As infrações às normas
73 BRASIL, 1992 74 ANDI, 2015.
diz que exerce o controle sobre as produções das concessionárias, ora nega que tem a responsabilidade de fazê-lo.
Instado a participar do debate aqui travado sobre o fenômeno dos “policialescos”, esclarecendo como a fiscalização, prevista no Código Brasileiro de Telecomunica- ções, é operada pelo órgão, o MiniCom esquivou-se, respondendo, por e-mail, que “a competência do monitoramento e fiscalização do conteúdo da programação é de responsabilidade do Ministério da Justiça/MJ”.
Prerrogativas
O decreto 8668/16 atribui ao MJ, por meio do Departamento de Políticas de Justiça (DPJ)75, a responsabilidade pela fiscalização da política da Classificação Indicativa,
destinada a esclarecer e alertar o público sobre conteúdos inadequados para crian- ças e adolescentes, por meio do estabelecimento de faixas etárias e de horário para a veiculação de obras audiovisuais.
E na Portaria MJ nº 368/2014, são discriminados os produtos sujeitos à Classificação Indicativa, sendo excluídos, entre outros, os programas jornalísticos — que podem, entretanto, ser objeto de parecer do MJ, “a fim de que sejam averiguadas eventuais
irregularidades ou abusos relacionados à violência, sexo ou drogas” (ler quadro “Atri-
buições do MJ”).
Como se pode verificar no quadro “Atribuições do MiniCom”, a prerrogativa de fisca- lizar os conteúdos em geral das emissoras de radiodifusão é atribuída pelo Código
Brasileiro de Telecomunicações (lei 62/4.117)76, artigos 29 e 38, ao Conselho Nacional
de Telecomunicações (Contel):
Art. 29. Compete ao Conselho Nacional de Telecomunicações [...]:
af) fiscalizar o cumprimento, por parte das emissoras de radiodifusão, das finalidades e obri- gações de programação, definidas no art. 38;
Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para explorar serviços de radiodifusão, serão observados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas [...]:
d) os serviços de informação, divertimento, propaganda e publicidade das empresas de ra- diodifusão estão subordinados às finalidades educativas e culturais inerentes à radiodifusão, visando aos superiores interesses do País.
Com a incorporação do Conselho ao Ministério das Comunicações, as atribuições foram repassadas ao órgão, como se pode observar pelos artigos 165 e 199 do decre- to-lei nº 200 / 6777.
Art. 165. O Conselho Nacional de Telecomunicações, cujas atribuições, organização e fun- cionamento serão objeto de regulamentação pelo Poder Executivo, passará a integrar, como órgão normativo, de consulta, orientação e elaboração da política nacional de telecomunica- ções, a estrutura do Ministério das Comunicações, logo que este se instale, e terá a seguinte composição: [...];
Art. 199. Ficam criados:
75 Antigo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (Dejus). 76 BRASIL, 1962.
III — O Ministério das Comunicações, que absorverá o Conselho Nacional de Telecomuni- cações, o Departamento Nacional de Telecomunicações e o Departamento dos Correios e Telégrafos [...].
Uma das lideranças mais expressivas do debate sobre regulação de mídia no Bra- sil, Bia Barbosa é enfática na análise das responsabilidades sobre o crescimento exponencial do fenômeno dos “policialescos”: “A televisão brasileira chegou a este ponto porque tais violações simplesmente são ignoradas pelo órgão que é res- ponsável pela fiscalização do conteúdo veiculado pelas emissoras – o Ministério das Comunicações”.
