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CAPÍTULO II – O CONCEITO DE BENEFICIÁRIO EFETIVO NO ÂMBITO NACIONAL E INTERNACIONAL

4 O conceito de beneficiário efetivo e o tratamento de juros, dividendos e

5.4 Breve análise ao Decreto-Lei n.º 83/2017, de 18 de agosto

O Decreto-Lei n.º 83/2017, de 18 de agosto consagra um conjunto de medidas de natureza preventiva e repressiva, tendentes ao combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, destinado a entidades financeiras (ou não), que ficarão sujeitas a deveres de informação. A ideia é a de que tais deveres, além de prevenirem o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, podem ainda auxiliar no combate aos esquemas planeamento fiscal agressivo, bem como aos esquemas de planeamento fiscal ilícitos, que consubstanciam a evasão e fraude fiscais.

Este dispositivo legal vem assim enumerar quem são as entidades obrigadas às condutas informativas aqui em causa (cfr. art.ºs 3.o,4.o e 5.º), incluindo-se a banca, em geral, bem como os profissionais com os quais os visados entrem em contacto através de transações. Tais instituições devem manter todas as informações relativa aos seus clientes, entre elas, deverão obter o conhecimento acerca do beneficiário efetivo, no caso de pessoas coletivas ou de centros de interesses sem personalidade jurídica, tais como os trusts. Ora, neste contexto, o art.º 30.º do diploma legal aqui em causa vem definir o conceito de beneficiário, ao passo que o art.º 34.º se refere à consulta a efetuar a um registo, regulamentado pela Lei n.º 89/2017, de 21 de agosto, que aprova o Regime Jurídico do Registo Central do Beneficiário Efetivo,

115 Cfr. Comissão Europeia. Relatório da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre a

aplicação da diretiva 2011/16/ue no que respeita à cooperação administrativa no domínio da tributação direta. 2017.

116 Cfr. Diretiva (UE) 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015,

relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo, que altera o Regulamento (UE) n.° 648/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, e que revoga a Diretiva 2005/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho e a Diretiva 2006/70/CE da Comissão.

117 Cfr. Lei n.º 83/2017, de 18 de agosto que estabelece medidas de combate ao branqueamento de

capitais e ao financiamento do terrorismo, transpõe parcialmente as Diretivas 2015/849/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015, e 2016/2258/UE, do Conselho, de 6 de dezembro de 2016, altera o Código Penal e o Código da Propriedade Industrial e revoga a Lei n.º 25/2008, de 5 de junho, e o Decreto-Lei n.º 125/2008, de 21 de julho.

transpondo o capítulo III da Diretiva (UE) 2015/849, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015.

Sendo assim, no ordenamento jurídico português, o conceito inicial vai no sentido de que o(s) beneficiário(s) efetivo(s) seria(m) a(s) pessoa(s) singular(es) que, em última instância, detivessem a propriedade ou o controlo, direto ou indireto, de uma percentagem suficiente de ações ou dos direitos de voto ou de participação no capital de uma pessoa coletiva. Ainda de salientar, mesmo que o aprofundamento da matéria só seja feito no capítulo seguinte, que o n.º 2 do artigo 127º desse mesmo diploma dispões que “a Autoridade

Tributária e Aduaneira pode aceder aos mecanismos, procedimentos, documentos e informações relativos aos deveres de identificação, diligência efetiva e conservação quanto a beneficiários efetivos previstos na presente lei, para efeitos da aplicação e controlo do cumprimento das obrigações previstas no Decreto-Lei n.º 61/2013, de 10 de maio, e para assegurar a cooperação administrativa no domínio da fiscalidade” .

5.4.1 A criação de um Registro Central de beneficiários efetivos em Portugal – lei 89/2017, de 21 de agosto.

A criação de um registo central de beneficiários efetivos (RCBE ) no direito interno português foi publicada no Diário da República no dia 21 de agosto de 2017, através da Lei n.º 89/2017, que aprova o Regime Jurídico do Registro Central do Beneficiário Efetivo (RCBE), transpondo para o ordenamento jurídica interno o Capítulo III da Diretiva (UE) 2015/849 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de maio de 2015, relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do terrorismo118

O diploma aqui em causa entrou em vigor no dia 20 de novembro de 2017, sendo que, de entre as alterações que contempla, provavelmente a mais sensível foi a ampliação do leque de informações que devem ser disponibilizadas pelas empresas, bem como o aumento das formalidades no processo de constituição das sociedades comerciais. A alteração em causa será efetuada através da criação de uma base de dados, de acesso parcialmente público, gerida pelo Instituto dos Registos e Notariado. O objetivo principal será a obtenção de informação completa

118 Altera, com isso, o Regulamento (UE) n.° 648/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, e

e precisa acerca das pessoas singulares que detenham, diretamente ou através de terceiros, a propriedade das participações sociais ou o controle efetivo da sociedade.

Em relação às entidades abrangidas e excluídas, estarão sujeitas ao RCBE: (i) as associações, cooperativas, fundações e sociedades civis e comerciais, bem como outros entes coletivos personalizados, sujeitos ao direito português ou estrangeiros, que pratiquem ato ou negócio jurídico em território nacional que culmine na obrigatoriedade de um número de identificação fiscal português; (ii) as representações de pessoas coletivas ou internacionais que exerça atividade em território português; (iii) as entidades que prosseguindo objetivos próprios e atividades diferenciadas das dos seus associados, não sejam dotadas de personalidade jurídica; e, por fim, (iv) os trusts e as sucursais financeiras registradas na zona franca da madeira (“entidades abrangidas”).

Por seu turno, é também vasto o leque de entidades excluídas do âmbito de aplicação do RCBE, entre as quais se incluem: (i) as sociedades com ações admitidas à negociação em mercado regulamentado (as chamadas “sociedades cotadas”) desde que sujeitas a requisitos de divulgação de informação consentâneos com o direito da União Europeia ou a normas internacionais equivalentes; (ii) os consórcios e os agrupamentos complementares de empresas; e (iii) os condomínios, quanto a edifícios que se encontrem constituídos em propriedade horizontal, mas apenas se o seu valor patrimonial global não exceder EUR 2.000.000,00 e desde que não seja detida uma permilagem superior a 50% por um único titular, por contitulares ou por pessoas singulares que sejam considerados beneficiários efetivos ao abrigo da nova lei de combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo

119.

A Lei em causa prevê ainda sanções para o seu incumprimento, de entre as quais, a proibição de distribuição de lucros de celebração de contratos com entidades públicas, e contraordenações puníveis com coimas de até EUR 50.000,00.

5.5 As mais recentes alterações ao artigo 14.º do CIRC, tendo em conta