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Brasil Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Plano Nacional de Agroenergia 2006-2011 Brasília, 2005 119p.

No documento Químic a verd e no Bra (páginas 150-154)

16 Dorin, B., Paillard, S. Agrimonde: scenarios and challenges for feeding the world in 2050. Summary Report, provisional version. June 2009.Cirad/INRA, 30p.

Existe a possibilidade de enormes ganhos na luta contra o desperdício, enquanto cálculos realizados em 2008 mostram que 30% da produção de alimentos mundial continuam não sendo utilizados, segundo os pesquisadores. Atualmente, 4.800 kcal são produzidas por dia por habitante na Ter- ra, mas 600 kcal são perdidas nos campos e 800 kcal nas cadeias de transformação e distribuição. Como exemplo do desperdício, mais da metade da produção mundial de alimentos é destinada à ração para animais de abate, para produção de carne, mostra dossiê divulgado por organizações não-governamentais.

Nos países industrializados, a produção de carne capta uma parte importante das terras cultiváveis. São necessárias sete calorias vegetais para produzir uma caloria de carne bovina ou ovina. Para os porcos ou as aves, esta relação é de quatro para uma. Isto representaria uma revolução em termos de Química ou de Agricultura Verde, se assim pode ser chamada, mas enfrentaria uma batalha pesa- da com os produtores de carne e, por que não? com os consumidores sobretudo aqueles que, mais recentemente, tiveram acesso ao produto. Mas ainda assim tecnologia genética, sobretudo transgê- nica, pode resolver alguns desses problemas, em combinação com engenharia de solos, irrigação e melhor uso de fertilizantes e pesticidas, pode-se multiplicar a produção de alimentos e de combus- tíveis, sem destruir o que resta do planeta.

A escassez de terras está levando a China e a Arábia Saudita a adquirirem terras mais férteis na Áfri- ca. E o compromisso desses países com o meio ambiente, sobretudo a China, é quase nulo.

As preocupações ambientais na área de produção e transformação de óleos e gorduras não são recentes. Órgãos de classe, como a American Oil Chemists´Society (AOCS) e a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC), já vêm se preocupando, por exemplo, com a substituição de solventes tóxicos, como os organoclorados, nas determinações analíticas de óle- os, gorduras e derivados17.

Quanto ao processamento, as etapas desde a extração até à desodorização vem sendo tratadas buscando sustentabilidade, independente da utilização como biodiesel. Na extração, a substituição do hexano, volátil, inflamável e explosivo, tem tido sucesso reduzido, devido a sua atual disponibili- dade, baixo custo, alto rendimento da extração (0,5% de óleo residual na torta). As instalações são cuidadosamente verificadas e otimizadas, mas ainda assim é difícil que não se transfira uma parcela para o meio ambiente.

O uso de etanol como solvente de extração tem sido preconizado, mas ainda apresenta gargalos. A aplicação de tecnologia enzimática encontra restrições de preço e escala e é mais conveniente para polpas de frutos18.

O sucesso do fruto da palma deve-se não só à alta produtividade/há, mas a outros fatores como a não necessidade de uso de solvente para a extração do óleo de palma, principal componente graxo do fruto (se bem que o óleo da amêndoa, palmiste, requer o uso de hexano). Mas a geração de gran- des volumes de efluentes com alta carga orgânica merece a atenção dos pesquisadores.

Outras duas etapas do processamento, para uso alimentício, a hidrogenação e o branqueamento, pelas implicações ambientais vem sendo tentativamente melhoradas. No caso da hidrogenação, a busca por diferentes catalisadores vem sendo gradativamente deixada de lado pelo uso de in- teresterificação enzimática e pelo uso de frações mais sólidas de óleo de palma e de palmiste e de outras gorduras.

No caso do branqueamento, diferentes terras clarificantes têm sido testadas, mas ainda é uma etapa onde se dá uma perda substancial de óleo.

Oportuno ressaltar que a US Environmental Protection Agency (EPA), dos EUA, administra o Presi- dential Green Chemistry Challenge Awards para o reconhecimento de pesquisas com contribuições significativas à prevenção de poluição. O julgamento é feito por especialistas indicados pela Ame- rican Chemical Society e seu ACS Green Chemistry Institute. Em 2009, entre os vencedores envol- vendo temas ligados a oleaginosas, destacam-se um processo biocatalítico livre de solvente para in- gredientes cosméticos e para cuidado pessoal e um analisador para proteínas que produz resultados rápidos e precisos sem reagentes tóxicos ou altas temperaturas19. Exemplificam-se duas linhas de

pesquisas envolvendo oleaginosas e proteoleaginosas.

No caso das oleaginosas, é importante considerar aspectos de mercado não só para o óleo como também para o farelo desengordurado obtido após o processo de extração por solvente.

A demanda atual para a soja não é, em primeiro plano, para o óleo, mas para o farelo desengor- durado que se destina a ração animal. A proteína de soja tem grande valor nutricional, biológico e, portanto, econômico, determinando a demanda pelo grão no mercado mundial. O óleo neste

18 Freitas, S. P.; Lago. R. C. A.; Jablonka, F.H., Hartman, L. Extraction aqueuse enzymatique de l’huile d’ avocat a partir de la pulpe fraîche. Revue Française des Corps Gras, 40 (11/12): 365-371, 1993.