“Ao contrário de outros países, como a França, aqui, o Ministério só analisa os casos denunciados pela população, que representam uma quantia ínfima perto do montan-
Decreto Nº 8668/16
Art. 9º. À Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania compete:
V — coordenar, em parceria com os demais órgãos da administração pública federal, a formulação e a implementação das seguintes políticas:
d) política pública de classificação indicativa;
Art. 12º. Ao Departamento de Políticas de Justiça compete:
VII— estruturar, implementar e monitorar a política pública de classificação indicativa Portaria MJ nº 368/2014
Art. 3º. Sujeitam-se à classificação indicativa pelo Ministério da Justiça:
I — obras audiovisuais destinadas à televisão e aos mercados de cinema e vídeo doméstico; II — jogos eletrônicos e aplicativos; e
III — jogos de interpretação de personagens.
Art. 4º. Não se sujeitam à classificação indicativa pelo Ministério da Justiça:
I — exibições ou apresentações ao vivo, abertas ao público, tais como as circenses, teatrais e shows musicais;
II — competições esportivas;
III — programas e propagandas eleitorais; IV — propagandas e publicidades em geral; e V — programas jornalísticos.
§ 1º O responsável legal pelas exibições ou apresentações ao vivo abertas ao público mencionadas no inciso I deverá informar a classificação indicativa nos termos do art. 11, respeitada a autorização expedi- da pelo órgão competente.
§ 2º O Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação — Dejus1, órgão vinculado à Secretaria
Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, caso solicitado, poderá elaborar e encaminhar parecer aos ór- gãos competentes em relação às obras e exibições não sujeitas à classificação indicativa, a fim de que sejam averiguadas eventuais irregularidades ou abusos relacionados à violência, sexo ou drogas (BRASIL, 2016). 1 Denominado, a partir de 2016, Departamento de Políticas de Justiça (DPJ).
te de violações praticadas todos os dias” — compara. “Além disso, se a população não sabe que pode denunciar este tipo de problema, nem conhece os caminhos para fazer uma reclamação, se restringir a casos denunciados é o mesmo que não fazer nada diante da barbárie” — critica.
PolíticaDemocrática
Diretor do Departamento de Políticas de Justiça do Ministério da Justiça (DPJ/MJ), Davi Pires resgata o caráter democrático da política da Classificação Indicativa, que “para chegar a sua configuração atual, passou por longo processo participativo de construção que envolveu, nos anos de 2005 a 2007, setores representativos da so- ciedade brasileira”.
O diretor do DPJ lembra que a “construção democrática de uma política pública se faz pela mediação de interesses em oposição”, como ocorreu no processo de es- truturação da Classificação Indicativa, que “equilibra-se entre dois grandes valores constitucionais: a liberdade de expressão e informação e a proteção de crianças e adolescentes”.
Pires pontua, ainda, que “embora os ‘policialescos’, na prática, não se caracterizem como estritamente jornalísticos, assim são definidos pelas emissoras, tornando-se, portanto, imunes à Classificação Indicativa”. E pondera que apesar de o questiona- mento sobre a classificação de tais programas ser frequente, inclusive, “em ações civis públicas movidas pelo Ministério Público”, a definição do que seja ou não jorna- lístico “não cabe (e nem deve caber) ao Ministério da Justiça”.
Decreto 200 / 67
Art. 29. Compete ao Conselho Nacional de Telecomunicações [...]:
h) fiscalizar o cumprimento das obrigações decorrentes das concessões, autorizações e permissões de serviços de telecomunicações e aplicar as sanções que estiverem na sua alçada;
i) rever os contratos de concessão ou atos de autorização ou permissão, por efeito da aprovação, pelo Congresso, de atos internacionais;
j) fiscalizar as concessões, autorizações e permissões em vigor; opinar sobre a respectiva renovação e propor a declaração de caducidade e perempção;
af) fiscalizar o cumprimento, por parte das emissoras de radiodifusão, das finalidades e obrigações de programação, definidas no art. 38.
Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para explorar serviços de radiodifusão, serão ob- servados, além de outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas [...]:
d) os serviços de informação, divertimento, propaganda e publicidade das empresas de radiodifusão estão subordinados às finalidades educativas e culturais inerentes à radiodifusão, visando aos superio- res interesses do País (BRASIL, 1967).