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2 UM RECORTE NO OLHAR PARA O ENSINO RELIGIOSO: SAINDO DA

2.1 Percurso histórico evolutivo do ensino religioso no Brasil

2.1.1 O Brasil Colônia

Segundo Holmes (2010) os primeiros indícios de Ensino Religioso no Brasil se deu no momento da chegada dos portugueses às terras brasileiras, onde objetivando domesticar os índios, tentavam convertê-los ao Cristianismo, pois além de estarem trabalhando na perspectiva da “salvação” de uma vida pecaminosa, estavam também catequizando-os de forma a torná-los mais dóceis ao trabalho agrário em sistema de escravidão.

Objetivando evangelizar e catequizar os índios dentro de princípios cristãos, em 1549 chegaram os primeiros jesuítas da Companhia de Jesus ao Brasil e ficaram no país até o ano de 1759, quando foram expulsos pelo Marquês de Pombal. Durante este período, assumiram total responsabilidade pela formação religiosa e educacional da população e assim não somente os índios, mas os filhos dos colonos, (população pobre que estava radicada na Colônia), e os negros que vieram da África como escravos também eram preparados numa educação que unia a fé e a formação para o trabalho agrário a serviço da classe dominante portuguesa que via no Brasil, um campo de exploração de riquezas naturais.

Ainda segundo Holmes (2010, p. 62) “o projeto religioso da educação estava em harmonia com o projeto político dos reis e da aristocracia”, ratificado pelo regime de Padroado, no qual o rei de Portugal e o sumo Pontífice da Igreja Católica fazem um acordo de parceria onde com o objetivo de expandir a fé cristã por um lado e por outro, com o objetivo de expansão da colônia, existia um interesse mútuo que ia além das questões religiosas. Através desse regime, o Rei exercia dois poderes ao mesmo tempo: de ordem civil e eclesiástica. A religião dessa forma era utilizada como instrumento de interesses políticos e econômicos voltados para converter os novos povos à fé católica e ao mesmo tempo torná-los obedientes e dóceis ao império português.

Segundo Caetano (2007), “O início da obra evangelizadora e educacional, no Brasil, se deu com a chegada de seis jovens jesuítas que desembarcaram com Tomé de Souza, o primeiro governador-geral, em 27 de março de 1549”. Sousa (2013, p.31) afirma que “Os jesuítas trouxeram outra moral, costumes, e religiosidade; todos fundamentados na cultura europeia, assim como assim como os métodos didático-pedagógicos que alicerçaram a educação”.

De 1500 a 1800, o Ensino Religioso entendido como catequese eclesial (PCNERs, 1997) como ensino da religião oficial, privilegiando o conteúdo doutrinário no currículo escolar trouxe a construção de vários colégios religiosos espalhados pelo Brasil, que segundo Holmes (2010, p.65) servia para “fortalecer o poder econômico e promover a educação da

elite”. Até o fato dos jesuítas aprenderem a língua tupi, era uma forma de fazer com que a doutrinação religiosa no intuito de salvação das almas se coadunasse com a adaptação à cultura europeia por parte dos índios. Isso aconteceu também com os outros habitantes da colônia a exemplo dos colonos, mamelucos e brasileiros, além dos negros chegados da África em regime de escravidão.

Ao longo do Período Colonial, pode-se constatar que a educação jesuítica foi marcada por um caráter disciplinador, dando ênfase à catequese. As expressões culturais e os valores religiosos, peculiares à cultura dos nativos e dos negros, foram considerados, muitas vezes, como empecilhos à propagação da verdadeira fé. Nessa perspectiva, a educação jesuítica, então instaurada, tinha como premissa básica a adesão à cultura portuguesa e aos princípios do catolicismo. (CAETANO, 2007, p, 31)

Havia por um lado, a democratização e a universalização do ensino elementar a todos os habitantes e por outro, a elitização do ensino médio “destinado aos futuros alunos da Universidade de Coimbra e das primeiras faculdades brasileiras. Assim, foi-se formando o ensino superior no país, cuja finalidade maior era a formação de sacerdotes” (SOUSA, 2013, p. 35)

