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RÁDIO 88,9: UNIVERSITÁRIA-FM

A radiodifusão universitária do Rio Grande do Norte nasceu em 1972, com a instalação da Televisão Universitária (TV-U – Canal 5), um marco do pioneirismo na transmissão de sinais de TV do estado, sendo sua utilização com fins instrucionais e sem interesses comerciais. Essa foi uma iniciativa do Projeto de Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), com o objetivo de promover experiências de educação a distância para populações carentes do Brasil.

Em princípio, as aulas e os programas eram gravados em videotape, primeiro, na sede do INPE, em São José dos Campos e, depois, em Natal. Esse material era transmitido por meio de uma rede de repetidoras de micro-ondas para o interior do estado e captado em várias salas de aula equipadas com aparelhos receptores de TV e de rádio. As teleaulas ganhavam, também, uma versão para rádio66, sendo distribuídas e veiculadas em várias emissoras nos municípios atendidos pelo projeto (PAIVA, 2013).

Além de formar professores leigos por meio de suas teleaulas, principalmente no interior do estado, embora esse não fosse seu objetivo inicial, a TV-U teve papel importante na formação de público para a produção e o consumo de conteúdo local de TV. Ademais,

66 Há que se registrar, a bem da verdade, que coube às Escolas Radiofônicas implementadas a partir da década de

1960, pela igreja católica, reunindo emissoras em Natal, Mossoró e Caicó, o pioneirismo no uso do rádio para fins educativos.

contribuiu para a qualificação da mão de obra especializada que, depois, passou a atuar nas emissoras comerciais, a partir da instalação da TV Ponta Negra, em 1987, primeira emissora comercial do estado. Para Pedroza (2017, p. 152), “além de ensinar tantos profissionais a fazer TV, o Canal 5 também nos ensinou a ver TV e, principalmente, a nos ver na TV”.

Apesar desse pioneirismo da TV-U, a primeira emissora de rádio do campo só foi instalada no início do século XXI, com a Rádio Universitária (88,9 FM), em dezembro de 2000. Isso se deu seis décadas após o surgimento do rádio nas terras potiguares, quarenta anos depois da chegada da primeira emissora de FM à capital, Natal, e dezenove anos depois da inauguração da TV-U. A Rádio Universitária (88,9 FM) foi instalada na sede da Superintendência de Comunicação (Comunica), estando institucionalmente subordinada a essa unidade, juntamente com a TV-U e uma agência de comunicação (Agecom). A rádio está localizada no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, embora vinculada, administrativamente, à Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC), entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que, por sua vez, está vinculada à UFRN.

O sonho de dotar a UFRN de uma emissora de rádio vinha sendo acalentado desde 1968, ano em que ocorre a primeira tentativa, sem sucesso, de se obter uma outorga para o funcionamento de uma emissora vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Dez anos depois, nova tentativa e nova frustração. Outra empreitada em 1996, agora chancelada pela FUNPEC, entidade ligada à UFRN, resultou na outorga da tão sonhada concessão, em 1998.

As transmissões experimentais da 88,9 FM se iniciaram em dezembro de 2000 e a inauguração solene ocorreu em março de 2001 (FREITAS, 2017). A decisão de vincular a concessão da FM Universitária à FUNPEC – e não à estrutura administrativa da universidade – era parte de uma estratégia para permitir o autofinanciamento da emissora, por meio da captação de recursos junto ao mercado publicitário, pela venda de anúncios institucionais e patrocínios, como recorda o professor aposentado Maurício Pandolphi Pereira (2018, Anexo E), primeiro diretor da emissora:

[...] primeiro, a rádio deveria ser, em curto prazo, autossustentável. Isso nos dava um diferencial em relação às outras emissoras. Inédito, porque a rádio, ela tinha que captar recursos no mercado ou através de instituições públicas que pudessem fazer convênios com a universidade. Nós nunca conseguimos fazer convênio com nenhuma instituição pública, porque as que poderiam fazer estavam de olho em ter a sua própria emissora de rádio ou de televisão. A universidade, à época, já com Ivonildo Rêgo (reitor), recebeu a concessão em 1998 e só foi instalar a rádio dois anos depois, porque não tinha recursos.

