi um caso que a gente tá trabalhando de uma criança, irmão de um dos nossos, que sofreu fratura na perna por violência. Quando se começa a perceber, eles não vão mais no posto referência, eles começam a levar em outros locais, porque se fosse no posto já puxa toda a ficha, a criança ficaria lá e a mãe ficaria. Não, ela foi no pronto socorro, saiu lá da Cruzeiro. No pronto socorro acharam aquilo meio estranho, fizeram o procedimento, mas estava na entrevista ali e ela simplesmente pegou a criança e foi para a praia. Só que, que bom que lá na praia, o Conselho Tutelar de lá, porque precisava tirar a tala e aquela coisa, foi no posto e o Conselho Tutelar ligou para Porto Alegre, porque pelo endereço conseguiu localizar. Então assim ó, essa criança hoje está abrigada. A gente tem todas essas coisas que as famílias também já sabem como responder para nós algumas coisas do tipo “Eu vou rasgar”.

Catharina: Mas aí de alguma forma o teu exemplo nos traz uma situação de um atendimento que funcionou, de

certa forma. Porque essa família foi num lugar, bom ela sabia dar a resposta, mas se deparou com um profissional atento que disse “peraí”, aí ela foge, quer dizer, ela viajou, ele teve que sair do seu lugar, ela foi para a praia e mesmo na praia foi acionada. Então de certa forma funcionou. Vamos pegar esse exemplo para a gente pensar dentro disso, qual seria, no nosso entender, a função da escola?

Luiza: De manter todas essas pessoas de proteção, Conselho Tutelar e tal, informados, só que o que que

acontece? Os dois irmãos, que atualmente vivem com o pai, pois quem agrediu foi a mãe, um dos meninos quando foi visitar a mãe, ele levou uma queimadura aqui atrás, que é o nosso aluno e tem toda uma situação que é do grupo dos moradores de rua, o Ação Rua, que agora eles estão praticamente evadidos da escola e a gente não consegue contato. Nem o pessoal do Ação Rua consegue contato com eles, ninguém consegue. E são duas crianças, uma do Jardim e uma do primeiro ano. Irmãos desse pequenininho de dois aninhos que teve a perna quebrada. Teve que acontecer uma tragédia, sabe Catharina? Porque assim, houve uma agressão, houve um boletim, sabe? Um boletim de saúde e depois isso acontece de novo.

Catharina: E a escola já antes de acontecer essa tragédia, a escola já percebia que uma tragédia estava

Luiza: Nós até que não porque a gente não tinha todo esse retrato, mas as políticas públicas que chegam até essa

família através do Ação Rua, através do Conselho Tutelar, já deveriam ter… Só que é muito complicado porque é aquilo que eu falava lá no começo, são questões culturais né, são arranjos. Por exemplo, a questão com os moradores de rua é muito complexa, é muito complexa. A gente não vai mudar eles, “Ah eles vão ter uma casinha”, não, a gente tem que respeitar. Mas as crianças precisam ser olhadas como crianças de direito e também precisam entrar em contato com seus pais, todas aquelas N questões.

Catharina: Então eu queria resgatar com vocês esse exemplo de uma certa rede que funcionou, embora tenha

funcionado quando aconteceu uma tragédia. Antes as gurias aqui trouxeram os exemplos que, diferente das visitadoras do PIM, na escola nós atendemos um grupo maior de crianças. Nesse coletivo, então, se nós vamos percebendo que as crianças têm algumas necessidades, se a escola de alguma forma está vendo que alguma coisa ali tá mal, a escola está lançando esse olhar. “Hum, tem uma coisa aqui que tá mal com essas crianças, com essa família”, o que se faz? E aí a escola não sabe direito o que fazer, embora tenha conselho escolar, as restrições com a redinha, as estratégias para cessar infrequências. Só que a criança não está bem, talvez não esteja aprendendo, está na escola, mas ela não tá sendo incluída, estamos percebendo que não está sendo cuidada. E aí, bom, não tem apoio, como vocês falaram, mas isso vai acontecendo, vai aparecendo no dia a dia da escola para vocês. Isso que a gente tem que ir de alguma forma dissecando, o dia a dia da escola é o nosso dia a dia como professor e como professora. Então eu queria que pudessem, e também...

Luiza [interrompendo]: É das 8h da manhã até o meio dia, das 8h da manhã até as 17h ou das 7h da manhã até

as 19h, quando não tem que levar em casa, né?

Catharina: É. E aí assim, como colega de vocês, eu tenho certeza que embora essas dificuldades, vocês fazem

coisas. E aí eu queria que vocês, que a gente pudesse contar um pouco disso, do que a gente faz, uma vez inseridas dentro dessa rede que ora existe, que ora não existe nas palavras de vocês. Qual é a demanda da professora e do professor na Educação Infantil frente a essas situações? O que é do nosso escopo?

Jaqueline: O que eu acho mais distante, Catharina, é como esse fazer é diferente inclusive com os profissionais

com quem a gente trabalha, né, porque muitos a gente observa. No berçário a gente observa muitas situações, com essa perda de benefícios e de coisas, nós já tivemos bebê em situação de rua, né, porque o casal recebia o benefício e foi eliminado lá um grupo do CRAS, eles perderam o vínculo, perderam o aluguel, foram despejados