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1 – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO ACIDI / CNA

O Alto Comissariado para a Imigração e Dialogo Intercultural (ACIDI) é um Instituto Público integrado na administração do Estado, em directa dependência do Gabinete do Primeiro-Ministro. Uma estrutura interdepartamental de apoio e consulta do Governo em matéria de imigração e minorias étnicas. Tem como missão colaborar na concepção, execução e avaliação das políticas públicas transversais e sectoriais relevantes para a integração dos imigrantes e minorias étnicas, bem como o promover o diálogo entre as diversas culturas etnias e religiões. A sua missão específica encontra-se consagrada no Decreto-Lei nº167/2007de 3 Maio.

O ACIDI possui várias parcerias para dar respostas aos vários projectos que tem em desenvolvimento, com os seguintes princípios:

• A igualdade (o reconhecer e garantir os mesmos direitos e oportunidades); • O diálogo (a promoção de uma comunicação efectiva);

• A cidadania (o promover a participação no exercício dos direitos e deveres). A hospitalidade (o saber acolher a diversidade). A interculturalidade, ( enriquecer culturalmente no encontro das diferenças ) A proximidade (encurtar as distâncias para conhecer e responder melhor) e a iniciativa (a atenção e a capacidade de antecipação).

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O Centro de Apoio ao Imigrante (CNAI) é uma organização estatal dependente do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. A nível nacional existem três centros do CNAI, localizados no Porto, em Faro e Lisboa que, por sua vez, articulam com os diversos CLAII. Estes contactam com o gabinete da saúde (CNAI de Lisboa), no esclarecimento de dúvidas, ainda que não tenham um papel específico na saúde.

O CNAI de Lisboa fica localizado num edifício constituído por três andares e uma cave, onde está situado o serviço de tradução telefónica. No primeiro piso estão situados vários ministérios: Educação, Saúde, Justiça, Administração Interna (representado pelo SEF), Negócios Estrangeiros, Trabalho e da Segurança Social e ainda um Gabinete da Defesa do Consumidor Imigrante. Para além destes ministérios existem outros espaços como uma instituição bancária (ligada ao aparelho estatal), uma biblioteca (com uma vasta obra ligada a temática da imigração), um espaço para reuniões/ formação de pares, um pequeno refeitório e, por último, um espaço onde as crianças podem desenvolver actividades lúdicas com o apoio de uma animadora sócio- cultural, enquanto aguardam pelos pais. No segundo andar ficam situados os serviços administrativos do CNAI (como, por exemplo, o gabinete da Alta Comissária do ACIDI).

Os profissionais que fazem o atendimento aos imigrantes são na sua maioria, imigrantes, o que facilita a comunicação e a ultrapassar as barreiras culturais e religiosas.

O Ministério da Saúde está representado pelo gabinete da Saúde sobre a tutela da ARSLVT de Lisboa. Constitui o único gabinete da saúde a nível nacional. Nesse gabinete exercem funções três enfermeiros, sendo que a enfermeira coordenadora é especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica. Tem como objectivos:

 Informar os imigrantes dos direitos e deveres no acesso de saúde aos cuidados de saúde, assim como a adequada utilização do SNS;

 Identificar os problemas de acesso dos cidadãos ao SNS;

 Sensibilizar a comunidade imigrante para hábitos de vida saudáveis;

 Participar em estudos científicos e outras actividades realizadas por instituições académicas;

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 Desenvolver acções de formação dirigidas aos profissionais de saúde do SNS sobre o enquadramento legal do acesso por parte do cidadão estrangeiro.

2 – DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS

As actividades desenvolvidas foram determinadas pelos objectivos gerais e específicos para este estágio:

Como objectivos gerais:

 Desenvolver a actividade reflexiva acerca das aprendizagens, competências de enfermeiro especialista em enfermagem de saúde da criança e do jovem;  Adquirir contributos para a realização do relatório final.

Os objectivos específicos:

 Conhecer a estrutura física e organizacional do CNAI nomeadamente do gabinete da saúde;

 Observar a abordagem realizada pela enfermeira à criança e família de culturas diferentes neste gabinete;

 Identificar as dificuldades da família imigrante ao acesso à saúde;

1 - Conhecer a estrutura física e organizacional do CNAI nomeadamente do gabinete da saúde

Para concretizar o primeiro objectivo comecei por compreender a organização e dinâmica funcional do gabinete da saúde. Foi realizada uma visita guiada por uma das enfermeiras, pelo CNAI (aos vários departamentos). Esta permitiu o conhecimento do funcionamento e da sua articulação interna assim como da articulação externa com as várias instituições de saúde e educação com as quais têm parcerias.

