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Breve contexto geográfico, histórico, político, demográfico e social

2. O CONTEXTO DO CASO

2.2. O contexto da saúde em Moçambique

2.2.1. Breve contexto geográfico, histórico, político, demográfico e social

Moçambique fica situado no sudoeste da África: é limitado ao norte pela Tanzânia, a este pelo Oceano Índico, a oeste por Malawi, Zâmbia, Zimbabwe e Suazilândia e ao sul pela Republica da África do Sul. Toda a Faixa costeira Este é banhada pelo Oceano Índico numa extensão de 2.470 km. O país tem 11 províncias, com 799,380 km2 a província mais extensa é Niassa e a menos extensa a cidade de Maputo (figura 1).

Figura 3- Mapa de Moçambique

Os dados históricos dos censos e das projeções demográficas mostram uma tendência crescente no que diz respeito a evolução populacional de Moçambique desde 1950, altura em que a população foi estimada em mais de 6 milhões de habitantes; duplicou no período de 30 anos, atingindo 12 milhões em 1980 e as projeções da população apontam para mais de 25 milhões de habitantes em 2014, mostrando que o ritmo de crescimento ainda é elevado.

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Esta antiga colónia de Portugal tornou-se independente a 25 de Junho de 1975, após cerca de 10 anos de conflito armado entre o governo português e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). À independência e à decisão política de nacionalizar todas as unidades de saúde em 1975, seguiu-se um abandono do país por grande parte do pessoal da saúde. Apesar disso, foram notáveis os esforços de alargar os cuidados de saúde, fazendo apelo a anos de aprendizagem nas chamadas zonas libertadas. (Walt & Melamed, 1983; Noormahomed, 2000; Martins, 2001)

Estes esforços foram, no entanto, seriamente ameaçados com a eclosão de um conflito armado interno com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que apesar de presente desde 1976, se agravou em 1982. Este conflito armado interno encontra as suas razões no contexto político de herança colonial, no processo de descolonização e de guerra-fria desse período histórico. As consequências da guerra foram devastadoras, acumuladas com períodos de seca e cheias (Cliff & Noormahomed, 1993; Ascherio, 1995; Garenne, Coninx, & Dupuy, 1997; Pavignani & Durão, 1999). Durante o período de conflito armado deu-se o abandono político progressivo de uma economia e de um sistema de saúde de planificação central para a adesão às instituições de Bretton Wods, (que tinha como objetivos principais: promover a cooperação internacional através das instituições monetárias, facilitar a expansão do comércio internacional, implementar a estabilidade dos câmbios e contribuir para a instituição multilateral de pagamentos. A dependência económica e as condições para obter ajuda ao desenvolvimento determinaram fortemente as orientações políticas em Moçambique (Walt & Melamed, 1983; Pavignani & Durão, 1999). A autorização legal para o exercício da medicina por entidades privadas deu-se em 1991 (Lei nº 26/91). Os acordos de paz foram assinados em 1992 e iniciou-se um processo lento de reconstrução nacional (Pavignani & Durão, 1999). As primeiras eleições tiveram lugar em 1994 mantendo-se a FRELIMO no poder desde a independência. A RENAMO é o segundo maior partido em Moçambique.

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A maior parte da população moçambicana reside na área rural. Esta tendência não é diferente dos outros países africanos. O crescimento da população urbana tem sido muito lento. Dados do censo de 1997 apontavam para 28.6% da população que residia em áreas urbanas, tendo passado para 30.1% em 2007 e, segundo as projeções, a população urbana em Moçambique para ano de 2014, foi estimada em aproximadamente 32%. A Pirâmide do país apresenta uma base larga e o topo afinado sendo este um formato típico de distribuição da população de Países em desenvolvimento, onde a estrutura etária é muito jovem. A maior concentração da população na faixa etária de 0-14 anos, representando mais de 45% do total população em 2014. (figura2)

Figura 4- Pirâmide etária de Moçambique

Fonte: INE 2010, Projeções anuais da População Total, Urbana e rural 2007-2040

A distribuição percentual da população resumida em três grandes grupos de idade e a seguinte: dos jovens (0-14 anos), com 45%; dos potencialmente ativos ou adultos (15 a 64 anos), com 52%; e dos idosos (65 anos e mais) com apenas 3.1%. Ainda no mesmo gráfico, a distribuição difere por área de residência, sendo a área rural com mais população jovem, com cerca 48% e a área urbana, com mais adultos com cerca de 58%. Relativamente a população idosa, destaca-se a área rural com 3.4% diferindo em um ponto percentual da urbana (quadro1).

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Quadro 1- Distribuição da população por sexo e densidade populacional segundo

província, Moçambique 2014

No quadro visualizam-se as Províncias de Nampula e Zambézia, as mais populosas do País, e como consequência, a população em idade escolar, também é maior, sendo mais de 900 mil para cada uma das províncias. Comparando por sexo, com exceção de Gaza, as restantes províncias, tem maior número da população em idade escolar do sexo feminino.

Desde a independência que Moçambique dispõe de um Serviço Nacional de Saúde, formalizado pelo Decreto nº 26/91, cuja ação prioritária foi a cobertura média das zonas rurais através da multiplicação de postos e centros de saúde e a implementação de numerosos programas de cuidados de saúde primários. O aparecimento do SIDA veio agravar o estado de saúde da população, que se vê já confrontada com a resistência ao tratamento da Malária com Cloroquina, à persistência da Cólera que se tornou endémica e a taxas elevadas de Tuberculose. Em Moçambique, os indicadores do estado de saúde (Quadro 2) têm registado progressos, mas a ritmos diferentes: A esperança de vida ao nascer, embora tenha aumentado dos 42.3, em 1997, para 53.1 anos, em 2011Instituto Nacional de Estadística (INE), ainda é baixa comparativamente à média africana (55), denotando

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insatisfação de muitas necessidades humanas básicas, tais como nutrição adequada, água potável e saneamento, serviços de saúde, etc. (quadro 2).

Quadro 2 - Alguns indicadores sociais, demográficos e de serviços de saúde, em

Moçambique