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2.5 MERCADO E PROJEÇÕES DE VEÍCULOS ELÉTRICOS

2.5.2 Brasil

2.5.2.1 ABVE

Segundo a Associação Brasileira do Veículos Elétricos (ABVE) [57], até de- zembro de 2014 foram licenciados no Brasil 1.463 veículos leves elétricos (VEB, VEH e VEHP), sendo que 855 foram no ano de 2014. Isto mostra que a penetração no merca- do brasileiro está crescendo, mesmo que seja de forma lenta. O crescimento no mercado brasileiro de VEs dependerá, em grande parte, de políticas públicas e que podem atrasar ou adiantar sua difusão. Como condicionantes de demandas do mercado nacional estão:

 Custo inicial: fortemente influenciado pelo nível de desenvolvimento tecnológi- co, escala de produção e presença/ausência de incentivos e impostos;

 Autonomia: relacionada à capacidade e ao tempo de recarga das baterias, além da disponibilidade ou não de pontos de recarga;

 Custo de utilização: relação entre preço dos combustíveis e o preço da energia elétrica, além do desempenho dos veículos e poluição gerada.

A Figura 2.32 apresenta a projeção da ABVE. Até o ano de 2022, somente o VEH terá um crescimento de vendas, e com o aumento da comercialização de VEB e VEHP, o VEH irá se manter praticamente constante. O estudo menciona como incerte-

za, a evolução tecnológica dos componentes dos VEs, principalmente baterias e super- capacitores, assim como o preço dos combustíveis.

Figura 2.32 - Projeção ABVE (Extraído de [57])

2.5.2.2 CPFL - Energia na Cidade do Futuro

Com o objetivo de construir uma visão de longo prazo para o setor energético e para a empresa, a CPFL Energia, Roland Berger Strategy Consultants e GESEL/UFRJ, desenvolveram um projeto no âmbito de P&D ANEEL conhecido como “Cidade do Futuro”. Neste projeto, foi realizada uma a investigação detalhada de 10 temas, sendo que um destes é mobilidade elétrica, considerando além dos VEBs, outros modos de transporte elétrico.

A pesquisa projetou uma frota de 2,3% a 10,7% de VEB no Brasil em 2030, dependendo do cenário de incentivos. Esta projeção representa um consumo adicional de 364 MWmeda 1.733 MWmed[59].

O estudo também estruturou premissas e modelagens matemáticas de inserção de VEBs no país, resultando nos seguintes cenários e suposições:

a) Ano 2014 – Estado de São Paulo zera o ICMS para VEBs;

b) Ano 2015 – O governo federal ajusta o IPI para ficar compatível com os demais veículos importados;

c) Ano 2017 – Inicia a produção no Brasil com paridade tributária em relação ao veículo 1.0.

Além disso, como uma suposição alternativa, cita ainda:

d) Ano 2022 – Visando o incentivo à compra de VEBs nacionais, o governo zera os impostos desses veículos, implicando em queda de 30% no preço.

As possibilidades acima são quantificadas na Tabela 2.4.

Tabela 2.4 - Valores considerando os cenários

Preço do VE no Brasil Nacional Combustão VEB VEB Polí- tica ICMS VEB Políti- ca ICMS+IPI VEB Parida- de Nacional Preço (US$) 20.000 28.000 28.000 28.000 28.000 Dólar (R$) 2,25 2,25 2,25 2,25 2,25 Preço fábrica (R$) 45.000 63.000 63.000 63.000 63.000 Impostos (R$) 18.543 218.328 184.569 57.439 25.960 Preço consumidor (R$) 63.543 281.328 247.569 120.439 88.960 Diferença do con- vencional 0% 343% 290% 90% 40%

Quanto ao crescimento desse mercado, a velocidade de inserção no Brasil é dada com base no histórico dos dados dos países conhecidos, EUA e Europa, devendo apresentar um crescimento médio defasado em relação a esses dois grandes mercados (Figura 2.33).

Verifica-se que mesmo ocorrendo o item “d)” acima, que é mais otimista, o Brasil só atingirá a frota de 50.000 unidades em 2019, ou seja com sete anos de defasagem em relação aos EUA.

Figura 2.33 - Velocidade de inserção de VEB (Extraído de [59])

Em relação ao preço, a princípio, os VEBs deverão atingir um público específico que paga valores relativamente altos por carros compactos. Entretanto, acredita-se que eles custarão um terço do seu valor atual em 5 anos (Figura 2.34).

Figura 2.34 - Preço do VE no Brasil (mil reais em 2013) (Extraído de [59])

Quanto ao respectivo impacto no consumo de energia elétrica, os modelos desenvolvidos no estudo apontam valores entre 0,5% e 1,5% da carga do SIN em 2030. Entretanto, os estudos também demonstram que a inserção dos VEBs deverá ocorrer

inicialmente na região sudeste do país, com um maior crescimento no estado de São Paulo, atingindo intensamente a área de concessão da CPFL Energia, o que implica em um consumo entre 0,6% e 2,9 % desse mercado. Assim, o impacto do consumo para a CPFL Energia será superior à média nacional, conforme apresentado na Figura 2.35.

Figura 2.35 - Cenário para a CPFL Energia (Extraído de [59])

2.5.2.3 EDP: “Avaliação dos possíveis cenários, experimentação e mensuração dos impactos dos veículos elétricos nos sistemas de distribuição da Bandeirante Escelsa”

Assim como a CPFL, o Grupo EDP (Energia de Portugal) também desenvolveu um projeto de mobilidade elétrica no âmbito do P&D ANEEL. Em parceria com outras entidades (FIA, Sinapsis e IEE/USP) avaliou possíveis cenários e impactos da inserção de VE na área de concessão das distribuidoras EDP Bandeirantes e EDP Escelsa.

