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BREVE CARACTERIZAÇÃO BIOFÍSICA

No documento timothyongaroorsi (páginas 93-99)

Mapa 6 – Localização da comunidade São Pedro de Cima no município de Divino

3 SÃO PEDRO DE CIMA: UM TERRITÓRIO EM CONSTRUÇÃO

3.3 BREVE CARACTERIZAÇÃO BIOFÍSICA

O clima regional é caracterizado como Tropical de Altitude, com invernos rigorosos e verões amenos. Com regime pluviométrico caracterizado pela alternância (média pluviométrica anual de 1340 mm), ou seja, as chuvas se concentram no verão e ocorrem secas prolongadas no inverno, podendo apresentar variações conforme a macrodinâmica climática (DIVINO, 2006).

Situado na encosta do Planalto Atlântico brasileiro, o município de Divino se encontra dentro da Zona de Cisalhamento de Manhuaçu, o que configura um relevo de topografia acidentada e dissecada. Segundo dados do site da prefeitura Municipal de Divino, a altitude média do município é de 950 m, sendo a altitude mínima de 709 m e a máxima de 1810 m (Pico Cangote D’anta). A geologia é, basicamente, composta por rochas cristalinas muito antigas e desgastadas, com origem remetente ao Período Arqueano (como o granito e o gnaisse, respectivamente, rochas ígneas e metamórficas). A geomorfologia se constitui com a predominância de terrenos ondulados (50%) a montanhosos (40%), com apenas 10% de sua área composta por planícies. Dividido entre colinas côncavo-convexas e vales, os tipos de

solos mais encontrados são os Cambissolos em locais com 30% a 60% de declividade, Latossolos vermelho-amarelo e Aluvial Hidromórfico em locais com 8% a 30% de declividade e Argissolos vermelho-amarelo e Aluvial Hidromórfico em áreas mais planas com 0% a 8% de declividade. Quanto às riquezas minerais do município, existem reservas de bauxita, granito e argila (DIVINO, [c201-]).

Esta região localiza-se entre o Parque Nacional do Caparaó (PARNA Caparaó) e o Parque Estadual Serra do Brigadeiro (PESB), com uma distância aproximada de cinquenta quilômetros em linha reta entre estas unidades de conservação (UC). Entre essas duas UC há um relevo movimentado e dissecado que se configura como um divisor de água das três bacias hidrográficas mais importantes da Zona da Mata mineira (Mapa 4) (bacias dos rios Paraíba, Doce e Itabapoana). A área está inserida no domínio geomorfológico das Serranias da Zona da Mata Mineira, caracterizada por relevos de formas alongadas, tipo cristas e linhas de cumeada. Ocorrem alinhamentos de serra paralelos, retilíneos e orientados a nordeste- sudoeste, com escarpas íngremes e topos convexos. O relevo torna-se dissecado para leste e oeste dessas serras, predominando colinas alongadas com topos convexos (GATTO et al. apud NOCE et al., 2006).

Mapa 4 – Bacias Hidrográficas da Zona da Mata Mineira

Observando cartas topográficas e imagens do Google Earth e cartas topográficas do IBGE (c2016), identificamos muitos fragmentos de floresta nos topos de morro, nas encostas declivosas e nos vales altimontanos entre as serras do Caparaó e do Brigadeiro, ou seja, fragmentos preservados pela dificuldade de acesso e de manejo agrícola em locais de relevo movimentado. Estes fragmentos de mata remanescentes se concentram, principalmente, nas encostas e escarpas voltadas para leste e oeste, ou seja, uma evidência da contribuição do relevo movimentado (com orientação predominante norte-sul e nordeste- sudoeste) que dificulta o acesso, o uso e ocupação da terra e, com isso, propicia a proteção e a permanência destes fragmentos. Apesar disso, o quadro geral da ZMM é de muito desflorestamento, como podemos observar no Mapa 5.

Mapa 5 – Cobertura vegetal da Zona da Mata Mineira

O bioma desta região é classificado como Mata Atlântica, um dos biomas mais biodiversos e degradados do Brasil. Originalmente cobria 15% do território nacional, mas atualmente restam menos de 8% da sua área original, dividido entre fragmentos de matas primárias e secundárias em regeneração, ou seja, manchas remanescentes rodeadas de áreas antropicamente alteradas. Essa fragmentação conduz à perda de habitats e insulação, considerada por alguns pesquisadores como o principal problema da conservação da biodiversidade das áreas intertropicais (SOS MATA ATLÂNTICA, [c201-]).

Segundo a ONG Fundação Biodiversitas, a alta importância ecológica da região se justifica por apresentar fragmentos de Mata Semidecidual, Ombrófila Densa e Campos Montanos com alta riqueza de espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção como, por exemplo, o muriqui, também conhecido como mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides), maior primata das Américas e a onça-pintada (Phantera onça), terceiro maior felino do mundo e primeiro das Américas (MOREIRA, L. S.; RIBEIRO; MENDES, 2003).

O município de Divino tem em seu território duas Áreas de Proteção Ambiental Municipal (APAM) (APAM Árvore Bonita e APAM Bom Jesus) e faz contato com o PESB na porção oeste. Em pesquisas na APA Árvore Bonita encontraram-se espécies consideradas em extinção, como a Myrcia cymosa, planta arbustiva da família das Myrtaceae que ficou desaparecida por mais de cem anos. Esta APAM contém fragmentos de Mata Atlântica primária e secundária em ótimo estado de conservação. A APAM Bom Jesus fica na zona de amortecimento do PESB. Calculando a área das duas APA, contabiliza-se cerca de 12.000 hectares de áreas protegidas. Porém, os moradores das comunidades incluídas dentro dessas APAM, muitas vezes, nem sabem do que se trata uma UC, quais as restrições de uso da terra, de uso da biodiversidade e quais são os benefícios sociais e ambientais delas. Resultado disso é a fragmentação das florestas e a predominância de pastos com capim-gordura e braquiária, manchas de sapé, matas secundárias, capoeiras nos topos das elevações, áreas com monocultivos e policultivos (DIVINO, [c201-]).

Nos municípios localizados entre o PESB e o PARNA Caparaó, inclusive o de Divino, há um movimento de diálogo entre diversas organizações da sociedade civil, instituições públicas e privadas que intencionam criar um corredor ecológico entre estas unidades de conservação. Assim, o relevo que se configura como o divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios Paraíba do Sul, Doce e Itabapoana é um local estratégico de aplicação de ações conservacionistas. Propusemos um delineamento deste corredor ecológico em um artigo ainda não publicado denominado “Mosaico de áreas protegidas como subsidio estratégico para a preservação da sociobiodiversidade”, propondo a criação deste corredor

através de um mosaico de UC (APA, Parque Nacional, Parque Estadual e Áreas de Preservação Permanente) com manejo agroflorestal. Isto poderia ser uma forma de integrar a sustentabilidade das comunidades camponesas da região à conservação da natureza.

Partimos de um enfoque geral para chegarmos ao objeto empírico da presente pesquisa: a comunidade São Pedro de Cima.

3.4 A COMUNIDADE CAMPESINA REMANESCENTE DE QUILOMBO DA ZONA DA

No documento timothyongaroorsi (páginas 93-99)