Os custos iniciais para a instalação da emissora pioneira do campo público em Natal foram arcados pela UFRN, que fez uma dotação orçamentária específica para compra dos equipamentos. Desse modo, assumiu os gastos com a instalação física da emissora, no prédio da Superintendência de Comunicação Social, e o pagamento dos três primeiros meses de salário dos profissionais contratados. Em contrapartida, recorda Pandolphi,

[...] eu recebi a rádio com essa missão: a rádio tem que ser autossuficiente dentro de noventa dias. Estruturamos uma programação de uma rádio da universidade, mas não voltada exclusivamente para os interesses da universidade, voltada para as necessidades da população em termos de comunicação de massa. Esse já era um conceito diferente: para fazer uma rádio autossuficiente voltada para a comunidade, uma prestação de serviços da universidade para a população do Rio Grande do Norte, em especial, da grande Natal, e uma rádio com a obrigação de valorizar a cultura local. Esse era o tripé em termos estruturais da rádio (PEREIRA, 2018).

Na teoria, essa decisão de vincular a emissora à FUNPEC desobrigaria a universidade de bancar o funcionamento da 88,9 FM. Entretanto, garante Maria Gorete Gurgel (2019, Anexo F), atual diretora da Rádio Universitária, “ela nunca se manteve sozinha, nunca, nunca, nunca!... Tudo aqui funcionou em instalações da universidade, a gente tinha funcionários da universidade”. Sob outro aspecto, esse arranjo legal que possibilitaria a captação de recursos no mercado publicitário e em outros entes públicos acabou fechando outra porta para a Universitária-FM: por não pertencer ao patrimônio da UFRN, a rádio é impedida de receber recursos do orçamento da universidade, mesmo instalada no espaço físico do campus e vinculada à Superintendência de Comunicação, que funciona como órgão suplementar e gere a comunicação da UFRN. Essa parceria, observa Gorete Gurgel, muitas vezes atrapalha a gestão da emissora:

[...] a gente acaba não podendo fazer algumas coisas pela universidade para a rádio porque ela, juridicamente, não é da universidade. Se você precisar consertar uma cadeira da rádio, você não consegue, porque ela não tem o tombo da universidade, mesmo tendo aqui na universidade uma estrutura para consertar. [...] chegou a ser proibido se ter funcionário da universidade trabalhando na rádio, porque ela pertencia à FUNPEC, mas depois foi feito um convênio guarda-chuvas que regularizou tudo (GURGEL, 2019).

O fato de a Rádio Universitária pertencer a uma fundação de direito privado que intermedia a entrada de recursos do mercado na UFRN, na prática, não tem impedido a emissora de atuar de forma integrada com a TV Universitária e a Agência de Comunicação (Agecom). Ela também está submetida às diretrizes da Política de Comunicação da UFRN, que definiu três públicos-alvo prioritários a ser alcançados por seus veículos de comunicação:

os prioritários, os preferenciais e os de interesse. A Resolução nº 182/2017-CONSEPE67, de 14 de novembro de 2017, detalha em seu artigo 8º, os perfis desses públicos:

§ 1º São considerados públicos prioritários: docentes do quadro efetivo da UFRN; técnicos-administrativos do quadro efetivo da UFRN; discentes regularmente matriculados; aposentados.

§ 2º São considerados públicos preferenciais: familiares de servidores e de discentes; imprensa, órgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, empresas do setor produtivo; comunidade acadêmica nacional e internacional; instituições parceiras; servidores não-efetivos contratados por terceiros.

§3º São considerados públicos de interesse: sociedade em geral (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2017).

Assim, o público prioritário da Universitária-FM se constitui de um universo formado por 5.500 docentes e servidores técnico-administrativos, dos quais, quase 2 mil são doutores. Ademais, há 43.001 estudantes dos 376 cursos de graduação (presencial e a distancia), da pós-graduação, do ensino médio e infantil68, espalhados pelos sete campi: dois em Natal (Central e Saúde) e outros cinco em Caicó, Currais Novos, Santa Cruz, o Campus do Cérebro e a Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba. Além dessas unidades de ensino presencial, segundo o Plano de Desenvolvimento Institucional 2010-2019 (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010), a UFRN mantém 15 polos presenciais de apoio à educação a distância.

