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A VOZ DE BRASÍLIA: ESTATAL E/OU PÚBLICO

Uma onda de novas emissoras, nascidas sob a tutela do Estado e custeadas com recursos públicos, começou a se materializar no Brasil, a partir de janeiro de 1997, com o surgimento da Rádio Senado-FM (91,7 FM), em Brasília, dois anos após a promulgação, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, da chamada Lei do Cabo (Lei nº 8.977/95), que regulamentou o serviço de transmissão de TV a cabo no país e instituiu, em seu artigo 23, um grupo de canais de utilização gratuita a ser operado por órgãos do poder Executivo, Legislativo e Judiciário, em nível federal, estadual e municipal, bem como por universidades e entidades comunitárias, que trazem “em comum o fato de se apresentarem como contraponto à TV de exploração comercial” e de possuírem “características muito diferenciadas no que refere-se à construção, consolidação, à própria identidade percebida socialmente” (COUTINHO, 2013, p. 22).

Sob essa nova regra, coube ao Senado Federal o pioneirismo de instalar, em fevereiro de 1996, a primeira emissora de TV legislativa de alcance nacional do país. A Câmara dos Deputados só instalou sua TV Câmara um ano depois, em janeiro de 1998. Coube, também, ao Senado a primazia de instalar a primeira emissora de rádio legislativa de Brasília, em janeiro de 1997, que passou a dividir o éter da capital federal com outras emisoras mantidas pelo Estado, como a Nacional AM (980 KHz) – que já realizava suas transmissões desde 1958, antes mesmo da inauguração de Brasília, em 1960 –; a Rádio MEC- AM (800 KHz), que chegou em 1961; e a Nacional FM (96,1 KHz), a primeira emissora em Frequência Modulada de Brasília, que opera desde 1976.

A partir dos anos 2000, intensificou-se a instalação de emissoras institucionais em Brasília, vinculadas a instituições do Estado. O Poder Judiciário instalou sua emissora em maio de 2004, a Rádio Justiça, vinculada ao Supremo Tribunal Federal. No âmbito do Poder Executivo, o Ministério da Defesa foi o primeiro a investir na radiodifusão, com a instalação da Rádio Verde Oliva, do Exército Brasileiro, em junho de 2002; seguida pela Rádio Força Aérea (91,1 FM), ligada à Aeronáutica, em abril de 2009 (HAESER, 2011); e a Rádio Marinha, em 2011.

Primeira emissora estatal desvinculada do Poder Executivo a entrar em operação na capital federal, a Rádio Senado-FM, foi fundada durante a presidência de um senador que,

devido à sua condição de jornalista e empresário da mídia16, reconhecia a força do rádio para a construção da imagem pública: o ex-presidente da República José Sarney. Desde 29 de janeiro de 1997, a Senado-FM transmite seu sinal para o Distrito Federal e cidades do entorno, em FM; e também para todo o país por uma estação de Ondas Curtas, sintonizada na faixa de 49 metros (6.190 KHz) e via satélite, desde a sede do Congresso, para treze capitais17 do país.

O desejo de dotar o Senado de uma emissora própria para divulgar as atividades dos senadores vinha sendo alimentada há quarenta anos. Ainda na década de 1960, ocorreu uma primeira tentativa de se instalar uma rádio no Senado, que acabou sendo atropelada pela edição do Ato Institucional nº 5, em 1968, que fechou o congresso. Somente na década de 1990 é que esse sonho começa a se tornar realidade, como parte de um amplo processo de reestruturação da Comunicação Social do Senado, capitaneado pelo experiente jornalista Fernando César Mesquita, que criou o Jornal do Senado (1995), de circulação diária; a TV Senado (1996), para transmissão das sessões e do trabalho dos senadores nas comissões técnicas e no plenário; a Agência Senado de notícias; e a Rádio Senado (1997).

