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1 UM OLHAR SOBRE O TEMPO: O PERCURSO ENTRE A EXCLUSÃO E A

1.6 A pessoa com deficiência na contemporãneidade

1.6.1 A pessoa com deficiência no Brasil

1.6.1.1 Marcos filosóficos e normativos: a luta por direitos

O Brasil é um país que possui uma vasta legislação e dentre seus marcos normativos existem os que são voltados para a garantia dos direitos da pessoa com deficiência, que surgiram como fruto de muita luta e conquista no decorrer de um trajeto histórico. Não somente os marcos nacionais, mas também aqueles internacionais dos quais o país é signatário, servem de norte para direcionarem políticas públicas voltadas para uma educação inclusiva mais igualitária e plural.

Observa-se que no âmbito educacional geral, ainda existe uma discrepância diante de todas as políticas públicas e marcos legais que garantem os direitos dos alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento (TGD) e altas habilidades/superdotação, (AH/SD), público-alvo da educação especial que continuam hoje, apesar das conquistas realizadas em âmbito nacional e internacional, sendo por muitas vezes, vítimas de práticas discriminatórias dentro do ambiente escolar. Ainda existe uma grande lacuna entre o “Legal” naquilo que já está normatizado nas Leis, Decretos e Resoluções e no “real”, na operacionalização da aplicação e supervisão dos marcos legais aplicados.

1.6.1.1.1 Marcos internacionais

No âmbito internacional pode-se citar a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), como um documento que traz uma concepção ética de respeito à diversidade humana, quando reconhece que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos (Art.1º) “sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra” [...] (Art.2º) e iguais perante a lei (Art.7º) e com direito inalienável à educação sendo o ensino elementar gratuito e obrigatório. Então a partir desta Declaração, subentende-se que se todos possuem os mesmos direitos e reconhecimento de dignidade e dessa forma, as pessoas com deficiência em nenhum momento devem ser minimizadas.

Em março de 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação para Todos em Jontiem na Tailândia que referendou o estabelecimento de compromissos mundiais da educação como direito fundamental de toda a humanidade, visando uma sociedade mais fraterna, solidária, equitativa e plural. Ao assinar essa Declaração, o Brasil estabelece um compromisso formal de universalizar o ensino fundamental com vistas à erradicação do analfabetismo.

No período de 7 e 10 de junho de 1994 aconteceu na cidade de Salamanca na Espanha, a Conferência Mundial em Educação Especial que reuniu delegados de 88 países e 25 organizações internacionais, com o objetivo de orientar sobre a formulação de políticas públicas voltadas às pessoas com necessidades educacionais especiais objetivando a inclusão escolar desse público-alvo nas rede regular de ensino. O fruto desse evento foi a elaboração da Declaração de Salamanca sobre princípios, política e práticas na área das necessidades educativas especiais, que se transformou num ícone normativo da educação inclusiva, pois

promoveu a visibilização mundial de uma pedagogia inclusiva centrada no aluno e na satisfação de suas necessidades de aprendizagem.

escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; (UNESCO, 1994)

Em sete de junho de 1999 aconteceu na cidade de Guatemala a Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência, adotada por 20 países signatários, dentre eles o Brasil que a aprovou por meio do Decreto Legislativo nº 198, de 13 de junho de 2001 e a promulgou através do Decreto nº 3.956, de 08 de outubro de 2001. A importância dessa Convenção reside no fato que os Estados Parte reafirmam que

[...] as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o de não ser submetido a discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano.(BRASIL, 2001)

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, com seu Protocolo Facultativo adotada em 2006 e entrando em vigor em 3 de maio de 2008 é um dos Documentos mais recente sobre a garantia dos direitos da pessoa com deficiência pois ratifica os direitos e proíbe a discriminação desse público-alvo nos mais variados aspectos da vida, incluindo os direitos civis, políticos, econômicos e sociais, a exemplo do direito à educação, serviços de saúde, acessibilidade, entre outros. No que se refere à educação, a Convenção defende um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e por meio do Artigo 24, garante que nenhuma pessoa com deficiência seja excluída do sistema educacional geral sob alegação de deficiência.

1.6.1.1.2 Marcos nacionais

No âmbito Nacional muitos são os marcos normativos que regem os direitos das pessoas com deficiência. A Constituição Brasileira afirma em seus artigos: que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (Art. 5ª) – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (Art. 206) e ensino fundamental, obrigatório e gratuito além do atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. (Art. 208 )

A partir da Carta Magna, uma série de marcos normativos garantem a efetivação do direito à educação a exemplo da Lei 7.853/89 que em seu Art. 8º criminaliza o preconceito com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa a quem

I- recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta.

