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Brasil candidato? Análise discursiva do primeiro passo do país rumo à Copa do Mundo

4.4.5 Lógica de equivalência e diferença

5 Análise do Discurso Governamental da Vigilância Eletrônica do CICC-PE

5.2 Brasil candidato? Análise discursiva do primeiro passo do país rumo à Copa do Mundo

Para se compreender o discurso governamental em torno do CICC-PE, é necessário que seja realizado um retorno histórico para contextualizar as articulações políticas do discurso na atualidade. Sem este retorno não é possível entender como ele está sendo construído e quais são seus os pontos de ruptura e agregação. O marco inicial de todo o discurso foi a candidatura do país para sediar a Copa do Mundo de 2014. É tradição na FIFA que a escolha do país seja bem antecedente ao evento, para dar uma margem temporal necessária à construção ou melhoramento da infraestrutura exigida por este órgão. Com isso, em 2006 o Brasil se lançou candidato. Com base em dados documentais (oficiais e do Portal da Copa), foi identificada à principal articulação do Brasil para a candidatura como sede da copa do mundo.

No primeiro momento, o país se articulou com órgãos internacionais com o intuito de fortalecer sua candidatura. Neste caso, o objeto político capaz de agregar práticas discursivas distintas era a candidatura do país, motivo este ligado ao seu enorme potencial econômico. Vale salientar que o apoio da Confederação Sul-Americana de Futebol (COMENBOL) foi construído por meio de articulações entre o então presidente Luís Inácio Lula da Silva e os líderes do grupo, já que em 2003 havia três países em potencial para receber o apoio, eram eles: Argentina, Brasil e Colômbia. Porém, em 17 de março de 2006 uma votação unânime escolheu o Brasil como representante da América do Sul.

Com esse apoio, o então presidente Lula precisava organizar as articulações internas. Para isto contou com o apoio político do então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, da sua base aliada, do Ministério dos Esportes, do Turismo,

da Casa Civil e da Justiça. Articulados, estes apresentaram a candidatura do país no dia 18 de dezembro de 2006. Vale salientar que as inscrições ocorreriam até dia 17 de março de 2007 e foram antecipadas para dezembro, impedindo que mais candidatos se preparassem para enviar a sua inscrição. Em 30 de outubro de 2007 a FIFA ratificou o país como sede do mundial de 2014. Com o fim deste processo político, que culminou no início de todo o discurso em torno do mundial, os sujeitos políticos iniciaram um processo de desarticulação. Já não era mais necessário o apoio da COMENBOL, agora o objeto político era outro (FIFA, 2010).

Como fica evidente na Figura 6 abaixo:

Figura 6- Candidatura do Brasil

Fonte: Elaborada pela autora

Mas existe outro fator relevante a ser analisado nesta questão. Segundo Hardt e Negri (2006) em sua teoria sobre o império, fica claro que a FIFA se apresenta como um caso ilustrativo de uma instituição no exercício do poder imperial. Nela, o detentor do poder não precisa ter território físico, ser um país, basta apenas ter poder para controlar seus subordinados, como é o caso da FIFA, que é um órgão privado e internacional.

Ela também se encaixa em todas as características de um poder imperial, já que segue as três regras básicas deste. A primeira é o momento inclusivo – no caso da FIFA, qualquer país pode se candidatar, atraído pelo poder econômico que um evento deste pode proporcionar. Em seguida, inicia-se o processo diferencial, em que são colocados à margem do processo os países que não seguem as regras de infraestrutura nem tem dinheiro o suficiente para financiar um evento do porte da Copa do Mundo. Neste momento, o racismo imperial se evidencia, pois nações são consideradas culturalmente e economicamente inaptas para receber tal evento. Por fim, a FIFA inicia o processo gerencial. Agora o país sede escolhido tem que seguir as regras e obrigações, estabelecidas por este órgão, permeado pela criação de uma matriz de responsabilidade que garanta o cumprimento de todas as regras previamente estabelecidas.

A crise nos serviços públicos brasileiros é de ciência da FIFA, e seguindo uma política do órgão, criou-se a matriz que abrange todas as áreas diretamente ligadas ao evento, o que obrigou o país a criar uma lei conhecida como lei geral da Copa. Vale salientar que qualquer país sede tem que assinar um termo referente as suas necessidades e exigências particulares. Nela, ficou determinado que no período do evento ocorreriam mudanças estruturais nas leis brasileiras, por exemplo: a venda de bebidas em estádios, proibida por lei, será liberada no período da Copa; a venda de meia entrada para os jogos que a FIFA não antecipada, acabou por acontecer; a demarcação do perímetro de circulação de carros em

torno dos estádios segue o protocolo estabelecido pela FIFA, são exemplos das demandas e acordos firmados entre o Brasil e ela.

Este órgão detém o poder político para decidir se o mundial ocorrerá ou não. Seguindo o argumento de Schmitt (1992) que afirma que soberano é aquele que pode decidir em caso de estado de emergência, a FIFA, no que diz respeito à realização da Copa do Mundo 2014 no Brasil, detém o poder soberano.

Seguindo a teoria de Hardt e Negri (2006), mesmo um país tendo estabilidade no campo econômico, social e político, isto não garante sua soberania em toda e qualquer situação. Por exemplo, a FIFA impõe regras às quais qualquer país pleiteante a sede de um campeonato mundial de futebol deve se submeter, ratificando sua teoria sobre o império, e também a teoria de Schmitt (1992) sobre a soberania política.

Apesar de ter sua soberania temporariamente comprometida em alguns aspectos, as vantagens econômicas, sociais e políticas reduzem e desarticulam os movimentos de resistência. Com a definição do Brasil como sede, um novo processo articulatório se evidenciou.