Segundo Rodrigues (2005, p. 16), a função dessa rede de veículos era “levar à sociedade as informações dos trabalhos dos senadores e amenizar o impacto das notícias publicadas na imprensa tradicional credenciada para a cobertura jornalística na Casa”. Sem papas na língua, Fernando Cesar Mesquita é mais direto quando revela o verdadeiro motivo para a instalação dessa estrutura própria de comunicação do Senado:

Com minha experiência de repórter no Congresso, não só vivendo como jornalista no dia-a-dia, no (jornal) O Estado de São Paulo – onde eu fui repórter, chefe de reportagem e chefe de redação – e como coordenador da cobertura política do Jornal do Brasil, sempre em Brasília, eu sabia da realidade da cobertura que se fazia em relação do Congresso que era péssima… então a imprensa dá muito mal o que acontece no Congresso. Só divulga aquilo que é ruim. As coisas que são realmente importantes, que mexem com a vida das pessoas, da cidadania, do país, elas não são divulgadas. A ideia é a gente mostrar para as pessoas, para o cidadão, para o eleitor que o Congresso tem gente realmente que não tem qualificação, mas é culpa de quem?... do eleitor. Tem gente que não tem qualificação que está lá e que já havia no passado. Existe hoje e talvez muito mais no futuro… Mas há gente muito boa, gente muito séria e o papel institucional, o papel para a democracia que a Câmara e o Senado representam é fundamental… (MESQUITA, 201718).

16 A família Sarney controla o sistema Mirante de Comunicação, composto pelo jornal O Estado do Maranhão, a

TV Mirante (afiliada à Rede Globo), com uma emissora em São Luís e cinco repetidoras no interior do estado, além de mais de uma dezena de emissoras de rádio.

17 Segundo a agência Senado, existem 16 outorgas concedidas ao Senado Federal pelo Ministério das

Comunicações, mas apenas dez emissoras foram instaladas, a saber: em Natal (RN), Cuiabá (2009); Fortaleza (2010), Rio Branco (2011), Teresina (2012), Manaus (2012), João Pessoa (2013), Macapá (2014) e São Luís (2014).

Ao assumir a presidência do Senado, em 2006, o senador Renan Calheiros – que também controla emissoras de rádio em Alagoas – iniciou um esforço de expansão do sinal da Rádio Senado por meio da criação de uma rede que previa a instalação de emissoras de FM em quinze capitais, sendo Maceió (AL) a primeira na qual seria instalada a repetidora, seguida de João Pessoa (PB), Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Cuiabá (MT), Macapá (AM), Palmas (TO), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Campo Grande (MS), Manaus (AM), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Rio Branco (AC) e Rio de Janeiro (RJ). No documento que enviou ao Ministro das Comunicações solicitando as concessões, Calheiros justifica sua intenção garantindo que, com essa rede de rádios, “o Senado Federal capacita-se a ampliar sensivelmente sua interatividade com a população brasileira, o que certamente representará notável contribuição para o fortalecimento da cidadania e a consolidação da democracia em nosso país” (RODRIGUES, 2005, p. 21).

Como se viu, Natal não fora incluída na lista inicial de cidades prioritárias para a instalação do sinal da Rádio Senado, entretanto, quando o senador potiguar Garibaldi Alves Filho sucedeu Calheiros, modificou a lista de prioridades e substituiu a Maceió do ex- presidente pela capital do Rio Grande do Norte, Natal, que se tornou a primeira do capital país a receber uma retransmissora da Senado-FM fora de Brasília. A Rádio FM-Senado Natal (106,9 FM) foi instalada em 2008, numa parceria operacional com a Universitária-FM, que cedia seus equipamentos de retransmissão, diferentemente do que ocorreu em outros estados, onde a emissora do Senado opera em parceria com as Assembleias Legislativas dos estados.

Vinculada à Secretaria de Comunicação do Senado, a Senado-FM conta com 60 colaboradores, “mais da metade jornalistas, que não estão necessariamente falando, tem muita gente na produção, inclusive na rádio agência. A gente está investindo muito na rádio agência porque ela nos dá uma capilaridade e na nossa rede, hoje nós temos dez emissoras no ar”, revela o diretor da Rádio Senado, Marco Antônio Reis (2017)19. Essa equipe produz 24 horas diárias de programação, cujo objetivo prioritário é a transmissão ao vivo das sessões plenárias e das reuniões das comissões. Segundo Marcos,

[...] prioritariamente, as reuniões das comissões acontecem de manhã. As comissões que fazem reuniões deliberativas (nas quais haverá votação de projetos) têm prioridade, é regimental. A gente tem que cobrir a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) às quartas, a CAS (Comissão de Assuntos Sociais) às terças… elas têm dias fixos, a não ser que hajam reuniões extraordinárias e a programação espelha isso. O plenário é, prioritariamente, à tarde, e ele tem prioridade sobre tudo, tanto é que na hora da Ordem do Dia do plenário não pode ter nenhuma comissão se reunindo. É assim que a gente faz o ao vivo. É raro acontecer de duas comissões estarem

reunidas e nenhuma delas estar sendo deliberativa. Se isso acontecer, a gente vai usar o critério jornalístico (REIS, 201720).