Como este gabinete está directamente sob a tutela da ARSLVT, o mesmo funciona como o “observatório” dos imigrantes, no que concerne ao seu acesso a saúde.

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A minha integração foi gradual e facilitada pelas enfermeiras, com partilha de experiencias e discussão dos casos, que surgiram neste período.

2 - Observar a abordagem realizada pela enfermeira à criança e família de culturas diferentes;

Este objectivo à sua concretização foi facilitado pela apreensão dos conteúdos legais referentes à lei de imigração, no que concerne ao acesso a saúde por parte dos mesmos, nos protocolos internacionais entre Portugal e os PALOP na área da saúde no acesso à saúde da criança e do jovem em situação irregular em Portugal.

A abordagem realizada pela enfermeira é personalizada, com um tom de voz pausada e calma. Por vezes, a barreira linguística é um obstáculo a comunicação. No entanto a enfermeira avalia a situação e, se necessário, contacta o intérprete da língua materna do imigrante.

Segundo Ramos (2009,p.73), o “ papel do tradutor ou de um substituto favorece, por um

lado, o acolhimento do doente, dando-lhe alguma segurança e fazendo-o sentir-se compreendido (…).” Sendo que, os intérpretes devem possuir treino na área da saúde,

sempre que possível recorrer a intérpretes do dialecto específico em causa e, durante a avaliação da situação, dirigir as questões ao cliente/ família e não ao intérprete, familiares e amigos ou crianças deve ser evitada (Purnell & Paulanka,2010)

Observei no cuidado da enfermeira ao iniciar o atendimento, no conhecer o país de origem do imigrante, o tempo de residência em Portugal. Estas questões colocadas pela enfermeira tiveram o objectivo de enquadrar o cliente numa matriz cultural e, por conseguinte, dar uma resposta ajustada às suas necessidades.

Com este objectivo desenvolvi:

 Competências humanas, no que concerne ao promover a protecção dos direitos humanos ( A2.1); no promover o respeito pelo direito dos clientes no acesso à informação (A2.1.2); no promover a confidencialidade e a segurança da informação escrita e oral adquirida enquanto profissional, na equipa de enfermagem; o reconhecer e aceitar os direitos dos outros (A2.1.3);

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3 - Identificar as dificuldades da família imigrante ao acesso à saúde;

As principais dificuldades por parte da família imigrante, no acesso a saúde estão ligadas ao desconhecimento da legislação, na barreira linguística, cultural, religiosas, no analfabetismo, nas situações de irregularidade (a residirem em Portugal na ilegalidade), as situações de discriminação racial..

Relativamente a barreira linguística, vários autores indicam que a primeira dificuldade do imigrante nas instituições de saúde verifica-se no acolhimento, quer nas questões burocráticas quer no insuficiente conhecimento da língua da sociedade de acolhimento e ao analfabetismo. (RAMOS,2001, MACHADO & BÃCKSTRÖM,2009). No entanto, neste gabinete a barreira linguística é ultrapassada pela existência de intérpretes, quer através da linha telefónica, quer presencial no gabinete (quando solicitado) um veículo facilitador na comunicação.

Quanto às barreiras culturais e religiosas, estas são ultrapassadas com a colaboração das associações dos imigrantes e a integração de profissionais de saúde de outras nacionalidades nos serviços. Citando Ramos (2008, p.100) “Os códigos culturais e

linguísticos, assim como os rituais de interacção diferem segundo as culturas e sub- culturas e, assim, o desconhecimento ou não respeito por estas diferenças nos diversos contextos gera problemas comunicacionais e pode reforçar os estereótipos e os preconceitos”. Assim, é necessário que o profissional de saúde esteja atento a estes

aspectos, devendo, para isso, inclui-los na sua forma de cuidar e compreendendo, assim a complexidade de que está imbuído um cuidado culturalmente congruente.