Em de 5 de junho de 2007 o Ministério da Educação institui através da Portaria Ministerial nº 555 prorrogada pela Portaria no. 948/ 2007 um Grupo de Trabalho para a elaboração da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, entregue ao Ministro da Educação em 07 de janeiro de 2008 e publicada na Edição Especial “Inclusão: Revista da Educação Especial” (v. 4. n. 1, janeiro/junho, 2008). Este documento foi de capital importância para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à garantia dos direitos da inclusão escolar dos alunos público-alvo da educação especial.

A Lei 8.069/90 que estabelece o Estatuto da criança e do adolescente (ECA), afirma em seu Art. 53 que toda criança e adolescente tem direito à educação em escola pública e gratuita próxima de sua residência. Neste caso, mostra que todas as escolas devem ter o perfil inclusivo, uma vez que deve atender a todas as crianças e adolescentes e dentre elas, as que possuem deficiência. Já no Art. 54, é garantida a oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência preferencialmente na rede regular de ensino e no Art. 55 responsabiliza os pais ou responsáveis pela obrigatoriedade de matricular os filhos e pupilos n rede regular de ensino. A não matrícula pode incorrer no crime de abandono intelectual, penalizado através do Art. 246 do Código Penal: “Deixar, sem justa causa de prover a instrução Primária de filho em idade escolar Pena: detenção, de 15 (quinze) a 1(um) mês, ou multa.

A Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional tem no Capitulo V - da educação especial – os Artigos 58, 59 e 60 voltados à conceituação, orientação sobre o atendimento educacional especializado e a responsabilização por parte do Estado da oferta da educação especial a partir da educação infantil. Assegura também aos alunos com deficiência “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades” (Art.59, I) além da disponibilização de professores especializados, educação para o trabalho, acesso aos benefícios aos programas sociais e o estabelecimento de critérios pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino para que as instituições privadas sem fins lucrativos que atuem exclusivamente em educação especial possam pleitear apoio técnico e financeiro pelo poder público.

Em 1999 é promulgado o Decreto 3.298/99 que regulamenta a Lei no 7.853/89 e dispõe sobre a “Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência”, que em seu Art. 24, garante a matrícula compulsória em estabelecimentos públicos e privados, a

transversalidade da educação especial em todos os níveis e modalidades de ensino, bem como a sua oferta em estabelecimentos públicos e em unidades hospitalares e congêneres nas quais o aluno com deficiência esteja internado por prazo igual ou superior a um ano. Ainda registra a observância às normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT relativas à acessibilidade quando da construção e reforma de estabelecimentos de ensino.

A Lei 10.098/00 que trata da promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, juntamente com a Lei 10.048/00, que dá prioridade de atendimento a esse público-alvo, foram regulamentadas pelo Decreto nº 5.296/04 objetivando o rompimento de barreiras arquitetônicas, atitudinais e de comunicação que tanto se tornam impeditivos para o favorecimento de uma educação de qualidade para o aluno em sala de aula. A Lei 10.172/01 que estabelece o Plano Nacional de Educação apresenta 27 objetivos e metas para a educação das pessoas com deficiência elencando o desenvolvimento de programas educacionais, a formação inicial e continuada dos professores para o atendimento às necessidades dos alunos, disponibilização de recursos didáticos especializados de apoio à aprendizagem nas áreas visual e auditiva, articulação das ações de educação especial com a política de educação para o trabalho, incentivo à realização de estudos e pesquisas, sistema de informações sobre a população a ser atendida pela educação especial, dentre outras.

A Lei 10.436/02 oficializa a Língua Brasileira de Sinais - Libras é regulamentada pelo Decreto 5.626/05 que traz a regulamentação da Libras garantindo o direito da presença do intérprete de língua de sinais em sala de aula como forma de favorecer uma melhor aquisição de conhecimento por parte do aluno surdo. Trata ainda da formação do professor de libras e do instrutor de libras, objetivando proporcionar uma melhor qualificação desses profissionais com vista a ampliar o acesso à comunicação, à informação e à educação. O Decreto também garante a inserção da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS como disciplina curricular obrigatória nos cursos de fonoaudiologia e de formação de professores e ainda traz a oferta da educação da pessoa surda através da educação bilíngue. “São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo” (Art. 22, II, §1º).

Ainda existe uma série de outras Leis, Decretos resoluções, notas técnicas, voltadas às pessoas com deficiência para a efetivação da garantia de seus direitos e deveres. Os Decretos 7.611/11 e 7.612/11 são os mais recentes voltados a esse público-alvo. O Decreto 7.611/11 dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado, garante o sistema

educacional inclusivo em todos os níveis, define o público-alvo da educação especial, disponibiliza por parte da União o

apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. (Art 5º)

O Decreto 7.612/11 institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite, que é um conjunto de políticas públicas organizado em 4 eixos: Acesso à Educação, Inclusão Social, Atenção à Saúde e Acessibilidade voltados ao apoio, estímulo, autonomia, respeito e defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

1.6.1.2Da educação especial para a educação inclusiva na perspectiva dos direitos