Além de suas transmissões locais, que podem ser ouvidas em Brasília e nas cidades do seu entorno, e das capitais onde já foram instaladas suas retransmissoras, o sinal da Senado-FM pode ser captado em todo o país, via satélite, por meio de antena parabólica, pelas ondas curtas na internet. Nos estúdios da Senado-FM, instalados em um dos anexos do edifício do Congresso Nacional, na Esplanada dos Ministérios, são produzidos e gerados boletins de áudio para a própria emissora e, também, para outras rádios por meio de ligação gratuita e download da página do Senado na internet (Radioagência). As notícias veiculadas no serviço de som do Senado (Dim-Dom) e as edições do Jornal do Senado são veiculadas durante A Voz do Brasil.

A coordenação da rede de rádios do Senado é hoje um dos maiores desafios dos gestores da emissora, em Brasília. Exceção feita à retransmissora da Senado-FM, em Natal, que retransmite, via satélite, sem qualquer interferência local, a programação gerada dos estúdios de Brasília. As outras retransmissoras, instaladas nos outros estados do país, operam em parceria com as Assembleias Legislativas e sofrem interferências constantes em sua programação de rede. Há casos em que o motivo é a transmissão das sessões legislativas do parceiro local, mas há casos em que a retransmissora tem seus horários ocupados por programas locais, de cunho comercial ou de proselitismo político. O próprio diretor, Marco Antônio Reis (2017)21, reconhece a “dificuldade de grande presença, de monitorar o que é feito na rede, porque a gente não está lá, esse é um ponto fraco nisso que é prioritário”.

A programação da Senado-FM tem nas sessões e nos debates nas comissões seu carro chefe. Fora isso, a emissora produz vários programas jornalísticos e entrevistas com senadores, notas e flashes dos repórteres que cobrem o dia a dia do Senado e produções informativas e explicativas das propostas de lei que estão sendo discutidas no parlamento. Nos horários em que não está divulgando trabalho dos senadores e da mesa diretora, momento raro em sua programação, a Senado-FM completa sua grade com música brasileira de todos os gêneros e estilos, programas literários e reportagens especiais. Nos intervalos dessa programação, a Senado-FM transmite spots educativos e de utilidade pública, além de mensagens sobre os serviços do Senado.

A ideia inicial era que a programação da Senado-FM se espelhasse no modelo personificado pela Rádio Jornal do Brasil (JB-FM), do Rio de Janeiro, que marcou época com

20 Informação verbal, disponível na íntegra no Anexo C. 21 Idem.

seu estilo sóbrio, porém, informal22. O chamado estilo JB, a que se refere Fernando Cesar Mesquita, foi criado em 1959, pelo jornalista Reinaldo Jardim, que acrescentou à sua programação voltada para as classes A e B, na qual música e notícia se complementavam (FERRARETTO, 2000), o Serviço de Utilidade Pública, criado com o “objetivo de reestabelecer o diálogo com os ouvintes, inicialmente [...] divulgando notas de achados & perdidos. Posteriormente os serviços vão se ampliando, chegando a criar setores esclusivos dentro das emissoras” (ORTRIWANO, 1985, p. 22-23).

Em depoimento ao pesquisador, o atual diretor da Rádio Senado, jornalista do quadro da instituição, Marco Antonio Reis, confirma essa inspiração, mas defende a exclusividade do estilo adotado pela emissora:

[...] eu conheço bem o padrão da Rádio Jornal do Brasil e pode-se dizer que sim. A gente tem uma certa sobriedade… Eu acho que é muito sui generis tudo isso que a gente faz aqui. A gente não encontra muito paralelo, tem, óbvio, a Rádio Câmara que faz mais ou menos a mesma coisa, mas nas emissoras comerciais não tem tanta comparação. A gente é uma rádio de notícias e música, e uma grande programação ao vivo que são as sessões, que é um diferencial que só a gente tem… (REIS, 201723).

