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Mauri König

Jornalista, pós-graduado em Jornalismo Literário.

O jornalista, no exercício de sua profissão, como de resto todos os outros profissionais, deve ter em conta não apenas o ofício em si, mas a consciência moral subjacente aos homens, os seus juízos de valor, os seus direitos, os seus comportamentos, estejam todos eles reconhecidos ou não em leis [...].

Os programas “policialescos” levam ao extremo as teorias do sociólogo norueguês Johan Galtung, sobre a “escala de valores da informação”: um acontecimento aqui perto vende mais do que aquilo que está longe; uma celebridade vende mais do que um incógnito; algo dramático ou inusitado vende mais do que uma análise política. No fim, o negativo atrai mais do que o positivo [...].

O jornalismo tem de informar os fatos relevantes ao cidadão, é uma forma de produção de conhecimento sobre a realidade social, e por isso requer veracidade do conhecimento produzido. Já o programa de entre- tenimento está montado para a indústria publicitária, é um gênero de comunicação criado para vender [...]. Essa confusão [de fronteiras] se estende também à subversão da realidade, quando buscam na ficção os elementos cênicos da dramatização para reconstituir os acontecimentos com atores e figurantes. No jor- nalismo não cabe uma segunda chance aos acontecimentos; eles nunca serão iguais ao original. Qualquer forma de reconstituição do que já foi é uma maneira de falsear a realidade, portanto, não é jornalismo [...]. Celso Schröder

Jornalista, professor universitário e presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

[...] O jornalismo é um elemento de disputa estruturante para a democracia [...]. É um elemento estrutu- rante da liberdade, e não podemos abrir mão dele […]. Alguns setores da esquerda começam a imaginar

que é possível enfrentar uma estrutura jornalística com estruturas semelhantes, como se houvesse um jornalismo positivo e um negativo. Não existe isso. O que existe é o não jornalismo, ou seja, esse jorna- lismo sensacionalista é o não jornalismo [...].

Jornalismo é uma estrutura narrativa em que eu trago a singularidade pro centro da história, mas eu não posso abandonar, ao fazer o jornalismo, os elementos universais de discutir, de contextualizar [...]. No sensacionalismo, normalmente, se abandona isso. Fica-se estritamente ligado às narrativas sensoriais, sensacionais, e isso é empobrecedor e muito perigoso para a democracia [...].

Daniela Arbex

Jornalista e repórter especial do jornal Tribuna de Minas.

O que diferencia o jornalismo de outras práticas midiáticas é o compromisso social, o respeito ao ser humano e o desejo de transformar a realidade não através de “justiçamentos” e de espetáculos humi- lhantes, mas da promoção do outro, além do respeito às técnicas de verificação e pluralismo e da ca- pacidade de contextualização dos fatos, a fim de permitir que o público possa ter um olhar mais crítico sobre os acontecimentos [...].

Há uma ditadura nas redações do que vende mais [...]. Jornalistas que se pautam pela defesa dos direi- tos humanos têm sido cada vez mais pressionados por uma sociedade que tem se mostrado surda para as questões sociais, que desrespeita as diferenças e que espera que seus pensamentos de intolerância sejam confirmados. A colega Fabiana Moraes tem uma frase que considero fundamental: “Precisamos escrever não o que as pessoas desejam ler, mas o que elas precisam ler e muitas vezes nem sabem que precisam” [...].

Inês Vitorino

Professora e coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (GRIM) da Universidade Federal do Ceará.

O jornalismo é um discurso, portanto, uma pratica social cujo compromisso maior é o de promover informações qualificadas para o julgamento balizado dos seus cidadãos sobre temas relevantes para a vida em comum. Programas “policialescos”, portanto, não se enquadram nessa categoria, pois abordam temas complexos de forma rasteira, confundem a opinião pública e a distanciam dos debates centrais sobre segurança pública, transformando a dor e o sofrimento humano em mercadoria. Não passam de um comércio da violência, e de péssima qualidade, já que no entretenimento há formas sofisticadas e sérias de abordar também esse tema [...].

Numa acepção mais clássica, teríamos que o jornalismo informa, a publicidade persuade e o entreteni- mento diverte. Já na década de 1990, contudo, Luhmann chamava a atenção para a tendência de dilui- ção dessas fronteiras no sistema midiático. De lá para cá, essa tendência tem se acentuado, e o motor dessa diluição é a lógica comercial que permeia esse sistema e faz todas as diferenças tornarem-se insignificantes diante do interesse privado das empresas de comunicação.

Jonas Valente

Jornalista da TV Brasil, mantida pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

O jornalismo é a prática profissional de produção de notícias, consideradas aí como relatos de acon- tecimentos de forma precisa e correta produzidos a partir de um código deontológico, de parâmetros éticos, de técnicas de apuração, seleção, edição e organização da informação e de um modelo de oferta de conteúdos ao espectador.

Esta conceituação, claro, não é algo pacificado. Temos debates acadêmicos, profissionais e políticos acerca disso. No caso dos “policialescos”, há redação, edição e seleção de informações, mas o fato de a abordagem ferir fortemente o código de ética dos jornalistas e envolver uma cobertura enviesada, sen- sacionalista e que não busca a precisão e o equilíbrio levanta, sim, o debate sobre se isso pode ou não ser classificado como jornalismo. Considero que ao não trazer o conjunto dos pressupostos do conteúdo jornalístico, o modelo pode ser desqualificado enquanto tal.

C

omo se pode verificar no “Quadro de referência” registrado no primeiro volume de “Violações de direitos...”124 (doravante denominado “Quadro principal de re-

ferência”)125, os trechos das narrativas selecionados para servirem de indicadores de

violações de direitos foram relacionados às normas126 desrespeitadas.

É necessário ressaltar, porém, que foram associadas, na referida ferramenta de análise, tanto as normas vinculadas diretamente à violação principal do indicador em foco, quanto as normas relativas a outras violações contidas nos trechos das narrativas sele- cionados, durante a pesquisa piloto, para ilustrar esta ou aquela categoria de violação. Pretendia-se, com esse procedimento, evidenciar que um trecho de narrativa de rádio ou TV podia conter — e a maioria continha — mais de uma violação de direito além da que dava nome ao indicador, e, portanto, infringir outras normas além das direta- mente vinculadas à categoria de violação em foco.

ProceDimentoaDicional

No levantamento mais amplo aqui relatado, o principal objetivo era contabilizar as violações previamente identificadas no monitoramento piloto e as correspondentes normas desrespeitadas, de modo menos suscetível possível a interpretações, por parte da equipe de pesquisa.

Como o foco maior do “Quadro principal de referência” eram as violações, a quanti- ficação destas pôde ser realizada, aqui, a partir das descrições e dos exemplos pin- çados do monitoramento piloto, com margem exígua de subjetividades decorrentes do processo de análise.

Para quantificar, porém, as infrações, de modo ágil, preciso e sem possibilidade de di- vergência inerente à interpretação dos textos normativos, foi construído este “Quadro

adicional de referência”, com a relação dos dispositivos infringidos — desta feita, com

foco em cada categoria de violação, especificamente, e não nos trechos das narrativas. São detalhadamente explicados, a seguir, os critérios adotados na construção da ferramenta adicional, para dar transparência ao mecanismo, como recomenda a boa prática de investigação científica. Para o processo de contagem, porém, basta

124 ANDI, 2015.

125 Para melhor diferenciá-lo do presente “Quadro adicional de referência”.

126 Como nesta seção os textos de algumas normas são citados várias vezes, apenas na primeira vez em que aparecem serão referenciados, por economia de espaço.