O desconhecimento da legislação na maioria das vezes está associada ao analfabetismo por parte do imigrante, bem como o facto do mesmo se encontrar em situação irregular no país. Nestes casos, o enfermeiro faz a avaliação do problema e procede ao encaminhamento. Este objectivo permitiu o desenvolvimento:

 Competências comunicacionais, nomeadamente no aprofundar conhecimentos sobre técnicas de comunicação no relacionamento com a família (E1.1.2);

 Competência da criação de um ambiente terapêutico e seguro; no domínio da melhoria da qualidade, no sentido de promover a sensibilidade, consciência e respeito pela identidade cultural, como parte das percepções de segurança da pessoa (B3.1.1);

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Para além dos objectivos atrás mencionados elaborei (em conjunto com outra colega) sobre os princípios e objectivos do ACIDI e do Gabinete da Saúde, integrando a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural de Leininger.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste campo de estágio adquiri competências significativas para o meu projecto e, consequentemente para a minha aprendizagem pessoal e profissional. Sendo os factores culturais francamente mutáveis, quer no tempo, quer mesmo nas gerações, acredito que, aprendendo eu a reflectir sobre questões como a multiculturalidade, estas me irão permitir um maior afastamento do meu etnocentrismo e aprofundar o autoconhecimento e, por conseguinte, uma “mudança” de mentalidade, no modo de encarar a minha própria cultura e socialização, nunca ignorando a do outro.

No que se refere à minha aprendizagem sobre o comunicar com a pessoa imigrante, esta constitui um marco importante, quer na abordagem ao cliente, quer na avaliação de determinadas condicionantes, que podem influenciar a comunicação. Essas condicionantes podem ser factores como: o motivo da imigração, “a qualidade” de adaptação ao país de acolhimento - sentimentos de comportamentos discriminatórios por parte da sociedade de acolhimento, espaço, linguagem, vestuário, alimentação, hábitos e estilos de vida.

Este processo de aprendizagem permitiu o meu entendimento sobre a importância da formação dos profissionais de saúde, para a prestação de cuidados transculturais. A formação passa também pela informação sobre a Constituição da Republica, no que concerne ao direito que os cidadãos têm relativamente aos cuidados de saúde, às políticas de saúde em vigor, as estratégias e as políticas de inclusão, de modo que a equidade na saúde, as oportunidades e o acesso à cidadania de toda população seja independente da origem cultural.

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4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 MACHADO, M. Céu, et al (2006) - Iguais ou diferentes? Cuidados de saúde

materno-infantil a uma população de imigrantes. Lisboa, Laboratórios Bial.

 MAGALHÃES, Vasco Pinto ( 2000) – O Olhar e o Ver. Coimbra: Edições Tenacitas.

 PATRONILHO, António Manuel (2008) - A Pessoa Humana no Contexto dos Cuidados; Dissertação de Mestrado em Filosofia Especialização em Bioética; Universidade Católica de Braga;

 PONTES, F. (2002) - Enfermagem Transcultural: Um Subcampo a Explorar,

“Revista Sinais Vitais”, Nº 44, Setembro, p. 59.

 RAMOS, Maria da Conceição (2008) - Impactos Demográficos e Sociais das Migrações Internacionais In - Saúde, Migração e Interculturalidade. João Pessoa, Editora Universitária da UFPB – 66.

 RAMOS, Natália (2001) - Comunicação, cultura e interculturalidade: para uma comunicação intercultural - Revista Portuguesa de Pedagogia”, Ano 35, nº 2, p. 155-178.

 RAMOS, Natália (2008) – Saúde, Migração e Interculturalidade: perspectivas

teóricas e práticas; João Pessoa: Editora Universitária/UFPB; CDU:325.1.

 TOMEY, Ann Marriner; ALLIGOOD, Martha Raile (2004) – Teóricas de

Enfermagem e a sua Obra – Modelos e Teorias de Enfermagem: 5ª Ed. Loures:

Lusociência; ISBN: 972-8383-74-6;

Site consultados:

SEF - http:// sefstat.sef.pt/Docs/Rifa2010.pdf.[em linha];Acedido a 2 Janeiro de 2012 UNESCO (2002) Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural http://www.unesco.pt/cgi-bin/cultura/docs/cul_doc.php?idd=17; [em linha]; Acedido a 17 de Janeiro 201;

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