Conceitualmente, tanto a Rádio Senado quanto a TV Senado se espelham em outro modelo de emissora, os canais da C-SPAIN, do Congresso dos Estados Unidos, que Fernando Cesar Mesquita conheceu pessoalmente durante a implantação das emissoras do Senado brasileiro:

[...] eu fui para os Estados Unidos com um rapaz que era da comunicação e nós ficamos lá uma semana vendo como é que funcionava a comunicação do congresso americano, porque eles têm a C-SPAN 1 e C-SPAN 224 e todos os outros meios que eles utilizam para divulgar o poder legislativo e o governo; e, voltando ao Brasil, começamos a fazer. [...]. Tinha apenas a Voz do Brasil (o noticiário do Congresso), aí o que eu fiz? Chamei uma equipe de pessoal qualificado, técnicos e gente competente, aí detalhamos o projeto da rádio, conseguimos a concessão… tudo era uma guerra! (MESQUITA, 201725).

22 Em verbete do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, Maria Ester Lopes Moreira explica que a rádio Jornal do Brasil adotou como marca, desde sua instalação, a seleção cuidadosa das músicas veiculadas em sua programação. Inicialmente, a emissora só tocava música clássica e óperas, executadas ao vivo em seus estúdios, e música brasileira. A partir do início dos anos 1960, a rádio JB estruturou sua programação no binômio música e informação e padronizou a locução de seus profissionais tomando por modelo a voz de Luiz Jatobá. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Rádio Jornal do Brasil AM. 2009. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/radio-jornal-do-brasil-am. Acesso em: 9 set. 2018.

23 Informação verbal.

24 A C-SPAN é uma empresa privada de fins não lucrativos, criada em 1979, pela indústria da TV a cabo, como

um serviço público. Segundo o site da emissora, a missão do canal é “oferecer acesso público ao processo político. A C-SPAN não recebe financiamento do governo. O funcionamento da TV é pago pelas afiliadas do serviço de cabodifusão e satélites que apoiam a programação a programação da C-SPAIN (BARROS et al., 2007).

Segundo Rodrigues (2005, p. 18), os critérios editoriais adotados pelos veículos do Senado Federal foram regulamentados pelo Ato nº 15 da Comissão Diretora, de 2002, e definem o tratamento a ser dispensado pelos veículos aos senadores e à cobertura dos trabalhos da instituição: “as notícias veiculadas ‘terão caráter apartidário, imparcial e não opinativo’ e que ‘os senadores receberão tratamento equânime’, na cobertura das atividades legislativas”. Essa linha editorial, mantida até os dias atuais, foi definida por Fernando Cesar Mesquita no início do projeto:

Isenção, imparcialidade... nenhuma dessas mídias era para promover pessoalmente ninguém. Era para promover a instituição e a figura institucional do parlamentar pelo trabalho que ele fazia, não era possível fazer qualquer tipo que caracterizasse privilégio de A, B ou C… Isso até hoje tem se mantido. Se aconteceu tem que ser divulgado. Já houve vários problemas em relação a isso, porque algumas pessoas não entendiam que a gente não fizesse qualquer tipo de censura… Nós não censurávamos nada, saía tudo, tudo mesmo (MESQUITA, 201726).

A busca por essa sensação de equilíbrio na cobertura da Rádio Senado, no entanto, nem sempre espelha a realidade. Há senadores mais atuantes e outros mais discretos, os espalhafatosos e os que fazem de tudo para não ser percebidos no plenário ou nas comissões, preferindo a discrição dos bastidores. Como lidar com essas diferenças na cobertura da rádio é o desafio enfrentado pela equipe de profissionais liderada por Marco Antonio Reis:

[...] aqui a gente procura dar espaço para todos os senadores, mas, óbvio, que aqueles que têm uma produção legislativa mais alentada, que participam mais dos debates tendem a aparecer mais. [...]. Por exemplo, às vezes, a oposição é mais estridente e, na hora do voto, ela perdeu, mas a gente tem a voz da oposição se manifestando, mas ela não se refletiu na votação. E como a gente prioriza as decisões, isso acaba gerando uma cobertura que não espelha o que realmente aconteceu (REIS, 201727).