De acordo com as projeções [58] realizadas pela Fundação Instituto Administra- ção (FIA), caso o governo reveja a carga tributária que incide sobre o VE atualmente, a frota na área de concessão da distribuidora em 2020, pode chegar a 23.700 veículos.

No projeto, foram elaborados quatro possíveis cenários de utilização de VEB a partir de duas variáveis principais que são o custo e a conveniência de uso, consideran- do-se que um deles prevalecerá. Todos os cenários apontados foram de baixa penetra- ção, sendo eles denominados como:

Meu carrinho elétrico: frota estimada de 43.200 VEBs (representando 1,19% da frota total) nas áreas de concessão da EDP. Esta classificação pertence a con- sumidores preocupados com o meio ambiente;

Cidade elétrica: frota também estimada de 43.200 VEBs (1,19 % do total), sen- do que a utilização é para o atendimento de órgãos/empresas de serviços públi- cos;

Solução corporativa: frota estimada de 18.144 VEBs (sendo 0,5% da frota to- tal) destinado a pessoas jurídicas;

Nicho verde chique: mercado de luxo responsável pelo consumo de 25.920 (0,71% da frota), entretanto, sem considerar incentivos ao consumo de VEs.

A conclusão destas simulações é que até 2020, a inserção destes automóveis não trará impactos negativos significativos à demanda de energia elétrica. Entretanto, após 2020, tais impactos podem se tornar relevantes.

2.5.2.4 ABRADEE

A Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (ABRADEE) também elaborou 3 cenários de projeções de penetração de VE no Brasil, baseados em estudos realizados pela ANFAVEA, ABVE, University of California e KEMA. Consi- derou-se nos estudos VEB, VEHPs, VEH e veículos convencionais, e apenas comerciais leves – não fazem parte do estudo motocicletas elétricas, caminhões, ônibus ou outro tipo de veículo de grande ou pequeno porte.

Para as definições de cenários, baseou-se no artigo [61], que projetou cenários de VE nos EUA. Sobre o percentual de projeção norte-americano, estimou-se que 10% dessa frota seria o Cenário Conservador brasileiro e 20% seria o Cenário Moderado. Para o Cenário Acelerado, considerou-se a projeção prevista pela ABVE. Os respectivos percentuais de penetração para cada cenário são apresentados na Tabela 2.5.

Tabela 2.5 - Percentuais de penetração (em relação a frota brasileira) por cenário

Ano

Penetração de VE

Conservador Moderado Acelerado

2015 0,23% 0,45% 0,06%

2020 1,11% 2,23% 1,51%

2025 2,46% 4,92% 5,50%

Considerando-se um período de curto prazo, o cenário moderado apresenta a maior previsão de penetração de VE em relação à frota brasileira, enquanto que a médio e longo prazo o maior percentual ocorreria em um cenário de penetração acelerado.

Para o Cenário Conservador, também foi projetada uma estimativa de número desses veículos, por região do Brasil, conforme Tabela 2.6.

Tabela 2.6 - Penetração de VE por região - Cenário Conservador

Regiões do Brasil 2016 2017 2018 2019 2020 2025 2030 Sudeste 48.054 75.513 105.718 132.148 132.148 490.656 1.821.772 Sul 17.185 27.004 37.806 47.258 47.258 175.465 651.489 Centro-Oeste 8.799 13.827 19.357 24.197 24.197 89.840 333.570 Nordeste 13.150 20.665 28.931 36.163 36.163 134.272 498.541 Norte 3.722 5.848 8.188 10.234 10.234 38.000 141.090 TOTAL 90.910 142.857 200.000 250.000 250.000 928.233 3.446.462

No Brasil, os VEs podem encontrar um obstáculo adicional, que é a ampla utili- zação de etanol como combustível em veículos leves. O etanol é um combustível reno- vável e incentivado no mercado brasileiro. Cabe destacar a possibilidade de surgir um VEHP com motor a etanol, tornando esta tecnologia mais limpa. Outra forte barreira a ser considerada é a grande influência da indústria petrolífera existente no país. Desta forma, o Brasil tende a atrasar a penetração em larga escala dessa tecnologia, indo na contramão do cenário mundial atual, que vê o VE como um grande trunfo para minimi- zar as emissões de CO2.

Considerando a projeção de crescimento de VE no país, a ABRADEE também analisou o impacto do respectivo crescimento de carga sobre o sistema elétrico brasilei- ro [60]. O impacto imediato desse aumento na carga seria maior no horário de ponta, quando os usuários voltam para casa e recarregam os veículos. De acordo com o estudo, é provável que este aumento na carga na ponta tenha os mesmos efeitos prejudiciais que os de qualquer outro tipo de carga. Entretanto, com a magnitude de penetração nacional de VE, os impactos não serão tão significativos, não necessitando de grandes investi- mentos na rede de distribuição para receber as novas conexões de veículos.

Utilizando os modelos de cenários de penetração, o estudo estimou o impacto dos VEs no setor de energia elétrica. Considerou-se o horário de ponta de 17:30h às 20:30h, consumo da bateria de 3,52 kW (carga lenta). Também supôs que apenas 30%

dos VE necessitariam de recarga diária e os 70% restantes necessitariam de recarga a cada 3 dias, com padrão de viagem dos usuários em itinerário casa-trabalho-casa.

A Figura 2.36, Figura 2.37 e a Figura 2.38 mostram a evolução do crescimento da carga, consumo e o total de VE na frota brasileira, respectivamente, nos três cenários.

Figura 2.36 - Penetração de VE - consumo anual (Extraído de [60])

Figura 2.37 - Penetração de VE - Potência instalada (Extraído de [60])