19 US Environmental Protection Agengy. EPA. Presidencial Green Chemistry Challenge (PGCC) Awards Program. Disponível em: <http://www.epa.gov/greenchemistry/pubs/pgcc/presgcc.html>. Acesso em dez 2009.

caso é um sub-produto e os processos para extração de óleo são dependentes da produção de farelo com qualidade adequada para tal. Assim, não é possível desassociar a produção de óleo da produção de farelo, não só por questões econômicas, mas também porque o óleo representa em média 20% do peso do grão.

A extração por solvente tem atendido esta demanda não só por questões técnicas, considerando as condições que permitem alta qualidade de uma proteína livre de óleo, como também devido à capaci- dade instalada desta indústria que pode processar até 3000 a 5000 toneladas/dia de matéria-prima.

O óleo de palma é o principal produto da palma (Elaeis guineensis) e a fibra que resulta da extração de óleo da polpa do fruto não tem valor comercial, mas é empregada para geração de energia nas usinas extratoras. O óleo da amêndoa é um sub-produto de menor relevância considerando sua produção e valor comercial do óleo.

O óleo de palma tem grande importância no mercado mundial porque permite a produção de di- versos tipos de óleos e gorduras por fracionamento, evitando assim o processo de hidrogenação de óleos para produção de gorduras, processo que resulta na produção de ácidos graxos com duplas ligações trans, com deletérios efeitos para a saúde humana.

Desta forma, a partir de óleo de palma obtém-se oleínas de alta estabilidade oxidativa para uso, in- clusive, em frituras como também diversos tipos de gorduras (estearinas) com aplicações distintas na indústria de alimentos.

A palma teve, de fato, condições propícias para aumento da produção mundial, devido ao interesse polí- tico e econômico, em virtude da alta produtividade da planta, mas também considerando a geração de uma tecnologia industrial especialmente desenvolvida para a extração, refino e fracionamento de óleo com alta capacidade instalada e ainda devido a demanda mundial por gorduras ser maior que a oferta.

O mercado de cosméticos e artigos de higiene e cuidado pessoal encontra-se em continua ascensão. Também o mercado de produtos de higiene doméstica e industrial, parcela importante originária da petroquímica. Esses são segmentos nos quais a Química Verde deve entrar. Da mesma forma, o mercado de tintas para impressão e adesivos abre-se para a entrada de bioprodutos.

4.3. Panorama nacional

A Assessoria de Gestão Estratégica (AGE) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen- to (MAPA) divulgou um extenso estudo intitulado “Projeções do Agronegócio Brasil: 2008/09 a 2018/19”20 em fevereiro de 2009.

A situação mundial vis-a-vis os estoques mundiais e aumento de consumo, cria condições favoráveis aos países como o Brasil, que têm imenso potencial de produção e tecnologia disponível e ressalta a disponibilidade de recursos naturais no Brasil como alto fator de competitividade.

Os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro e de maior potencial de crescimento deverão ser a soja, milho, trigo, carnes, etanol, farelo de soja, óleo de soja e leite. A produção de grãos (soja, milho, trigo, arroz e feijão) deverá passar de 139,7 milhões de toneladas em 2007/08 para 180,0 mil- hões em 2018/19. Isso indica um acréscimo de 40,0 milhões de toneladas à produção atual do Brasil. A produção de carnes (bovina, suína e aves), deverá aumentar em 12,6 milhões de toneladas. Isso representa um acréscimo de 51,0% em relação à produção de carnes de 2008. Três outros produtos com previsão de crescimento elevado são açúcar, mais 14,5 milhões de toneladas, etanol, 37,0 bil- hões de litros e leite, 9,0 bilhões de litros.

O crescimento da produção agrícola deve dar-se com base na produtividade. Os resultados revelam maior acréscimo da produção agropecuária que os acréscimos de área. As previsões realizadas até 2018/19 são de que a área de soja deve crescer 5,2 milhões de hectares em relação a 2007/08; a área de milho, 1,75 milhão de hectares; a área de cana deve crescer de 6,0 milhões de hectares; as áreas de arroz e trigo devem aumentar e o café deve sofrer redução de área.

No total das lavouras analisadas, o Brasil deverá ter um acréscimo de área da ordem de 15,5 milhões de hectares nos próximos anos. O estudo da AGE também ressalta que existem 90 milhões de hect- ares não cultivados disponíveis para expansão.

A matéria prima é a principal consideração em termos de uma cadeia produtiva de oleoquímicos e de óleos e gorduras a serem utilizados na produção de biodiesel. Devem ser levados em conta: o preço comercial da gordura ou óleo; o percentual de óleo contido na matéria prima oleaginosa; o rendimento por área e o zoneamento agrícola de cada região. Estes pontos são considerados em mais detalhe a seguir.

20 Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Assessoria de Gestão Estratégica (AGE). Projeções do Agronegócio

No documento Químic a verd e no Bra (páginas 150-154)