Embora a transmissão dos debates e as votações realizadas no plenário sejam prioridade na pauta de coberturas da Rádio Senado, por se tratar da principal arena do legislativo, existe outro trabalho realizado pelos senadores que merece atenção especial no registro e na divulgação da emissora: o trabalho nas Comissões, em que parlamentares e convidados tratam de temas de interesse da sociedade, relacionados a projetos e propostas em discussão ou em vias de votação, que geram informações importantes para o noticiário da rádio e prestam um serviço ao ouvinte-eleitor, explicando questões que nem sempre podem ser aprofundadas nos debates em plenário, como relata Marco Antonio Reis:

26. Informação verbal. 27 Idem.

As comissões fazem muitas audiências sobre assuntos que não são necessariamente projetos, porque elas expandem um pouco a mera discussão dos projetos. A gente tem um tema qualquer… por exemplo, a PEC dos Gastos Públicos. Ela foi aprovada por ampla maioria, no entanto, a nossa cobertura tem a mesma voz contra e a favor, porque ela espelha o que foram os debates. Não é porque uma posição foi majoritária na casa que a gente não mostre. Nesse sentido, enriquece a cobertura. Sob certo aspecto, a gente faz até um jornalismo mais plural, embora não se perceba isso, do que a mídia privada que, para determinados temas, esse, por exemplo, você não viu o debate. Se você pegar outras emissoras comerciais grandes, aí era pensamento único em relação a esse ponto específico de que nós estamos falando. Se a oposição não tivesse se manifestado, ela não apareceria, porque a gente não provoca, a gente reflete o que acontece. Aí a cobertura pode não refletir necessariamente a correlação de forças (o resultado da votação), ela reflete o debate (REIS, 201728).

O desafio de conquistar audiência com sua programação, apesar de esse não ser o foco principal da atuação dessas emissoras não comerciais, não deixa de ser um assunto incômodo, principalmente quando esse critério é utilizado pelos críticos para acusar as emissoras estatais de caras e desnecessárias. Do alto de sua experiência de pai da mídia legislativa brasileira (condição sugerida pelo pesquisador e prontamente aceita por ele), Fernando Cesar Mesquita é taxativo:

Isso aí é muito discutível, porque a audiência aqui é muito segmentada. Dona de casa, por exemplo, quer ver a novela e outro grupo quer ver notícia policial… aqui em Brasília, você tem uma quantidade enorme de canais… universitários, da teosofia, dos poderes. Então, você tem aqui uma segmentação muito grande e o público que vê TV Senado realmente é o que está interessado em política, em governo… (MESQUITA, 201729).

Marco Antonio Reis segue na mesma trilha de Mesquita e reconhece que, apesar de não contratar pesquisa de audiência das emissoras de Brasília,

[...] a gente sabe que a gente está relativamente bem colocado entre as públicas, perde para a Verde Oliva (que é muito mais música, música um pouco comercial, isso só em Brasília, mas a gente sabe que a nossa função primeira não é disputar audiência. A gente tem um serviço público a prestar, mas óbvio que a gente quer audiência, mas aqui não se faz tudo pela audiência (REIS, 201730).

Uma questão que também merece destaque na análise sobre a Rádio Senado é o caráter público de suas transmissões. Será que na visão de seus gestores essa instituição se considera uma emissora do chamado campo público? Marco Antonio Reis tenta desconversar ao ouvir a pergunta do pesquisador: você acha que a Rádio Senado é uma emissora pública?

28 Informação verbal. 29 Idem.

Só faz pergunta difícil, né… [risos]. Não. Eu acho que ser uma rádio pública é o norte, mas a gente hoje é uma emissora mais estatal do que pública, com características próprias porque, como é da natureza do parlamento a diversidade, a gente espelha um pouco isso. Então, a gente é menos uma emissora de governo, mas a gente não é uma emissora pública, porque a cadeia de comando toda vem da mesa do Senado31. A direção da Rádio é nomeada pela hoje Secretária de Comunicação do Senado, que é um cargo diretamente indicado pelo presidente. A gente não tem uma independência funcional neste sentido, o que seria o que a gente espera de uma emissora pública, com mandato. Está longe disso. A gente procura fazer um jornalismo de prestação de serviço público, um radiojornalismo que leve em consideração as demandas da democracia. A gente leva isso bem a sério realmente (REIS, 201732).

Já o veterano Fernando Cesar Mesquita é direto em sua resposta à provocação do pesquisador. Para ele, a Rádio Senado “não é PBS, como nos Estados Unidos, que é diferente […] na Inglaterra é diferente. Aqui não. Aqui você pertence àquela instituição, faz o papel que é capaz de fazer para divulgar o que é necessário do trabalho daquela instituição, daqueles que a integram” (MESQUITA, 201733). Se não é reconhecida por seus próprios gestores como pública, então a Senado-FM pode ser classificada como uma emissora estatal, de acordo com o modelo desenvolvido por Bucci (2013), já que é mantida com recursos do Estado e dirigida por um dos poderes da República.

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