Na modalidade de ensino médio, cursos são oferecidos na Escola de Enfermagem, Escola de Música e a Escola Agrícola de Jundiaí. A instituição oferece, ainda, educação infantil por meio do Núcleo de Educação Infantil/Colégio de Aplicação. Ademais, há um sistema de bibliotecas com vinte unidades – uma central e 21 setoriais69. Na área de saúde, conta com um Núcleo de Pesquisa em Alimentos e Medicamentos, que produz, distribui e comercializa medicamentos e insumos para programas governamentais e quatro hospitais públicos – três em Natal e um em Santa Cruz – que também integram a estrutura da UFRN.

Essa orientação, definida pela Política de Comunicação da UFRN em relação ao perfil do público-alvo a ser buscado pelos meios de comunicação da instituição, ao que consta, pelo menos em relação à Rádio Universitária, só existe no papel. Como revelou Pandolphi Pereira (2018), a 88,9 FM desde sua primeira transmissão, sempre priorizou a sociedade como público prioritário de sua programação e não o seu público interno. Nos dias atuais, esse modelo definido no início da operação da emissora ainda vigora, como atesta o

67 Disponível em: https://ufrn.br/resources/documentos/politicas/politica_de_Comunicacao.pdf. Acesso em: 12

jan. 2019.

68 UFRN em Números. Disponível em: https://ufrn.br/resources/documentos/ufrnemnumeros/UFRN-em-

Numeros-2013-2017.pdf. Acesso em: 12 jan. 2019.

coordenador de produção e programação, Olavo Luiz Chagas (2019, Anexo H): “isso não é uma prática nossa [...] quando eu programo eu estou pensando sempre nesse público maior, na sociedade”.

O jornalista Iano Flávio Maia (2019, Anexo G), coordena o jornalismo da TV e da Rádio Universitária, comunga do mesmo pensamento:

[...] nós não participamos da elaboração dessa política, nós não concordamos com essa linha política e, neste momento, nós não executamos essa linha política. A gente considera, a gente escuta o discurso dos próprios gestores da universidade de que a gente tem que se comunicar com a sociedade.

Iano Maia (2019) acrescenta:

[...] nesse momento político que a gente vive agora, especificamente, nós precisamos mostrar para a sociedade o que a gente produz aqui dentro, não com aquela visão institucional. A gente produz conhecimento aqui e esse conhecimento tem que ser disponibilizado para a sociedade. Nós aqui no jornalismo na rádio e na TV tem isso como primeira prioridade até porque, historicamente, a TV e a rádio executam a ação de extensão da universidade, de estender o conhecimento produzido aqui e disponibilizar para a sociedade geral.

Voltando ao debate sobre a sustentabilidade da Universitária-FM, observa-se, atualmente, uma queda significativa na receita advinda do mercado publicitário por falta de uma ação específica por parte da emissora nesse campo. Hoje, a emissora tem seus custos bancados pelo orçamento destinado pela universidade à sua superintendência de comunicação. Segundo o superintendente da Comunicação Social, responsável pela Comunica – que gere a Rádio e a TV Universitária – professor José Zilmar Costa (2018, Anexo D), “todos os investimentos da Comunica são aplicados na Comunica, não importa a área ou a unidade e essa questão de sustentabilidade acaba sendo diluída, porque se fosse dividir mesmo, a rádio era insustentável. […] Na verdade, a universidade banca tudo”.

A contratação de locutores consiste em um dos grandes desafios dos atuais gestores da rádio, já que esse profissional “é o único servidor que a gente não consegue mesmo, porque não tem nos quadros da universidade”, segundo Zilmar (2018). Outro problema, de mais fácil solução, na visão do gestor, é a aquisição e a manutenção de equipamentos para a Universitária-FM, que tem se dado por meio da verba destinada à TV-U,

[...] como as operações são de radiodifusão, que são muito parecidas com as da TV, e, ainda, tem o fato de termos o curso de comunicação e temos alunos aqui dentro, acaba a gente encontrando uma forma de encontrar esse recurso para não deixar a rádio parar, porque se a gente fosse depender só de recursos da FUNPEC, a FUNPEC não tem, não faz esses investimentos (COSTA, 2018).