Ainda segundo Sousa (2013) a formação dos professores da época ficava ao encargo das instituições religiosas católicas voltadas para suprir a necessidade de profissionais em suas próprias escolas e na formação de futuros padres. A formação, o trabalho de docência e da evangelização no regime de padroado era subsidiado pelo governo português. Toda formação de professor nesse período estava intrinsecamente voltada à leitura e a escrita. (SOUSA, 2013, p. 43)

No período compreendido entre 1750-1777, o Marquês de Pombal, Primeiro-Ministro de Portugal do Rei D. José I, objetivando modernizar Portugal e fortalecer o poder régio, voltou seu olhar para as riquezas do Brasil Colônia, tão importantes para fomentar a economia deficitária de seu país. Para tanto, extinguiu o sistema de Capitanias hereditárias e implantou reformas no intuito de promover a mudança do “Estado Sacral”, oriundo do Regime de Padroado, para a vivência de um Estado Laico, moderno e civil. Objetivando promover uma ruptura entre Igreja e Estado, conseguiu alcançar seu intento em 1759, quando de forma oficial expulsou a “Companhia de Jesus dos domínios portugueses sob a alegação de serem os inacianos “traidores do Rei” e dos seus Estados” (CAETANO, 2007, p. 35).

Segundo Holmes, (2010, p. 65) a Reforma Pombalina desestruturou a educação do Brasil Colônia, pois pretendia implantar um novo modelo educacional pautado numa filosofia iluminista voltado para fortalecer o regime absoluto e modernização da sociedade. Vários colégios foram extintos e as aulas regias foram criadas marcando o surgimento do ensino

público oficial e laico de forma que a educação saísse do controle da Igreja católica e passasse ao controle do Estado.

Caetano (1997, p. 116) afirma que os jesuítas haviam criado um “consistente ‘sistema de ensino’, com currículo estruturado, organização didática consolidada, um corpo docente altamente qualificado e instalações e infra-estruturas adequadas” e mesmo depois de sua expulsão, a educação continuou com base católica pois os professores contratados, na maioria padres seculares, por haverem recebido uma formação jesuítica foram continuadores de seus métodos pedagógicos de cunho religioso e literário. Mesmo diante do processo de laicização da educação a hegemonia católica foi mantida através da atuação de novas ordens religiosas que vieram para se instalarem no Brasil.

Ao promover a desvinculação da educação jesuítica da Colônia, Pombal assim o fez porque desejava uma educação voltada aos interesses do Estado. Havia um interesse econômico por trás da necessidade de escolarizar os indígenas para que estes pudessem ser aculturados e se tornassem subservientes econômica e socialmente à Coroa Portuguesa. Tanto é que as escolas não podiam nem sequer ensinar em língua indígena. Só que estas aulas régias de Latim, Retórica, Grego e Filosofia, ministradas de forma separadas e fragmentadas, requeriam professores preparados que não existiam e não supriam a necessidade da população e isso deixou uma lacuna na educação humanística que era desenvolvida pelos religiosos.

Não havia interesse na construção de escolas, os professores eram mal pagos e “a educação era dividida entre classe dominada com ensino de ofícios e classe dominante, com ensino literário” (HOLMES, 2010, p. 66), a escola pública em situação de abandono e negligência por parte das autoridades.

Após a chegada da família real em 1808, D. João VI trazendo em média de quinze mil pessoas junto a ele, várias mudanças de ordem socioeconômica foram instauradas, dentre elas a criação de escolas de nível fundamental e superior, muito embora que voltadas às classes dominantes. “Não era de interesse do Governo, então instaurado, estabelecer um sistema nacional de ensino, que integrasse seus graus e modalidades e atendesse às necessidades das classes menos favorecidas” (CAETANO, 2007, p. 67).

Em 1820 D. João VI retorna a Portugal, deixando seu filho D. Pedro no Brasil que posteriormente. Em 07 de setembro de 1822 celebra a independência do Brasil, tornando-se seu primeiro imperador.