• Nenhum resultado encontrado

2. O CONTEXTO DO CASO

2.2. O contexto da saúde em Moçambique

2.2.2. Realidade do Sistema de Saúde

Dados atuais de Moçambique revelam poucos avanços na redução da mortalidade materna e no alcance do acesso universal aos serviços de saúde reprodutiva. Apesar da redução registada entre 1997 e 2003 (IDS 97 e 03), nos últimos anos o Rácio de Mortalidade Materna mostra-se estacionário, sustentado pelo Instituto para o Desenvolvimento da Saúde (IDS 11) e é ainda inaceitavelmente alto (408/100.000 Nascido Vivos), estando em risco o alcance da meta definida nos Objetivos de Desarrolho do Milénio (ODM). A exposição ao risco de morte materna é igualmente elevado, com as taxas de fecundidade geral a situarem-se nos 5.9 filhos, valor

52

ligeiramente superior às anteriores informações do IDSs, em parte devido à pouca utilização dos serviços de planeamento familiar (PF).

Os indicadores de saúde infantil mostram progressos assinaláveis e consistentes nos últimos anos. As taxas de mortalidade (TM) em menores de 5 anos e infantil baixaram significativamente entre 1997 e 2011. Porém, o decréscimo da TM neonatal está a ocorrer a um ritmo mais lento, requerendo uma atenção especial nas estratégias vindouras, tendo em conta que cerca de 81% destas mortes ocorrem durante a primeira semana de vida e 32% delas no primeiro dia.

Apesar da ligeira redução registada entre 2003 e 2011, a prevalência da malnutrição em crianças menores de 5 anos contínua alta. Dado o seu efeito direto e indireto na saúde como descrito abaixo, o GRM lançou, em 2010, o Plano de Acão Multissectorial para a Redução da Desnutrição Crónica em Moçambique 2011-2015.

Os indicadores do estado de saúde acima apresentados são largamente influenciados pelo padrão de doenças e problemas de saúde. Com efeito, o Fardo da Doença em Moçambique é ainda dominado pelas doenças transmissíveis, em particular o VIH/SIDA, com uma prevalência nacional estimada acima de 11.% (1.4 milhões de infetados) e a Malária com 3.2 milhões de casos notificados em 2012, que combinadas representam mais de metade das mortes (27% e 29% respetivamente) na população geral (quadro 2). As diarreias, Infeções Respiratórias e a Tuberculose também contribuem consideravelmente para este perfil. A mortalidade em crianças menores de 5 anos apresenta o mesmo padrão, mas as mortes neonatais, que contribuem em cerca de 16% das mortes em menores de cinco anos, são causadas principalmente por Prematuridade (35%), Asfixia (24%) e Sepsis Neonatal (17%). Estima-se também que 30% das mortes em crianças menores de 5 anos tem a malnutrição como causa subjacente. As mulheres em idade fértil, para além destes problemas comuns, enfrentam o peso adicional das mortes maternas resultantes das complicações da gravidez e do parto: os dados da (UNICEF, Saúde Materna, 2008) destacam a rutura uterina (29%), hemorragia obstétrica (24%), sepses puerperal (17%) e complicações pós-aborto como principais causas diretas de morte materna, enquanto as causas

53

indiretas mais frequentes incluem o VIH/SIDA (54%) e a malária (40%). A anemia moderada é também frequente entre mulheres dos 15 aos 49 anos (14% em 2011). A persistente ocorrência de surtos epidémicos vem agravar o peso das doenças transmissíveis. Nos últimos cinco anos registaram-se surtos de cólera, entre 2008 e 2010 (pico em 2009, com mais de 19.000 casos), sarampo, em 2010 (cerca de 3.500 casos) e meningite, cuja frequência e gravidade traduzem uma ainda limitada capacidade de resposta do sector a estes eventos. Outras doenças de alta incidência são disenterias e outras diarreias.

Embora as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) existentes em Moçambique não sejam uma causa direta de morte, pela alta prevalência no País, nomeadamente de tracoma, parasitoses intestinais (53%), bilharziose (47%), filaríase linfática (13%), oncocercose que causam incapacidades, atraso no desenvolvimento físico e mental das crianças, e sua correlação com anemias e malnutrição que, contribuem significativamente para aumentar o peso da doença, sobretudo em crianças em idade escolar, para além do estigma social e limitação da produtividade das pessoas acometidas por estas doenças, agravam a correlação entre doença e pobreza.

As doenças não transmissíveis (DNT) são consideradas responsáveis por 80% de todas as mortes e por 60% de todas as causas de incapacidade que ocorrem nos países em desenvolvimento, com importantes consequências no consumo dos serviços de saúde, bem como nos recursos económicos. Estas doenças, e o trauma associado começam a influenciar o perfil epidemiológico do País e, consequentemente, o fardo da doença e a pressão sobre os serviços de saúde. Nas DNT, a Doença Cardiovascular (DCV) é a causa mais importante de morbilidade e mortalidade, tendo como principal fator de risco a Hipertensão Arterial (HTA). A prevalência da HTA é estimada em 35% a nível nacional, sendo maior nas cidades (40,6%) que no campo (29,8%), aumentando com a idade. A diabetes é também uma das maiores causas de doença e morte prematura, sendo responsável pelo aumento do risco para as DCV. Em Moçambique, a prevalência da diabetes na população com idade superior a 20 anos foi de 3,1% em 2003, e projetava-se um aumento para 3,6%

54

em 2005. De igual forma, os cancros estão a aumentar a sua expressão nas causas de consulta e internamento no País: por exemplo, o número de consultas externas de oncologia no Hospital Central de Maputo (HCM) cresceu em mais de 50% nos últimos 3 anos, e a taxa de ocupação de camas tem ultrapassado os 100%. Dados dos Serviços da Anatomia Patológica (SAP) do HCM nos períodos de 1991-2008 e 2009- 2010 na Cidade de Maputo, mostram que nas mulheres os cancros mais frequentes são o cancro do colo do útero (31%), seguido do cancro da mama (10%) e do sarcoma de Kaposi (7%). Nos homens, são o sarcoma de Kaposi (16%), o cancro da próstata (16%) e do fígado (11%). Relativamente ao trauma, dados da Unidade de Cuidados Intensivos do HCM indicam que, em 2012, os acidentes de viação foram a 3ª causa básica de morte (10%) e as complicações dos traumatismos representaram a 6ª causa direta de morte, naquele serviço. (MINSA, Sistema de Informação de Saúde-Registo de Óbitos, 2011)

O estado de saúde e a distribuição do fardo da doença pelo território nacional (províncias e distritos) e grupos populacionais não são uniformes. Pessoas vivendo nas zonas rurais e periferias das cidades, que são também as mais pobres, bem como as crianças e mulheres, suportam grande parte do peso da doença. O IDS 2011, por exemplo, refere que a fecundidade é muito mais elevada no meio rural do que no urbano (4.5 e 6.6, respetivamente); a mortalidade em crianças menores de 5 anos em famílias pobres foi quase 2 vezes superior à observada em famílias mais ricas, (IDS 2003), a malnutrição em crianças é mais acentuada nas províncias do Norte e no meio rural. (UNICEF, Saúde Materna, 2008)