Para o atual superintendente de Comunicação Social da UFRN, professor José Zilmar da Costa (2018), “até o presente momento, essa questão da gestão compartilhada nunca foi problema. A FUNPEC dá total autonomia para os gestores, ela não se interfere no conteúdo da emissora”. Em contrapartida, há quem questione, por exemplo, a forma como a fundação encaminhou a solução para a crise do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), ocorrida entre setembro e outubro de 2014. Durante duas semanas, a emissora suspendeu sua programação musical e se limitou a fazer, apenas, a transmissão obrigatória da Voz do Brasil, entre 19 e 20 horas, após ser proibida pelo ECAD de veicular músicas e até vinhetas, sob a acusação de não recolher direitos autorais. Após um acordo firmado na Justiça, a Universitária-FM retomou sua programação normal, comprometendo-se a quitar uma dívida de R$ 71 mil com o ECAD até janeiro de 2015 e assumir o pagamento mensal de R$ 2.500,00 ao Escritório, a título de direitos autorais70. Para Iano Flávio Maia (2019),

[...] a administração da rádio estava nas mãos de uma instituição que não tinha nenhum interesse de saber o que estava acontecendo, que não tinha qualquer interação com a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) que já tinha tretas homéricas com o ECAD e que tinha argumentos que poderiam ter servido para a gente ignorar o ECAD e continuar tocando música. Não temos fins lucrativos, nós não ganhamos dinheiro com isso, então nós não temos que pagar direitos autorais, como é a compreensão de alguns advogados que defendem que, se a emissora não tem fins lucrativos, se ela não está ganhando dinheiro com aquilo, ela não tem que financiar o direito autoral.

O encaminhamento dado pela FUNPEC e pela direção da Rádio Universitária da UFRN, no caso do ECAD, seguiu na contramão da estratégia vencedora, adotada pela pioneira Rádio da Universidade (Fundação FURG), vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em uma ação semelhante, o ECAD ameaçava calar a pioneira na radiodifusão universitária brasileira, como fez – e conseguiu – com a Universitária-FM do Rio Grande do Norte. A tese apresentada pela rádio universitária gaúcha, em sua defesa, foi acatada pela 2ª Vara Federal de Porto Alegre e referendada pela 4ª Turma do Tribunal Regional Federal, em março de 201471. Baseado nesse fato, Iano Flávio Maia critica a estratégia da Universitária- FM, orientada pela FUNPEC:

70 FMU volta ao ar após acordo com o ECAD. Tribuna do Norte, 2 out 2014. Disponível em:

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/fmu-volta-ao-ar-apa-s-acordo-com-ecad/294656. Acesso em: 16 fev. 2019.

71 Cobrança Indevida: Rádio sem fins lucrativos não recolhe direitos autorais. Em Consultor Jurídico: 4 mar.

2014. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2014-mar-02/radio-fins-lucrativos-nao-pagar-direitos-autorais- ecad. Acesso em: 16 fev. 2019.

[...] a gente pega dinheiro público, a gente esquece todo esse debate que está acontecendo na nossa frente e a gente diz “vamos pagar para poder voltar ao ar”, fazendo um acordo. […] não se fez a política que era necessária para se fazer. Eles disseram “vocês querem que a gente peça para a reitoria ir para as ruas segurar cartaz?”… Política não é ir para as ruas segurar cartaz (MAIA, 2019).

Outra crítica apresentada contra a FUNPEC, no caso, pela própria administração da UFRN, diz respeito à falta de transparência dos atos da fundação, inclusive em relação à Rádio Universitária-FM. Uma auditoria interna realizada em 2017 pelos órgãos de controle da Universidade (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2017b, p. 672), concluiu que

[...] a fundação não torna públicas todas as informações obrigatórias atinentes a sua relação com a UFRN que, por sua vez, disponibiliza estas informações em lugar não muito acessível e com filtros que dificultam a busca do cidadão comum, não familizarizado com seus sistemas nem com os instrumentos contratuais.

Quanto à parte comercial, de fato, a fundação não poderia ser cobrada por essa falta de investimentos na emissora já que, na prática, esse não é o seu papel. A função da FUNPEC, nesse caso, é apenas a de emprestar seu nome para fins legais. Até quando ocorre alguma captação de recursos no mercado publicitário ou órgão público, sua atuação limita-se a intermediar a transação, cobrando uma taxa de administração de 10% do valor para receber do patrocinador e repassar à emissora.

Na verdade, a ausência desses recursos extrauniversidade tem se dado pela própria falta de iniciativa da emissora, que não desenvolve uma ação continuada de captação de verbas publicitárias, seja por meio de projetos de financiamento público ou privado, seja por meio das leis de incentivo à cultura, seja, até mesmo, pela comercialização de produtos e espaços em sua programação, na forma de apoio institucional ou cultural. Buscar recursos no mercado publicitário, a princípio, parece ser uma maneira interessante de superar a crônica falta de verbas das universidades federais brasileiras e de se garantir o bom funcionamento da Universitária-FM, com a realização de investimentos em pessoal ou em equipamentos. Esse movimento em direção ao mercado, porém, exige uma série de concessões por parte da emissora, como, por exemplo, adequar-se às exigências de um bom desempenho em termos de audiência e até de esmerar-se na criação de produtos e programas formatados mais ao gosto do mercado para atender as estratégicas de marketing das marcas e dos anunciantes.

72 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Auditoria Interna. Relatório Anual das

Atividades da Auditoria Interna RAINT. 2017. Disponível em: https://ufrn.br/resources/documentos/ relatorioanual/relatorio-anual-de-atividades-de-auditoria-interna-2017.pdf. Acesso em: 10 fev. 2019.

Se por um lado essa aproximação do mercado pode representar um possível desvirtuamento conceitual do ideário da radiodifusão pública, por outro, pode ser ainda mais comprometedor ao mister da emissora padecer da dependência imposta pela burocracia para a tramitação dos processos administrativos das instituições públicas no Brasil. Quando instada a apontar a maior dificuldade em seu trabalho de gestora da Rádio Universitária, Maria Gorete Gurgel (2019) foi taxativa: “a burocracia é pior [...] e a licitação, essa coisa da compra, está cada vez pior. É uma dificuldade tão grande, tão grande, que a gente deixa de fazer muita coisa, porque você é impedido de fazer”. Esse problema é antigo na UFRN e reconhecido publicamente por sua alta administração desde 2010, conforme seu Plano de Desenvolvimento Institucional 2010-2019:

[...] há dificuldades a área de licitação e contratos. Na fase interna, quando são preparados os editais, a quantidade de pessoal técnico capacitado para elaborar os projetos básicos é desproporcional à quantidade de processos licitatórios. [...]. O problema se amplia com as competições entre os licitantes, os recursos, as impugnações. Os problemas são decorrentes de uma legislação que não respeita a autonomia das universidades federais e suas especificidades como instituições de educação superior (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2010, p. 21).

Não depender dos limites impostos pela legislação – no caso das emissoras do campo público em que se pode veicular publicidade, existem inúmeras restrições a formatos, conteúdos e tipos de produtos e serviços – e das situações criadas pela burocracia, lançando- se ao mercado em busca de recursos para ampliar o poder de investimento da emissora exige dos gestores da 88,9 FM o conhecimento das regras do mercado publicitário e uma postura mais agressiva em relação aos anunciantes. Para isso, faz-se necessário sair da zona de conforto e vencer o isolamento do campus universitário em busca do diálogo com agências, empresários e possíveis patrocinadores.

Para tanto, é essencial construir formas e formatos que permitam a ampliação da receita da emissora, com verbas provenientes do mercado, sem que se transgrida a lei que lhe veda a veiculação de publicidade comercial, mas lhe permite a captação de recursos em forma de patrocínios e apoios culturais. É preciso, ainda, trocar a passividade pela proatividade e ignorar o pensamento dominante na UFRN, como fez Mauricio Pandolphi Pereira (2018) e sua equipe na instalação da emissora, que venceu as resistências impostas pela “estrutura acadêmica e burocrática da universidade” para criar uma “rádio deveria ser profissional na essência. Ela não poderia ser uma rádio amadora”.

Esse argumento, aliás, tem sido repetido pelos gestores da Rádio Universitária para justificar as restrições impostas ao aproveitamento do material produzido pelos alunos de

Comunicação Social durante as aulas práticas das disciplinas relacionadas ao Rádio. Por seu turno, professores das disciplinas de Rádio e Produção Sonora limitam-se a realizar suas práticas laboratoriais utilizando-se dos estúdios laboratórios e até de uma emissora de rádio

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